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segunda-feira, 1 de março de 2021

A satisfação de transferir livros da pilha dos não lidos para as dos lidos

Passei um tempo entre 2014 e 2018 me sentindo muito vazia. Lidei com esse sentimento comprando e lendo livros. A velocidade com a qual comprei superou e muito a velocidade com a qual li, consequentemente faz parte da minha vida atual pilhas e pilhas de livro não lidos, centenas de livros não lidos. Tenho tentado lidar com essa pilha da única forma possível: lendo um livro por vez. Ainda falta muito para diminuir essa pilha, mas fevereiro chegou ao fim e nesse primeiro dia de março olho para minha mesa, vejo espaço vazio e constato que estou lendo os livros comprados, emprestados, presenteados durante esse longo tempo de vazio. 

Me sinto tão SATISFEITA! Passei de pessoa tão ansiosa por preencher espaços vazios com letras e histórias, ferrenha construtora de barricadas de tijolos feitos de papel pintados com tinta, a alguém satisfeita com a visão do espaço vazio na mesa. É muito satisfatório transferir livros da pilha dos não lidos para a pilha do lidos, conferir as lobadas, relembrar as histórias, conferir as prateleiras da parte interna do coração e sentir nela novos moradores.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

3 Livros para os que amam poemas e poesias lerem no Kindle


Inicialmente tive muita resistência aos e-reader da vida, mas nada como um dia após o outro, com uma noite no meio. Hoje na minha bolsa pode faltar até dinheiro, mas um leitor digital dificilmente falta. O Kobo me acompanhou por mais de três anos em quase uma centena de livros, quando ele se aposentou por invalidez pifou o Kindle chegou em minha vida mostrando-se também um amigo leal para as idas e vindas em ônibus/metrô, filas gigantescas, manhãs/tardes preguiçosas e noites insones.

domingo, 17 de novembro de 2013

A Caixa


A Caixa
Jaci Rocha

Na caixa  misteriosa
Há antídoto e veneno
Por detrás do laço a lhe enfeitar
é só questão de dosar
adaptar o paladar... 

O mundo agora
Habitado de contradições
Ruge e arranha verdades
Que não por maldade,
Pandora libertou...

Deuses e humanos
Duelam agora com o mal
Que  lhes habitava
Mas que, por conveniência
Guardavam escondidos na caixa....
A caixa que Pandora libertou....

A dama criada no jogo
das habilidades celestes
misto de presente e contradição!
E quem nunca foi ambíguo
E abriu sua própria maldição
Que corte-lhe a mão...#

_________
P.S.: A minha xará Jaci Rocha escreveu e publicou esse poema no seu blog "... a lua não dorme...", quando eu li não pude deixar de me identifica muito especialmente, pois sou uma pessoa "bizarramente contraditória". Para completar a Jaci ainda dedicou o texto "Pra quem sabe viver com sua própria contradição. E pra quem sabe fazer disso, instrumento.".

Enfim, obrigada Jaci por me permitir publicar esse texto aqui, ele é mesmo a cara desse blog. Boa semana para todos e todas.

domingo, 28 de julho de 2013

A passagem dos dias...

Hoje quando liguei o computador me deparei com alguns versos do Mario Quintana

"... Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!..." 

Ainda não se passaram 50 anos do meu tempo, mas de repente me surpreendeu a velocidade com a qual o tempo passa e os dias se sucedem... Me lembrei também dos versos de Junqueira Freire:"Assim as horas do tempo/ correndo, correndo vão,/ assim passou inda há pouco/ o matutino clarão.". E tudo passa tão rápido que nossos mil planos acabam não sendo realizados e as mil postagens que desejávamos fazer também não foram feitas.

Queria ter falado algo sobre o dia 25 de julho que condensou em si três comemorações significativas para mim: Dia do autor nacional, dia da  "Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe" e também dia do motorista... Sim, aos 45 do segundo tempo do dia meu pai recebeu um sms da empresa para a qual presta serviço felicitando ele pelo dia. Mas o querer não virou realização, foi engolida pelo cansaço e pelo desanimo de escrever!


Outra coisa significativa que ocorreu foi a realização da 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência aqui em Recife no campus da Universidade Federal de Pernambuco. A prefeitura do Recife e o governo do estado de Pernambuco pagaram as inscrições dos professores e eu tive o prazer de ter participado do evento pela primeira vez e essa seria também uma ocasião que merecia um post ou posts.

A 65ª Reunião Anual da SBPC já começou movimentada com o governador e o prefeito sendo lindamente vaiados pelos docentes na abertura da reunião. Há quem ache o protesto valido, há quem ache o protesto mal educado e desnecessário, eu não estava no meio dele, mas o prefeito e o governador desejam agir na administração dos bens públicos de Pernambuco e Recife como os antigos senhores de engenho costumavam agir, isso choca a sensibilidade dos professores e bem estamos em um momento de dessacralização das autoridades públicas.


