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sábado, 5 de abril de 2014

"Múltiplo Leminski" na Torre Malakoff do Recife Antigo [Desafio 12 Lugares #03]

"Múltiplo Leminski" é o nome de uma exposição cujo objetivo é trazer a luz dos olhos do público o resultado de anos de pesquisa sobre a história e a vida de Paulo Leminski. A exposição já esteve em vários lugares do Brasil e entre Abril e Maio ancorou em Recife e eu fui ver no dia 30 de março de 2014.

Para dizer a verdade, não sou uma pessoa de explorar os mil cantos de minha cidade, ir a exposições de arte ou eventos curiosos. Sempre fui mais de "escola-casa-igreja" e depois "trabalho-faculdade-casa-igreja". Mas, de muitas formas viver esse tipo de rotina não me fazia feliz, viver assim me faz sentir que acordo sempre para a mesma vida para a qual tinha dormido e assim não dar para viver. Os livros e a graduação em História me ensinaram sobre a amplidão do mundo e eu quero desfrutar dela.

Decidi abraçar o Desafio 12 Lugares da Luciana Tazina por isso e no dia 30 de março de 2014 voltando para casa depois de visitar a Torre Malakoff para ver a exposição itinerante  "Múltiplo Leminski" percebi o quão certa foi essa decisão. Se não tivesse abraçado esse desafio, por maior que seja minha vontade de deixar meus horizontes eternamente abertos jamais teria força para fazer o percurso da Zona Norte do Recife para o centro em um domingo a tarde no penúltimo dia de um mês trabalhoso.

Então, graças ao desafio tive o prazer de conhecer melhor o Paulo Leminski, curitibano que viveu durante a segunda metade do século XX e foi poeta, pensador cultural, haicaísta, tradutor, biógrafo, jornalista da impressa escrita e televisiva, ensaísta, contista, romancista, autor de experimentações verbais e visuais, "polemista", roteirista, professor, roteirista de história em quadrinhos, judoca, publicitário, compositor... Ufa... Cansei... Sinceramente não sou uma pessoa interessada na vida pessoal de meus autores prediletos, então confesso: lendo Leminski jamais pensei que sendo um ele conseguiu ser tantos.


A exposição reuniu com critério e beleza uma enorme amostra da vida do poeta conduzindo os interessados pela vida dele para dentro dela através dos textos de Leminski, de suas fotos, registros visuais, biblioteca e mesmo da sua própria maquina de escrever. São tantas informações que é possível passar horas e horas na Torre Malakoff e não consegui ver tudo com cuidado. Aliás, a sensação que tive depois de ter saído da exposição foi a de que preciso voltar a ela ante de 30 de maio para apreciar com calma o ambiente e o acervo selecionado.









A exposição em si foi um momento rico e delicioso de ter sido experimentado, mas pesando e medindo preciso confessar que o melhor do Desafio 12 lugares de março não foi bem a exposição e sim ter saído de casa no domingo a tarde na companhia da minha irmã para explorar a minha cidade. As vezes eu esqueço do quanto minha irmã é uma pessoa querida e uma boa companhia, do quanto é importante fortalecer nosso vinculo em experiencias agradáveis fora das paredes de nossa casa. Eu sou apaixonada por minha irmã e caminhar com ela pelos lugares de Recife Antigo culminando com a exposição foi uma experiencia magica e inesquecível. Nós caminhamos, brincamos, conversamos e nos fotografamos em momentos ruins só por sacanagem.




A parte o fato de minha perna está totalmente cheia de marcas eu amei essa foto.

Ah, só a titulo de registro, fiz a bondade de convidar o namorado dela para o passeio e ele foi muito solicito em nos fotografar juntas.



O Recife Antigo vibra nos fins de semana com vários espaços culturais abertos e uma feirinha na qual se encontra de tudo um pouco e um pouco de tudo. Eu não fazia noção disso! Foi uma descoberta fascinante!





