sexta-feira, 31 de maio de 2013

25 coisas para fazer antes...

Encontrei  um texto chamado "25 coisas para fazer antes dos 25" e achei muito legal. Através dele, deu para perceber que esses dilemas tão meus na verdade são também de outras tantas pessoas e eu decidi no impulso publicar aqui o texto e junto a ele algumas coisas que me ocorreram enquanto eu lia.

Aliás, só para constar, 25 anos me pareceu uma segunda adolescência, 27 tem parecido assustador, agora parece faltar tão pouco para os 30 e eu ainda não sou a mulher sofisticada, elegante, confiante e bem sucedida que eu desejo ser.

Sem mais, segue a lista

25 coisas para fazer antes dos 25

1. Faça as pazes com os seus pais. Seja por, finalmente, reconhecer que eles realmente querem o melhor para você ou por perdoá-los por serem imperfeitos, você não pode entrar feliz na vida adulta com essa marca de ressentimento familiar. Estou tentando...

2. Beije alguém que seja ‘muita areia para o seu caminhãozinho’. Beije modelos, estudantes de medicina e empreendedores que moram em Dubai, e não se preocupe se eles(a) vão te ligar depois ou não. Não tenho mais idade para isso

3. Minimize a sua passividade. Isso eu fiz \o/

4. Seja subordinado ou faça um bico, para começar a entender como gorjetas funcionam, como manter a paciência perto de babacas e como algumas palavras amáveis podem mudar o dia de alguém. Eu fiz um bico!

5. Reconheça liberdade como uma passada num fast food às 5h30 da madrugada com um bando de estranhos que você acabou de conhecer. Reconheço liberdade como viajar sozinha para onde quero e meu dinheiro permite contra a vontade do resto da família.

6. Tente não se martirizar por possuir um diploma ‘inútil’. Dinheiro é um terror e as coisas não aconteceram exatamente como você planejou, mas você tinha mesmo que fazer faculdade… E ter um diploma não é a pior coisa do mundo. Nós vamos resolver essa confusão, provavelmente. O ponto é que você não merece menos só porque ir à faculdade não trouxe um retorno imediato. Seja paciente, trabalhe com o que você tem e lembre-se que muitos de nós estamos nessa juntos. Né que isso é mais comum do que parece!! Só não consigo decidi se é confortador ou assustador!!

7. Se você está em qualquer emprego que seja, abra uma poupança. Você nunca sabe quando estará desempregado ou  desesperado para fugir da sua vida por uns dias. Mesmo R$20 por semana já fazem R$1040 a mais por ano do que você teria de outro jeito. Uau, não é só minha mãe que diz isso!

8. Adquira o hábito de ir lá fora, aproveitar a luz, cultivar seus amigos, esquecer a internet. Como eu descobrir a net entre os 20 e os 25 isso vai ficar para os 30!

9. Fique curtindo – e alimentando – uma ressaca por 4 dias seguidos. Ainda não tomei aquele porre... Quem sabe um dia...

10. Comece um relacionamento com o(a) sua paixão platônica dizendo que o(a) quer. Diretamente. Tipo, olhando em seu rosto e dizendo assim: Eu quero você. Eu quero ficar com você. Na próxima vida talvez... Mas foi legal descobri que paixões platônicas são comuns nessa idade!

11. Aprenda a dizer não – para você mesmo. Não continue usando salto alto se você odeia, não continue fumando se você odeia o seu cheiro no dia seguinte, pare de passar dias inteiros afundado no sofá para depois reclamar que está perdendo o Sol. Isso é um aprendizado para a vida inteira!

12. Tire um tempo para revisitar os lugares que construíram quem você é: o apartamento em você cresceu, sua escola, sua cidade natal. Esses lugares até podem ficar lá para sempre, mas você definitivamente não. Boa Ideia Sempre!

13. Encontre um hobby que te faça esperar pelo momento de ficar sozinho, que deixe essa solidão momentânea agradável e energizadora. Encontrei!

