sábado, 14 de maio de 2011

A SEMANA, 14 de maio de 1893.

ONTEM DE MANHÃ, descendo ao jardim, achei a grama, as flores e as folhagens transidas de frio e pingando. Chovera a noute inteira; o chão estava molhado, o céu feio e triste, e o Corcovado de carapuça. Eram seis horas; as fortalezas e os navios começaram a salvar pelo quinto aniversário do Treze de Maio. Não havia esperanças de sol; e eu perguntei a mim mesmo se o não teríamos nesse grande aniversário. É tão bom poder exclamar: "Soldados, é o sol de Austerlitz!" O sol é, na verdade, o sócio natural das alegrias públicas; e ainda as domésticas, sem ele, parecem minguadas.

Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto. Essas memórias atravessaram-me o espírito, enquanto os pássaros treinavam os nomes dos grandes batalhadores e vencedores, que receberam ontem nesta mesma coluna da Gazeta a merecida glorificação. No meio de tudo, porém, uma tristeza indefinível. A ausência do sol coincidia com a do povo? O espírito público tornaria à sanidade habitual?

Chegaram-me os jornais. Deles vi que uma comissão da sociedade que tem o nome de Rio Branco, iria levar à sepultura deste homem de Estado uma coroa de louros e amores-perfeitos. Compreendi a filosofia do ato; era relembrar o primeiro tiro vibrado na escravidão. Não me dissipou a melancolia. Imaginei ver a comissão entrar modestamente pelo cemitério, desviar-se de um enterro obscuro, quase anônimo, e ir depor piedosamente a coroa na sepultura do vencedor de 1871. Uma comissão, uma grinalda. Então lembraram-me outras flores. Quando o Senado acabou de votar a lei de 28 de setembro, caíram punhados de flores das galerias e das tribunas sobre a cabeça do vencedor e dos seus pares. E ainda me lembraram outras flores...

Estas eram de climas alheias. Primrose day!

Oh! se pudéssemos tem um primrose day! Esse dia de primavera é consagrado à memória de Disraeli pela idealista e poética Inglaterra. É o da sua morte, há treze anos. Nesse dia, o pedestal da estátua do homem de Estado e romancista é forrado de seda e coberto de infinitas grinaldas e ramalhetes. Dizem que a primavera era a flor da sua predileção. Daí o nome do dia. Aqui estão jornais que contam a festa de 19 do mês passado. Primrose day! Oh! quem nos dera um primrose day! Começaríamos, é certo, por ter os pedestais.

Um velho autor da nossa língua, — creio que João de Barros; não posso ir verificá-lo agora; ponhamos João de Barros. Este velho autor fala de um provérbio que dizia: "os italianos governam-se pelo passado, os espanhóis pelo presente e os franceses pelo que há de vir." E em seguida dava "uma repreensão de pena à nossa Espanha", considerando que Espanha é toda a península, e só Castela é Castela. A nossa gente, que dali veio, tem de receber a mesma repreensão de pena; governa-se pelo presente, tem o porvir em pouco, o passado em nada ou quase nada. Eu creio que os ingleses resumem as outras três nações.

Temo que o nosso regozijo vá morrendo, e a lembrança do passado com ele, e tudo se acabe naquela frase estereotipada da imprensa nos dias da minha primeira juventude. Que eram afinal as festas da independência? Uma parada, um cortejo, um espetáculo de gala. Tudo isso ocupava duas linhas, e mais estas duas: as fortalezas e os navios de guerra nacionais e estrangeiros surtos no porto deram as salvas de estilo. Com este pouco, e certo, estava comemorado o grande ato da nossa separação da metrópole.

Em menino, conheci de vista o Major Valadares; morava na Rua Sete de Setembro, que ainda não tinha este título, mas o vulgar nome de Rua do Cano

Todos os anos, no dia 7 de setembro, armava a porta da rua com cetim verde e amarelo, espalhava na calçada e no corredor da casa folhas da Independência, reunia amigos, não sei se também música, e comemorava assim o dia nacional.