O Desafio 12 Lugares é uma ideia da Lu Tazinazzo do blog "Aceita um Leite?".



sábado, 8 de março de 2014

Voinho e Voinha

Painho sempre foi muito apegado a mãe dele, ele é aquele tipo de homem que nunca corta o cordão umbilical. Voinha também foi aquele tipo de mulher que nunca cortou o cordão. No final das contas quando ele casou comprou uma casa bem próxima a dela e graças a isso minha infância foi marcada pela presença mais que constante de Voinha, Voinho, para o mal e para o bem também.

Os dois eram evangélicos, se converteram a uns 50 anos atrás um pouco antes ou depois de chegarem em Recife vindos do interior da Paraíba  Eles foram membros quase que fundadores da Assembléia de Deus daqui de Nova Descoberta e graças a isso eu vi e vivi experiencias curiosas dentro dessa denominação.

Tenho muitas lembranças agridoces relacionadas a essa igreja. Lembro de quando o templo era bem pequeno, lembro de como a comunidade religiosa foi crescendo... crescendo.... crescendo... Do esforço para comprar um templo maior, da aposentadoria do antigo pastor, da posse do atual, de como essa denominação foi subindo os morros, ganhando respeitabilidade dentro do bairro, da cidade, do estado, se consolidando... A história da vida de Voinho e Voinha, a minha história, se confunde com a história da presença dessa denominação aqui em Nova Descoberta.

Voinha não era muito de estudar a Bíblia, ela era muito mais de observar e criticar as hipocrisias do ministério. Crescer com uma pessoa assim me faz olhar as coisas por um angulo muito particular, eu acho. Ela nunca foi amante das aparências rutilantes, sempre preferiu fazer disso piada e chiste para desespero de Voinho, um homem severo.

Só de lembrar das discussões deles eu começo a ri sozinha. Minha avó tinha um talento nato para a tiração de onda e sempre que faço um comentário jocoso, carregado de acidez, daqueles de fazer furo em chapa de aço, Mainha diz: "Eita! É Rita mesmo! É a evolução!".

As vezes eu me pego pensando em Dona Rita... Em seu jeito de ser! Ela era insatisfeita, vivia pensando nos outros, super mandona, incompreendida pelos filhos... pelos netos... por mim... Tantas coisas que eu não sabia... tanta incompreensão... Hoje eu sei... Sinto saudades de ganhar uma sombrinha e uma "irritante" repreensão "Vê se dessa vez não perde!" no meu aniversário.

Já Voinho era um estudioso da Bíblia. Comecei a ir a Escola Dominical com ele e com ele frequentava os cultos de doutrina. Na casa dele ouvia sentada no colo as histórias da Criação, Dilúvio, Torre de Babel, Moisés, Josué, Raabe, Ana, Samuel, Saul, Raquel, Davi [como eu amei Davi, como odiei Davi, como eu me identifico com Davi], Jesus, nascimento, vida, os encontros e milagres de Jesus, a Morte e Ressurreição, Paulo.

Embora a convivência nem sempre tenha sido positiva, ou fácil, tenho lembranças muito boas de meu avô. Ele foi um homem forte, sólido. Me colocava no colo, contava as histórias e ensinava a perceber o sentido delas. Era ele que me trazia para casa no colo quando eu pegava no sono antes do fim do culto e me socorria das ignorâncias de painho... As broncas não conseguiam fazer um NÃO do meu pai virá SIM, mas me dava muito prazer ver Painho ouvindo Voinho e Voinha calado (especialmente Voinha que sempre foi mais forte com painho).

Voinho tinha uma voz possante, um orgulho danado de pertencer a uma denominação tão respeitada como a Assembléia de Deus do Recife e foi muito duro ver toda essa força de titã indo embora em cinco 5 meses de sofrimento... Havia algo de muito errado em ver Voinho em cima de uma cama como um bebê super desenvolvido...

Enfim... devo a Voinha e Voinho muito do que sou... De Voinha eu herdei o temperamento... É inegável até na chatice... A Voinho a prática de ler a Bíblia e o conhecimento de seu texto... Graças a eles cresci junto aos anciões da Igreja e isso fez toda a diferença em minha vida e na forma como organizo, interpreto e pratico o evangelho.