14. Pense que você se conhece até conhecer alguém mais do que você. Será?

15. Esqueça quem você é, suas prioridades e como uma pessoa deveria ser. Difícil!

16. Identifique os seus medos e, ao invés de deixar que eles controlem as suas ações, encontre e converse com pessoas que já os superaram. Não se contente sem experimentar 000002% do que o mundo tem para oferecer porque você tem medo de viajar de avião. Estou tentando!

17. Adquira o hábito de organizar as coisas e desapegar. Só porque funcionaram em algum momento não significa que você deve mantê-las para sempre – sejam essas ‘coisas’ o seu par de calças favorito ou o seu ex. Aprender a desapegar foi uma conquista... comecei com livros...

18. Pare de se odiar. Estou tentando!

19. Saia e assista àquele filme, leia aquele livro ou ouça aquela banda que você já mentiu sobre ter assistido, lido, ouvido. Fiz isso...

20. Tire vantagem do seguro de saúde enquanto você ainda é saudável. ????

21. Crie o hábito de falar às pessoas como você se sente, seja escrevendo um e-mail de fã para alguém cujo trabalho você ame ou falando ao seu chefe por que você merece um aumento. Tentando também!

22. Namore alguém que diga “Eu te amo” primeiro. Isso vai ficar mesmo para depois dos 25 antes dos 30!

23. Deixe o país com a desculpa de “se encontrar”. Isso não funcionará. Lugares não mudam pessoas. Invés disso, beba bastante sozinho, leia vários livros, faça sexo em albergues sujos e volte para casa quando a saudade bater. Isso vai ficar para o depois dos 25 antes dos 30!

24. Revolucione e compre um Macbook Pro. hum...

25. Largue aquele emprego que te deixa infeliz, termine relacionamentos que te façam agir como um lunático, abandone os amigos que ininterruptamente te dão vontade de vomitar. Você é novo, resiliente, há outros trabalhos, relacionamentos e amigos se você estiver aberto a eles. É isso ai \o/

Eu vi a lista no Ingresse.com,  nesse link

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A sorte das pipas!


Sou uma pessoa levemente distraída, vivo com a cara para o ar, com a cabeça nas nuvens, meu pai debocha me chamando de "Mundo da Lua", apesar do deboche me irritar profundamente tem seu fundo de verdade e eu não mudo porque gosto de ser assim.

Gosto de ser o tipo de pessoa que vive metade a sonhar, gosto de ter os pés no chão e os olhos nas nuvens. Talvez por isso inveje a sorte das pipas que os meninos empinam em dias verão por toda a parte do subúrbio onde moro. Enquanto o sol brilha e o vento sopra esvoaçando saias, cabelos e meus pensamentos vez em sempre paro e fico olhando o movimento das pipas lá no alto, voando quase livres no céu...

Por esses dias meu vizinho resolveu empinar pipa no quintal de minha casa, não resisti e pedi e ele para entrar na brincadeira. Foi ótimo sentir o vento puxando a armação frágil do brinquedo ligado ao chão apenas por uma linha tão tênue que fica invisível. Mas, confesso, apesar do prazer de segurar a linha foi uma tortura ignorar a vontade louca de soltar o fio e deixar a pipa ir embora. Me ocorreu ser uma pena estarem todas as pipas sempre sempre presas por fios semi-invisíveis na imensidão.

Enfim, apesar disso, presas ou não, elas estão tão altas, tão próximas as nuvens, tão envoltas no azul do céu que eu não posso deixar de invejar a sorte delas que podem ir tão alto enquanto meus pés precisam ficar tão presos no chão!



