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sexta-feira, 25 de março de 2016

Eu e meu blog


Na primeira postagem escrita nesse blog usei os versos de Fernando Pessoa:

"Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."

Escolhi esse texto pois era meu sentimento em relação aquela página em tons de marrom. Ela seria uma janela e tanto me possibilitaria olhar para o mundo externo a mim quanto mostrar o meu universo interno a quem desejasse olha-lo.

Criei o blog porque estava meio completamente atordoada com o fim de um namoro sério com o rapaz com qual pretendia casar e ter filhos... Eu já imaginava como seria meus filhos... e tudo deu errado... e me vi sozinha e enchi o saco de todos com lamurias e queria me lamuriar mais um pouco e sentia vergonha e vi Renato e Júnior criando um blog e quando eles recuaram sentir ter a minha chance.

E sim, troquei todas as  virgulas do paragrafo acima pelo conectivo "e" para dar carga dramática a confissão. #Loka hahaha

Antes de ter um blog costumava jogar online, quando fui escolher um nome para jogar não quis usar Jacilene, meu nome é muito regional, queria algo clássico... E se era clássico tinha que ser algo vindo da Grécia e se viesse da Grécia tinha que ser Pandora. Também flertei com Perséfone, mas algo me fez recuar e eu só descobrir bem depois o motivo, afinal havia outra pessoa com esse nome que iria se tornar muito central na minha vida. A parte isso, experiência de jogar online foi ótima, talvez por isso carreguei para cada canto da virtualidade esse nickname auspicioso.

Meu primeiro ano de blog, 2008, foi meio silencioso, como em tudo na vida a principio sou arredia. Lia muito, escrevia, mas não publicava. Sentia medo das pessoas lerem. Porém, numa bela noite o medo passou, abri as abas da Caixa e tenho deixado as coisas saírem de forma regular ou irregular, aos borbulhões ou as borbulhinhas, depende da hora, da cor e do cheiro.

Esse blog é um caderno de notas pessoais.
Ele é o maior reflexo do meu mundo particular.
É onde mastigo minha história e faço a digestão de minhas experiências boas e más.
É a continuação do habito infantil de escrever diários.
Ele me colocou em contato com pessoas incríveis que se tornaram centrais em minha vida.
Sou apaixonada pela experiência de escrever nele.
Gostaria de escrever com mais frequência, mas abrir os abas da Caixa nem sempre é simples para as Pandoras da vida.
Eu lamento!
Mas estou tentando!

Obrigada a todos e todas que passam por aqui, leem, escrevem algum comentário... Me escutam e falam comigo. Minha vida seria bem menos interessante sem você.

Essa postagem faz parte do "1º Concurso Cultural: Eu e Meu Blog" proposto pela Mi F. Colmán.


sábado, 5 de setembro de 2015

Uma foto da infância pendurada no varal...

Escolher uma foto da infância para mim não foi um exercício fácil. Há quase 30 anos atrás a sensibilidade das mães e pais na hora de fotografar os filhos era outra. Os momentos a serem fotografados eram escolhidos com cuidado, só os momentos significativos ganhavam a honra do registro.

A foto que escolhi não é minha melhor foto de infância, talvez se minha mãe chegar a vê esse texto ela vá brigar um pouco comigo, afinal ela expõe a parte de trás do quintal da vizinha da frente (na época minha tia) e ele não está apresentável.


Essa foto foi tirada por Painho, eu tinha dois anos e três meses, nesse dia Mainha não estava em casa ela tinha ido dar a luz a Junior e eu estava sob os cuidados de Tia Neide, todas as vezes que olho essa foto tenho a sensação de voltar no tempo sabe... Eu lembro desse ocasião, de vê Painho desarmando o berço, de ver ele mexendo nas peças, de sair de casa e fazer perguntas a ele, do sentimento de ansiedade, um pouco de tensão diante da situação nova, lembro dele decidindo tirar a foto.

Não lembro de tia Neide protestar contra o vandalismo fotográfico de tirar uma foto com a menina vestindo roupas de casa e com pés descalços, mas Tia Neide diz que houve e ainda reclama quando vê essa foto, mas faz isso rindo. Também costumo me perguntar como fiquei sem sandálias tempo suficiente para a foto se  uma das lembranças mais fortes da minha infância é da grande proibição de sair de casa sem sandálias nos pés.

Acabei escolhendo essa foto porque no ultimo dia 3 de Setembro meu irmão completou 27 anos, pensei em escolher uma foto com ele, mas me ocorreu que essa foi a minha primeira foto com ele, acho que foi nesse dia que meu irmão nasceu para mim, o dia que virei irmã mais velha, umas das minhas "identidades" favoritas e mais definidoras das características gerais da minha personalidade.

Se você quiser conhecer um pedacinho de outras infâncias,

sábado, 4 de julho de 2015

Saudades [Blogagem Coletiva do 1º Sábado #2]


Em algum momento desse período entre os 25 e 30 [tenho 29 anos agora] ocorreu-me: viver é também acumular saudades. Não sou nem mesmo uma pessoa idosa, mas já acumulo tantas saudades.

Tenho saudades da biblioteca da escola do ensino fundamental 2 e média, mas não a de agora. Meu sentimento é por aquela versão localizada na penúltima e imensa sala do terceiro corredor. Tinha uma árvore na frente dela na sombra da qual um dia a professora Christianne decidiu dar uma aula para uma turma que não era a minha... Por dentro ela era dividida em quatro partes, arejada, com muitos basculantes e ventiladores. Silenciosa, mas permitia ouvir os barulhos de fora. Sem condicionadores de ar. Perfeita... Quando eu preciso de paz, fecho os olhos e volto para lá.