Falar de Voinho e Voinha no passado doí demais. Talvez eu esteja sendo egoísta, afinal todos os anciões da Igreja sabem da inevitabilidade de seu encontro definitivo com Cristo e talvez até desejem esse encontro... Eles sabem da possibilidade de ver os céus abertos, descansar das dores dessa vida, ter o um novo corpo, receber um novo nome, ver a Nova Jerusalém, onde não existe Sol porque Deus é a própria luz, andar nas ruas de ouro e cristal, comer do fruto da Árvore da Vida e esperar em Deus pelo grande dia do Juízo... Mas... sinto saudades deles.

Enfim, também eles me ensinaram que a gente não morre e sim dorme no Senhor... Voinha e Voinho não estão mortos, eles apenas dormem e não dei adeus foi mais um até logo. Nós ainda vamos nos encontrar na Eternidade!
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P.S.: Eu escrevi esse texto há mais de um ano atrás, em 21 de outubro de 2012, de repente a saudade de Voinho e Voinha me fez lembrar dele. E eu resolvi traze-lo para cá, onde é reconfortante guardar lembranças.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Lembranças da minha tia...

Quando minha mãe saiu da maternidade comigo nos braços a primeira parada dela não foi na nossa casa e sim na casa de minha avó Gilda. Ela padecia de uma falta de segurança latente e um medo de fazer tudo errado, então buscou força na mãe. Porém a figura na qual ela encontrou apoio não foi bem minha avó e sim minha tia Neide.

Em maio de 1986 minha tia Neide não era muito mais que uma adolescente namoradeira pra chuchu, cheias de coisas divertidas a fazer e pessoas a conhecer, mas, por algum motivo facilmente ignorável, quando minha mãe finalmente fez as nossas malas para vim para nossa casa ela fez as dela também e veio ajudar a cuidar de mim.

Quando Junior nasceu, dois anos depois, e já chegou em casa com a terrível coqueluche, ela se tornou primordial a minha existência, ou melhor a existência de todo mundo por aqui. Eu era mais que ligada a tia Neide, eu vivia grudada nela, para cima e para baixo, ela me alimentava, me dava banho, levava a escola e dormia comigo ou eu com ela.

Pensando direitinho eu devo ter sido até os sete anos a criança mais dependente da face da terra. Além dos exercícios da escola, eu não fazia absolutamente nada sozinha e nem tinha necessidade existencial de fazer, segundo as memórias de minha tia eu era uma criança quietinha, não gostava de sorrir nas fotos e definitivamente não gostava de comer.

Quando completei sete anos e tinha Neide ultrapassou o limite dos 20 ela precisou buscar outras coisas para a vida dela, mainha passou a enfrentar o desafio da maternidade sozinha, eu finalmente aprendi a me cuidar e de quebra a ajudar a cuidar dos meus irmãos. Uma mudança brusca, mas não traumática, tive tanto amor por tanto tempo e fui tão bem cuidada que tinha estoque para dar as outras pessoas.

Mas, a vida mudou completamente depois dos sete anos e me deixou saudades "do tempo que eu era criança/ e o medo era motivo de choro/ desculpa pra um abraço ou um consolo". Eu odiei mesmo a primeira noite sozinha na minha cama, eu odeio dormir sozinha, eu continuo odiando comer, ninguém acerta o tempero de tia Neide, nem mesmo eu...

E bem, sem mais delongas eu preciso dizer que ontem vi a Irene postar a imagem de uma mulher tirando lençóis do varal com uma menina do lado e pensei: "Essa menina poderia ser eu antes de 1992.". Lembrei de tardes de verão, de tirar uma soneca a tarde e acordar religiosamente as quatro para apanhar as roupas do arame, do vento nos lençóis cor de rosa e azul, das fantasias que passavam pela minha cabeça de criança, de um ou outro avião cruzando o céu, das muitas pipas coloridas, de sentar na calçada para comer raspinhas de maçã e de tudo o mais escrito nesse texto.


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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Não estou preparada...

Não é como se eu não soubesse desde sempre que as pessoas morrem. Eu sei disso, todos sabem, alguns menos e outros mais, mas todos sabem!