A parte a conveniência ou inconveniência dos protestos, participar da SBPC foi realmente incrível! Pesquisadores de todos os lugares possíveis e imagináveis do Brasil; diversas áreas do conhecimentos; vários sotaques misturados; vários centros de tecnologia juntos... Vários interesses, sonhos, objetivos, ideias e o melhor de tudo REALIZAÇÕES efetivas sendo expostas em um único lugar. Foi uma experiencia única e maravilhosa!

Conversei muito, vi muito durante essa semana, falei com o pessoal do Museu de Astronomia, Ciências e Afins do Rio de Janeiro, conheci mulheres que trabalham no Sertão de Goiás pesquisando e desenvolvendo possibilidades de renda para e com o povo de lá, conheci novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas, descobri velhas tecnologias que fazem a diferença na vida das pessoas quando postas em prática; discuti gênero com um representante da Marinha Brasileira, conversei sobre a distribuição da internet pelo Brasil, papiei com um grupo de Brasilia que desenvolve didática para ensinar inglês a deficientes visuais. Em suma, passei a semana inteira indo a exposição da SBPC, com exceção da quinta-feira, e não consegui ver tudo.

Ah, além de falar e falar, ouvir e ouvir acumulei uma série de material impresso, livros, gibis informativos e derivativos que as instituições produziram para distribuir entre os professores! Pena que estou sem câmera digital para registrar essas coisas e gravar na paredes desse blog.

Enfim, os dias se passaram muito rápido... e o recesso escolar acabou... amanhã volta tudo ao normal. Creche pela manhã, escola a tarde, vida que segue rápida demais, uma coisa sucedendo a outra vertiginosamente. Eu só me recordo do meu Salmo preferido:

"Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite."
(Salmos 19:2)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Noite de São João...

Desde maio eu voltei a trabalhar na creche e passei a prestar serviço para a prefeitura de Recife como professora de uma escola municipal na qual leciono História, História do Recife e Ensino Religioso. Em síntese: tenho tido dias longos, loucos, meio improváveis, as vezes sinto um dia se tornar uma vida inteira...

Hoje comecei a vida com crianças de três anos, livros infantis, massa de modelar, papas, melancias, banhos, colchões, lençóis, almoço - "Se não comer não ganha suco!" -, higiene bucal, sono, para eles e elas, para mim não...

Depois que eles e elas dormiram eu corri para cima de moto rumo ao mundo do sexto ano com a pré-história e pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara; das demandas dos adolescentes agitados, indisciplinados, agressivos, carentes de tudo do sétimo ano e da arte de tentar equilibrar todos os conflitos para falar da Idade Média antes que o sinal toque para o intervalo; e dos dois nonos anos onde todos os habitantes da América Pré-colombiana parecem olhar para mim esperando com a paciência única dos mortos para ver como faço para resolver o alvoroço dos alunos, a forma como a sala está de cabeça para baixo e ainda assim encontrar tempo para falar sobre eles.

Não, um dia não é uma vida, o dia é mil vidas. A minha, a dos alunos e a de todos os mortos que precisam ser invocados nas aulas de história!

Enfim, depois de tudo, quando finalmente comecei a trilhar o caminho que me traz de volta para casa eu encontrei com várias fogueiras acesas. Amanhã é dia de São Pedro e aqui, nos bairros de subúrbio do Recife, essa tradição persiste. A frente de uma casa a folgueira já estava com o fogo alto dançando no ritmo do vento de cidade litorânea, em outra uma criança soltava bombinhas, mais a frente havia pessoas bebendo algo alcoílico e comendo comida de milho... e tantas outras cenas...


Me ocorreu que acontecia algo como uma "noite de S. João para além do muro do meu quintal" e "do lado de cá" estava "eu sem noite de S. João" contando apenas "com uma sombra de luz de fogueiras na noite, um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos e um grito casual de quem não sabe que eu existo".

Ando meio melancólica por esses dias, tentei omitir isso desse espaço, afinal um diário/blog é feito de memória e esquecimento e sempre se pode esquecer de momentos tristes... Mas, em perspectiva eu sinto que vou gostar de lembrar dessa noite melancólica noite de São Pedro e da poesia de Fernando Pessoa que o Vitor Ramil musicou tão lindamente. Deixo aqui o registro do momento, do poema e da música.


Noite de S. João

Noite de S. João para além do muro do meu quintal. 
Do lado de cá, eu sem noite de S. João. 
Porque há S. João onde o festejam. 
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite, 
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos. 
E um grito casual de quem não sabe que eu existo. 