Tenho saudades da Erica, de seu sorriso cujo som lembrava o tinir de sinos... Ela tinha longos cabelos castanhos, era muito magra, alta, falava alto, era conscienciosa com a condição de moradores de ruas... Alegre... Entre os 13 e 14 anos, adorava romances de banca... Quando leio meus diários simplesmente gostaria de não ter desperdiçado o tempo brigando tanto... Eu lamento tanto cada discussão desnecessária. Nós vamos nos encontrar na Eternidade e no entanto, nesse exato momento, gostaria de poder me encontrar com ela nas redes sociais ou na esquina de qualquer rua de Recife... Me pergunto se um dia, vai doer menos encontrá-la na paginas dos diários.

Tenho saudades do meu amigo Felismino, da confiança mutua na opinião um do outro, dos encontros na igreja nas manhãs de domingo, das caminhadas para casa. Nossas conversas eram feitas de planos para o casamento dele, conflitos do meu namoro/não-namoro, experiências de escrita, coisas da docência, família... ternuras... Aquela rotina de fazer acontecer as aulas e as festas de um departamento infantil com cerca de uma centena de crianças sustentado por menos de uma dezena de adultos mal pagos, porém capazes de atitudes de desprendimento sem tamanho. Certos amigos ajudam a construir nosso caráter, são moralmente edificantes, deixam marcas na forma através da qual decidimos quais atitudes tomar diante das situações da vida. Essas amizades só podem ser interrompidas por algo definitivo. São inesquecíveis.

Tenho saudades das sombrinhas com as quais Voinha me presenteava. Sou uma pessoa área e esquecida, completo ano no penúltimo dia de Maio, Junho é tradicionalmente um mês chuvoso em Recife e por isso Voinha sempre me presenteava com sombrinhas. Sinto saudades não só das sombrinhas, sinto saudades do jeito resmungão de Voinha, de como ela comia pouco e ainda xingava a pobre comida, do seu sarcasmo, do seu cheiro, da pele dele... Meu Deus como Voinha reclamava das coisas kkk... Parece uma versão minha 50 anos mais velha... Ou eu sou uma versão dela 50 anos mais jovem? Eu me encontro com ela cada vez mais, enquanto me vejo instintivamente fazendo coisas como ela fazia, especialmente aquelas que me aborreciam profundamente... kkkk...

Me pego descobrindo várias e variadas saudades:

De quando meus tios me colocavam em cima de seus ombros e eu era um gigante;
De dormir com tia Neide;
Da terceira série;
De conviver diariamente com Aline;
Do gosto dos chocolates trazidos por meu pai para mim e meu irmão;
Dos brinquedos vindos dos interiores do Nordeste;
Das enormes barras de doce de leite da minha infância;
Dos litros de mel vindo do Sertão;
Das longas conversas com seu João lá da venda;
Da turma do ônibus dos meus dias de graduação;
Do tom de voz e da forma de se expressar da minha orientadora do mestrado;
Das visitas ao arquivo em minha época de mestrado;
De ir sozinha ao cinema depois de passar a tarde pesquisando no arquivo da Fundação Joaquim Nabuco;
De encontrar a Bella na parada do ônibus, esquecer o cinema e ficar de papo sobre tudo e nada;
Da primeira infância de algumas crianças, hoje na segunda infância;
Da segunda infância de alguns adolescentes;
Da terrível adolescência (quem diria?) de algumas mulheres e homens agora adultos...

Quanto mais me concentro, mas penso nas coisas das quais sinto saudade... Mas, vejam só, nesse esforço de memória, constato absurdada: saudade não é propriamente sinônimo de falta ou de ausência.

Todas as coisas das quais sinto saudades são coisas minhas... Experiências, pessoas amadas, conversas, realizações, fazes da vida presas no passado, mas não necessariamente perdidas...

Nossa... De repente me pergunto se essas experiencias e pessoas das quais tenho saudades não estão necessariamente perdidas, se elas não estão logo ali ao alcance da lembrança... Embora não possa mais morar com elas, posso visitá-las, cultivá-las, não deixar que se percam.

Lembrar talvez seja uma eterna forma de resgate.

Saudade talvez seja um sinal de vida; espaços preenchidos; sonhos sonhados; experiências vividas, desejos realizados...

Talvez sentir saudade não seja, como estive pensando até um momento atrás, um tipo de estranha coleção de ausências. Talvez, seja o contrário, talvez saudade seja um conjunto de inúmeras presenças.

Quem sabe saudades não é a soma das pessoas e experiências marcantes ao ponto de não poderem ser esquecidas ou ignoradas, mesmo quando fazem parte de um passado impossível de ser recuperado por qualquer caminho além do oferecido pela memória.
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Esse texto faz parte da Blogagem Coletiva promovida pela Ana Paula e pela Tina Bau Couto.
Para conferir as outras participações basta ir lá no "Lado de fora do coração".

sábado, 13 de junho de 2015

A leitura da vez [Blogagem Coletiva do Sábado]

A Ana Paula e a Tina, propuseram uma vez por mês, nos sábados, um dia meio parado na blogosfera, a realização de uma "Blogagem Coletiva". Funciona mais ou menos como se a blogosfera fosse um varal no qual as pessoas interessadas podem pendurar coisas nele. Essa semana é a primeira experiencia, para ela a ideia é pendurar "A leitura da vez".