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Esse texto foi publicado pela primeira vez em uma segunda-feira de outubro de 2011... Segunda-feira sempre é um dia que me deprime. Mas as vezes, não sempre e nem constantemente, gosto de combater esse mal estar com algo positivo, esse texto me remete a algo positivo... Vou começar a semana com ele, mesmo que ainda seja Maio, esse mês incomodo, e o céu esteja cinza.

sábado, 25 de maio de 2013

Instruções, Neil Gaiman

TOQUE A PORTA DE MADEIRA na parede que você nunca viu antes.
Diga “por favor” antes de você abrir o trinco,
passe,
desça o caminho.
Um monstrinho de metal vermelho se pendura da porta da frente
pintada de verde,
como uma aldrava,
não o toque; ele morderá seus dedos.
Ande pela casa. Não pegue nada. Não coma nada.
No entanto,
se qualquer criatura disser que está com fome,
alimente-a.
Se ela dizer que está suja,
limpe-a.
Se ela gritar que está sofrendo,
se você puder,
alivie seu sofrimento.

Do jardim dos fundos você poderá ver a floresta selvagem.
O poço profundo pelo qual você passa leva para o reino do Inverno;
há outra terra no fundo dele.
Se você virar aqui,
poderá voltar em segurança;
você não passará vergonha. Não pensarei mal de você.
Depois de atravessar o jardim, você estará na floresta.
As árvores são velhas. Olhos espreitam dos arbustos.
Sob um carvalho retorcido, uma velha está sentada. Pode ser que lhe peça algo;
entregue a ela. Ela
apontará o caminho para o castelo. Dentro dele estão três princesas.
Não confie na mais jovem. Siga em frente.
Na clareira depois do castelo os doze meses sentam-se ao redor de uma fogueira,
aquecendo seus pés, trocando contos.
Eles podem fazer favores para você, se você for educado.
Você pode colher morangos no gelo de Dezembro.

Confie nos lobos, mas não diga a eles onde você esta indo.
O rio pode ser cruzado de barco. O balseiro vai levar você.
(A resposta à sua pergunta dele é essa:
Se ele der o remo ao seu passageiro, ele será livre para abandonar o barco.
Mas lhe conte isso a uma distância segura.)

Se uma águia lhe der uma pena, mantenha-a segura.
Lembre-se: o sono dos gigantes é pesado demais; as
bruxas muitas vezes são traídas por seus apetites;
dragões tem um ponto fraco, em algum lugar, sempre;
corações podem ser escondidos,
e você os trai com sua língua.

Não sinta ciumes de sua irmã.
saiba que diamantes e rosas
são tão desconfortáveis quando saem dos lábios de alguém quanto sapos e rãs:
mais frios, também, e mais pontiagudos e cortantes.

Lembre-se do seu nome.
Não perca a esperança – o que você procura será encontrado.
Confie nos fantasmas. Confie naqueles que você ajudou vão ajuda-lo por sua vez.
Confie em seus sonhos.
Confie em seu coração, e confie na sua história.

Quando você  regressar, volte pelo caminho por onde veio.
Favores serão devolvidos, dividas serão pagas.
Não esqueça as boas maneiras.
Não olhe para trás.
Monte na águia sabia (você não cairá).
Monte no peixe prateado (você não afogará).
Monte no lobo cinzento (agarre-se bem ao pelo dele).

Há um verme no centro da torre; por isso que ela não ficara de pé.

Quando você chegar à pequena casa, ao lugar onde sua jornada começou,
você a reconhecerá, embora ela há de parecer menor do que você se lembra.
Ande pelo caminho, e atravesse o portão do jardim que você viu só uma vez.
E então volte para casa. Ou faça uma casa.

Ou descanse.

Neil Gaiman
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Neil Gaiman é um autor inglês que ficou mundialmente conhecido na década de 1990 por ser o autor da série de quadrinho The Sandman, mas além dos quadrinhos ele também escreve em prosa e verso. Em seus textos ele dialoga com a obra de autores clássicos como Freud, Shakespeare, Allan Poe, os irmãos Grimm, entre outros. Adora flertar como mitos judaicos-cristãos, gregos, muçulmanos, árabes, hindus e etc.

Eu sou aquele tipo de pessoa que é fã dele.

Já faz tempo que não posto aqui textos de outra pessoa, mas hoje acordei com esse texto na cabeça e fiquei com vontade de vim aqui e compartilhar. Espero que gostem!