Alberto Caeiro, In: "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

sábado, 25 de maio de 2013

Instruções, Neil Gaiman

TOQUE A PORTA DE MADEIRA na parede que você nunca viu antes.
Diga “por favor” antes de você abrir o trinco,
passe,
desça o caminho.
Um monstrinho de metal vermelho se pendura da porta da frente
pintada de verde,
como uma aldrava,
não o toque; ele morderá seus dedos.
Ande pela casa. Não pegue nada. Não coma nada.
No entanto,
se qualquer criatura disser que está com fome,
alimente-a.
Se ela dizer que está suja,
limpe-a.
Se ela gritar que está sofrendo,
se você puder,
alivie seu sofrimento.

Do jardim dos fundos você poderá ver a floresta selvagem.
O poço profundo pelo qual você passa leva para o reino do Inverno;
há outra terra no fundo dele.
Se você virar aqui,
poderá voltar em segurança;
você não passará vergonha. Não pensarei mal de você.
Depois de atravessar o jardim, você estará na floresta.
As árvores são velhas. Olhos espreitam dos arbustos.
Sob um carvalho retorcido, uma velha está sentada. Pode ser que lhe peça algo;
entregue a ela. Ela
apontará o caminho para o castelo. Dentro dele estão três princesas.
Não confie na mais jovem. Siga em frente.
Na clareira depois do castelo os doze meses sentam-se ao redor de uma fogueira,
aquecendo seus pés, trocando contos.
Eles podem fazer favores para você, se você for educado.
Você pode colher morangos no gelo de Dezembro.

Confie nos lobos, mas não diga a eles onde você esta indo.
O rio pode ser cruzado de barco. O balseiro vai levar você.
(A resposta à sua pergunta dele é essa:
Se ele der o remo ao seu passageiro, ele será livre para abandonar o barco.
Mas lhe conte isso a uma distância segura.)

Se uma águia lhe der uma pena, mantenha-a segura.
Lembre-se: o sono dos gigantes é pesado demais; as
bruxas muitas vezes são traídas por seus apetites;
dragões tem um ponto fraco, em algum lugar, sempre;
corações podem ser escondidos,
e você os trai com sua língua.

Não sinta ciumes de sua irmã.
saiba que diamantes e rosas
são tão desconfortáveis quando saem dos lábios de alguém quanto sapos e rãs:
mais frios, também, e mais pontiagudos e cortantes.

Lembre-se do seu nome.
Não perca a esperança – o que você procura será encontrado.
Confie nos fantasmas. Confie naqueles que você ajudou vão ajuda-lo por sua vez.
Confie em seus sonhos.
Confie em seu coração, e confie na sua história.

Quando você  regressar, volte pelo caminho por onde veio.
Favores serão devolvidos, dividas serão pagas.
Não esqueça as boas maneiras.
Não olhe para trás.
Monte na águia sabia (você não cairá).
Monte no peixe prateado (você não afogará).
Monte no lobo cinzento (agarre-se bem ao pelo dele).

Há um verme no centro da torre; por isso que ela não ficara de pé.

Quando você chegar à pequena casa, ao lugar onde sua jornada começou,
você a reconhecerá, embora ela há de parecer menor do que você se lembra.
Ande pelo caminho, e atravesse o portão do jardim que você viu só uma vez.
E então volte para casa. Ou faça uma casa.

Ou descanse.

Neil Gaiman
______________

Neil Gaiman é um autor inglês que ficou mundialmente conhecido na década de 1990 por ser o autor da série de quadrinho The Sandman, mas além dos quadrinhos ele também escreve em prosa e verso. Em seus textos ele dialoga com a obra de autores clássicos como Freud, Shakespeare, Allan Poe, os irmãos Grimm, entre outros. Adora flertar como mitos judaicos-cristãos, gregos, muçulmanos, árabes, hindus e etc.

Eu sou aquele tipo de pessoa que é fã dele.

Já faz tempo que não posto aqui textos de outra pessoa, mas hoje acordei com esse texto na cabeça e fiquei com vontade de vim aqui e compartilhar. Espero que gostem!

Ah, só para constar, o texto foi retirado da coletânea de contos e poesias "Coisas Frágeis, volume 2". Recentemente também foi transformado em um livro infantil ilustrado por Charles Vess chamado: "Instruções - Tudo que você precisa saber durante sua jornada".

Bom Fim de Semana a todos e todas!!!


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Um filme que quero ver, Elizabeth Bishop e memórias...

Quem ou foi aluno noturno da UFRPE sabe que quando o Barro Macaxeira-Várzea ou do Rio Doce-Dois Irmãos, entre outros, são ônibus que lotam a noite e quando param lá depois das aulas surge automaticamente uma longa fila diante da qual os estudantes fazem as mais diversas escolhas.

Alguns correm para ela de maneira desesperada para garantir um lugar sentado ou próximo a porta, em troca do que eles esperam cerca de uma hora enquanto o ônibus vai enchendo; outros ignoram e esperam um mais vazio; uns terceiros comem tranquilamente sua coxinha de galinha com catupiri bebericando caldo de cana e  quando a fila esta no final pulam no ônibus; e ainda há uns tipos que ficam papeando até o momento no qual eles tem que correr desesperadamente para não perder o ônibus irritando muito quem entrou primeiro e achava que o ônibus já ia sair.