Foi o último abencerragem. Depois ficaram as salvas do estilo.

Todas essas minhas idéias melancólicas bateram as asas à entrada do sol, que afinal rompeu as nuvens, e às três horas governava o céu, salvo alguns trechos onde as nuvens teimavam em ficar. O Corcovado desbarretou-se, mas com tal fastio, que se via bem ser obrigação de vassalo, não amor da cortesia, menos ainda amizade pessoal ou admiração. Quando tornei ao jardim, achei as flores enxutas e lépidas. Vivam as flores! Gladstone não fala na Câmara dos Comuns sem levar alguma na sobrecasaca; o seu grande rival morto tinha o mesmo vício. Imaginai o efeito que nos faria Rio Branco ou Itaboraí com uma rosa ao peito, discutindo o orçamento, e dizei-me se não somos um povo triste.

Não, não. O triste sou eu. Provavelmente má digestão. Comi favas, e as favas não se dão comigo. Comerei rosas ou primaveras, e pedir-vos-ei uma estátua e uma festa que dure, pelo menos, deus aniversários. Já é demais para um homem modesto.


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Ontem foi dia 13 de Maio, o Dia da Abolição da Escravidão no Brasil, por inúmeros motivos essa data não é comemorada, é mal lembrada e o mais que se possa dizer... Mas, a Abolição foi a primeira grande luta social na qual homens e mulheres brasileiras empenharam vida, trabalho, esforço e o mais que se possa pensar e venceram em esforço conjunto...


No dia 14 de Maio Machado fez publicar esse texto que ai está... Com toda humildade de minha pouca importância público esse texto por aqui.

Interrompo minha pausa para gravar aqui as letras do Bruxo do Cosme Velho, o meu primeiro amor literário afro-negão, meu primeiro chato do coração. Inesquecível como todo primeiro amor!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

As vezes é bom dar uma pausa...


Do jeito que sou apaixonada por blogar, isso pode durar um dia, uma semana ou nem mesmo um minuto... Nunca avisei a ninguém ao longo dos últimos cinco anos de vida on line que estava dando um tempo em alguma atividade, mas agora sinto que é bom dizer!!!

Uma pequena pausa na atividade de blogar se faz necessária!!!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Raios, Trovões, chutes e um desejo para não ser esquecido!

Raios, trovões, relâmpagos, todo panteão dos deuses nórdicos e eu e a gravida mais fofa do mundo, ao menos do meu mundo,  no cinema, pq enfim, por uma sucessão de acasos felizes, nós conseguimos ir ver Thor juntas!


O filme foi óptimo, não me sinto tentada a tecer criticas, deixo isso a quem interessar possa, o que decididamente não é meu caso... O meu caso é que eu adoro noites de trovoadas, amo vê o céu e o silêncio nocturno ser preenchido por raios, relampagos e trovões, me fazem lembrar justamente esse grandalhão loiro bramindo seu martelo pelos céus... Entre os deuses nórdicos Thor é meu favorito, só por causa dessa lenda, os cientistas tem lá suas definições, mas eu sempre prefiro lembrar da versão dos povos nórdicos sobre esse fenômeno. Então amei o filme.


Mas, o melhor do filme não foi a pancadaria dos deuses nórdicos, os efeitos especiais, o romancinho meia boca que é obrigatório nas histórias Marvel e DC e seus derivativos.

O melhor foi que Gô, minha amiga gravida, sobre a qual já falei aqui, foi comigo, ou eu fui com ela, não estou bem certa. O certo é que aos sete meses de gestação a realidade da gravida é totalmente  diferente da que se desenha no começo da gestação.