Ah, só para constar, o texto foi retirado da coletânea de contos e poesias "Coisas Frágeis, volume 2". Recentemente também foi transformado em um livro infantil ilustrado por Charles Vess chamado: "Instruções - Tudo que você precisa saber durante sua jornada".

Bom Fim de Semana a todos e todas!!!


quarta-feira, 15 de maio de 2013

As Meninas dos livros e os Autores Brasileiros


Esse mês as meninas dos livros decidiram falar sobre autores brasileiros, cada um escolheu um e mergulhamos na aventura de falar... falar e falar sobre literatura.

A Bibliotecária - Menina das Ideias -, Aleska Lemos, falou sobre José de Alencar;
Eu - me recuso a me autodenominar Miss Simpatia - Machado de Assis;
A Prefeita, Mi (Michele Lima para os não-íntimos), falou sobre Paulo Coelho; e
A Xerife, Ana Seerig, falou sobre Fernando Sabino.

Como sou uma cidadã correta, sigo as indicações da querida prefeita Mi (Michele Lima para os não íntimos - adoro escrever isso #SouBesta) e divulgo aqui e quem quiser pode ir lá no nosso blog e conferir a ideia!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Minhas impressões sobre as Irmãs Brontë

Estou lendo o livro “Jane Eyre” da Charlotte Brontë, e me deu vontade de escrever a respeito das irmãs Brontë e sim, esse post vai ser longo porque aquelas mulheres discretas, meio sofridas, filhas de um pastor inglês do inicio do século XIX, cuja cabeça era tão cheia de imaginação, paixão e capacidade criativa me fazem querer tagarelar.

A primeira das irmãs Brontë com a qual tive o prazer do encontro foi a Emilly Brontë, foi um mau começo. Céus porquê quis a Divina Providência me apresentar logo a mais arredia das meninas? Tímida, introspectiva, fechada para balanço, boa observadora de seu mundo, péssima na arte de manter uma mera conversação burocrática.

A leitura de “O morro dos ventos Uivantes” foi uma das experiências mais atormentadas de minha adolescência. Existe uma forma de não ser envolvido pelo frio musgoso daquela charneca atormentada? Se existe eu não os conheço, pois que a violência contra as crianças, as desigualdades sociais naturalizadas e a brutalidade infantil e mortal do protagonista sempre me abatem o espírito.

Li Emilly Brontë exatamente após “Orgulho e Preconceito” esperando encontra nos personagens da Emilly a mesma fagulha de calor, esperança e amor encontrada no celebrado e apaixonante romance de Austen e só encontrei frio, tristeza e revolta. Lembro sempre que quando fui devolver o livro o bibliotecário me perguntou se eu gostei e respondi com meu jeito estabanado e sem filtro da adolescência: “Nunca mais leio essa autora.”. Nunca diga: “Dessa água não beberei!”, de lá para cá já voltei a Emilly no mínimo mais duas vezes e continuo achando esse romance uma coisa atormentada.

Depois da atormentada Emilly, Anne foi a segunda das irmãs a entrar em minha vida. Confesso que a mais nova das irmãs Brontë demonstrou ser uma criatura um pouco mais otimista na escrita da história de "Agnes Grey", livro no qual ela mistura um pouco de sua autobiografia com um de seus sonhos. Se bem me lembro, Agnes é a mais nova de três irmã e decide se aventurar como preceptora de crianças após a morte do pai para não se tornar um peso para a mãe e irmãs. Durante sua atividade como professora ela amadurece e encontra o amor na figura de um pastor modesto e honesto e no final do livro ainda abre uma escola junto com a mãe e as irmãs. Não sei, porém suspeito que terminar seus dias junto a suas irmãs exercendo o magistério de forma independente era o sonho dela.

Já a Charlotte parece um meio termo entre Emilly e a Anne, até aqui “Jane Eyre” tem tido um peso dramático e melancólico, mas também há um núcleo de luz, há romance e calor para contrabalançar o frio. O livro funciona em seus 10 primeiros capítulos como um ótimo registro da vida escolar de crianças pouco favorecidas financeiramente em meados do século XIX, na Inglaterra, isso o torna bem atrativo para mim.

