Lembro quando comecei a ler romances. Foi na adolescência, lá pela 6ª Série, atual 7º Ano, em meio as pressões que eu mesma me impunha, de repente peguei um romance de banca para ler e devorei em uma tarde... Uma leitura relaxante, uma história redondinha, fácil de ler e com final feliz. Fiquei na duvida se um livro tão fácil era bom ou ruim, eu era uma estudante exigente, acostumada ao difícil, estranhei o fácil. Meu professor de História me disse, com a aquela frieza característica dele: "Essas leituras não colaboram em nada com sua desenvolvimento.". Cruel!.
Em parte, continuei lendo romances por espirito de oposição, em parte porque me relaxava. Com o passar dos anos o romance virou para mim um refugio, um lugar seguro, um espaço onde as coisas acontecem e as pessoas são felizes. Sendo bem sincera, sou exatamente como o Pelicano do livro "Caro Michele" da Natalia Ginzburg: "Desejo-lhe todo o bem possível e espero que você seja feliz, admitindo que a felicidade exista. Eu não acredito que exista, mas os outros acreditam, e ninguém disse que os outros não têm razão.". Os livros românticos são o lugar onde as outras pessoas acreditam na felicidade e eu leio esperando que elas tenham razão.
Nesse fim de ano estou me vendo agarrada com uma série de livros chamada "Vale do Hóquei" na qual se conta a história de como atletas dos times de Hóquei feminino e masculino de uma universidade fictícia Creston University localizada numa cidade igualmente fictícia dos Estados Unidos da América encontram o amor de sua vida. A série é composta por cinco livros escritos por cinco autoras diferentes, podem ser lidos separadamente, mas estou lendo de acordo com a ordem de lançamento. Os livros da série são:
01. "Como Seduzir a Treinadora" da Juliana Fayad02. "Como Seduzir a Jornalista" da Maria Flávia Calil03. "Como Seduzir a Capitã" da Sarah Oliveira04. "Como Seduzir a Herdeira" da Katarina Sanches05. "Como Seduzir a Novata" da Helena Vieira
Como o nome da série sugere, a Creston University é uma instituição que criou um lugar seguro no qual os seus estudantes das mais diversas orientações sexuais podem viver sua vida de maneira livre e plena. Na realidade a ambiência me remeteu ao meu saudoso Departamento de História da UFRPE onde estudei entre 2005 e 2009. Então aqui teremos pessoas bissexuais, lésbicas, pansexuais etc. formando casal, trisal, harém e é isso. É uma série para quem deseja fugir da heteronormatividade dos romances e mergulhar sem crises no universo onde ser uma pessoa pertencente ao grupo LGBTQIAPN+ é algo normal.
Em "Como Seduzir a Treinadora", Juliana Fayad conta a história de como Abigail Paxton, uma mulher madura, ex-jogadora de hóquei, campeã, medalhista olímpica, na faixa dos 35 anos, encontra Aaron James Dixon, o jovem e talentoso capitão de time de hóquei universitário. Os dois se encontram quando, depois de encerrar um ciclo doloroso de sua vida, Abigail aceita o emprego de técnica do time masculino de hóquei da Creston University.
A Abigail e o Aaron se encontram na véspera dela ser apresentada ao time e acabam tendo tendo uma noite de sexo. Os dois são pessoas éticas, se não fosse esse primeiro encontro fora do contexto do hóquei talvez a história deles não tivesse acontecido, mas eles se encontraram e se encantaram um com o outro e tiveram química e encontraram um caminho para se relacionarem e vencerem os obstáculos impostos pela circunstancia para terminarem juntos.
A Juliana Fayad ao construir um casal com uma diferença de idade de mais de dez anos na circunstância onde ela era a técnica do time no qual ele era o capitão foi bbeeeemm delicada. A autora patinou em gelo fino e venceu. Um pouco mais para a direita ou para esquerda e em vez de ter um romance açucarado teríamos um romance tórrido de uma mulher que sofre e faz besteira. E aí em vez de ganhar os nossos corações a autora correria o risco de concorrer ao Prêmio Jabuti.