Já se foram grande parte das variações de humor, já se foram os stresses iniciais, o enxoval do bebê já está andando, a barriga está cada dia mais linda e parece que as coisas estão mais estáveis, muito embora Gô reclame que se sente pesada e sempre tem aquele momento de chatice basico que o pai, o marido, o filho e eu levamos os nossos relas... e aquelas viradas onde de repente Gô fica radiante! Vivo dizendo a ela que ela está mais bonita \o/ E tá mesmo viu... Dá até inveja!!! rsrsrs...

E sim, uma das coisas mais deliciosas que ocorrem quando a gravida chega ao sétimo mês é que a partir de então o bebê deixa de ser apenas um bebê e passa a ser um individuo, a gente fala com ele... Bem, a gente se entende pelo: pai, avó, irmão, tias e, claro, EU.

Com sete meses o bebê já faz parte da família, já da para sentir ele dentro da barriga e a gente já começa a amar aquele ser que muito em breve estará entre nós para chorar, sorrir e viver essa louca experiência que é existir e ele já possui um nome, EICK.

E, para além do nome, Eike já se meche, no meio do filme, entre raios, relâmpagos e trovoadas só dava Eike, virando e revirando dentro da barriga da mãe se mexendo, chutando com uma força.... Eu quase enlouqueci dentro do cinema com a força do chute dele, nem parece que se trata de um ser tão frágil, pela força do chute ele também parece ser um pequeno deus do trovão mostrando que se não tem um martelo não lhe falta a capacidade de iluminar o céu noturno de uma tia angustiada. Ele realmente chutou forte, tanto que já creio que ele gosta de quadrinhos, de mitologia e de me fazer chorar.

Em todas as minhas experiências como tia nunca pude acompanhar uma gravidez assim tão de perto e é tão lindo que eu não posso deixar de desejar ser uma tia melhor, ser presente na vida desse pequeno e não permitir que o tempo ou a falta dele consiga me separar dele e de seus chutes fortes!

domingo, 1 de maio de 2011

Entre epopéias, cordéis, profecias e sonhos!

Por esses dias meu irmão tem lido um livro de J.R.R. Tolkien, "O Silmarillion", diz a Wikipédia que trata-se de "uma coletânea de trabalhos mitopoéticos que foi editada e publicada (após sua morte) por seu filho, Christopher Tolkien, em 1977...", bem deixo os detalhes dessa edição aos fãs de Tolkien, o que me interessa é que como meu irmão tem o costume de ler em voz alta e um talento natural para escolher sempre lugares próximos a mim eu tenho vivido a experiência de trabalhar escutando a narrativa do Silmarillion.


Essa experiência não tem sido de toda ruim, a narrativa de Silmarillion é realmente carregada de lirismo, me lembra a Bíblia, me faz recordar o Apostolo João narrando o principio do mundo em seu evangelho ou falando de guerras entre anjos e anjos ocorridas antes do principio do tempo que conhecemos na terra, me lembra Ezequiel lamentando o pecado de alguém que esteve no distante Edén e mesmo coberto de jóias, um querubim ungido, se rebelou contra Deus e foi expulso de sua presença.

Tolkien me faz lembrar de apóstolos e profetas revelando histórias de antes do surgimento do mundo,  seus escritos tem mística.


Mística também é o que não falta a nova novela da Globo, depois de vários dias tentando assistir os primeiros capítulos dessa nova empreitada global que trouxe para as tela o delicioso lirismo das histórias escritas naqueles livrinhos que se vende preso em uma corda e por isso são chamados de Cordel. Que existem na França e em Portugal, muito antes de existir Nordeste do Brasil, mas que todo brasileiro que se prese pensa quase sempre que é original das terras quentes de nosso sertão nordestino.


Também  é impossível não sentir na narrativa dessa novela, que retrata com inegável doçura aquele nordeste perdido nos sonhos dos intelectuais do Movimento Armorial e eternizado nas artes que eles produziram, o peso das profecias bíblicas. 