Eu geralmente fazia parte do ultimo grupo e foi em uma dessas ocasiões, em meio a um papo de "espera ônibus encher", que um amigo me contou a respeito da existência de Elizabeth Bishop, segundo ele era fundamental que eu conhecesse.

Conto essa história novamente pois hoje uma vez mais lembrei da Elizabeth, cuja lenda conta que foi uma americana, poetiza das mais importantes do século XX, em língua inglesa, e viveu cerca de 20 anos no Brasil, antes de voltar para sua terra consagrada.

Entre os poemas dela que amo encontra-se "Arte de Perder" cuja leitura sempre me emociona e me leva a reflexão... Em especial nos últimos tempos nos quais tenho perdido tantas coisas a ponto de esquecer como é ganhar...

A parte isso, acordei recordando a Elizabeth Bishop, pois acabei de ver que o Bruno Barreto fez um filme sobre a vida dela chamado "Flores Raras" e esse filme foi selecionado para participar de uma mostra de cinema em Berlim com Glória Pires e a atriz americana Tracy Middendorf no elenco... Acho que esse é um filme que entra para minha lista.

Para quem gosta de cinema e tiver interesse fica o link da matéria: Filme de Bruno Barreto é selecionado em Berlim


Para quem gosta de poesia fica o poema que amo:

Arte de perder
Elisabeth Bishop

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.


A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.


A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
__________________

P.S.: Tinha esquecido, o terceiro podcast das "Meninas dos Livros" está no ar lá blog o assunto do mês é séries Aleska falou sobre "As Crônicas de Arthur", a Mi falou da “Academia e Vampiros”, eu falei de “Crepúsculo” e Ana sobre "Os Três Mosqueteiros" e rolou até briga rsrs... Fica o link também:


segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Para concluir...


Que 2013 seja melhor do que foi 2012!!!
Que todos os melhores desejos se realizem, até mesmo os malucos!!!

"Então, pintei de azul os meus sapatos 
por não poder de azul pintar as ruas, 
depois, vesti meus gestos insensatos 
e colori, as minhas mãos e as tuas."
(Carlos Pena Filho)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Um pequeno grande livro: Antologia Poética de Fernando Pessoa da Jane Tutikian

Quando eu vi essa pequena "Antologia Poética de Fernando Pessoa" na livraria e fui magneticamente atraída para ela. Não resistir a cara linda do livro e abusando da liberdade que os meninos que trabalham lá me dão, sentei e comecei a folhear, pensando a cada página: "Mas que pequeno grande livro é esse?".

Tudo bem que eu sou apenas uma fã babona de Fernando Pessoa, não sou especialista, nem coisa do gênero. Altamente suspeita e nada recomendada para avaliar para o bem ou para o mal a obras, mas tenho que dizer que achei cada escolha da Jane Tutikian perfeita.

Imagino que deve ter sido terrível para ela abrir o Eu profundo e os outros Eus, respirar fundo, considerar toda obra completa do homem e escolher apenas poemas suficientes para encher 64 páginas. Imagino que o exercício de escolher esse e não aquele, aquele e não este deve ter exigido uma ginastica mental profunda.

Independente da felicidade ou infelicidade das escolas da Tutikian, sentar e apreciar Fernando Pessoa sempre foi e será uma experiencia enternecedora.


É impossível não se enternecer pensando a respeito de uma ceifeira que mesmo pobre canta:

"Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida."

Outra impossibilidade é não amar. Como não amar o Alberto Caeiro?

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás..."

E como não se apaixonar pela milesima vez pelas palavras de um certo Pastor Amoroso?

"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar."

Como não vibrar com os versos de Álvaro de Campos?

"NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!"

Acho que nunca houve quem me inspirasse a escrita de ridículas cartas de amor...

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas."

E no fim ainda há aquele que foi a primeira parte do Pessoa que despertou o meu amor, o Ricardo Reis convidando sua Lídia a vim sentar e ver passar o rio...

"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos.
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos."

Eu não sou Lídia, mas já estou sentada olhando correr o rio e vendo que a vida realmente passa, mas meu amor por Fernando Pessoa fica, sempre firme e forte como o bramido das grandes ondas do mar ou a força das mares.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sobre muros...


Outro dia eu tive que refazer o percurso que eu costumava fazer diariamente para ir ao trabalho e um muro me chamou minha atenção porque ele não estava lá há um ano atrás e ele cercava justamente a casa de uma das pessoas com a qual mais fiz amizade ao longo dos 5 anos que passei trabalhando na creche. Uma senhora idosa que costumava sentar na frente de sua casa na mesma hora todos os dias para aproveitar o vento, ver a paisagem e quem passava.