Gostaria muito de juntar o resmungão Raul Pompeia, o qual estudou em uma escola modelo do Império do Brasil, contando com todo o luxo, sem castigos físicos, com comida abundante, todos os aparelhos da modernidade pedagógica da época com a austera Charlotte Brontë. Talvez desse encontro saísse um homem com menos pena de si mesmo e mais capacidade de enfrentar dignamente seus bichos. #ProntoCritiquei

Voltando a Jane Eyre, ela tem sido até aqui uma baita heroína, dramática, intensa, intelectiva e com um fabuloso espírito prático. Sozinha no mundo vai abrindo seu caminho como pode, como dá, como lhe é possível dentro daquela sociedade na qual a desigualdade era naturalizada. Existe forma de não me emocionar com os suspiros de liberdade da jovem Jane?:

“Nesta tarde, cansei-me da rotina de oito anos. Quis liberdade, ansiei por liberdade. Por liberdade murmurei uma prece – e tive a sensação de que ela se desfazia ao vento que soprava lânguido. Abandonei-a e construí uma súplica humilde: pedindo mudança, pedindo estímulo. E também essa súplica me pareceu fundir-se no espaço vago. – Então – bradei, meio desesperada – dai-me pelo menos uma servidão diferente!” (Charlotte Brontë_Jane Eyre, 2008, p. 56).

Sempre fiz de “O morro dos ventos Uivantes” um contraponto ao “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen, um exercício pouco frutífero é verdade e infundado, mas, observando bem o livro de Charlotte Brontë tem mais pontos em comum que o clássico mais celebrado de Austen do que qualquer outro livro escrito por uma Brontë. Pois trata-se da história de como uma jovem desfavorecida se encontra com um homem melhor colocado na sociedade e com ele vive experiências que terminam em casamento. Mas, pensando bem, também essa comparação não é muito frutífera, naquela sociedade hierarquicamente desigual Jane Eyre estava em um extrato social inferior ao de Elizabeth Bennet, assim como as Brontë estiveram em um estrato abaixo do de Jane Austen.

Pensando bem, a autora de "Orgulho e Preconceito" jamais fez de pessoas abandonadas pela sorte, crianças, órfãos, empregadas domésticas, alcoólatras e preceptoras, protagonistas de suas histórias - no máximo coadjuvantes - de forma geral acho que ela mal percebia a existência desses sujeito. Já as Brontë fazem justamente desses seres abandonados pela sorte e até sujeitos de moralidade duvidosa (Heathcliff) personagens centrais em suas narrativas.

Apesar de estar gostado muito do texto da Charlotte Brontë, confesso achar mais fácil amar a vivacidade de Elizabeth Bennet e encontrar mais carisma no Mr. Darcy. É mais difícil amar a sobriedade de Jane Eyre e gostar do esquisitão Mr. Rochester. A luminosidade, a doçura, os bailes e o calor acolhedor dos livros de Jane Austen ainda me parecem mais convidativos que a dramaticidade das situações expostas em livros como o de Charlotte Brontë.

A propósito, parando de comparar, preciso dizer: mesmo me sentindo mais atraída pela obra de Austen, cada vez mais amo Charlotte Brontë. É impossível não amar uma mulher tão antenada com as discussões de seu tempo a respeito da desigualdade entre os gêneros, capaz de escreve em 1848 reflexões como essa:
“Têm-se as mulheres como entes passivos; e elas, todavia sentem tanto quanto os homens. Tanto quanto os seus irmãos, necessitam de campo onde exercitam as suas faculdades. As mulheres penam nos constrangimentos exagerados na inércia absoluta, precisamente como os homens sofreriam nas mesmas condições. E é pobreza de espírito dos seus privilegiados companheiros dizer que elas devem limitar-se a fazer pudins, cerzir meias, tocar piano e bordar almofadas. Condená-las, ou ridicularizá-las se agem ou aprendem mais do que o preconceito permite ao seu sexo – constitui uma insensatez.” (Charlotte Brontë_Jane Eyre, 2008, p. 70-71)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O quarto do meu irmão

Em saudável desarmonia eu e meu irmão compartilhamos o mesmo quarto por toda a infância. Não era um quarto colorido, muito mobilhado ou ricamente adornado, não havia nele nada além duas camas de madeira, uma comoda e nós dois.