Também não é como se eu nunca tivesse dialogado com a ideia de morrer cedo ou tarde... Já nasci em uma família enlutada, nasci exatos nove meses apos a morte de Jaqueline, acompanhei ao longo da minha infância muitas das fazes do longo luto dos meus pais e talvez até tenha vivido de certa forma certo luto pela irmã mais velha que  nunca conheci e nem poderia ter conhecido.

Lembro do dia no qual constatei sozinha e em pânico que se ela não tivesse morrido talvez eu não tivesse nascido e de ter sentido uma aflição culpada por algo que não fiz; da imensa gratidão que senti por um tio quando ele tirou o quadro de Jaqueline da parede da sala; da sensação de ir sorrateiramente da uma olhadinha escondida na fotos dela e na chupeta branca que ela nunca gostou de usar guardada por anos junto as lembrancinhas de "Dia dos Pais"; do dia no qual painho jogou a chupeta no lixo; de ter me arrependido por não ter guardado o objeto; de encontrar um vestido dela guardado nas coisas de mainha e deixado lá sem tocar.

Também sei que a morte nem sempre é repentina e todos os dias nós morremos aqui e ali... Um dia eu li os versos de Cecília Meireles e concordei tanto que nunca cheguei a esquecer deles:


"Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
....
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer..."

Não ignoro essas certezas. Mas hoje foi diferente, hoje a certeza da presença da Morte na vida me pegou de um jeito dolorosamente novo.

Em meio a um papo descompromissado regado a café, biscoitos secos e a boa e velha bagunça na cozinha de Mainha minha vizinha começou a falar de meus avôs e avós. Voinho Pedro e Voinha Rita, pais de Painho já não estão entre nós e no entanto suas histórias continuam firme e forte, viraram lendas e nos fazem tanto chorar quanto ri muito. A agora lendária chatice de Voinha, tão semelhante a minha, a força rude de Voinho, tão semelhante a de meu pai, foi abrandada pelo tempo me fazendo pensar que  Painho Hulk será um ótimo Voinho besta e babão para meus filhos e filhas.

Até ai nada de inesperado, fazem poucos meses desde a morte de voinho e nós já estamos entrando naquela faze de lembrar para ri, para matar a saudades, para compartilhar momentos... O inesperado foi minha vizinha tocar no nome de Pai Elias, meu avô por parte de mãe que eu nunca chamei de Vô, Vovô ou Voinho e sim de Pai.

Do alto de seus 71 anos, Pai é um homem nada velho, ele é prá lá de ativo, inteligente, claro, separado de Mãe há quase 30 anos é mulherengo pra chuchu, animado, cheiroso, sem vergonha, capaz de me mimar bastante e eternamente do meu lado em qualquer pendenga. Sou a primeira neta dele (quer dizer depois de Jaqueline - como dizem os mais velhos da família que parecem ter um compromisso moral de não esquecer dela e se estou falando deles então é bom também lembrar). Pai me chama de "Menina Passarinho", sempre lembra de trazer frutas para mim e ama qualquer coisa que eu cozinhe para ele de feijão a torta de abacaxi.

Eu adoro Pai até debaixo d'água e nunca até a manhã de hoje me ocorreu a ideia existir, viver, respirar, amar, sorrir e chorar em um mundo no qual ele não existe para me chamar de Menina Passarinho e dizer que Painho não deveria me aperrear.

Mas, minha vizinha no meio das piadas e lembranças de Voinha e Voinho derrubou em mim essa dolorosa consciência ao construir umas frases simples. Ela apenas disse: "Seu Elias está ficando velho... Ei Jaci, aproveita teu avô porque nesses dias é ele que se vai vice!".

Pensando bem ela apenas transformou em palavras algo para lá de obvio, mas as vezes a coisa mais difícil de se ver é o que está de frente a nosso nariz. Bastou isso para a velha consciência da finitude me atingir como um soco no estomago capaz de dilacerar minhas forças e embaçar todo o azul do céu de verão.

