terça-feira, 24 de março de 2009

AS SEM RAZÕES DO AMOR


As sem Razões do Amor
Carlos Drumond de Andrade

As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Sites Consultados:
http://haylinloveangel.nafoto.net
www.casadobruxo.com.br
__________
Recife, 06 de Maio de 2011.

Engraçado olhar essa imagem, sabendo exatamente ao que ela me remete... Saudades desse tempo, pena que não é mais tão possivel quanto era antes... Papos vem, papos vão, as relações se transformam tanto que chega a ser assustador!

domingo, 22 de março de 2009

Bertold Brecht e Se os tubarões fossem homens


Eu sou fã de Bertold Brecht, ele é ótimo em sua analise das sociedades humanas e esse esse texto dele é clássico. Não sou marxista de carteirinha, mas tenho muito simpatia por essa corrente filosófica e histórica. Gosto dos marxistas por seu comprometimento com a causa, por sua luta e por sua convicção na possibilidade de uma mudança, são pessoas que não tem medo...

Quanto a Bertold Brecht, foi um dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX,seus trabalhos o tornaram mundialmente conhecido, no final dos anos 1920 Brecht tornou-se marxista, vivendo o intenso período das mobilizações da República de Weimar. Brecht fez do teatro um lugar de discussões das complicadas relações humanas dentro do sistema capitalista na perspectiva de uma estética marxista.

Se os tubarões fossem homens

Se os tubarões fossem homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais amáveis para com os peixinhos?

Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adoptariam todas as medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direcção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.

O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.

Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói.

Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.

Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.

Se os tubarões fossem homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc.

Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.

Sites consultados:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht em 22 de março de 2009.
http://resistir.info/brecht/tubaroes_homens.html em 22 de março de 2009.

terça-feira, 17 de março de 2009

Desejo


“Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.
Victor Hugo

sexta-feira, 13 de março de 2009

Carlos Pena Filho e o Recife do século XX: um poeta e uma cidade azul...


Para começo de conversa amo a poesia dessa cabra, o Carlos Pena Filho, o poeta do azul, do azul que envolve nossas vidas sem que nós sejamos capazes de perceber... em um dos seus sonetos mais lindos, o Soneto do Desmantelo Azul, Carlos escreve:

“Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sol
vertiginosamente azul. Azul.”

O azul é uma das marcas da poesia de Carlos, vai aparecer aqui e ali sempre na sua  poesia suave, elegante, parte de um universo poético cheio de ternura. Que embora seja facilmente reconhecida como sublime, não figura entre  as mais conhecidas, assim como o poeta que jaz esquecido na memória dos seus.

Carlos Pena Filho, nasceu em 1929 em Recife onde também morreu aos 31 anos no dia 1 de julho de 1960, morreu no alge de sua produção literária, no entanto, o que produziu em sua "curta" vida, já fez dele um dos mais importantes poetas pernambucanos da segunda metade do século XX. Politizado, interessado na vida política de Recife e de Pernambuco, um estudante de direito que militava no movimento estudantil engajado nas lutas de seu tempo. Um advogado que atuou em repartição do Estado e, em paralelo, trabalhou como jornalista no Diário de Pernambuco, Diário da Noite e Jornal do Comércio, onde fez reportagens, escreveu crônicas e publicou alguns de seus poemas.

Seu primeiro trabalho como poeta foi o soneto “Marinha”, foi publicado em 1947 pelo Diário de Pernambuco.

Marinha

Tu nasceste no mundo do sargaço
da gestação de búzios, nas areias.
Correm águas do mar em tuas veias,
dormem peixes de prata em teu regaço.
Descobri tua origem, teu espaço,
pelas canções marinhas que semeias.
Por isso as tuas mãos são tão alheias,
Por isso teu olhar é triste e baço.
Mas teu segredo é meu, ó, não me digas
onde é tua pousada, onde é teu porto,
e onde moram sereias tão amigas.
Quem te ouvir, ficará sem teu conforto
pois não entenderá essas cantigas
que trouxeste do fundo do mar morto.

Como todo o resto o poeta também percebe o Recife como uma cidade azul que ferve em um frenesi modernizante, com suas ruas sendo preenchidas com carros, enquanto avenidas eram construídas para suplantar as ruas estreitas do inicio do processo colonizador e arranhas céus tomavam conta dos espaços onde até então casas eram vistas

A cidade do Recife que Carlos conheceu foi uma cidade que estava se transformando em um processo de mutação de sua estrutura urbanística, mas que ainda tinha em sua vida tons de azul, azul do céu litorâneo e do mar a encher a vida das pessoas. Ele viveu em uma Recife que fervia com a critica social e que via surgir em seu horizonte um projeto de educação como o MCP (Movimento de Cultura Popular), que estava diante de João Cabral de Melo Neto e que em breve conheceria o Movimento Armorial. Um momento histórico bastante peculiar, pré-golpe militar, um momento onde as desigualdades sociais são percebidas e colocadas nos versos das poesias como acontece no poema Chope, onde ele fala:


“Na Avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim.
Nas mesas do Bar Savoy, o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrado.”

Mas, não foi só o chope, as desigualdades sociais, os alentos e desalentos da cidade que ele mostra em sua poesia, ele também era um apaixonado por sua cidade, uma cidade que ele descreve como ilha “metade roubada ao Mar, metade ao Rio”, uma ilha onde viveu e morreu sobre a qual escreveu:
“No ponto onde o mar se extingue
E as areias se levantam
Cavaram seus alicerces
Na surda sombra da terra
E levantaram seus muros.
Do frio sono das pedras.
Depois armaram seus flancos:
Trinta bandeiras azuis plantadas no litoral.
Hoje, serena flutua, metade roubada ao mar,
Metade à imaginação,
Pois é do sonho dos homens
Que uma cidade se inventa.”

Uma cidade na qual ele percebe e canta a praia, os subúrbios, a lua, as igrejas, o Bairro do Recife, São José, o Chopp, os oradores, os Secos e Molhados, embriagado, o que sofrem com a crueldade das dificuldades diárias que ele descreve no seguinte poema:

“Recife, cruel cidade,
águia sangrenta, leão.
Ingrata para os da terra,
boa para os que não são.
Amiga dos que a maltratam
inimiga dos que não,
este é o teu retrato feito
com tintas do teu verão
e desmaiadas lembranças
do tempo em que também eras
noiva da revolução.”

Referencias Bibliográficas

PENA Filho, Carlos. Livro Geral Poemas. (Organização de Tânia Carneiro Leão) Edição da Organizadora, Recife, 1999, 2ª edição.
FILHO, Carlos Pena. Livro Geral. Recife: Ed. Póstuma, 2ª ed. 1999.

Sites Visitados:
http://br.geocities.com em 30/10/2008.
http://pt.shvoong.com/humanities em 30/10/2008.
http://culturareligare.wordpress.com em 04/11/2008.
http://poemia.wordpress.com.br em 30/10/2008.
http://palavrarocha.blogspot.com/ em 30/10/2008.

Perguntas de um operário que lê




Perguntas De Um Operário Que Lê.
Bertold Brecht

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilònia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sòzinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

Bibliografia
Sites visitados:
http://www.cecac.org.br em 13/03/2009.