Logo no primeiro capitulo o Rei tem um sonho com direito a Matheus Nachtergaele explicando em tom profetico que:

"O fogo, a chuva, a açucena em flor é o sinal que eu estava esperando. O fogo, o poder de um Rei que vai chegar de longe. A chuva a fartura que vai tirar o poder do Sertão. A flor vermelha, uma açucena, a riqueza de um novo tempo que o Rei vai trazer."
(Cordel Encantado)

Impossível não lembrar do choroso Jeremias, um dos meus profetas preferidos, anunciando as palavras do Senhor a Israel: 

"Eis que vem dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; sendo rei, reinará, e prosperará o juízo e a justiça sobre a terra." 
(Jeremias 23, 5)

É inegável na que na cultura que o Ocidente, nós, temos construído ao longo dos séculos, desde Santo Agostinho, o Bispo da distante Hipona da qual só resta as ruínas, até os nossos  dias de longas e rebuscadas epopeias Tolkianas e folhetins televisivos, inumeros sonhos onde peso das palavras da Bíblia inspiram explicações e esperanças para o passado, o presente e o futuro.


Eu me pego pensando se isso é tão bom quanto é lírico.

As vezes, não sempre nem constantemente, me parece que enquanto esperamos um Rei que venha e execute juízo e justiça sobre a terra ficamos parados sofrendo com as injustiças e os desvarios da terra... Me pergunto se é realmente possível que alguém que venha, seja do interior do Pernambuco, de um passado de luta contra uma Ditadura qualquer ou de um reino distante, chegue e com equidade resolva do alto de seu trono de poder os nossos problemas.

Será isso realmente possível ou é apenas um sonho que nos ensinam a sonhar das mais diversas formas para que possamos suportar cotidianamente nossos sofrimentos diários sem que sintamos culpa por nossa falta de capacidade de mobilização pessoal?

E eu não falo sobre a volta de Cristo, certeza  e ponto de equilíbrio máximo dos que são cristãos (como eu), mas daquilo que nos faz pensar que algo como um corpo de politico, intelectuais, presidente ou algo do gênero, imbuído(s), impregnado(s) até a medula de todos os altos ideias, nobreza, honra e honestidade, possa chegar no topo do nosso mundo e resolver todos os problemas organizando a sociedade de uma forma perfeita e clássica para que nós, meros mortais sem dons sobrenaturais ou privilégios divinos, possamos desfrutar da vida em um mundo perfeito.

As vezes acho que há algo de terrivelmente danoso nessa ideia de salvadores vindos de reinos distantes que circula em nossa sociedade, nessa coisa de esperar que a solução venha sempre de alguém que ou está em cima ou é por nós colocado em cima...

Acho mesmo que há algum problema em elevar alguém ao estado de realeza  ou conferir privilégios a quem quer que seja e esperar que as soluções necessárias para a miséria nossa de cada dia, que é pior para uns do que para outros, possa vim de cima para baixo, como dádiva, como favor, como algo pelo qual não precisamos lutar, afinal, em algum momento alguém vai chegar e nos da  a solução de tudo como forma de recompensa por estamos cotidianamente sofrendo as pauladas da vida silenciosamente.

E, enquanto esse dia glorioso não chega nós curtimos nossas migalhas de liberdade, afinal, sempre podemos, nas palavras de Fernando Pessoa:

"Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!"

Imagem daqui!

sábado, 30 de abril de 2011

Abril: porque esse não é um mês qualquer!

Abril nunca é um mês qualquer para mim, esse ano não foi diferente e talvez seja proveitoso falar um pouco sobre isso...


A principio, logo de entrada, Abril é o mês de aniversário importantes, já no dia 13 tem minha mãe e minha amiga querida, tão próxima que eu posso chamar tranquilamente de irmã e, como se isso não fosse suficiente, hoje quem comemora é Midi, que foi a noiva mais linda do mundo e a princesa que me deu a honra de ser sua fada madrinha... Por essas pessoas eu não posso deixar Abril acabar sem registrar aqui a minha gratidão a Deus por essas pessoas que mesmo quando meu dia da em chuvoso estão comigo.