Não costumo ler um livro só por vez, leio alguns livros ao mesmo tempo. Então vou citar aqui apenas os livros que monopolizaram minha atenção durante essa semana.

Os infantis foram "Tem bicho que sabe..." de Toni & Laíse e o "Meu coração é um Zoologico" de Michael Hall.


Ambos pertencem ao acervo da creche na qual trabalho e foram lidos e relidos durante essa semana. Confesso, enjoo dos livros primeiro que as crianças, aos dois anos elas gostam muito de repetição, eu também gosto, mas... essa semana vou para uma temática nova. [Mentira, quando as crianças lembram de uma história a ponto de saber pedir com clareza, fico tão emociona e reconto. #Molenga]

Quanto aos adultos os lidos durante essa semana foram:


"Noites sem fim" do Neil Gaiman, trata-se de uma coletâneas de contos sobre os cada um dos Sete Irmãos Perpétuos (Death, Sandman, Delirium, Destino, Destruição, Desejo, Desespero). Para mim o Gaiman é um autor amigo, sempre tenho um livro dele não lido na estante para quando eu preciso de um ombro amigo e nessa semana precisei.

"Cordeluna" da Élia Barceló é uma aventura na qual presente e passado se encontram por meio de magia. Parte dela se passa na Península Ibérica na época das Guerras das Reconquistas e parte dela na Espanha atual. Solicitei ele através da parceria do "O que tem na nossa estante" como a Editora Biruta justamente por essa jogada da autora.

"Os miseráveis" do Victor Hugo está sendo lido a trocentos anos atrás devido ao meu projeto com o Alexandre do #DoQueEuLeio. Essa semana finalmente desatolei de Waterloo. O livro é dividido em 5 volumes, o "Volume 1: Fantine" é sofrido, mas tem uma história cativante do inicio ao fim. Já o "Volume 2: Cosette".... Noooooossaaaaaa... O Victor Hugo começa esse voluma com uma narrativa densa e quase espiritual da Batalha de Waterloo. Gente, não estudei "História da Educação" por amar narrativas de guerras! Foi sofrido ler sobre Waterloo, mas finalmente vou avançar na história. #Aleluias
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Essa foi minha participação, se você quiser participar pode pendurar sua leitura, a forma é livre, nas palavras da Ana Paula é:
"Tudo livre e leve, feito vento a balançar o varal - vale resenha, foto do livro, revista, frase, motivo da leitura, o que você quiser. Sob o sol da blogosfera, vamos espiar os comentários, chamar um vizinho a participar!"
E se não deu para participar hoje,  no primeiro sábado de julho tem mais. No dia 04 de Julho o tema será comida.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O bookcrossing blogueiro, com um pouco de atraso ou adiantado...



Entre 16 e 23 de Abril e 08 e 16 de Novembro, muitas pessoas da blogosfera se propõem a esquecer um livro em algum ponto extrativístico da cidade, doar para alguém em especial ou promover doações. Deposi que a doação é feita, ou antes, as pessoas costumam registrar no blog, face, twitter enfim... alguma rede social com o objetivo de divulgar a atitude e incentivar as pessoas a desapegarem ou compartilharem com os outros essa coisa linda e perfeita que é o livro.

Nas redes sociais dos fãs de livros sempre se escuta muito que livro é uma coisa tão boa que devia ser elogio. Então quando nós encontrássemos uma pessoa linda ou quiséssemos elogiar alguém diríamos: "Você é tão livro!" ou "Você está tão livro hoje!". Eu concordo tanto com essas afirmações a ponto de ser incapaz de não reproduzi-las nesse post.

Em novembro, participei do 9º Bookcrossing Blogueiro apenas através do projeto/blog O que tem na nossa estante. Tive vontade de registrar aqui os outros desapegos, mas a correria da vida e um certo desanimo acabaram impedindo. Do meio para o fim de 2014 me tornei uma blogueira ainda mais negligente, passei mais de 30 dias, duas vezes, sem blogar aqui.

Mas, mesmo tardiamente, registro os meus desapegos de novembro de 2014. Além da pequena "Antologia Poética" de Fernando Pessoa, desapeguei de dois livros: "A lenda do lago dourado" do Edson Varella Pereira, o ultimo livro lido por mim em parceria com Saleta de Leitura; e "Chico Bento: Plantando Confusão". "A lenda..." foi deixando na "Integração da Macaxeira", um local de grande concentração de pessoas; e o Chico foi dado a um dos meus alunos que ama gibis!




Posteriormente, ainda em novembro, recebi a visita de uma ex-vizinha minha. Ela é uma menina maravilhosa, quando nos tornamos vizinhas ela tinha uns 4 anos e nós passamos por muita coisa juntas. De alguma forma uma influenciou a outra e hoje ela é uma leitora voraz. Há 10 anos atrás ficávamos assistindo desenhos animados juntas e hoje falamos de Percy Jackson e derivativos. Só porque foi para Nina consegui desapegar de Coraline e do vol. 1 de Harry Potter, sei quão bem ela cuidará bem deles.


Logo mais em Abril haverá o 10º Bookcrossing Blogueiro, estarei novamente lá, afinal, como a Tita disse, existem as Vantagens da Doação:

1 - Treinar o desapego (mais fácil começar com objetos);

2 - Disponibilizar para outros algo que ficaria restrito a mim;

3 - Desocupar espaço na minha casa;

4 - Não precisar tirar pó dos livros;

5 - Deixar na estante de casa somente o que realmente me interessa no momento.