Com o passar do tempo nós duas percebemos que uma sempre passava e a outra sempre estava ali sentada... Então passamos nos reconhecer com um sorriso que passou a um cumprimento dando lugar com o dias, semanas, meses, anos, ao habito de papear. Nas minhas férias da faculdade nós chegamos a ver o sol se por em meio a nossa conversa e isso era muito bom.

Amor, crianças, saúde, vontade de viver eram temas recorrentes em nossas conversas. Aos poucos nós fomos contando uma a outra a nossa vida, nossos dilemas, problemas, buscas por soluções, sonhos, doenças e curas, amores bem sucedidos e mal sucedidos também.

Eu confesso que nunca conheci ninguém com mais amor a vida que essa minha amiga cujo nome eu não conto porque nunca perguntei! Cinco anos de papo e nós nunca nos preocupamos de perguntar coisas uma a outra, a conversa fluía tão naturalmente que nem ela jamais perguntou meu nome nem eu o nome dela.

Minha amiga está além dos 70 e convive com todos os males da idade, tomando medicação diariamente, seguindo uma dieta rígida sem açúcar, sem sal, sem gordura, sem nada, e ainda assim com animo, gostando de viver, achando que vale a pena o estrago. Sem se lamentar pelas dores que se foram ou pelas as que vieram, sendo ainda capaz de sentar na frente de casa para ver o tempo passar em um fim de tarde.

Sei lá, aquele muro alto cercando a casa de minha amiga me causou um certo mal estar. Me fez pensar nos  muitos muros que existem em nossa volta aos quais esse se soma pesadamente, ao menos para mim.

Acabei lembrando dos versos de Robert Frost que aprendi com um dos meus companheiros de virtualidade, o Rafael, "Alguma coisa existe que não aprecia o muro" e nessa lembrança acabo pensando que, talvez, boas cercas não façam bons vizinhos. Acho que boas cercas fazem apenas bons estranhos.

Digam o que disserem sobre segurança ou insegurança, privacidade, cães selvagens, terrores noturnos ou o inferno e suas legiões, talvez se aquele muro estivesse ali há seis anos atrás eu não tivesse conhecido uma das personagens que mais marcaram a história dos meus 20 poucos anos e seria um ser humano muito mais pobre.
________________

P.S.: A proposito de muros, acabei de lembrar de um texto de Neil Gaiman e Dave Mckean que li em Sinal e Ruido, para quem gosta eu deixo aqui...


Vier Mauer
Neil Gaiman e Dave Mckean

ABERTURA

"Alguma coisa existe que não aprecia muro."
Robert Frost escreveu isso, mas também
sugeriu no mesmo poema, "Muro Remendado",
que "Boas cercas fazem bons vizinhos",
então o que podemos dizer?


A PRIMEIRA PAREDE

Tento imaginar quem construiu a primeira
parede. O que ele tinha em mente. Ou ela.
Proteção? Privacidade? Ou outra coisa.

Construímos nossas civilizações com
paredes, que nos dão abrigo e fortaleza.
Mantêm distantes "os outros": as
intempéries, os animais selvagens,
as pessoas que são diferentes. Ao nos dividirem, as paredes nos definem.

As paredes separam as pessoas;
e não só as paredes que construímos.
Talvez as mais assustadoras sejam aquelas
que somos capazes de ver, mas
em cuja existência acreditamos.

A SEGUNDA PAREDE

Eu tive um sonho a respeito disso quando
era pequeno.

No meu sonho havia uma nota, uma nota
musical, um som; e quando ela era tocada todas
as paredes começavam a ruir. E todas as pessoas
de todos os lugares podiam ver...

Podiam ver umas as outras, fazendo as coisas
que as pessoas fazem entre quatro paredes,
Ninguém tinha mais onde se esconder.

Então acordei, e nunca soube se não ter nenhuma
parede era uma coisa boa ou ruim. Não ter onde
se esconder, poder ir a qualquer lugar; sem
fingimento, sem proteção, sem segredos.

A TERCEIRA PAREDE


Disseram-me que a Grande Muralha da China é a única construção
humana na superfície da Terra que pode ser vista do espaço.

Eu nunca vi a Terra do espaço. Não conheço ninguém que tenha
feito isso.

Só vi as fotografias.

Disseram-me que, daquela distância, é muito difícil diferenciar um
país do outro. Era de esperar que eles fossem coloridos, como nos
velhos mapas da escola.

Assim todos diferenciariam.

A QUARTA PAREDE


Quando ouvir dizer que o Muro de Berlim caíra, minha primeira reação foi de
alívio; mas então eu pensei: e se existisse uma jovem que passou anos - metade de
sua vida - pintando naquele muro?

Pintando uma mensagem, ou uma imagem.

Se todas as manhãs ela se levantasse bem cedo, fosse até lá e pintasse um ou
dois traços no muro. Todos os dias, na chuva, no frio, as vezes até no escuro.
Era o seu grito contra a opressão. Seu protesto contra o muro.

