A coisa que mais digo hoje em dia é "Coragem, Coração". Hoje é dia 11 de março e de fevereiro para cá passou uns quarenta e poucos dias, mas a sensação é que vivi umas seis ou sete vidas inteiras e estou arrasada.
Lá pelo dia 05 de fevereiro Painho deu a perceber que estava se sentindo mal, porém posteriormente descobrimos que o mal estar dele datava de muito antes, ele só não estava verbalizando... E de lá para cá foi só ladeira abaixo numa longa, muito loooongaaaa e sofrida queda.
Quando se tem um pai como o meu, tirânico, autoritário, cheio de vontades a quem a gente precisa aprender a se opor para se afirmar na vida, é muito difícil vivenciar a queda.
Painho adoeceu de uma gripe que virou pneumonia e foi se alastrando numa consequência da teimosia dele em relação a tomar remédios e se cuidar e mesmo com várias idas ao pronto socorro, uma internação e cinco dias na UTI, ele se foi no fim da tarde do dia 6 de Março desse ano de 2025 da Era Comum.
Arrasada é pouco para como me sinto. Me sinto à deriva nesse aflitivo mar da vida. Ninguém me contou que um pai é também um barco no qual navegamos e agora estou aqui em mar aberto olhando a imensidão, enfadada, cansada e sem saber como me orientar. Uso a expressão "É difícil.", mas ela não consegue exprimir corretamente o que sinto.
Meu Pai era difícil, dizíamos com frequência em relação a convivência com Painho: "Além de não ser fácil, ainda e difícil.", então "É difícil." não exprime o que sinto ou a realidade desse momento.
É um vazio aterrador. É um silêncio ensurdecedor. É uma calmaria aflitiva. Até o oxigênio é sufocante.
Meu pai era meu herói, ele era o Hulk: carismático, potente, violênto, resolutivo. Tem um filme dOs Vingadores que o Tony Stark, diante de uma ameaça brutal, diz: "Nós temos o Hulk.". Dei muita risada quando vi essa cena porque essa sou eu diante de grandes ameaças: "Eu tenho o Hulk.". A expressão "Eu não tenho medo nem do MEU PAI." tem sido minha bandeira de guerra contra tudo e todas as coisas ameaçadoras desde que me entendo por gente.
Realmente eu não temia meu Pai. Eu me irritava com ele, brigava, tentava agradar, tentava evitar suas explosões, me afastava quando estava difícil conviver, mas não medo. Ironicamente quando chegavamos ao limite e eu dizia que ia embora, ele me levava na parada do ônibus, me dava um beijo e me perguntava quando eu voltaria. Eu dizia quando ia voltar e ficava chateada porque só estava indo embora devido ao fato DELE, com suas inevitáveis explosões, tornar o prolongamento da convivência insalubre.
Estou com muita vontade de brigar com Painho mais uma vez; de reclamar do consumo de álcool, da falta de cuidado com a saúde, das ignorâncias dele. Quero ter uma briga enorme, me arrumar para ir embora, botar a bolsa nas costas, ir com ele até a parada, da um beijo nele e dizer que volto provavelmente daqui a uns quinze dias, no máximo, estourando, na Páscoa.
Sinto falta das coisas agradáveis e desagradáveis.
Só se morre no dia ou Painho podia ter ficado um pouco mais?
Sinto falta dele.
Estou à deriva nesse grande mar da vida, com sede, com raiva, sem forças, sem animo, cansada, com sono, sem conseguir dormir... Escrevendo para tentar desanuviar a cabeça, dizendo a mim mesma: "Coragem, coração.".
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