quinta-feira, 27 de novembro de 2025

"Poemas Escolhidos" de Emily Dickinson


Emily Dickinson entrou em minha vida através de Rafael, que fala dela com muitaaaa frequência, trata-se de uma poetam norte americana do século XIX cuja obra, composta por 1775 poemas, veio a tona depois de sua morte. Acredito que sua irmã, quando encontrou o conjunto dos textos, guardados de forma organizada pela própria Emily, deva ter sentido como se tivesse encontrado um tesouro escondido, eu, pelo menos, senti enquanto lia os textos escolhidos nessa edição da Coleção Folha Mulheres na Literatura.
"Há duas maturações - uma visível -,
Cujas forças giram em círculo
Até que o aveludado fruto
Caia aromático ao solo;
E um maturar mais recluso
Dentro da vagem espinhosa,
Que os dentes da geada rompem
No distante ar de outubro."

A Vida, o Amor, o Luto e a Morte, a Natureza, o Tempo, a Eternidade são os temas que a Emily aborda em sua delicada poesia. Não se eu estava em um estado de ternura e calma quando li a poesia dela numa dessas minhas manhãs preguiçosas dos dias de folga ou se a poesia dela é mesmo cheia dessa dessa ternura. É como uma toalha de renda delicadíssima que forramos na mesa e nos causa uma sensação de cuidado e reverencia. É um texto muito fino, tecido com muita delicadeza ao longo da vida.

"À noite como deve se sentir-se solitário o vento
Quando todo apagam a luz
E quem possui um abrigo
Fecha a janela e vai dormir.

Ao meio-dia, como deve sentir-se imponente o vento
Ao pisar em incorpórea música,
Corrigindo erros do firmamento
E limpando a cena.

Pela manhã, como deve sentir-se poderoso o vento
Ao se deter em mil auroras,
Desposando cada uma, rejeitando todas
E voando para seu esguio templo, depois."
É um trabalho sem sobras ou ausências, cada poema é completo em si mesmo. Tem neles uma candura, a delicadeza dos sentimentos sinceros de uma pessoa capaz de para e observa a natureza, as pessoas, os passarinhos e construir vínculos de empatia até mesmo "com o vento que é vento e passa e passou antes e passará depois" como na poesia de Fernando Pessoa - Alberto Caeiro.
"Eu fui um pintassilgo, nada mais;
Pintassilgo, nada menos -
A pequena nota musical desprezada,
Em seu lugar a inscrevia.

Por andar tão junto ao solo,
Ninguém me procurava;
Era tão tímido que não me acusavam de nada -
Um pintassilgo deixa pegadas mínimas
No assoalho da fama."

Me deu uma pena enorme de não ter conhecido antes a poesia da Emily Dickinson. A adolescente que fui adoraria ler os textos delas nos fins de tarde aos sábados olhando o sol se por em Nova Descoberta tanto o mais quanto a mulher adulta que sou hoje adorou ler. Se dentro de nós existe a criança, a adolescente e a jovem que fomos um dia a minha adolescente se pegou muito feliz e enlevada diante dessa poesia tão terna, tão bucólica.

"Moro na possibilidade,
Casa mais bela que a prosa,
Com muito mais janelas
E bem melhor, pelas portas

De aposentos inacessíveis,
Como são, para o olhar, os cedros,
E tendo por forro perene
Os telhados do céu.

Visitantes, só os melhores;
Por ocupação, só isto:
Abrir amplamente minhas mãos estreitas
Para agarrar o paraíso."

Não vou negar que fiquei com muita vontade de comprar os dois volumes das poesias completas dessa mulher sensacional e mergulhar de corpo e alma nessa poética tão delicada.

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