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domingo, 25 de setembro de 2022

Aos meus queridos fantasmas...

 


Tenho tido pressentimentos e evitado sentir medo, desde que descobri no medo uma espécie de pressentimento. Aquilo que mais tememos é o que acontece.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Responda em cinco linhas: "O que a pandemia transformou em minha vida pessoal?"

O Sindicato dos Trabalhadores/Trabalhadoras em Educação do Jaboatão dos Guararapes (SINPROJA), cidade na qual trabalho, convidou algumas trabalhadoras para responder a pergunta titulo desse post. A resposta precisava ser curta (cinco linhas), pois ela vai integrar uma sessão do jornal do sindicato.

A primeira versão da minha resposta não passou pelo crivo da redatora, precisei reescrever, mas gostei de minha própria resposta, bem narcisista. Gostando da resposta, resolvi deixar ela aqui como mais uma memória desse dias, desse momento, desse tempo.
"Para fugir de aglomerações urbanas, mudei meu endereço residencial junto com meus pais. Como nunca tinha mudado de endereço na vida essa mudança acarretou para mim um profundo sentimento de desagregação afetiva e social. No meu antigo endereço conhecia todo mundo, tinha vários vínculos de solidariedade, afetividade e irmandade, já aqui nem a vizinha do lado conheço."

Quando a redatora do jornal me pediu para reescrever, ela perguntou: "Qual o sentimento e significado dessa mudança, em fica isolada?".  Seguindo essa a questão norteei minha segunda resposta.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Das flores do quintal

 


As vezes estou lendo ou estudando ou preparando material didático para alguma aula, sinto que terminei um arco narrativo, levanto e vou lá fora da uma olhada nas coisas pequenas do "Jardim do Meu Irmão".

Meu irmão plantou um jardim no quintal e cuida dele com um constante e comovente fervor. Não sou dada a me dedicar a jardinagem, mas passei a entender quem se dedica a esse tipo de atividade. Cada vez mais, gosto de acompanhar das flores, de observar os ciclos das plantas, de repousar nesse pequeno jardim.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Presentes Quase Displicentes

 

A época das mangas já passou, mas tem uma mangueira no quintal onde meu irmão trabalha. E, com seus 31 anos, meu irmão ainda não esqueceu como se faz para subir em um pé de manga e colher os frutos pendurados nos lugares mais difíceis.

Como ele consegue se recordar das artes de moleque, há manga rosa na mesa da cozinha. O perfume dessas frutas não tem palavras que descreva e a cor não tem câmera que guarde. São lindas e cheirosas. Um presente oferecido desse jeito quase displicente que meu irmão tem de presentear.

Recife, 27 de março de 2020.

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As mangas estavam no escorredor de macarrão idoso da minha mãe, postas em cima da mesa da cozinha. A mesa na qual escrevi a mão me primeiro trabalho acadêmica de "Introdução aos Estudos Históricos" e também minha dissertação de mestrado inteira. A mesa das muitas refeições. Rafaela, minha irmã mais nova, ficou morando com o companheiro dela na casa de Nova Descoberta. Recentemente ela jogou o escorredor fora, a mesa permanece sendo palco das refeições de uma nova família de dois. Finalmente comprei uma mesa especifica para escrever meus trabalhos, ela vive em uma eterna bagunça de livros, cadernos, canetas e Lion.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Longuíssimo Balanço Emocional


Tenho descoberto novas vozes alienígenas a cada novo dia enquanto observo as estrelas do céu noturno de Igarassu e converso com as plantas do Jardim do Meu Irmão e a mangueira do quintal vizinho. Escrevo grandes desabafos em meus cadernos escolares originalmente comprados para fichamentos de textos sobre Egito, Grécia, Primeira Guerra Mundial, Racismo, Antirracismo e todas as coisas com as quais se preenche 120 horas aulas em um ano letivo de turmas do 6º, 7°, 8° e 9º anos.

As vezes me sinto tão velha. Todas as pessoas nadando no mar da sua trigésima década de vida, com ou sem pandemia, se sentem assim? As vezes toda essa sensação de velhice e experiência de vida parecem meras ilusões de ótica, prepotência sobrevivente da adolescência que não nos abandona nos vinte anos e parece voltar a vida nos trinta. As vezes toda essa sensação de velhice e experiência de vida parecem direitos naturais das sobreviventes de suas próprias loucuras dos vinte anos.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Cheguei aqui em uma noite de fim de verão


Cheguei aqui em uma noite de fim de verão, ainda estava quente, o céu estava estrelado, não havia Lua. Nunca vi um céu tão estrelado, não sabia que existia céu estrelado em noites permeadas por tanto medo e incerteza.