Quando Rafaela saiu do berço no quarto da minha mãe e passou a dividir a cama comigo então era tudo + nós três até o belo dia no qual eu e meu irmão começamos a entrar na puberdade. Nesse dia meu pai achou por bem construir mais um vão na casa, separar meninas de menino e oferecer a Rafaela uma cama todinha só para ela. Foi essa resolução do meu pai a responsável por fazer nascer o lugar por mim batizado como o quarto do meu irmão..

Atualmente o quarto do meu irmão e o que compartilho com Rafaela são de geografias opostas dentro de casa, enquanto o meu é um lugar cheio de livros, lembranças de viagens e todo tipo de quinquilharia juntadas nos últimos 27 anos, o do meu irmão tem um monte de massa de modelar, caixas de lápis de cor, tinhas, pinceis, nas paredes um mapa da América Latina quase completo, um estranho desenho de uma mulher com um réptil atrás dela, o esboço incompleto do rosto de minha cunhada o versículo 14 do Salmo 69 escrito por trás da porta e, aquilo que mais chama atenção de espectadores desavisados, duas prateleiras repletas de uma infinidade - ou finidade - de aquários de tamanhos diversos com peixes de todas as cores e tamanhos nos mais diversos estágios de desenvolvimento.

"Tira-me do lamaçal, e não me deixes atolar; seja eu livre dos que me odeiam, e das profundezas das águas."(Salmos 69:14)

Outro dia deitei na cama dele e comecei a observar os peixinhos coloridos na prateleira que um dia abrigou minha nascente coleção de livros....



Fiquei observando o movimento repetitivo dos peixinhos coloridos, indo e vindo, nadando sempre de lá para cá exibindo o esplendor de suas nadadeiras multicoloridas e então em um fleche esses mesmos peixes  de movimentos monótonos parecem ultrapassar a bairreira de vidro e rompendo os limites começaram a nadar por todo o quarto parecendo trazer no rastro de suas caldas todo a água do infinito oceano para dentro do pequeno quarto do meu irmão agora transformando em um aquário gigantesco...




... Ou melhor... 


A julgar por toda flora e fauna marítima que começava a romper os limites impostos pelos vidros de todos os aquários invadindo e ampliando cada parte disponível de espaço, o quarto não era um aquário e sim um pedaço infinitamente abismal do fundo do oceano no qual todos os cardumes de peixes, até mesmo os bebês-peixes recém-nascidos e microscópicos se sentiam confortáveis para nadar.



De repente mesmo das velhas conchas frias e lodosas saim patinhas e cabeças de moluscos ancestrais ansiosos por explorar o fundo daquele novo mar... E por fim mesmo eu parecia ter encarnado o espirito de qualquer sereia errante e me via espalhada nadando encantada por todos os lados.



Foi no ponto alto do meu nado no meio de um cardume de pequenos peixes coloridos que a mais incrível de todas as coisas ao meu redor aconteceu! Do nada eu vi a peixinha vermelho sangue gerada e nascida nesse quarto, cujo crescimento acompanhei quase diariamente, se aproximar de mim e com olhos vidrados encara-me fixamente enquanto me perguntava com uma voz capaz de ser ouvida até debaixo d'água:


"Quem é você? Jaci ou Pandora?"


E eu até tentei responder, mas enquanto tentava articular palavras toda diversidade de vida marítima ocupante daquele infinito pedaço do oceano pareceu minguá para dentro dos aquários tão rápido quanto havia saído e no piscar dos meus olhos percebi que a peixinha vermelho sangue já estava novamente nadando no finito espaço de seu aquário tão silenciosa quanto sempre foi...



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P.S.: Sim, esse é mais um post para a série "Sonhos são esquisitos, idiotas e me apavoram"