Ela estava quase terminando quando o muro foi demolido.
As pessoas poderiam ir e vir livremente. O muro contra o qual ela protestava
não existia mais, assim como sua criação, desfeita em pedaços, vendida a um
colecionador particular.

Tento imaginar como ela se sentiu. Espero que não tenha ficado desapontada.

Eu teria ficado.

ENCERRAMENTO


Talvez devêssemos olhar além das paredes.

Escutem: pintores, escritores, músicos, cineastas e grafiteiros que pintam
frases que brotam como flores luminosas nas laterais de construções
abandonadas - todos vocês.

Existe uma quarta parede a ser demolida.
Governos e autoridades vivem afirmando que boas cercas fazem bons
vizinhos, e aumentam a vigilancia nas fronteiras em um esforço para nos
deixar felizes da maneira como estamos.

Mas alguma coisa existe que não aprecia o muro, e seu nome é
humanidade.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Tempestade...


Não sei ou sei porque ando com um humor um tanto quanto melancólico, com aquela sensação de dever não cumprido de coisas a fazer e uma grande enorme incapacidade de fazer o que quer que seja...

Acho que estou com muita vontade de usar essa página do blog para ficar de mimimimimii, tempestade em copo d´água, desabafar angústia, sei lá, nem que seja só por hoje... preciso de um Momento Desamparo...

E bem, não quero sair por ai postando em redes sociais, conversar com família tá fora de questão.... Ligar para minhas amigas nem pensar.

Todos que me são próximos parecem e tem grandes problemas no momento... Pensei em ligar para alguém, escrever algum e-mail ou algumas cartas...

Mas não quero usar palavras minhas para exprimir o que sinto... só piso e repiso palavras alheias enquanto desejo sumir do mapa como se nunca tivesse existido nele, sem causar transtornos a ninguém, sem deixar nenhuma lembrança que "arda que fira ou que mova"...

E nessas horas... passa um desfile de textos pela minha mente...


"Ó meu coração, torna para trás.
Onde vais a correr, desatinado?
Meus olhos incendidos que o pecado
Queimou! o sol! Volvei, noites de paz."

Fernando Pessoa

"O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso."

Sahge:

"Como morrem os anjos?
Como abraçam o vazio os homens alados, cujos sonhos voam?

Morrem como morrem todos os homens,
Sozinhos e com medo, antes que a cortina caia.
Lançando no eterno a esperança de alcançar o mar infinito
O verde e o campo onde caminhariam para sempre."

Carlos Pena Filho:

"São trinta copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrado.”

Salomão:

"Vaidade de vaidade diz o pregador, vaidade de vaidade! Tudo é vaidade.
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volata ao seu lugar de onde nasceu
...
Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir."
(Eclesiastes 1. 2 ao 5, 8)

E sim, é um drama só... uma tempestade em copo d'água...


Ah, no final quando fui ver uma imagem para o post dei de cara com essa tempestade e não resistir... Me lembrei do Sr. Tio Verden que confessa vez ou outra ser dado a lamúrias... É tio, sou mesmo sua sobrinha, ainda que adotada! Menos mal, pois já diz o ditado "Quem sai aos seus não degenera!".


E depois dessa vou dormi que meu mal também é sono...


"Se eu fosse a Bela Adormecida, espetaria novamente o dedo na roca de fiar e dormiria por mais cem anos." (Gabriela)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Algo novo no ar: sobre Solano Trindade...


Solano Trindade foi um poeta recifence, todos que falam sobre ele acham muito importante dizer que ele era negro, nasceu no em 24 de julho de 1908 no inicio do século XX no bairro de São José, viveu também em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Além de poeta, foi pintor, teatrólogo, ator, folclorista, marxista...


Para mim o interessante de Solano é que se a gente fizer as contas e forçar a memória vai perceber o fato de que a escravidão ter chegado ao fim em 1888, logo em 1908 a memória dessa condição social era recente. Solano viveu uma época na qual homens e mulheres pobres e de cor (das diversas cores) viviam expostos a uma fragilidade social latente.

Fazendo as contas mais uma vez, perceberemos que Solano viveu sua juventude durante a época do Estado Novo, um período no qual os livros de História, em especial os didáticos, falam de um período de prosperidade econômica alavancado pelo Estado Novo, não é bem isso que a poesia de Solano registra, não é bem isso que se vivia nos subúrbios das grandes cidades brasileiras.

Eu sou fã da poesia de Solano Trindade por diversos motivos, mas o mais latente é porque ela me lembra que nós não precisamos ser vitimas de situações adversas. Nós podemos ser guerreiros, nós podemos lutar, por a boca no mundo, fazer algo.

Reza a lenda, ou assim ela me foi contada, esse poeta, nasceu pobre, além de negro, em um local no qual a escravidão foi um realidade latente, mas Solano não usa sua pena para lamentar e sim para lutar por um mundo melhor para homens e mulheres de todas as cores. Em sua poesia Solano denunciava que, a parte o mundo cor de rosa da propaganda do Estado Novo, havia gente com fome em trens sujos na Leopoldina, lançou um novo olhar sobre a história dos negros no Brasil equiparando o Quilombo dos Palmares as histórias de Homero e aos Lusíadas, ajudou a transforma Zumbi em herói da resistência negra.