Enfim, essa é minha ultima postagem do ano, então deixo o meu "Feliz 2015" a vocês companheiros e companheiras de virtualidade. Que possamos nos encontrar mais em 2015 e realizar sonhos e desejos novos e antigos... 

Cheros mil...

domingo, 9 de novembro de 2014

Paço do Frevo [Desafio 12 Lugares #07]

Se houve um lugar no qual, desde o inicio desse desafio, eu quis ir foi o "Paço do Frevo", um museu dedicado ao frevo, ritmo característico do carnaval pernambucano e reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio cultural e imaterial brasileiro. O Paço existe para preservar e difundir a memória do que é o frevo e de como ele foi sendo construído pelas pessoas dessa cidade ao longo do último século.

 

Sempre fiquei me perguntando como os organizadores teriam feito para criar um local no qual uma coisa fluida e sem materialidade como um ritmo e uma dança carnavalesca poderia ser preservado e difundido. E sinceramente, não sai frustrada.


O "Paço do Frevo" é um espaço dinâmico como o frevo e ferve de vida como um carnaval. É um local incrivelmente movimentado, durante todo o tempo no qual eu e o Alexandre andamos por lá vimos crianças, sorrisos e aquele barulhinho característico de espaço frequentado por crianças felizes e em momento de felicidade.


Eu me apaixonei pelo espaço pela dinâmica do espaço. Embora deva admitir que o acervo não é tudo o que eu esperava. Atualmente o espaço conta com fotos e videos nos quais as pessoas comentam a história do frevo de forma didática para que as crianças possam compreender de onde vem o frevo e quais foram as pessoas que o construíram, além de um espaço magnifico no terceiro anda no qual nós podemos conferir inúmeros estandartes das agremiações.


Eu senti muita falta de ver os objetos materiais ligados ao frevo: roupas, sombrinhas, instrumentos de sopro, moveis das agremiações. O "Paço do Frevo", apesar de ser tudo de bom, padece da mesma fragilidade do "Museu da Língua" em São Paulo, ou seja, falta de acervo material. E apesar de amar ambos os espaços, acho importante lembrar: "A humanidade faz os objetos e os objetos fazem a humanidade.". Os objetos que cercam nossas vidas são documentos que informam sobre nós, os objetos que cercavam as pessoas que fizeram o frevo também fazem parte e eu sentir falta deles.


Mas, por outro lado é preciso ter paciência, o espaço está aberto há menos de um ano e consequentemente seu acervo está em construção. Sem contar que quem se ocupa de investigar as pessoas não abastadas da sociedade sempre tem que lidar como o fato de que essas pessoas tem serios problemas para conservar objetos por muito tempo.




O frevo é uma criação das pessoas que vivem no lado B da cidade, usando as palavras de Terry Pratchett, o frevo é uma invenção dos:
"desabrigados. Os famintos. Os silenciosos. Aqueles que tinham sido abandonados pelos homens e pelos deuses. O povo das névoas e da lama, cuja única força estava em algum lugar do outro lado da fraqueza, cujas crenças eram tão instáveis e caseiras quanto suas casas. E o povo da cidade — não os que moravam nas grandes casas brancas e iam aos bailes em belas carruagens, mas os outros...".


Essas pessoas da nevoa e da lama, que vivem no lado b da cidade eram e são as "que fazem o reino mágico funcionar" são as que preparam suas refeições, varrem o chão, carregam suas sujeiras à noite, dirigem seus carros, fazem com que a luz acenda e por ai vai... Suas vidas muitas vezes passam sem serem percebidas ou registradas, a menos claro, que eles façam greve ou decidam eleger um presidente ou presidenta. É muito bom visitar um espaço que existe em função de preservar um feito dessas pessoas.

As pessoas desqualificam favelados, analfabetos, pobres com muita facilidade e se esquecem de que nós não somos acéfalos ou incapazes. Nós conhecemos a força que existe do outro lado da fraqueza e deixamos nossa marca nesse mundo e as vezes essa marca é tão grande, lustrosa e imponente que nada consegue apagar, como o frevo, só para citar um exemplo.

Ah, o Alexandre foi comigo ao Paço e graças a ele as fotos ficaram PERFEITAS! Inclusive essa foto fofa com  Antônio Maria, autor do Frevo Número 1 e claro, para não variar estou meio sem jeito cutucando o poeta... 


Esse post pertence ao Desafio 12 Lugares proposto pelo Blog "Aceita um Leite?"


sábado, 1 de novembro de 2014

As aventuras de Sindbad, o Terrestre [Desafio Calendário Literário]


Quando encontrei esse livro, há quatro anos atrás, pensei: "Oi, esse titulo não está ligeiramente errado?". Mas, não, o titulo está certo. Sindbad não é nome próprio, é um apelido, significa "homem da China", e não existiu apenas um, e sim dois. Quem leu a história de "Sindbad, o Marujo ou Maritimo" lembra, ela começa quando ele encontra outro homem com o mesmo apelido e o convida para uma reunião para troca de figurinhas.

A história das aventuras dos dois "Homens da China" foram escritas em meados do fim séculos VIII e inicio do IX na região do Iraque. A edição da Martins Fontes conta com introdução e notas explicativas de René R. Khawam e este explica ter sido as histórias do Terrestre e o Marujo duas partes de um obra única escrita pelo mesmo autor. Partilho com Khawam a concepção de que toda história contada funciona é um documento através do qual podemos acessar informações e obter conhecimento sobre o passado e sinceramente não existe um caminho através do qual eu não ame o mundo Árabe de meados da Idade Média.