No dia seguinte não haveria aula e nem no próximo e nem no posterior a ele... Todas as minhas urgências estavam suspensas. O amanhã era um espaço de tempo vazio... Resolvi aproveitar a visão até então inédita de um céu estrelado a esse ponto em uma noite quente de Lua Nova. Deitei no chão, havia uma música em minha cabeça, coloquei para tocar o mais baixo possível e diante de mim milhões de luzes fantasmas no céu noturno.

Já ouvi falar mais de uma vez sobre o sentimento de pequenez imposto pela visão do céu noturno, mas tenho um metro e meio de altura, estou habituada a me senti pequena e o sentimento não me emociona, assusta ou intimida.

Diante da imensidão me sinto reconfortada, livre como alguém que pode se mover sem ser percebida e assim pode ir para onde desejar.

O pequeno me intimida mais: bebês de colo, a pequena infância, crianças, pré-adolescentes, animais de outra especie, objetos pequenos, anéis, livros. Se deixar caí quebra. Se derrubar pode morrer na queda. Com facilidade se fere. Basta uma palavra mal colocada para decepcionar. Podem chorar até passar mal.

O imenso impõe admiração. O pequeno exige atenção, dedicação, tempo, espaço, prudência.

Nossa! O que estou falando? É um tempo no qual o invisível se misturou ao visível, matou milhares em questão de meses e sitiou o mundo inteiro. Nós, talvez, sejamos uma geração compreensiva em relação a como coisas pequenas são opressivas e exigentes e perigosas.

O céu estava estrelado, me senti minúscula tive a sensação de poder ficar uma vida inteira ali, diante do céu imenso, o chão frio nas minhas costas, a noite quente me cobrindo, ouvindo o som baixíssimo de uma voz suave cantando em um idioma quase extraterrestre... Foi apenas um momento, um momento infinito.

domingo, 17 de maio de 2020

Estação Atocha, Super Junior e o Triunfo do Irreal.


"Esforcei-me para pensar nos meus poemas, ou em qualquer poema, como maquinas de fazer eventos acontecerem, de mudar os governos, a economia, ou apenas a sua linguagem, e o conjunto das suas funções sensoriais, mas não consegui imaginar isso nem me imaginar imaginando todas essas outras coisas sobre a poesia, quando imaginava - pressentimento terrível - um mundo privado até mesmo dos pretextos mais idiotas para escrever poemas que permanecessem fiéis às possibilidades virtuais do meio, privado dos rituais absurdos como aquele do eu tinha participado naquela noite, então eu intuía uma perde inestimável, uma perda não de obras de arte, mas da própria arte, e portanto infinita, o triunfo total do real, e me dei conta de que em um mundo assim eu engoliria uma cartela inteira de comprimidos brancos." (Ben Lerner, Estação Atocha, pg. 55).

Em "Estação Atocha" a proposta é acompanhar a vida de Adan, um estudante americano vivendo em Madri com o objetivo de escrever um longo poema como forma de concluir seu curso. Adan é um daqueles personagens absurdos com os quais a pessoa leitora vez ou outra cruza. Ele é um mentiroso endêmico, apático, fortemente compromissado em não se deixar encantar por nada, capaz de consumir drogas como se elas fossem confeitos e é absolutamente franco quando narra suas não-aventuras.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Medo

Outro dia me meti em um acidente de carro em uma noite chuvosa. Estava voltando de um encontro com uma amiga, um carro bateu em cheio na porta traseira do uber no qual eu viajava. No pequeno espaço de tempo entre o impacto da minha cabeça no vidro e ser jogada para o lado pensei: "É assim que se morre."

No longo espaço de tempo após o acidente, conferi as partes do meu corpo, encontrei meu óculos, olhei em torno, falei qualquer coisa para o motorista e pensei no quão inoportuno seria morrer numa noite assim com chuva que Deus mandava, voltando de um encontro com uma amiga, meus pais em há três cidades de distância, em um domingo... Que bom não ter morrido ali, não era um bom momento para morrer.