Bastava esses aniversários para fazer de Abril um mês inesquecível sempre, mas infelizmente ou felizmente não foi só isso.


Esse mês também foi um mês de fechada de ciclo, fechei o meu ciclo na Escola Dominical, não sou mais uma professora da EBD. Tantas coisas ocorreram que agora eu não faço mais parte desse grupo de pessoas que em meio as dificuldades sentem o prazer de ensinar a Bíblia... Como doí não  ser professora da escola dominical. Esse ano não teve centenas de ovelhinhas espalhadas pela casa, correria nas lojas de guloseimas, hinos festivos, cartazes se espalhando pela casa... Aperreio constante, trabalho constante, correria pensando na Páscoa qual vai ser a lembrancinha das Mães e desde o Carnaval como seria a Escola Bíblica de Férias, não tem ou teve todo o stress que esses eventos sempre me trouxeram... Porém, faltou e está faltando a alegria de saber que colaborei com os sorrisos de muitas crianças e isso doí.

E a Escola Dominical não foi minha única despedida, uma das minhas mais doces amigas de trabalho também anunciou que vai mudar de trabalho, uma mudança para melhor, claro. Mas, definitivamente trata-se de uma pessoa que vai fazer falta na minha rotina... Poxa, Su é um doce, ela é a Kite, Lince Negra, dos X-men Evolution, ela é a Toru Fruit de Basket, ela é fofa... é doce... Quando eu tiver uma filha quero que ela seja igual a Su e eu juro que vou tentar ser uma mãe não pegajosa, juro que vou tentar, mas saiba que é difícil, muito dificil não querer guardar num potinho uma pessoa tão linda quanto Su.



Comemorações, termino de ciclos, despedidas e muito mais, coisas que eu ainda não sei contar, mas que certamente reforçam a poderosa mística que o 13 de Abril tem na minha vida, esse dia é sempre inesquecível...

Ah, Abril também foi o mês de experiências virtuais notáveis.... enfim, fiz minha experiência com o Twitter, vi o que queria ver, descobri o que queria descobri e vi que o twitter não da para mim. O blog também esteve em processo de mudanças, troquei o branco pelo preto, mas não gostei do efeito , preferir esse modelo azul, é aquela coisa "então pintei de azul o meu blog por não poder de azul pintar as ruas." rsrs...

Por fim, finda-se Abril que venha Maio que já chega com comemorações e lamentos, com suas alegrias e tristezas, nas palavras imortais de Fernando Pessoa:

"Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada." 
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Para ri e se enternecer: "Culpa de Mãe"


"Culpa de Mãe" é o primeiro livro da Vanessa Anacleto, editora do Fio de Ariadne, como leio o Fio já faz algum tempo (assim coisa de três anos) quando a Vanessa anunciou ele fiquei de cara com vontade de ler... Mas... minha lista de livros a serem lidos por obrigação é enorme, saco, e eu fui deixando para as férias ou coisa do gênero... No entanto, a Elaine Gaspareto inventou de entrevistar a Vanessa, que inventou de disponibilizar o primeiro capitulo do livro... ai no meio do feriado de Páscoa eu não resistir e trouxe a Fernanda para minha casa.

O livro chegou ontem e hoje eu coloquei ele na bolsa e hoje passei o dia inteiro na companhia da Fernanda e sua enorme culpa de mãe e sim, esse post conterá spoilers, porque sim, eu tenho que falar sobre esse livro e seus personagens...

O livro é ótimo, é leve, divertido, bom para você ri e se enternecer, a personagem principal é a Fernanda uma mãe de primeira viagem que a principio me pareceu ser meio louca, mas depois de ler o livro e conhecer melhor a Fernanda descobrir que não é que ela seja louca é que quando a gente se encontra com ela pela primeira vez ela simplesmente está meio enlouquecida pela urgência do fim de sua licença maternidade.