Amei muitoooo o romance da Aby com o Aaron. Ele é um rapaz cheio de camadas, tem um passado marcado por dores e está em busca de seu futuro melhor. Se abre fácil para esse amor que apareceu no caminho dele, valoriza seu encontro como quem encontrou um tesouro precioso. Que livro delicioso!
Em "Como Seduzir a Jornalista" a Maria Flávia Calil conta a história do trisal construído em torno da Jornalista Rebecca Hart. A história começa quando os jogadores do mesmo time de hóquei do Aaron, Nathan Davis e Dylan Scortt se apaixonam pela jornalista e decidem que em vez de disputar ela formando um triangulo amoroso talvez fosse melhor ideia viver essa atração os três juntos.
Eu achei esse livro tão fofo, mais tão fofo. A coisa mais querida do multiverso. O Nathan e o Dylan começam essa história em pé de guerra, anteriormente eles tinham tido um romance que acabou de uma forma abrupta e mesmo após o fim ficam se alfinetando e arengando horrores. Quando ambos conhecem Rebecca percebem que ela se atraí pelos dois da mesma forma que eles se atraem por ela conseguem entrar em acordo e se propõem viver essa relação.
Os três se gostam e se completam de uma forma muito harmônica e gostosa de se acompanhar. Juntos possibilitam que os meninos possam viver sua bissexualidade e que a Rebecca não seja pressionada a escolher. Me apaixonei muito pelo relacionamento dos três. O Dylan é um rapaz muito educado, encantador, doce, criado por uma família amorosa e terna; me identifiquei muito com o Nathan; amei a Rebecca com sua língua afiada e seu jeito amoroso de ser. Esse foi o tipo de livro feliz, mal terminei a última frase e já estava com saudades deles.
Em "Como Seduzir a Capitã" a Sarah Oliveira conta a história de como Davina Hayes, a Capitã Invicta do time de hóquei feminino da Creston University, e Valerie Coleman, uma jovem estudante de artes recém transferida para a universidade, vão se reencontrar e viver uma nova história juntas.
Tanto a Davina quanto a Valerie são jovens adultas cuja infância e adolescência são marcadas por situações dramáticas. A Capitão do time perdeu os pais cedo, foi criada por uma irmã mais velha muito esforçada e lida com as dificuldades impostas pelo TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). A Valerie tem uma mãe narcisa, também perdeu o pai tempos atrás e sofre com transtornos alimentares. Quando a gente chega a vida adulta com cargas a missão maior da vida é não transformar as circunstâncias dramáticas em tragédia e isso as duas protagonistas conseguem.
Me apaixonei pela Valerie no primeiro paragrafo. Ela é muito determinada, focada e apaixonada pela Davina que foi seu primeiro amor da adolescência, interrompido pelas ações odientas da mãe dela. A Davina foi mais difícil de acompanhar, ela é muito jovem, muito intensa, muito determinada e cheia de um desejo de vencer na vida e ajudar a irmã, só que tudo isso faz dela uma protagonista muito egoísta. Ela é muito centrada em si mesma, olha pouco o entorno e não percebe a nuances.
A Valerie é uma sobrevivente de uma infância e adolescência absurdamente traumática. Carrega marcas profundas ligadas a anorexia, bulimia e problemas de autoimagem, mas se reveste de força, consegue libertar da mãe, se propõe a experimentar a vida. Ela faz grandes atos para reconquistar a seu amor, mesmo não sendo culpa dela a perda de contato, se dedica, se oferece, se entrega. É aquele tipo de personagem que me comove e inspira.
Na vida, sou como o Nathan, mas eu queria mesmo é ser como a Valerie.
Para mim a única coisa que justifica o final da Valerie com a Davina é o fato dela ser absolutamente apaixonada pela Capitã e quando alguém ama assim merece ter em seus braços esse amor. Faltou a Davina um ato de amor arrebatado, algo que girasse APENAS em torno de Valerie, mas são tantas coisas na cabeça dela que o romance vira a cereja do bolo e achei isso injusto com essa jovem mulher tão determinada e cheia de coragem.



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