Se eu fosse conversar com minha mãe agora, sei que ela diria que isso tudo é besteira e me lembraria da possibilidade de Pai viver muitos anos mais, afinal ele não bebe regulamente, não fuma, dorme bem, é sexualmente ativo até demais para todos os gostos e é feliz. E ainda pode ser que minha mãe emendasse dizendo que a morte só quer uma desculpa por isso qualquer um de nós pode muito bem ir antes dele com toda a facilidade do mundo.

Mas, nesse momento não consigo assimilar essas conclusões simples, minha mente não funciona com clareza. Sinto-me apenas perdida e medrosa em relação a chegada desse dia terrível no qual as minhas pessoas queridas serão apenas lembranças.

Talvez por ainda estar de luto pelas pessoas que se foram de forma trágica naquela boate em Santa Maria (Qual brasileiro não sofreu ou está sofrendo com aquelas famílias?), pelas fragilidades naturais da TPM ou por qualquer outro motivo o certo apenas é que nesse momento computo em pânico apenas a sensação de não está definitivamente preparada para a chegada desse dia terrível no qual as minhas pessoas queridas serão apenas lembranças.

Alguém está?

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Quando meus ouvidos se abriram...

Eu já disse muitas vezes que não sou uma das pessoas mais musicalizadas do mundo... É uma vergonha, eu sei, mas no meu mundo interno existe um silêncio no qual poucas músicas conseguem entrar, o que não significa que o externo não seja barulhento.

Eu vivo cercada de sons, a vizinha da frente escuta Calipso no volume mais alto, a de baixo adora um forro estilizado no melhor estilo Gatinha Manhosa, a de cima é evangélica e parece em guerra com a de baixo então escuta os hinos apocalípticos no maior volume enquanto meu primo escuta uns raps sem ouvir bem o que as letras dizem...

Na minha casa as pessoas também tem suas músicas... Júnior escuta dos Racionais e suas letras tipo "Preferencialmente preto, pobre, prostituta pra policia prender... para e pense por que..." a Benito de Paulo cantando "Eu sou como uma borboleta... Tudo o que eu penso é liberdade. Não quero ser maltradado...(não é tão mal, mas... nem sempre estou afim de ouvir). Rafaela ouve de uma cantora anunciando que "um terremoto vai acontecer aqui" a Emily desafiando minha sanidade com seu "I'm going under/ Drowning in you/ I'm falling forever/ I've got to break through/ I'm going under". Minha mãe ama apenas os hinos e meu pai... Aaaah... É uma longa história barulhenta com Roberto Carlos, Luiz Gonzaga, Raul Seixas, Clara Nunes e tantos outros aos pedaços, nunca um CD inteiro de uma vez.... variando de um ritmo a outro... em altíssimo tom, talvez o maior incomodo seja o altíssimo som e não as músicas em si.

É uma bagunça sonora que piora quando a gente desce a escadaria e ganha as ruas... os ônibus... as lojas... as curvas... os becos... as vielas... tudo no mundo é tão barulhento, quente e se misturam tanto tantas coisas! Parece que não há espaço para mais nada e nem para mim, como diz Claudineia, só me resta desligar o botão "realidade" e fazer meu caminho em piloto automático e me entregar a meus silêncios...

MAS, as vezes, não sempre nem constantemente, algo parece pressionar meu silêncio. Um som ultrapassa as barreiras da minha irrealidade, faz curvas e sussurra dentro de meu campo auditivo mais alto que qualquer grito... e então eu escuto... meus ouvidos se abrem!

Foi assim que eu escutei lá longe ou aqui perto alguém cantando "Não quero ver você triste assim, não... que a minha música possa te levar amor..." E eu estava tão triste e talvez ainda esteja, me sentindo tão mal amada, tão sem azul, tão solitária no meio de tanto barulho que meus ouvidos surdos se abriram e deram passagem a canção... um rap que me devolveu o azul e me deixou com uma reflexão digna de milhares de notas.

Quando cheguei em casa procurei pela música... pelo autor... e tudo o mais... Acho que estou apaixonada pelo Criolo e na sequencia compartilho o que talvez seja minha mais nova paixão musical.