A Fernanda não é louca, ela é mimada, uma figura terrivelmente mimada. Sabe aquele tipo de pessoa que tem tudo? Uma mãe legal, um marido dos sonhos (meu Deus dá um Olavo para mim \o/), a chefe que todo mundo pediu a Deus, o emprego que gosta, uma vida perfeita, um casamento ótimo, uma gravidez ideal e uma filhinha linda! Ela tem T-U-D-O mesmooo, até comida caseira saudável congelada na geladeira feita por outra pessoa. Acho que o primeiro dilema realmente serio da Fernanda é o dilema relacionado ao ser mãe é nesse momento em que ela não pode mais ter tudo que ela quer ao mesmo tempo (o trabalho e a  maternidade) e entra em crise, é nessa crise que nós encontramos ela.

Apesar de mimada, ela é super fofa. Os mimos dela são ótimos, eu confesso que passei o dia inteiro lendo culpa de mãe e falando da Fernanda e mostrando as pérolas dela para minhas amigas pedagogas... Meu Deus, a mesma pessoa que parece chiar para pagar R$ 5,00  ao flanelinha é a pessoa que paga uma creche que custa o preço de uma universidade e planeja comprar uma esteira nova. Oi? O que é R$ 5,00 para a Fernanda que pode pagar uma creche que custa uma mensalidade de universidade e um esteira ao mesmo tempo??? rsrs...

Mas, acho que essas coisitas dela tornam ela ainda mais real, a gente cruza com gente assim todo dia, ela não é uma pessoa PERFEITA, ela é um pessoa, com seus altos e baixos, com suas chatices e fofuras... Aliás, não só a Fernanda é um personagem que cativa a gente, tem as pessoas que estão ao redor dela... Poxa, a chefe dela, a Cora é ótimaaaa, ela é sensacional, acho até que vou começar uma campanha  no twitter tipo #VanessaescreverumlivrosópraCora, pq a Cora é O CARA, vejo ela na minha frente com os óculos na ponta do nariz se divertindo as custas dos dramas da Fernanda rsrss \o/

Não, tenho que transcrever um dialogo ótimo das duas:

"_ Você é um anjo, Cora!

_ Não exagere querida. Você vale o investimento. Dê um beijo na neném por mim. Darei uma passadinha aí para levar um presentinho que comprei.

_ Não precisa fazer isso Cora. Venha aqui e não se preocupe com presentes. Aquele urso tem validade para os próximos 15 anos.

_ Você não vai acreditar, querida. - rio Cora divertida - Achei a esposa dele!

_ Esposa de quem? - Perguntou Fernanda.

_Ora, do urso! Linda e com um laço na cabeça.

_Cora!

_ Não me contrarie, querida -  defendeu-se Cora - Já sei que sou um anjo e a melhor chefe que uma mãe poderia ter. Agora estou focada em ser uma madrinha inesquecível."
 (ANACLETO, Vanessa, pag. 91, 92)

A Fernanda é mesmo um dengo só, mas não tem só ela de mãe fofa, tem as culpadas que convivem com ela. São as mães culpadas que fazem um clube e se reúnem para tentarem se ajudar na tarefa de lidarem com o desafio da maternidade, também são mulheres divertidas, um tanto menos mimadas que a Fernanda, ajudam ela nesse processo todo. Realmente a nega tem sorte, ela conta com muita ajuda mesmoooo!

Mas, a parte a Fernanda e a Cora tem outro momento que eu gostaria de destacar, uma fala de uma mãe em relação ao dialogo mãe-creche, ela diz:

"Não conheço nenhuma mãe que deixe um bebê tão pequeno num berçário para ir ao shopping, vocês conhecem? argumentou Raquel - Só fazemos isso por que precisamos e precisamos por eles. Para dar o melhor para eles."
(ANACLETO, Vanessa, pag. 76)

Néh por nada não, mas segundo as pessoas que trabalham com educação infantil com as quais cruzo e algumas amigas que estavam comigo hoje, tem mãe que faz isso sim! Ah se tem! Pode acreditar que tem!

