Hoje pela manhã fui enquadrada pela minha irmã caçula, a personificação intransigente e folgada do meu superego. Segundo ela tenho registrado nas ultimas semanas alto índice de ausência de mim mesma, sendo o fato de que passei horas sentada no sofá olhando para o nada uma evidencia marcante disso.
Honestamente não lembro de ter passado horas olhando para o nada, disse a ela que na verdade estava aproveitando o ventinho do ventilador... Ao que ela respondeu: "Jaci, o ventilador estava desligado!". Minha mãe atestou que o fato ocorreu. E dois dos meus amigos mais próximos endossaram que ando ausente.
Sinceramente, eu não ando ausente, eu ando com sono... Já disse algumas vezes aqui: "Se eu fosse a Bella Adormecida espetaria novamente o dedo na roca de fiar e dormiria mais cem anos.". Acordar é um desafio diário, como sempre.
Mas, admito a existência de alguns casos e situações causadoras de incômodos no meu atual momento. Duas pessoas queridas se foram (o pai de minha amiga e um professor querido) e cada vez mais eu sinto o vazio da ausência de sonhos e objetivos se alastrar no meio da frustração do momento presente.
Realizei muitos sonhos nos últimos 10 anos, mas me sinto frustrada ao constatar onde meus sonhos me levaram. Olho para meu momento presente e penso: "É isso mesmo?".
Não é que não ame a docência, o ensino de história é uma arte instigante. Não é que não ame a educação infantil, trabalhar com a pequena infância é uma experiencia especial e única... não é que não ame os blogs... ou morar com minha família aos 29 anos...
Não é isso, mas as vezes olho ao redor e sinto que a realização dos meus sonhos não me levou muito longe. E nesses momentos me sinto intimidada e desencorajada a sonhar. Tenho andado sem sonhos nos últimos tempos. Pela primeira vez na vida não sei o que fazer ou em qual desafio me lançar ou onde colocar minhas forças e energias.
Pior: não me sinto encorajada por mim mesma a fazer isso!
Outro dia liguei a televisão ao acasa durante a tarde e uma cena de novela chamou minha atenção. Nela uma mulher indiana conversava com a filha e dizia a ela: "A vida é um grande mercado onde a gente paga o preço das coisas que escolheu viver.". Me peguei fazendo o escrutínio de minhas escolhas nos últimos 10 anos para saber qual delas custou esse momento atual... E me sinto angustiada e culpada em uma dose sem tamanho de tão imensa.
Sinto um vazio enorme nesse momento... Não sei muito bem para onde ir e sinto que meus amigos já se fartaram de me ouvir... Ou sou eu que não sinto mais vontade de contar? Sinto um déjà-vu, parece aquela vez há quase oito anos atrás quando resolvi fazer um blog para escrever sobre as coisas a respeito das quais eu não queria mais falar, mas não podia calar.
Se esse post pareceu confuso até aqui então realmente voltamo ao ponto no qual estávamos em 2008, mas sem "O eu profundo e os outros eus", afinal a Vaneza encaixotou ele e deixou em algum lugar , o qual não lembra e só Deus sabe quando vai tira-lo de lá. Um filho pequeno cria necessidade urgentes capazes de tornar coisas como um velho livro de poesia irrelevante. Eu entendo, só me lembrem de ter mais prudência com empréstimos de livros nos próximos anos.
Gostaria de ser o tipo que vive um dia de cada vez, sem muitos objetivos claros, um dos amigos com o qual compartilhei esse tipo de angústia me disse: "Não vejo problema em viver sem um objetivo. Eu vivo assim e to de boa, quando aparece uma oportunidade é só agarrar." Até gostei da ideia, mas tenho a impressão que tal pressuposto não foi feito para mim e me pego analisando possibilidades.
Uma amiga me disse: "Faça coisas diferente e você viverá coisas diferentes.". Tenho pensado muito nisso também, analisado as possibilidades, listando coisas não feitas e possíveis: curso, mudança de habito e rotina, investimentos novos de tempo e energia. Só me falta a coragem de transformar essas possibilidades em objetivos/sonhos/desejos.
Não lembro de durante as ultimas semanas ter ficado parada olhando o vazio. Honestamente eu estava mesmo é me esforçando para acordar na hora e ser pontual no trabalho, dar minhas aulas corretamente e envolver meus alunos, ler o máximo possível e fazer minhas refeições. Porém, se realmente fiz isso, é quase certo ter estado envolta nas questões desabafadas nesse texto.
Sentei e escrevi ele na tentativa de encontrar soluções, afinal escrever sempre me ajudou em momentos de crise... Escrevi como forma de lançar à Coragem um sinal de fumaça: "Amiga, estou aqui, venha me visitar. Preciso de você com urgência.".