E sim, quer o mundo acabe ou não no próximo dia 21, é sempre bom lembrar: "As pessoas não são más, elas só estão perdidas... Ainda há tempo..."

Criolo

"Cê quer saber, então vou te falar
Porque as pessoas sadias adoecem
Bem alimentadas ou não, porque perecem?
Tudo está guardado na mente
O que você quer nem sempre condiz com o que o outro sente
Eu tô falando é de atenção
Que dá cola ao coração e faz marmanjo chorar
Se faltar um simples sorriso
Ou às vezes um olhar
E que se vem da pessoa errada não conta
A amizade é importante Mas o amor escancara tanto
E o que te faz feliz também provoca a dor
A cadência do surdo no coro que se forjou
E aliás, cá pra nós, até o mais desandado
Dá um tempo na função quando percebe que é amado
E as pessoas se olham e não se falam
Se esbarram na rua e se maltratam
Usam a desculpa de que nem Cristo agradou
Falô, você vai querer mesmo se comparar com o Senhor?

As pessoas não são más, mano, elas só estão perdidas. Ainda há tempo.

Não quero ver você triste assim, não
Que a minha música possa te levar amor"

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Blogagem Coletiva Lendas Urbanas: Cumade Fulozinha

Há quem diga que a lenda de Cumade Fulozinha, uma menina de longos cabelos negros, muito lisos que mora nas matas e é responsável por sua proteção é uma história totalmente rural, mas Nova Descoberta é um bairro que surgiu majoritariamente a partir da década de 1950 e as casas foram avançando através da mata que existia aqui então muitos dos moradores de meu bairro tem muita história para contar sobre esse personagem.

Minha mãe conta que meu bisavô Arthur, homem taciturno, caladão, cheio de manias, cujo passatempo maior era caçar, ao se preparar para se embrenhar nas matas jamais deixou de preparar um rolo de fumo para deixar a Cumade e nunca deixou de se portar com respeito em seu território, caçando apenas aquilo que seria consumido na refeição e em hipótese alguma proferindo palavras feias ou de baixo calão no terreno a ela pertencente.

Tudo isso era mata antes de 1950.
Mas, quem realmente afirma a realidade da existência desse personagem é o primo Bastião. O primo Bastião conta que quando jovem se embrenhou na mata para caçar com os outros primos, porém resolveu em um arroubo da juventude não deixar fumo para Cumade Fulozinha, ato que sozinho já foi suficiente para deixar todos os outros primos amedrontados e suspeitosos em relação a qualquer pé de vento ou barulhinho de bicho.

A atitude pretensiosa dele deixou todos amedrontados e irritados tanto que logo começaram a recrimina-lo por tamanha falta de prudencia. Homem nordestino, ignorante até o talo, e no calor da juventude, ele logo se irritou com todos eles e começou a falar palavrões e xingamentos baixos em plena mata. "Que Cumade Fulozinha que nada! Isso não existe!Vocês vão ver! Olha só o que digo para essa Cumade #%&*#$%&*".

Diante de tamanha falta de prudencia os outros primos se recusaram a continuar em companhia dele e voltaram para casa abandonando o primo Bastião sozinho na caçada.

Uma vez sozinho o primo Bastião conta que de repente ele se viu em uma clareira com mato baixo e um silêncio de morte se fez na mata, não se ouvia nem um pio de passarinho, nem um barulhinho de galho quebrando, nada de nada até que um vento frio soprou desafiando o calor do sol e de repente apareceu diante dele uma menina de mais ou menos um metro e meio de altura, cabelos negros chegando aos pés divididos em duas longas tranças que apenas questionou: "Então você não deixa meu fumo e ainda fala palavrão na minha mata! Vamos ver se eu não existo!".

Ao vê-la se aproximando o primo Bastião conta que se pôs a correr desesperadamente mata a fora com ela em seu encalço lhe chicoteando o corpo todo com as tranças do cabelo até deixa-lo meio morto e completamente chicoteado, cheio de vergões pelo corpo todo em um castigo exemplar para a sua má conduta.