Ah, também tenho que destacar uma personagem que não curtir muito, Antônia, a babá, ela parece o que minha irmã chama de "Mec Escrava Feliz", a mãe doente, vida dura pra chuchu, a entrevista excessivamente invasiva das suas contratantes (putz, vida pessoal é pessoal, se fumo, se bebo, se ... não é da conta de meu empregador, basta saber que não vou fumar, beber ou ... no espaço de trabalho o resto realmetne não diz respeito a patrão algum, isso é invasão de privacidade), a falta de confiança latente das duas em seu trabalho e ainda assim ela aparenta ser uma pessoa tagarela e despreocupada, sorridente sempre... E quando ela falta por causa da mãe, Fernanda em nenhum momento pondera a situação dela, ou relativiza seu drama pessoal, se preocupa com a pessoa que fica com sua pequena, ela só consegue pensar que o contratempo da doença da mãe da babá cria situações que lhe trazem mais culpa. Putz, imagina a culpa que a Antônia deve sentir todos os dias indo cuidar da criança dos outros enquanto sua mãe agoniza???

Enfim, voltando para as questões gerais do livro, realmente "Culpa de Mãe" é envolvente, rápido, sua protagonista é ótima e está cercada por personagens igualmente ótimos, assim reais, quando a gente ler sente que conhece alguém daquele jeito ou do outro... Como é fácil se envolver com essa história, ama, se irrita, tem vontade de dar uns cascudos na Fernanda pra ela deixar de dengo, tem vontade de colocar ela no colo e se no começo a gente vê uma mulher enlouquecida no final a gente encontra uma mulher que no minimo está lidando com aquilo que ela não pode ter.

Poderia falar muito mais sobre o livro, a Fernanda não é só dengosa, ela é muito mais suas reflexões valem a pena... E o livro não é só ela, tem todos os outros personagens, as outras mães, a mãe da Fernanda, sua sogra (adorei a velha \o/), a Cora (#VanessaescreverumlivrosópraCora), a psicologa (que sempre diz coisas que eu queria dizer). Enfim, acho que já falei demais, amei o livro mesmoooo... tanto que senti pena quando vi a história caminhando para o final... Fiquei com o gosto de quero mais...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mexendo em coisas antigas e reencontrando Clarisse!

Amanhã vai acontecer um Seminário lá na UFPE sobre a comemoração do aniversário de 50 anos do Movimentos de Cultura Popular (MCP), eu pretendo ir e se alguém que mora em Recife quiser ir também pode conferir mais informações aqui.

Como a inscrição é um livro didático, paradidatico, literatura e por ai vai, acabou que em busca de um livro desses eu fui mexer em minhas coisas, fuçar entre os meus livros algo para doar e entre os impressos achei esses caderninhos...


Essa semana falei sobre eles ai acabei tendo vontade de mexer, de cutucar de vê que cargas d'água eu escrevia, me reencontrar com a aborrescente que eu fui nos anos de 2001 e 2002...

E no final foi engraçado constatar que eu ainda escrevo as mesmas coisas que eu escrevia nessa época sobre mim, em 26 de Outubro de 2002 eu escrevi: "Eu sou comum como todas as pessoas...", qualquer semelhança com minha atual descrição no perfil é mera coincidência, faz anos que não mexo nesse caderno.

Puts, eu já gostava de citar Fernando Pessoa:

"O Universo não é uma idéia minha.
A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso"

Lia Milan Kundera e para minha eterna vergonha escrevia poesias muito bobinhas. Gente como eu esqueci que conhecia Gabriel Garcia Marques, pois é, nem eu lembrava, mas com 16 anos não só li como copiei no caderno:

"Sempre me havia atormentado o medo de que o avião caísse, mas desta vez consebi um medo novo: o medo espantoso de que o avião ficasse no ar para sempre."
(Gabriel Garcia Marques)

Até hoje adoro essa citação, mas não lembrava que era dele, me identifico e sofro desse medo até hoje de diferentes formas.