Enfim, voltando ao livro, nele nós conhecemos o Hasan, nome verdadeiro do personagem, ele é morador da cidade de Al-Basra. Quando o vemos pela primeira vez ele é um rapaz órfão que acabou de diluir uma fortuna significativa. Com uma forte tendencia ao drama, ele é o tipo capaz de tomar decisões tolas e escolher mal suas amizades, no entanto não é um rapaz orgulhoso ou preguiçoso, tem a seu favor uma educação esmerada, graças a sua mãe ele domina a caligrafia, o Corão, a boa linguagem e sabe pedir ajuda quando precisa dela.

Tão logo ele se vê pobre corre atrás de uma amigo ourives, este lhe ensina sua profissão. De órfão gastador Hasan de Al-Basra torna-se o ourives mais requisitado e dedicado da cidade, as pessoas param a porta de sua oficina para observar seu talento. Seu talento é, aliás, o responsável por atrair a atenção do um alquimista Persa que seduz nosso jovem trabalhador a se meter em uma empreitada complicada em busca de enriquecimento fácil. Apesar dos protestos e avisos de sua mãe sensata de Hasan é emocional demais para ceder a tentação de ir atrás do Persa.

Aliás Hasan está bem fora do modelo machista de masculinidade. Ele é emotivo, recita versos quando está feliz ou amargurado, é fiel a uma única mulher, é totalmente capaz de manter amizade e pactos de irmandade com mulheres, sabe pedir por favor, implorar, chorar.

Esqueça-se também o modelo de feminilidade, na história de Hasan as mulheres estão bem distante de donzelas em perigo, muito pelo contrario, elas são princesas guerreiras, soldados, fiscais de alfandega, generais, pessoas independentes, capazes, astutas, manipuladoras quando preciso, capazes de viver sozinhas. Elas são as principais ajudadoras do viajante.

Para se livrar da enrascada na qual se mete quando não segue o conselho de sua sábia mãe, Hasan conta com a ajuda de princesas filhas de Djins que vivem em uma ilha isolada. A mais nova das princesas se move de amor por ele e faz dele seu irmão. Sim, você leu bem, ele encontra moças virgens, solitárias em uma ilha e não as machuca, molesta ou casa com elas, ele vira irmão delas. A irmandade dele com essas moças é um pacto que jamais é quebrado em toda essa história.

É na companhia dessas moças que ele encontra com o amor de sua vida, uma princesa filha de Reis de Djins das Ilhas Waq do Waq [Arquipélago do Japão]. Para conquistar o amor de sua princesa ele conta com a ajuda de sua irmã adotiva e lança mão de artimanhas. Como tudo que vem com estratagemas, na primeira oportunidade sua princesa foge de volta a sua terra com os filhos fruto do matrimonio. A maior aventura de nosso herói consiste em trazer sua esposa e seus filhos de volta para casa.

A busca de Hasan por sua esposa é a melhor parte do livro. Ela coloca em evidencia a diversidade étnica dos territórios pelos quais os muçulmanos transitavam durante os século VIII e IX e das pessoas que se convertiam ao islamismo. Hasan encontra homens e mulheres poderosos, de várias cores e em várias situações de poder diferentes.

"As aventuras de Sindbad, o Terrestre" oferece uma visão privilegiada das fronteiras orientais do mundo Árabe, nos da a saber um pouco de como era a vida além da Europa durante o período medieval. É maravilhoso andar pelas cidades movimentadas, pelos mercados nos quais circulam várias pessoas e objetos de diversas origens diferentes. Foi revigorante encontrar com mulheres empoderas, homens sensíveis a ponto de narrar suas dores em versos de dar inveja a poeta romântico ou poderosos capazes de se sensibilizar com a boa poesia. Tais encontros me fazem crer ainda mais que relações de gênero e modelos de feminilidade e masculinidade não são naturais e sim historicamente construídos.

Ainda quero ser Sindbad, o Marítimo, mas não existe um caminho através do qual eu não ame o emotivo, leal e fiel Hasan.  O Terrestre é um aventureiro sensível e emotivo, corre atrás do amor de sua vida, sua fortuna são seus amigos, amigas, irmãs, esposa e filho, jamais esquece de voltar a casa de sua mãe e, se cruzasse meu caminho, também eu diria

"Quanto a ti, que tua alma esteja satisfeita, que teus olhos enxerguem com limpidez, que teu peito respire livremente, pois tu te tornaste nosso irmão e nós nos tornamos tuas irmãs. Está entendido, entre Deus Altissimo e nós, que doravante nenhum sofrimento poderá atingir-te sem nos atingir também!" ("As aventuras de Sindbad, o Terrestre, pg. 57).
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O "Desafio Calendário Literário" do "Aceita um Leite?"  de agosto foi ler "um clássico da Literatura Fantástica", em meio as minhas angustias existenciais eu me atrasei nas postagens. Mas, é melhor atrasar que não chegar néh gente! Em breve vou postar sobre "Fahrenheit 451" de  Ray Bradbury e "Alice no país das Maravilhas". :)

Esse post faz parte do Desafio Calendário Literário!







sábado, 11 de outubro de 2014

Os dez melhores filmes da Sessão da Tarde [ #ListasRápidas 2]

O Luciano criou uma tag/meme chamado "Listas Rápidas" no blog dele .Livro, eu gostei da ideia e resolvi aderir a lista dOs 10 melhores filmes da Sessão da Tarde, pois até o presente momento eu ainda não consegui cansar do meu Top 10 desses filmes.

