"Há duas maturações - uma visível -,Cujas forças giram em círculoAté que o aveludado frutoCaia aromático ao solo;E um maturar mais reclusoDentro da vagem espinhosa,Que os dentes da geada rompemNo distante ar de outubro."
A Vida, o Amor, o Luto e a Morte, a Natureza, o Tempo, a Eternidade são os temas que a Emily aborda em sua delicada poesia. Não se eu estava em um estado de ternura e calma quando li a poesia dela numa dessas minhas manhãs preguiçosas dos dias de folga ou se a poesia dela é mesmo cheia dessa dessa ternura. É como uma toalha de renda delicadíssima que forramos na mesa e nos causa uma sensação de cuidado e reverencia. É um texto muito fino, tecido com muita delicadeza ao longo da vida.
"À noite como deve se sentir-se solitário o ventoQuando todo apagam a luzE quem possui um abrigoFecha a janela e vai dormir.Ao meio-dia, como deve sentir-se imponente o ventoAo pisar em incorpórea música,Corrigindo erros do firmamentoE limpando a cena.Pela manhã, como deve sentir-se poderoso o ventoAo se deter em mil auroras,Desposando cada uma, rejeitando todasE voando para seu esguio templo, depois."
"Eu fui um pintassilgo, nada mais;Pintassilgo, nada menos -A pequena nota musical desprezada,Em seu lugar a inscrevia.Por andar tão junto ao solo,Ninguém me procurava;Era tão tímido que não me acusavam de nada -Um pintassilgo deixa pegadas mínimasNo assoalho da fama."
Me deu uma pena enorme de não ter conhecido antes a poesia da Emily Dickinson. A adolescente que fui adoraria ler os textos delas nos fins de tarde aos sábados olhando o sol se por em Nova Descoberta tanto o mais quanto a mulher adulta que sou hoje adorou ler. Se dentro de nós existe a criança, a adolescente e a jovem que fomos um dia a minha adolescente se pegou muito feliz e enlevada diante dessa poesia tão terna, tão bucólica.
"Moro na possibilidade,Casa mais bela que a prosa,Com muito mais janelasE bem melhor, pelas portasDe aposentos inacessíveis,Como são, para o olhar, os cedros,E tendo por forro pereneOs telhados do céu.Visitantes, só os melhores;Por ocupação, só isto:Abrir amplamente minhas mãos estreitasPara agarrar o paraíso."
Não vou negar que fiquei com muita vontade de comprar os dois volumes das poesias completas dessa mulher sensacional e mergulhar de corpo e alma nessa poética tão delicada.

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