Depois de finalmente terminar de escrever a dissertação, voltei para a trabalhar na creche e as minhas funções como Auxiliar do Desenvolvimento Infantil. Consequentemente voltei a me deparar com os velhos dilemas e lutas de minha categoria. Em meio a esse momento de voltar a respirar os ares da creche encontrei o blog
"Bélgica Soares: Mais uma educadora que acredita no Brasil" e esse texto dela revela nosso atual momento com a prefeitura e nós mesmas tão bem que pedi a ela para publica-lo aqui para começar bem a semana.
Em busca da minha I-D-E-N-T-I-D-A-D-E de Educadora
Por educadora Bélgica Soares
Estes dias de luta pelo RECONHECIMENTO PEDAGÓGICO do ADI, do qual venho sempre trazendo alguns artigos aqui e na minha página do Face, me passou uma pergunta pela cabeça…
Você acha este trabalho:
Igual a este?
A prefeitura da cidade do Recife acha!
Não está entendendo? Eu explico.
Em 2006 a PCR abriu um concurso público com 500 vagas para a criação do cargo de ADI – os AUXILIARES DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL – que teriam entre suas atribuições trabalhar nas salas de aula das Creches e CEMEI’s desta cidade. Até ai, tudo estaria bem, se não fosse pelo enquadramento que eles deram a estes profissionais : ADMINISTRATIVOS. Você acredita? Eu também não. Estes profissionais que estão em salas de aula há quase 7 anos NÃO SÃO RECONHECIDOS pelo seu trabalho pedagógico.
É bem verdade que este cargo surge pra cobrir um déficit na Educação Infantil, que diga-se de passagem foi resolvido (em partes), pois eles dão continuidade ao trabalho educacional quando há ausência dos professores, seja pelas inúmeras licenças médicas, férias de julho – chamada carinhosamente de “recesso escolar” – para planejamento, reuniões, assembleias, etc… O mais chocante é a carga horária que estes profissionais cumprem: de 40 horas semanais… Normalmente, qualquer um diria: “mas tem professor que dá aula em 2 ou 3 lugares diferentes“; e eu diria: “certo“… Tudo certo, se não fosse a diferença salarial. Um professor de Creche recebe nesta mesma instituição, um salário de R$1.213,61 – por 29 horas semanais, enquanto um ADI recebe R$746,39 por 40 horas semanais trabalhadas. Ficou chocado? Então, some a isso tudo um trabalho em que você está sentado o dia todo no chão, pois as salas de Educação Infantil não possuem cadeiras nem mesas, dando banho em 15 crianças em banheiros ainda não adequados, em prédios adaptados, sem ventiladores ou material suficiente, sentando e levantando umas 40 vezes por dia, ufa… Cansou? Eu cansei só de lembrar (rsrsrsrsrs)
Muitos questionamentos vem sendo levantados em relação ao nosso trabalho, até ouvi de alguém que o que fazemos não é educacional pois, dar banho, alimentar e cuidar de forma mais geral é administrar o tempo… Não acredito que num país que diz tanto valorizar a educação, de discursos que falam em período de eleições sobre a importância de espaços educacionais e valorização dos profissionais de educação alguém ainda acredite neste tipo de argumento… Fico mesmo sem resposta, pois é a mesma coisa de dizer que Creche é essencial pois, sem ela as crianças não comem (justificativa usada na idade média), será preciso dar uma aula pedagógica a estas pessoas pra que elas entendam que Creche deixou de ser assistencial e passou a ser educacional, há muito tempo? Afinal, o cuidar e o educar são entendidas pela própria LDB como indissociáveis no trabalho pedagógico.
Diante de tudo isso, é muito fácil pra mim responder a você leitor o porquê de mesmo depois de tudo que descrevi, depois de quase sete anos, um problema de coluna e muitas decepções com gestores – professores e sociedade que não valorizam este lindo trabalho que desenvolvemos eu ainda continuo exercendo esta função. Por que eu acredito no trabalho que desenvolvo todos os dias ao lado dos meus companheiros, crianças e famílias do CEMEI que estou lotada. EU AMO MEU TRABALHO, mas eu aceito um salário digno e condições melhores, e você…
Qual a sua opinião?
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Texto originalmente publicado nesse link