Em saudável desarmonia eu e meu irmão compartilhamos o mesmo quarto por toda a infância. Não era um quarto colorido, muito mobilhado ou ricamente adornado, não havia nele nada além duas camas de madeira, uma comoda e nós dois.
Quando Rafaela saiu do berço no quarto da minha mãe e passou a dividir a cama comigo então era tudo + nós três até o belo dia no qual eu e meu irmão começamos a entrar na puberdade. Nesse dia meu pai achou por bem construir mais um vão na casa, separar meninas de menino e oferecer a Rafaela uma cama todinha só para ela. Foi essa resolução do meu pai a responsável por fazer nascer o lugar por mim batizado como o quarto do meu irmão..
Quando Rafaela saiu do berço no quarto da minha mãe e passou a dividir a cama comigo então era tudo + nós três até o belo dia no qual eu e meu irmão começamos a entrar na puberdade. Nesse dia meu pai achou por bem construir mais um vão na casa, separar meninas de menino e oferecer a Rafaela uma cama todinha só para ela. Foi essa resolução do meu pai a responsável por fazer nascer o lugar por mim batizado como o quarto do meu irmão..
Atualmente o quarto do meu irmão e o que compartilho com Rafaela são de geografias opostas dentro de casa, enquanto o meu é um lugar cheio de livros, lembranças de viagens e todo tipo de quinquilharia juntadas nos últimos 27 anos, o do meu irmão tem um monte de massa de modelar, caixas de lápis de cor, tinhas, pinceis, nas paredes um mapa da América Latina quase completo, um estranho desenho de uma mulher com um réptil atrás dela, o esboço incompleto do rosto de minha cunhada o versículo 14 do Salmo 69 escrito por trás da porta e, aquilo que mais chama atenção de espectadores desavisados, duas prateleiras repletas de uma infinidade - ou finidade - de aquários de tamanhos diversos com peixes de todas as cores e tamanhos nos mais diversos estágios de desenvolvimento.
"Tira-me do lamaçal, e não me deixes atolar; seja eu livre dos que me odeiam, e das profundezas das águas."(Salmos 69:14)
Outro dia deitei na cama dele e comecei a observar os peixinhos coloridos na prateleira que um dia abrigou minha nascente coleção de livros....
Fiquei observando o movimento repetitivo dos peixinhos coloridos, indo e vindo, nadando sempre de lá para cá exibindo o esplendor de suas nadadeiras multicoloridas e então em um fleche esses mesmos peixes de movimentos monótonos parecem ultrapassar a bairreira de vidro e rompendo os limites começaram a nadar por todo o quarto parecendo trazer no rastro de suas caldas todo a água do infinito oceano para dentro do pequeno quarto do meu irmão agora transformando em um aquário gigantesco...
A julgar por toda flora e fauna marítima que começava a romper os limites impostos pelos vidros de todos os aquários invadindo e ampliando cada parte disponível de espaço, o quarto não era um aquário e sim um pedaço infinitamente abismal do fundo do oceano no qual todos os cardumes de peixes, até mesmo os bebês-peixes recém-nascidos e microscópicos se sentiam confortáveis para nadar.
De repente mesmo das velhas conchas frias e lodosas saim patinhas e cabeças de moluscos ancestrais ansiosos por explorar o fundo daquele novo mar... E por fim mesmo eu parecia ter encarnado o espirito de qualquer sereia errante e me via espalhada nadando encantada por todos os lados.
Foi no ponto alto do meu nado no meio de um cardume de pequenos peixes coloridos que a mais incrível de todas as coisas ao meu redor aconteceu! Do nada eu vi a peixinha vermelho sangue gerada e nascida nesse quarto, cujo crescimento acompanhei quase diariamente, se aproximar de mim e com olhos vidrados encara-me fixamente enquanto me perguntava com uma voz capaz de ser ouvida até debaixo d'água:
Fiquei observando o movimento repetitivo dos peixinhos coloridos, indo e vindo, nadando sempre de lá para cá exibindo o esplendor de suas nadadeiras multicoloridas e então em um fleche esses mesmos peixes de movimentos monótonos parecem ultrapassar a bairreira de vidro e rompendo os limites começaram a nadar por todo o quarto parecendo trazer no rastro de suas caldas todo a água do infinito oceano para dentro do pequeno quarto do meu irmão agora transformando em um aquário gigantesco...
... Ou melhor...
A julgar por toda flora e fauna marítima que começava a romper os limites impostos pelos vidros de todos os aquários invadindo e ampliando cada parte disponível de espaço, o quarto não era um aquário e sim um pedaço infinitamente abismal do fundo do oceano no qual todos os cardumes de peixes, até mesmo os bebês-peixes recém-nascidos e microscópicos se sentiam confortáveis para nadar.
De repente mesmo das velhas conchas frias e lodosas saim patinhas e cabeças de moluscos ancestrais ansiosos por explorar o fundo daquele novo mar... E por fim mesmo eu parecia ter encarnado o espirito de qualquer sereia errante e me via espalhada nadando encantada por todos os lados.
Foi no ponto alto do meu nado no meio de um cardume de pequenos peixes coloridos que a mais incrível de todas as coisas ao meu redor aconteceu! Do nada eu vi a peixinha vermelho sangue gerada e nascida nesse quarto, cujo crescimento acompanhei quase diariamente, se aproximar de mim e com olhos vidrados encara-me fixamente enquanto me perguntava com uma voz capaz de ser ouvida até debaixo d'água:
"Quem é você? Jaci ou Pandora?"
E eu até tentei responder, mas enquanto tentava articular palavras toda diversidade de vida marítima ocupante daquele infinito pedaço do oceano pareceu minguá para dentro dos aquários tão rápido quanto havia saído e no piscar dos meus olhos percebi que a peixinha vermelho sangue já estava novamente nadando no finito espaço de seu aquário tão silenciosa quanto sempre foi...