Sinceramente concordo plenamente com Rose Walker: "Sonhos são esquisitos, idiotas e me apavoram.".
Parece uma coisa estranha ouvir isso de mim, uma dorminhoca profissional, mas essa afirmação realmente me impactou de maneira que eu não resisto e tenho que escrever sobre a obra de onde essa frase saiu, especificamente o volume 1 da "Edição Definitiva" de Sandman que, a parte o fato de ter me custado os olhos da cara, é simplesmente uma das melhores coisas que já adicionei a minha modesta, porém graciosa biblioteca pessoal:.
Sandman é uma história em quadrinhos que sai direto da década de 1980 e junto com Cazuza ocupam o roll das coisas que amo nesse recorte temporal. Morfeus, o personagem principal dessa história é simplesmente encantador. Ele charmosamente pula fora das páginas e envolve a nossa imaginação. Neil Gaiman não cria histórias, ele cria mitos! Acho que qualquer um que ler Gaiman tem essa sensação... ele criou um universo tão rico, tão sofisticado, tão incrível que é quase palpável, além de muito instigante.
Alias, a temática sonho, em si já é muito instigante. Afinal, os sonhos realmente formam um mundo a parte. E um mundo complicado, onde tudo é possível, onde os quadros barrocos que misturam luz e trevas, vida e morte, sacrifício e gloria, perdão e culpa não são apenas ilustrações fixadas na parede para a nossa apreciação e reflexão, são realidade.
Nos sonhos luz e as trevas se mesclam, somos jovens e velhos, vivemos o presente no cenário do passado, reencontramos nossos mortos, perdemos os vivos, o tempo se bifurca diante de nós e não existe da mesma forma que na "realidade", aliás a própria realidade toma formas difusas... é claro que sonhos me apavoram e Sandman me encanta.
Me encanto com essa obra e morro de amores pelo Senhor dos Sonhos pq através dele temos diante de nós uma linda discursão a cerca de várias questões que envolvem o sonhar de forma lúdica, inteligente, profunda, problematizadora... e sim sou fã tá, posso tecer tantos elogios tanto quanto queira a uma obra que gosto táh! rsrs...
E sim, mesmo sendo o tipo que dormiria por cem anos, dormiria se estes fossem cem anos sem sonhos, nenhum sonho, nada... Não gosto de sonhar ou dos sonhos que tenho..
Fala sério! Oxe... Meus sonhos quase sempre terminam em pesadelos! Tenho até classificação para eles: pesadelos asmáticos, tipo tenho uma pavorosa crise asmática e não acho meu salbutamol em lugar nenhum, acordo morrendo claro, cinco minutos depois passa na cama mesmo, é só susto; pessadelos filme de terror, tipo minhas amigas morrem ou eu perco uma prova importante e coisa do gênero; pesadelos que começam com sonhos, tipo cawboys viram elevadores claustrofobicos menores do que eu (eu até entendo os cawboys, eles tem haver com excesso de Sabrina, mas e o elevador?); pesadelos história sem fim, tipo desperto dentro de outro pesadelo umas três vezes e coisas assim... a lista é imensa... sintetizo ela no "sonhar me apavora".
Desde criança que em minhas orações noturnas um pedido se repete: "Senhor, dai-me um noite de paz, sem sonhos!". Deus tem atendido a essa oração.
E falando em sonhos e orações lembrei de Freud, diz ele, ou disse ou dizia ele, que a religião é um ilusão, não necessariamente um erro, mas uma ilusão, um tipo de neurose universal que nos livra de um tipo de neurose individual. Depois o povo se pergunta pq as pessoas tem problemas afetivos com a psicanálise, vc dizer que as crenças das pessoas são ilusões e neuroses é uma coisa, querer que elas gostem é meio que pedir demais.
Ops... o que Freud está fazendo aqui... está postagem é sobre Sandmam, não sobre ele... e só a titulo de conclusão, outra personagem encantadora dessa história é a Morte, irmã do Senhor dos Sonhos, achei interessante que Neil colocasse a morte como irmã dos sonhos... sempre acho essa associação interessante... sempre fico curiosa para conhecer mais a cerca dessa história, mergulhar dentro dessas páginas e perceber pelos caminhos e descaminhos de Gaiman, não só como ele pensa tudo isso, mas como os homens do fim do século XX, história recentíssima, refletem sobre esses temas.. afinal a arte sempre é um tipo de reflexo da realidade... os homens não conseguem viver sem narrar e arte é uma grande forma de narrativa onde sonhos e realidade se misturam para dar a tonalidade dessa experiência dura, esquisita, idiota, apavorante e fascinante que é viver!