A proposito, sobre o titulo do post, no qual eu falo sobre algo novo, já há alguns anos eu pesquiso sobre esse tipo de literatura engajada, produzida por homens e mulheres de cor, mas hoje pesquisando um pouco mais sobre Solano para produzir material para um nova empreitada pedagógica, descobri coisas lindas produzidas a partir de sua poesia circulando pela net, isso não estava aqui há três anos atrás.


Eu amei o que encontrei, então trago para minha Caixa com a esperança renovada na possibilidade de construir um mundo mais justo, no qual a renda seja melhor distribuída e não haja miséria espalhada entre milhares de homens e mulheres de todas as cores...





domingo, 18 de março de 2012

O velho desejo de voar...

Fim de domingo e inicio de segunda-feira, como grande parte dos meus companheiros de virtualidade sabem, é um momento pra lá de tenso para mim... Não tem jeito, me da arrepios pensar que mais uma segunda tá chegando com a aurora...

Porém eu já percebi que reclamar não ajuda, apenas agrava, então, por hoje, decidi pensar e escrever sobre algo diferente, algo agradável.

Decidi pensar em coisas positivas, ter um momento Pollyana. Nesse esforço acabei recordando um desejo antiquíssimo, anterior até mesmo ao meu velho desejo de dormir uma noite de 100 anos: o velho e bom desejo de voar!!!


Quem nunca sonhou em ganhar os céus, mergulhar nas nuvens e descobrir surpreso e sem prantos que elas são feitas de algodão doce e que os livros de geografia estão errados, pois o azul do céu é infinito?!?! Eu tenho certeza que cair pra cima não deve doer nada e se voar for coisa restrita apenas ao sonho eu me apego as palavras de um dos meus poetas prediletos e grito ao mundo que não faz mal:


"Um pouco mais de sonho para aquecer a alma,
Para alegrar os abismos do espírito.
Para dar à meia-noite as cores de uma tarde quente,
Enquanto não cessa o cortante hálito gelado do inverno.
De todo modo, vou optar por cair pra cima..."

Sim, eu confesso sem culpa nenhuma que tenho inveja dos pássaros. Afinal, são capazes de romper os limites da gravidade, ganhar o infinito, ir além e depois voltar a terra para cantar suas canções.

Sempre que vejo um pássaro em uma gaiola tenho vontade de abrir tudo e deixa-los voar. Há algo de perverso em pássaros engaiolados. Eu nunca aprendi a voar e está presa no chão já me sufoca, imagina os pássaros que nasceram com o azul por destino?!?!?!


Pássaros só tem lirismo quando rompem os limites da terra e ganham o céu voando em revoada, e já disse Salgado Maranhão:



"Os pássaros quando voam
Não deixam sequer rastro ao vento
Porque não voam com as asas
Apenas com o sentimento...
Os pássaros em revoada
Não buscam tão simplesmente
O ninho de algum lugar
Porque já estão pousados
No próprio ninho do ar."

Bem, mas falando em pássaros eu começo a considerar que é certo, aos seres humanos foi negado as asas. Contudo, talvez não nos tenha a Providencia negado o direito a voar.

Quem sabe haja na arte a possibilidade de vencer os limites da gravidade? Quem nunca voou com um bom livro, canção ou apreciando um quadro de Van Gogh?



Não sei... sei apenas que nesse papo de pássaros, não posso deixas de citar um "pássaro gente coisa linda", ou seja, o César Passarinho, cantor gaúcho querido que a Seerig me apresentou, escuto sua voz agora, ele canta as coisas que quer pra si, e só para jogar o desanimo de segunda longe eu me junto a ele:

"Eu quero ser gente igual aos avós
Eu quero ser gente igual aos meus pais
Eu quero ser homem sem máguas no peito
Eu quero respeito e direitos iguais
Eu quero este pampa semeando bondade
Eu quero sonhar com homens irmãos
Eu quero meu filho sem ódio nem guerra
Eu quero esta terra ao alcance das mãos
Que sejam mais justos os homens de agora
Que cantem cantigas, antigas e puras
Relembrem figuras sem nada temer
Procurem um mundo de paz na planura
E encontrem na luta, na força e na raça
Um novo caminho no alvorecer"

E ponderando sobre o velho desejo de voar ouvindo, ouvindo  a voz do gaúcho soando baixinho pelo meu quarto, já um tanto quanto sonolenta, decido tatuar pássaros na alma enquanto começo a pensar no dia de amanhã com seu Sol, nuvens brancas e todo azul do céu...Vou dormir.

