Conheci "Frieren e a Jornada para o Além" através da minha amiga Gabi, em 2024 ela me falou muito sobre o anime, de como era especial, de como a protagonista é uma personagem consistente e vários detalhes sobre a história me deixando bastante curiosa. Mas só fui vê o anime em meados de março e desde o primeiro episódio fiquei absurdada com a temática abordada nesse trabalho, Kanehito Yamada construiu uma história que narra como é a vida depois de viver A GRANDE AVENTURA DE UMA VIDA assim mesmo em caps lock e negrito, como é sobreviver a morte das pessoas mais queridas de nossa vida e continuar andando e vivendo e talvez experimentando novas GRANDES AVENTURAS.
Fiquei muito tocada, as vezes a gente vê uma obra, as vezes uma obra nos vê. Me senti vista por Frieren e entendida e abraçada em meu momento de fragilidade. Quando percebi que existia um mangá em publicação sobre essa obra fui atrás dele e aqui estou eu tentando organizar meus sentimentos para falar sobre os três primeiros volumes dessa obra.
O vol. 1 de "Frieren e a Jornada para o Além" é uma das leituras mais surpreendentes da minha trajetória como leitora de mangás, pois ele apresenta uma história que começa pelo fim. Nele encontramos o fim da Jornada Heroica da poderosa maga elfa Frieren e seu grupo heróis formado por Himmel, o corajoso heróis e guerreiro humano; Heiter, o clérigo e sacerdote da Deusa, e Eisen, o guerreiro anão. Juntos eles foram um quarteto de aventureiros que normalmente encontramos no inicio de uma jornada, mas aqui os encontramos no final de tudo quando eles já venceram o Rei Demônio e vão receber os louros da vitória.
Depois do grupo de heróis receber a recompensa cada um dos membros segue seu caminho, vivendo da melhor forma possível sua vida adulta e os desafios que ela oferece. Dos quatro Eisen, por ser um anão, e Frieren, por ser uma elfa são os mais longevos do grupo, então quando as décadas vão passando e cinquenta anos se passam e o grupo se reúne novamente os humanos já são pessoas idosas, Himmel acaba morrendo de causas naturais é nesse momento que a finitude da vida pega nossa protagonista de uma forma peculiar e única.
Com a perda do Himmel, Frieren percebe de uma forma muito diferente a importância da vida dele, dos outros amigos e da própria Jornada Heroica que ela viveu com seu Grupo de Heróis quando eles foram matar o Rei Demônio. O luto conduz nossa heroína em uma jornada de reflexão sobre a própria vida dela e modifica a forma dela sentir e entender a vida que a cerca e acaba tão cedo, podendo parecer tão breve para uma criatura que vive muitos séculos como uma elfa.
Todavia, na vida, as vezes, acontece de após terminarmos uma aventura outra pode se anunciar quando menos esperamos e é também nesse volume que nossa heroína conhece a jovem Fern, uma criança com poderes magico adotada pelo clérigo Heiter, ela se torna discípula de Frieren, juntas elas descobre que talvez exista a possibilidade de se comunicar com os nossos entes queridos que já se foram e assim se lançam em uma Nova Jornada rumo o "Além" ou "Aureole: a terra onde as almas dormem".
No vol. 2 de "Frieren e a Jornada para o Além" a gente já vê o inicio de uma nova aventura onde a Maga Elfa Frieren começa a viajar rumo ao norte com sua aprendiz Fern. As duas formam uma dupla muito peculiar, a Frieren quer chegar a "Aureole: a terra onde as almas dormem", mas sendo uma criatura muito longeva não tem a mínima pressa, não é nada pratica, já a Fern, sendo humana, ciente da brevidade da vida, tem muita pressa e é muito pratica.
As duas formam uma dupla muito querida de se acompanhar a relação delas de cuidado mutuo é muito bonita e como elas viajam andando ou no máximo de carroça é possível vê a passagem do tempo na forma como a Fern vai crescendo pelo caminho. Tanto Fern quanto Frieren ainda estão vivendo o luto pelas perdas humanas que marcam suas vidas, mas ambas estão numa fase do luto onde relembram o passado com ternura e afeto e ate mesmo humor.
O caminho que leva a Aureole é o mesmo que levou o grupo inicial de Frieren ao Rei Demônio então ela vai revivendo essas aventuras e relembrando e essas relembranças vão conferindo a vida presente de Frieren novos sentidos, é bonito de acompanhar. Já para a Fern a viagem é uma processo de descobrimento do mundo, ela cuida de sua mestra e também impõe seu ritmo o que acaba impactando e transformando a Frieren numa pessoa mais empática que leva em consideração o tempo de outra pessoa quando fazem suas escolhas.
É também nesse vol. 2 que nós conhecemos o jovem guerreiro Stark, discípulo de Eisen, o guerreiro anão que fez parte do Grupo de Heróis que matou o Rei Demônio anos atrás. O jovem Stark carrega traumas por ser o único sobrevivente de um ataque feito pelos demônios a sua aldeia. Ele se junta ao grupo quando as duas magas sentem a necessidade de um guerreiro capaz de usar força bruta contra inimigos dando a ambas tempo para a invocação da magia. Stark é um rapaz generoso de coração, forte, mas meio inconsciente de sua própria força é muito fácil gostar dele e é quase automático desejar vê ele formando um casal com a Fern.
Terminei de ler o vol. 3 de "Frieren e a Jornada para o Além" hoje e a leitura acabou me deixando pensativa e emocionada. Acho que foi por isso que resolvi escrever esse texto retomando os dois primeiros volumes da série e falando sobre as coisas que acho importante nessa obrar. Aqui a gente já encontra um novo grupo de heróis formado e com sua jornada já bem avançada rumo a "Aureole: a terra onde as almas dormem" e junto com eles vamos conhecendo o mundo no qual a história acontece, as memórias sobre a guerra contra o Rei Demônio e a consciência de que o mal continua espalhado por aquele mundo para ser combatido.
Esse é um volume bonito onde Frieren, Fern e Stark vão enfrentar demônios fortíssimos que tentam invadir uma cidade com o único objetivo de matar seres humanos. Aqui e a gente vai conhecendo melhor quem são esses demônios dentro desse universo. Aqui, demônios são vistos como "monstros que falam", seres vaidosos cujas relações entre si são hierarquizadas a partir de sua força e capacidade de usar a magia, totalmente desprovidos de sensibilidade e capazes de muita violência, inimigo naturais dos seres humanos e de todos os outros seres capazes de ter empatia, constituir família ou relações de amizade.
Frieren, Fern e Stark vão enfrentar os demônios usando conhecimentos que adquiriram no passado através de treinamento e convivência com suas pessoas amadas. Enquanto acompanhamos eles em suas lutas acompanhamos também as memórias deles, as experiências passadas. É uma leitura que me fez perceber que apesar da morte encerrar uma convivência física a memória nos faz conviver com nossos entes queridos a vida inteira. O conhecimento que adquirimos na convivência com nossos entes queridos são coisas que nos socorrem em tempos de aflição.
É nesse volume que nós conhecemos um pouco mais sobre o passado da Frieren antes mesmo dela entrar no grupo de heróis e a relação dela com a mestre dela. Esse é mais um volume muito bonito, agridoce, sobre pessoas que sofreram grandes perdas, mas não desistiram da vida e seguem se aventurando e lutando contra um mal que aflige seu tempo e seu povo. É muito bonito!
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