Boa parte deles fiz questão de adquirir em DVD para ter "na minha estante" e a outra estou em processo de ter, pois vivo eternamente procurando eles por ai!


Os dez melhores filmes da Sessão da Tarde!


01. Curtindo a vida adoidado
02. Os Trapalhões e o Mágico de Oróz
03. Dirty Dancing - Ritmo Quente
04. De Volta a Lagoa Azul
05. Elvira: A Rainha das Trevas
06. Gost: do outro lado da vida
07. Mudança de hábito 1
08. Os Fantasmas se Divertem
09. Família Buscapé
10. A.I. Inteligencia Artificial
_____________

Pequenas Notas:

* Quando estava na graduação confessei aos meus amigos que chorava muito quando assistia "A lagoa Azul" e eles me sacanearam com isso durantes 4 anos e 6 meses, literalmente até o ultimo dia de curso. Então agora eu não choro mais vendo como duas pessoas conseguem ficar em uma ilha a vida toda e só aprendem como fazer menino kkkk.

** "Curtindo a vida adoidado" é um dos meus filmes preferidos no multiverso até hoje a música "Twist And Shout" ainda está em meu celular. Em 2011 eu tive uma turma de "Grupo 2" que simplesmente A.M.A.V.A essa música. Eu colocava para dançar com eles quase todos os dias!

*** Nunca entendi como uma evangélica pode gostar tanto de filmes espiritas como eu gosto de "Gost" e derivativos. Poderia encher um oceano com as lágrimas que choro assistindo.

****Eu amava os filmes dOs Trapalhões nos quais apareciam, por ordem de apreciação minha  Mussum, Zacarias, Dede e Didi!

Confiram também a lista do Luciano "Os 10 melhores filmes da Sessão da Tarde"

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Blogagem Coletiva: Livros que Marcaram a Minha Infância


Quando a @Sybylla_ do Momentum Saga propôs a ideia de blogar a respeito dos "Livros que marcaram a infância" eu abracei de cara. Sim, eu sei que esse blog anda um pouquinho monocromático em relação a temáticas e eu tenho falado demais de livros... livros... livros... Mas gente, eu gosto tanto de falar de minhas leituras que não cair na tentação é impossível.

Enfim, a primeira grande marca literária de minha infância foi causada pela Bíblia, talvez por isso eu seja tão fascinada por literatura fantástica. Ela foi meu primeiro livro de leitura, claro a interpretação e acesso ao texto bíblico era mediada por uma versão infantil com linguagem mais acessível e pela presença de Voinho. Seu Pedro foi um avô carinhoso e excelente contador de histórias.

Para adultos, cujo pensamento é muito arraigado a logica e possuem uma cota de magoas significativas com os cristãos, a Bíblia pode não ter fascínio nenhum, mas para crianças o Velho Testamento tem seu charme. Ali encontramos um mundo criado em seis dias, Dilúvio, Torre de Babel, Jacó, José, Rebeca, crianças resgatadas do Nilo, pragas, nuvens de fogo, água fluindo da rocha, pão brotando da areia, pastor de ovelhas vencendo urso, leão e gigante para virar Rei. Talvez Davi tenha sido meu primeiro amor e decepção literária gritante, digo talvez pois mesmo agora não me sinto a vontade para admitir o meu amor infantil por ele. Demorei anos para perdoa-lo, minhas questões com ele eram capazes de azeda as pregações mais eloquentes kkkk

E bem, fora a Bíblia minha família não me colocava diretamente em contato com outros textos literários. Eu mesma costumava me colocar em contanto com os livros didáticos do meu tio. Livros didáticos de português são especialmente rico em diversos tipos de texto. E além disso eu dei a sorte de encontrar logo na primeira série a "Tia Shelly", quanto mais penso nela mais percebo o quanto ela era genialmente maluca. Tia Shelly falava sobre a necessidade das mulheres terem independência financeira com crianças de sete a oito anos, gritava muito e pedia desculpas por gritar muito, era meio barraqueira, fazia jogos de leitura e costumava nos levar para a biblioteca da escola nas sextas-feiras com permissão para levar 1 livro para casa, na próxima sexta nós devolvíamos e assim ia.

Foi graças a Tia Shelly que mergulhei no maravilhoso mundo de Hans Christian Andersen, Perraulte, Irmãos Grimm. Pois é, realidade não era o meu forte mesmo. Meu negocio era o mundo da fantasia. De todos os autores infantis o meu preferido sempre foi e continua sendo o Andersen. Chorei, sorrir e refleti com os textos dele! Amo a "Pequena Sereia" e seu amor resiliente e generoso, me inspiro no "Patinho Feio" para superar adversidades, me revolto com a continuidade da existência da "Pequena Vendedora de fósforos" em noites de Natal, me apaixono pelo "Soldadinho de Chumbo" e "O sino" continua sendo minha história favorita. Basta ouvir o sino da igreja tocando as seis horas que eu lembro e não consigo deixar de sorrir e ficar melancólica.

Depois da colaboração da Tia Shelly, eu contei com a ajuda da minha  tia Neide, irmã da minha mãe que me presenteou com duas edições de compilações de contos infantis das "Mil e Uma Noites" e dos Irmãos Grimm tão amada que não sobreviveu a minha infancia.