Quem sabe ao acordar eu não me descubra possuidora de asas?!?!

sábado, 19 de novembro de 2011

Troca-troca: Recicle, doe, desapegue e sofraaaaa um pouquinho no processo!

A Vanessa do Fio de Ariadne inventou uma história em Agosto desse ano, um tal de Troca-troca de livros entre blogueiro, saca só a proposta indecente que ela fez: 


"Este modesto bloguinho, editado por alguém que gosta muito de livros, completará 6 anos no próximo dia 31. Por conta disso resolvi comemorar agitando um pouco as coisas por aqui.
Hoje eu começo convidando os leitores a dar uma faxinada nas estantes.
Tem livro lido encostado por aí? Quer trocar por um outro?
Proponho então um troca-troca entre blogueiros amigos. Sim, essa brincadeira é só pra blogueiros."
  
Resultado, eu não resistir e inventei de participar da aventura, fui na minha estante e procurei dois livros, não foi uma tarefa muito fácil, uma vez que eu, como muitas blogueiras apaixonadas por livros, não herdei biblioteca, ou seja, todos os livros que tenho ou comprei ou ganhei...

Cada um desses livro tem uma história comigo, de como chegou aqui, de como foi que li, de como eu gostei muitoooo, mais ou menos ou não gostei... E até pelos que não gostei tenho apego! (#LocaInterna).

Ainda assim eu escolhi dois filhotes livros: o "Nariz de Vidro" do Mário Quintana e o "Final de Verão" da Danielle Steel.


O "Nariz de Vidro" é um livro cheio de poesias lindas, tão ternas... Falando de adolescência, essa fase onde

"A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela
estátua súbita,
mas
esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez da gruta."
(Mário Quintana) 

Falando de uma certa menina que dança... Seria ela eu? Claro que sim... Sempre...


"A menina dança sozinha
por um momento.
A menina dança sozinha
com o vento, com o ar, com
o sonho de olhos imensos."
(Mário Quintana)

Ah, os poemas... eles

"são pássaros que chegam
Não se sabe de onde e pousam no livro que lês" 
(Mário Quintana)


Poemas são como (isso me lembra alguém em especial...):

"... um gole d'água bebido no escuro... 
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema.
Triste.
Solitário.
Único.
Ferido de mortal beleza."
(Mário Quintana)

E se deixar eu vou longe falando dessa obra de arte de beleza gigante que é o Nariz de Vidro... E isso que era para ser um Bilhete onde diria baixinho que amo...


Vira uma carta onde deixo a "Inscrição para uma lareira":


A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
(Mário Quintana)

O outro livro é da americana Danielle Steel, que reza a lenda, é autora de vários best sellers. Acho que dessas autoras de best sellers internacionais ela é a única que eu leio realmente por gosto e não por implicância.

Danielle me lembra minha adolescencia, foi durante essa época que conheci seus livros, Lembro que meu professor de história (levemente marxista) costumava implicar com ela, dizia: "Esse tipo de leitura não te acrescenta nada!" rsrs... É, talvez eu goste de Steel também por implicância!


Porém, é inegável que ela tem uma narrativa que flui sem problemas, tem um toque de drama (sempre choro lendo seus livros), seu final feliz nunca é aquele geometricamente perfeito e ela me lembra muitas coisas boas... E sim, eles acrescentaram coisas a minha vida...

Aliás, as heroínas dela podem até ser lindas, mas não são de uma beleza comum, e perfeitas, nem tanto. Elas sofrem mais que Isaura para conquistarem seu final feliz e eu aconselho a quem vai receber esse filho meu que se prepare com um lencinho porque essa história de superação emocional, de conquista de independência, de amor simples e lindo é de fazer chorar.

Ah, eu li esse livro no final de Verão de 2009 em Petrolina... Embora seja um livro velhinho, editado em 1986, tem uma história sempre emocionante, e começa assim:

Ponte que liga Petrolina a Juazeiro ou Juazeiro a Petrolina.

Final de Verão
Danielle Steel

O verão chegou
como um sussurro
dançando
nos cabelos dela,
desejando que ele
se importasse
e sonhasse
e parasse
o carrossel
até ouvir
a verdade dela
risonha
aos seus olhos,
ela queria que ele
se desse conta de que
ela o amava
ainda
até
tarde demais...
mas o tempo
jamais
esperaria,
jamais pararia...
e ela estava livre
para castelos de areia
e sonhos,
os planos de verão
tão doces
tão novos
tão velhos...
depois da história contada,
os céus
se fundem
o amor continua a viver
até
o fim do verão.

Espero sinceramente que as pessoas que vão receber esses livros gostem deles, que eles lhes interessem tanto quanto me interessam. Não estou dando algo que não gosto ou que não quero mais, estou oferecendo bens tão preciosos que desejo compartilhar. Mas, ainda que nesse momento eu esteja saudosa de meus livros também estou alegre, afinal, nas palavra da Vanessa:

"... outros livros novos virão!"