Se é verdade ou mentira eu não sei, mas realmente ele chegou em casa meio morto depois dessa aventura, com o corpo todo coberto de vergões e até hoje jamais esquece de levar o fumo de rolo e não falar palavrões ou desafiar aquilo que ele não entende quando está dentro de uma mata.
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E essa foi a minha participação na Blogagem Coletiva: Lendas Urbanas, proposta pelo Christian V. Louis do Escritos Lisérgicos.

Tá, quem me contou essa história não foi o primo Bastião e sim, se a memória não me trai, minha tia-avó Edite (Didi), eu não vejo o primo há mais de duas décadas, mas conta-se que realmente ocorreu dele ir caçar com os outros primos, ser deixado sozinho na mata e voltar para casa todo lapiado culpando a Cumade Fulozinha pelo ocorrido.

No blog "O historiador e o tempo" é possível encontrar o texto "Comadre Fulozinha: a dona das matas" cujo conteúdo esclarece um pouco mais a cerca desse personagem característico da cultura nordestina.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Entre trancos e barrancos: minhas aventuras na academia!

Afinal de contas chegando aos 25 anos eu acabei me percebendo como uma pessoa altamente sedentária, de sedentária tou passando lindamente a entrevadinha, cada dia mais propensa a tropeçar, cair e haja moleza. Deu medo... Deu medo... Deu medo três vezes porque, tenho 25 e já ando assim, imagine quando eu chegar aos cinquenta???

Resultado, minha mãe que há quatros meses atrás, aos 45 anos, começou a frequentar diariamente uma academia, resolveu me arrastar com ela me fazendo embarcar em uma aventura e tanto.

Academia tem muito de tortura?
A primeira aula foi demolidora, sai correndo daquele lugar com a firme certeza de que todo professor de educação física no fundo é um sádico, que eles devem pagar Tortura 1, 2 e 3 na Universidade e que aqueles aparelhos medonhos foram tirados dos corredores da Santa Inquisição.

Educador Físico é Sádico?

E a dor?!?!? Nada havia me preparado para tanta dor. No dia seguinte acordei tão quebrada, mas tão quebrada que até meus pensamentos saiam dolorosos!!!

Quando dei o primeiro passo rumo ao meu banhosinho matinal tive a certeza que minha mãe é masoquista. Só pode, porque alguém que ama um lugar que te deixa nesse nível de estrago só pode ser masoquista!

E sim, eu descobri saudosa e em prantos (a parte do pranto não é metáfora) que eu sou burra... É verdade, eu me sentia uma pessoa até sabidinha, mas a minha primeira semana na academia destruiu todas as minhas convicções... Eu sou burra, porque só sendo muito burra para conseguir errar tantos exercícios básicos como eu erro, trocar a mão direita pela esquerda, a perna esquerda pela direita... O professor ensina o exercício trocentas vezes eu não entendo meia...

Sem contar que eu descobri um grupo de vovós radicais cuja forma física faz parecer que eu é que sou uma vovó.

Enfim, a academia é uma novela mexicana em minha vida! Mas, como nem tudo é dor, luto, agonia, mais dor porque eu sou dramática, tem a parte positiva.

É muito professor...
Gente o que são esses homens ein??? De onde sai essas coisas??? Só pra começar o avaliador mais parece um deus iorubano no novo mundo, o professor de localizada parece que saiu do Olimpo e o de aeroboxe é tão perfeito que mais parece o Max Steel e certamente a forma que Deus usou para fazer aquela maravilha do mundo pós-moderno foi jogada fora.

Quem sabe um dia!
Enfim [2], a parte a avacalhação geral que foi esse post, sabe que não está sendo tão ruim frequentar a academia..

Eu tenho descoberto aula a aula o meu corpo, esse aparelho tão fragilizado pelo mau uso que dou a ele.

Tenho descoberto e ampliado meus limites de maneira que fico com a impressão de que ao longo das aulas venho me encontrando comigo em uma dimensão diferente da habitual, na dimensão física.

Não tem sido um encontro fácil eu confesso, mas tem compensado o esforço, afinal, depois de alguns dias, eu começo a pensa que talvez Mainha não seja uma masoquista e a academia não seja apenas uma replica de um corredor do Santo Oficio.