Também contei com a ajuda básica da minha vizinhança para manter meu habito de ler. Aqui em Nova Descoberta privacidade é algo que não existe, todo mundo sabe que amo ler, e quando o patrão de minha vizinha deu a ela um bom acervo de livros dos filhos dele ela me emprestou e com a ajuda de Glauce conheci a mala sem alça do Monteiro Lobato, Ivanhoé, amoooo demais, e Simbad, eu ainda quero ser Simbad.

Apesar de não morrer de amores por Lobato e odiar a Emília sobre todas as coisas, "Saci" e "Os 12 trabalhos de Hércules" foram leitura importantes para minha pessoa. Eu amo o Saci e Mitologia Grega e Monteiro Lobato foi brilhante ao transformar todas as histórias de Saci que ele conhecia nesse conto infantil, me introduziu no universo da mitologia grega, tão caro a mim, e eu amo o Visconde até hoje.

Ah, não posso deixar de citar "Ulisses entre o amor e a morte" do O. G. Rego de Carvalho. Esse livro fala de memórias de infância e adolescência em uma prosa poética emocionante, não é um livro infantil, embora fale de infância. Eu tinha nove anos quando roubei ele da bolsa de trabalho do meu pai, naquela época ele fazia a linha "Recife - São Luiz do Maranhão", alguém presenteou ele com o livro, meti corretivo na dedicatória, assinei meu nome e ele se tornou meu melhor amigo por anos.

Já disse que não fui uma criança cuidadosa?

Fica também a menção honrosa ao belíssimo "Entre a Espada e a Rosa" da Marina Colasanti, conheci esse livro na biblioteca da segunda escola na qual estudei, essa biblioteca nem existe mais, porém continua sendo meu lugar preferido no mundo o lugar no qual fui mais feliz. Ano passado reencontrei esse livro e quando volto a ler suas histórias é como se eu estivesse novamente nesse lugar de paz e luz do sol no qual eu consigo respirar.


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Esse post pertence a Blogagem Coletiva "Livros que marcaram a minha infância" proposta pelo Momentum Saga  outros posts podem ser encontrados nesse link 

Fran, Sybila, desculpem o atraso na postagem, eu passei o dia todo selecionando mentalmente as coisas que iria escrever, o post ficou enorme, eu sou prolixa, o texto deve está repleto de erros, depois revisarei tudo e linkarei todos os posts :)

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Centro Cultural Correios – Recife [Desafio 12 Lugares #6]

Se eu fosse uma blogueira mais disciplinada, hoje deveria ser o dia no qual se falaria sobre o lugar número 7 do "Desafio 12 Lugares", proposto pela Lu Tazinazzo do blog "Aceita um leite?"Mas como eu sou como eu sou¹ vou falar sobre o lugar número 6, a saber: "O Centro Cultural Correios - Recife", localizado na Av. Marquês de Olinda, 262, centro antigo da cidade, uma área tombada pelo IPHAN, considerada Zona Especial de Proteção Histórica desde 1997.


O centro funciona em um prédio é uma construção do início do século passado e foi adquirido pelo ainda "Departamento de Correios e Telégrafos – DCT" em 1921 e tornou-se sedo dos Correios em Pernambuco. Como muitas coisas no Brasil foi vitima de um bom período de deterioração de uma reforma superfatura [uma micharia de 5 milhões], mas em julho de 2009 foi devolvido a população com direito salas de exposição, auditório, restaurante (bistrô), agencia postal e uma históricas permanentemente aberta a visitação gratuita.



O lugar por mim visitado foi justamente a "Sala Histórica", nela estão guardados todos os tipos de objetos antigos relacionado a história das comunicações no Brasil, consistindo assim em um prato cheio para mim, uma historiadora de profissão.


Como estava com tempo e sem ninguém para me apressar, passei uma boa parte da minha tarde explorando com paciência e calma a sala inteira e seus objetos. Os historiadores cujo objeto de estudo é a cultura material, costumam dizer: "o homem faz o objeto e o objeto faz o homem".


Os objetos preservados nessa sala falam de uma época na qual as coisas eram feitas mais lentamente e a vida não corria como corre hoje. Não que não houvesse pressa, mas é que não havia a possibilidade de se comunicar com os extremos do mundo com a velocidade que temos hoje, era preciso ter paciência para esperar as cartas chegarem através de profissionais que não usariam avião ou carras velozes.







Os objetos também falam da ânsia constante do ser humano em diminuir suas esperas consolidado na figura do telefone e outros aparelhos.



O telefone, assim como o computador não reduz distancias, mas nos possibilitam a divina dadiva da comunicação, o que não é pouco definitivamente. Ah, bom notar também o quanto esses aparelhos são sólidos, falando de um tempo quase pré-industrial no Brasil no qual objetos como esses eram feitos de forma quase artesanal. 





Observando a solidez desses aparelhos, que parecem ter saído de obras steampunk², [obviamente é o contrario, eles inspiram os autores desse gênero] penso nessa época na qual não se produzia ferozmente produtos descartáveis. Eu entendo os autores de steampunk, é fabuloso pensar em tempo no qual os objetos eram feitos para atravessar gerações e havia tanta esperança na ciência e sua potencialidade para criar coisas capazes de melhorar nossa qualidade de vida.

A segunda metade do século XIX e o inicio do século XX foi uma época de muitas expectativas e esperanças. Basta olhar para a ficção cientifica da época. Os olhos sensíveis dos escritores desse gênero anteviam grandes descobertas e a possibilidade da melhora da qualidade de vida de uma parcela significativa das pessoas do mundo, o ideal positivista estava no auge, havia fé na potencialidade da humanidade evoluir para o mais e o melhor.

