domingo, 25 de setembro de 2022

Aos meus queridos fantasmas...

 


Tenho tido pressentimentos e evitado sentir medo, desde que descobri no medo uma espécie de pressentimento. Aquilo que mais tememos é o que acontece.

Talvez eu seja uma pessimista um pouco triste ouvindo baladas coreanas na voz de Yesung, Kyuhyun e Ryeowook. Vai saber? Ainda estou me estudando para entender do que sou feita.

Acho a esperança um exercício de ousadia e não me sinto uma pessoa ousada e, ainda assim, abri esse caderno com esperança de usá-lo em 2021.

Vejam só meus queridos fantasmas, há uma peste se propagando nas trevas, flechas voando de dia, um terror noturno, a mortandade assola o meio dia e eu inclino na direção da esperança. Recolho os pedaços de fé que me orientam desde a infância, oro pelas pessoas próximas e distantes e ouso ter esperanças na possibilidade do amanhã.

Talvez os priores dias de nossas vidas ainda estejam a nossa espera, me ocorre e uma fisgada atinge meu coração com angustia e... não vou ter medo... me agarrarei furiosamente a esse hoje cheio de calor com a luz do sol invadindo a casa toda e meu coração se contorcendo em mim.

Tenho medo de sonhar sonhos, não por questão de pressentimentos, mas por compreensão do custo dos sonhos e entendo de repente que não é questão de medo e sim mesquinhez. Impossível não da uma risada.

Quando me tornei tão mesquinha ao ponto de não querer sacar da minha coleção de potencialidades os esforços capazes de trazer os sonhos para o território da realidade?

Abri esse caderno sonhando com 2021. Sonhando com dias bons, bons livros, boas aulas, momentos furtivos, preciosos, únicos. Sonhando construir coisas significativas, completar 35 anos e celebrar com meus estudantes. Sonhando poder aprender coisas novas, ter uma boa vida. Desfrutar dos bons momentos e sobreviver aos maus.

Há um terror noturno, uma flecha voando de dia, a peste se propaga nas trevas, a mortandade assola o meio-dia e eu choro, tremo e me angustio, tento não ter medo e abandono essa mesquinhez de não sonhar com a possibilidade de um amanhã.

Atravessarei corajosamente os dias para os quais estou destinada atravessar, viverei, angustiadamente, com ou tristeza, sonhando com dias melhores e fazendo o meu melhor para que eles cheguem como o sol chega todas as manhãs e as estrelas salpicam o céu noturno, mesmo depois de mortas, pois sua luz sobrevive até a inevitabilidade da morte.

Jacilene dos S. Clemente, Pandora.

Igarassu, 06 de dezembro de 2020.

P.S.: Encontrei essa carta na primeira página do caderno que usei ao longo de 2021 para fazer meus registros de leituras, compras, planos de aula e derivativos. Achei pertinente transcrever ela aqui. Muitas vezes escrevo em cadernos e blocos de nota pensando em trazer esses textos para o blog, mas perco o fio da meada, esqueço e depois acho irrelevante, mas dessa vez não.

2 comentários:

  1. eu ando bem triste tb. e sou bem pessimista. acho muitos humanos perversos. muito lindo o texto. se cuida. qq coisa estou aqui. ninguém solta a mão de ninguém. bom, pelo menos deveriam. eu não solto, pode vir. beijos, pedrita

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  2. Oi, Pandora!
    Legal voltar ao passado através da escrita. Nos faz colocar na balança o que ainda precisamos evoluir e valorizar nossas conquistas. Crescemos quando saímos da casa dos pais, mas em compensação, as responsabilidades e cobranças podem se tornar peso que se não bem administrado se transformam em medo de viver ou do futuro. Os sonhos fazem parte do nosso imaginário. Alguém já disse que quem não tem sonhos, morreu. Vamos sonhar então, mesmo que pareçam impossíveis. Sonhar faz bem para a alma. Mas não seremos inconsequentes. Não viveremos de sonhos :) Eles são ingredientes que impulsionam, que trazem otimismo e fazem o sangue correr na veia.
    Tenha medo, mas não tema o medo. Ele é um ingrediente de preservação da vida!
    Beijus,

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