Quando vim para cá, trouxe pouca coisa comigo. Eu mesma, Lion, roupas, documentos, computador, dois lençóis, livros. Eram tão escaços eram os símbolos de minha existência aqui que comprei um móvel novo: uma mesa. O intuito era montar um mini-escritório, mas agora, olhando o meu entorno, me pergunto se estou montando um espaço de trabalho, fazendo bagunça ou simplesmente montando barricadas durante a guerra.
sábado, 6 de junho de 2020
terça-feira, 26 de maio de 2020
Cheguei aqui em uma noite de fim de verão
Cheguei aqui em uma noite de fim de verão, ainda estava quente, o céu estava estrelado, não havia Lua. Nunca vi um céu tão estrelado, não sabia que existia céu estrelado em noites permeadas por tanto medo e incerteza.
No dia seguinte não haveria aula e nem no próximo e nem no posterior a ele... Todas as minhas urgências estavam suspensas. O amanhã era um espaço de tempo vazio... Resolvi aproveitar a visão até então inédita de um céu estrelado a esse ponto em uma noite quente de Lua Nova. Deitei no chão, havia uma música em minha cabeça, coloquei para tocar o mais baixo possível e diante de mim milhões de luzes fantasmas no céu noturno.
Já ouvi falar mais de uma vez sobre o sentimento de pequenez imposto pela visão do céu noturno, mas tenho um metro e meio de altura, estou habituada a me senti pequena e o sentimento não me emociona, assusta ou intimida.
Diante da imensidão me sinto reconfortada, livre como alguém que pode se mover sem ser percebida e assim pode ir para onde desejar.
O pequeno me intimida mais: bebês de colo, a pequena infância, crianças, pré-adolescentes, animais de outra especie, objetos pequenos, anéis, livros. Se deixar caí quebra. Se derrubar pode morrer na queda. Com facilidade se fere. Basta uma palavra mal colocada para decepcionar. Podem chorar até passar mal.
O imenso impõe admiração. O pequeno exige atenção, dedicação, tempo, espaço, prudência.
Nossa! O que estou falando? É um tempo no qual o invisível se misturou ao visível, matou milhares em questão de meses e sitiou o mundo inteiro. Nós, talvez, sejamos uma geração compreensiva em relação a como coisas pequenas são opressivas e exigentes e perigosas.
O céu estava estrelado, me senti minúscula tive a sensação de poder ficar uma vida inteira ali, diante do céu imenso, o chão frio nas minhas costas, a noite quente me cobrindo, ouvindo o som baixíssimo de uma voz suave cantando em um idioma quase extraterrestre... Foi apenas um momento, um momento infinito.
Diante da imensidão me sinto reconfortada, livre como alguém que pode se mover sem ser percebida e assim pode ir para onde desejar.
O pequeno me intimida mais: bebês de colo, a pequena infância, crianças, pré-adolescentes, animais de outra especie, objetos pequenos, anéis, livros. Se deixar caí quebra. Se derrubar pode morrer na queda. Com facilidade se fere. Basta uma palavra mal colocada para decepcionar. Podem chorar até passar mal.
O imenso impõe admiração. O pequeno exige atenção, dedicação, tempo, espaço, prudência.
Nossa! O que estou falando? É um tempo no qual o invisível se misturou ao visível, matou milhares em questão de meses e sitiou o mundo inteiro. Nós, talvez, sejamos uma geração compreensiva em relação a como coisas pequenas são opressivas e exigentes e perigosas.
O céu estava estrelado, me senti minúscula tive a sensação de poder ficar uma vida inteira ali, diante do céu imenso, o chão frio nas minhas costas, a noite quente me cobrindo, ouvindo o som baixíssimo de uma voz suave cantando em um idioma quase extraterrestre... Foi apenas um momento, um momento infinito.
domingo, 17 de maio de 2020
Estação Atocha, Super Junior e o Triunfo do Irreal.
"Esforcei-me para pensar nos meus poemas, ou em qualquer poema, como maquinas de fazer eventos acontecerem, de mudar os governos, a economia, ou apenas a sua linguagem, e o conjunto das suas funções sensoriais, mas não consegui imaginar isso nem me imaginar imaginando todas essas outras coisas sobre a poesia, quando imaginava - pressentimento terrível - um mundo privado até mesmo dos pretextos mais idiotas para escrever poemas que permanecessem fiéis às possibilidades virtuais do meio, privado dos rituais absurdos como aquele do eu tinha participado naquela noite, então eu intuía uma perde inestimável, uma perda não de obras de arte, mas da própria arte, e portanto infinita, o triunfo total do real, e me dei conta de que em um mundo assim eu engoliria uma cartela inteira de comprimidos brancos." (Ben Lerner, Estação Atocha, pg. 55).
Em "Estação Atocha" a proposta é acompanhar a vida de Adan, um estudante americano vivendo em Madri com o objetivo de escrever um longo poema como forma de concluir seu curso. Adan é um daqueles personagens absurdos com os quais a pessoa leitora vez ou outra cruza. Ele é um mentiroso endêmico, apático, fortemente compromissado em não se deixar encantar por nada, capaz de consumir drogas como se elas fossem confeitos e é absolutamente franco quando narra suas não-aventuras.
terça-feira, 12 de maio de 2020
Medo
Outro dia me meti em um acidente de carro em uma noite chuvosa. Estava voltando de um encontro com uma amiga, um carro bateu em cheio na porta traseira do uber no qual eu viajava. No pequeno espaço de tempo entre o impacto da minha cabeça no vidro e ser jogada para o lado pensei: "É assim que se morre."
No longo espaço de tempo após o acidente, conferi as partes do meu corpo, encontrei meu óculos, olhei em torno, falei qualquer coisa para o motorista e pensei no quão inoportuno seria morrer numa noite assim com chuva que Deus mandava, voltando de um encontro com uma amiga, meus pais em há três cidades de distância, em um domingo... Que bom não ter morrido ali, não era um bom momento para morrer.
domingo, 5 de janeiro de 2020
Registros de Ausência
Não quero abrir mão desse espaço, mas é inegável o quão negligente me tornei com esse blog com o decorrer do tempo. O blog ficou praticamente 2019 inteiro entregue as traças. Uma terra abandonada colecionando páginas e páginas vazias enquanto meu instagram segue sendo alimentado com constância religiosa.
Claro, toda pessoa detentora de um blog intimo sabe: nada se compara ao blog. O instagram é rápido e dinâmico, mas nada supera a intimidade dessa interface, a liberdade de não ter limites de caracteres e a satisfação de um post publicado. Mesmo quando a possibilidade de alguém ler vai de vaga a remota, o processo de blogar é mais exigente e o de clicar no botão "Publicar" promove, ao menos em mim, uma catarse mais consistente.
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