Nossa época não costuma produzir muitas coisas capazes de durar até a próxima geração, talvez seja mesmo verdade a máxima "o homem faz o objeto e o objeto faz o homem". Nós costumamos nos perguntar se haverá uma próxima geração, então para que produzir coisas solidas? Há guerras, pragas, fome e crianças morrendo gritando no momento no qual escrevo esse texto e possivelmente no momento no qual alguém o ler... Quem não olha para suas crianças e sente medo atire a primeira pedra! Talvez não haja nem humanos no planeta daqui a 100 anos, não há mesmo sentido em produzir coisas duradouras.

E como o pessimismo tomou conta de mim, eu vou me  jogar nele com fé. Sempre que visito o passado anterior a década de 1930 através dos vestígios por ele legado a nós eu vejo por toda parte tanta esperança, tanta fé em qualquer coisa chamada humanidade e então me recordo de duas guerras mundiais, uma bomba atômica, o rastro de doença, fome e peste deixados pelos europeus durante da descolonização da África e da Ásia e as catástrofes do presente me sinto em uma pavorosa distopia.
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¹ Essa expressão foi tirada de um post da Lu Tazinazzo

²A Sybilla responde muito bem a pergunta "O que é steampunk?"

Essa foi a minha participação no Desafio 12 Lugares do blog "Aceita um leite?"



sábado, 5 de abril de 2014

"Múltiplo Leminski" na Torre Malakoff do Recife Antigo [Desafio 12 Lugares #03]

"Múltiplo Leminski" é o nome de uma exposição cujo objetivo é trazer a luz dos olhos do público o resultado de anos de pesquisa sobre a história e a vida de Paulo Leminski. A exposição já esteve em vários lugares do Brasil e entre Abril e Maio ancorou em Recife e eu fui ver no dia 30 de março de 2014.

Para dizer a verdade, não sou uma pessoa de explorar os mil cantos de minha cidade, ir a exposições de arte ou eventos curiosos. Sempre fui mais de "escola-casa-igreja" e depois "trabalho-faculdade-casa-igreja". Mas, de muitas formas viver esse tipo de rotina não me fazia feliz, viver assim me faz sentir que acordo sempre para a mesma vida para a qual tinha dormido e assim não dar para viver. Os livros e a graduação em História me ensinaram sobre a amplidão do mundo e eu quero desfrutar dela.

Decidi abraçar o Desafio 12 Lugares da Luciana Tazina por isso e no dia 30 de março de 2014 voltando para casa depois de visitar a Torre Malakoff para ver a exposição itinerante  "Múltiplo Leminski" percebi o quão certa foi essa decisão. Se não tivesse abraçado esse desafio, por maior que seja minha vontade de deixar meus horizontes eternamente abertos jamais teria força para fazer o percurso da Zona Norte do Recife para o centro em um domingo a tarde no penúltimo dia de um mês trabalhoso.

Então, graças ao desafio tive o prazer de conhecer melhor o Paulo Leminski, curitibano que viveu durante a segunda metade do século XX e foi poeta, pensador cultural, haicaísta, tradutor, biógrafo, jornalista da impressa escrita e televisiva, ensaísta, contista, romancista, autor de experimentações verbais e visuais, "polemista", roteirista, professor, roteirista de história em quadrinhos, judoca, publicitário, compositor... Ufa... Cansei... Sinceramente não sou uma pessoa interessada na vida pessoal de meus autores prediletos, então confesso: lendo Leminski jamais pensei que sendo um ele conseguiu ser tantos.


A exposição reuniu com critério e beleza uma enorme amostra da vida do poeta conduzindo os interessados pela vida dele para dentro dela através dos textos de Leminski, de suas fotos, registros visuais, biblioteca e mesmo da sua própria maquina de escrever. São tantas informações que é possível passar horas e horas na Torre Malakoff e não consegui ver tudo com cuidado. Aliás, a sensação que tive depois de ter saído da exposição foi a de que preciso voltar a ela ante de 30 de maio para apreciar com calma o ambiente e o acervo selecionado.









A exposição em si foi um momento rico e delicioso de ter sido experimentado, mas pesando e medindo preciso confessar que o melhor do Desafio 12 lugares de março não foi bem a exposição e sim ter saído de casa no domingo a tarde na companhia da minha irmã para explorar a minha cidade. As vezes eu esqueço do quanto minha irmã é uma pessoa querida e uma boa companhia, do quanto é importante fortalecer nosso vinculo em experiencias agradáveis fora das paredes de nossa casa. Eu sou apaixonada por minha irmã e caminhar com ela pelos lugares de Recife Antigo culminando com a exposição foi uma experiencia magica e inesquecível. Nós caminhamos, brincamos, conversamos e nos fotografamos em momentos ruins só por sacanagem.




A parte o fato de minha perna está totalmente cheia de marcas eu amei essa foto.

Ah, só a titulo de registro, fiz a bondade de convidar o namorado dela para o passeio e ele foi muito solicito em nos fotografar juntas.



O Recife Antigo vibra nos fins de semana com vários espaços culturais abertos e uma feirinha na qual se encontra de tudo um pouco e um pouco de tudo. Eu não fazia noção disso! Foi uma descoberta fascinante!





O Desafio 12 Lugares é uma ideia da Lu Tazinazzo do blog "Aceita um Leite?".