Ah, algo diferente é que eu escrevia sobre o conteúdo dos meus sonhos/pesadelos, coisa que hoje não faço mais nem que me paguem, assim como não escrevo poesia nem sobre tortura srsrsr...

Também me pergunto que Diabos minha mãe estava fazendo que não via esse tipo de leitura na minha mão, pelo amor de Deus isso é coisa que uma adolescente leia? Cadê a literatura de mulherzinha, a Série Vaga-Lume e os paradidáticos da vida?

Mas, de todos os reencontros o que mais me surpreendeu foi o que tive com Clarisse, não a Lispector que é com c e não com dois ss, mas a da música de Legião Urbana, eu adorava essa letra, mesmo sem nunca ter ouvido a música, li ela em algum lugar e copiei em uma sexta-feira da vida, ainda consigo recitar a maior parte da letra, vivia com ela na cabeça...

Agora estou ouvindo ela e é de fazer qualquer um chorar...

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PS.: No meio de todas as lembranças eu fico pensando que devia ter lido menos e beijado mais... deixo o video, ele tem cenas do filme "Eu, Chritiane F.", não vi o filme, mas li o livro e definitivamente devia ter lido menos e namorado mais. Ah, sobre não ter ouvido a música, não estranhem, não sou mesmo musicalizada!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Advinha quem é a princesa???

Não eu não vou falar nada sobre o casamento real nem coisa do gênero e diga-se de passagem, já não aguento mais ouvir coisas sobre essa bendita festança, muito embora o post do Fio de Ariadne falando sobre o tema tenha sido ótimo. O que vou contar é uma daquelas coisas relacionadas a meu dia-a-dia com a educação infantil.

Vamos a ele:

Na nossa sala as crianças, de três anos, nas horas de brincadeira livre com brinquedos sempre querem ser alguém, os meninos muito especialmente, eles querem ser heróis,  personagens e etc e tal.

Matheus, só que ser o Power Ranger Vermelho, já falei mil vezes com a mãe dele para que ela reduzisse os vídeos dos Power Rangers, mas não dá, pela muita convivência que tenho com o pequeno sei que ele deve azucrinar o juízo dela e, pela muita convivência que tenho com ela, sei que ela sede bonito. Resultado: eu tenho um Pawer Ranger Vermelho na sala, pronto a lutar contra as forças do mal e a parte eu reprovar algumas coisas, acho muito impressionante a imaginação de Matheus, ele vai longe nessa brincadeira.


Já Victor é Pica pau, também não aprovo esse desenho, acho muito violento, o Pica pau é um psicopata  homicida, mentiroso e tudo o mais, mas a Emília do Monteiro Lobato é desaforada, preconceituosa e mau educada e todo mundo gosta dela, bem, ao menos o Victor fica lindo de viver fazendo aquela risadinha do Pica pau, coisa de mimatar do coração, só de olhar para o bichinho na televisão eu lembro do pequeno.


Tem ainda os que não gostam nem de um nem de outro, os que preferem o Max Steel e ai tudo na sala é do Max Steel, o carro do Max Steel, a moto do Max Steel... e porque eu tenho um Max Steel.... O tal do Max... faz um sucesso... que quando alguém toca no assunto todo mundo só quer brincar disso... Chega dar uma dor no juízo. E as vezes os pais não tem o que fazer e mandam o brinquedo do M... para a creche, nessas horas eu sou obrigada a convidar os senhores pais a lerem o aviso pregado na parede que diz que brinquedos e lanches são terminantemente proibidos dentro da creche. Bem, não sou eu que faço as regras néh?!?!? As mães, pais, tios, primas, irmãs mais velhas ficam bufando e eu adoro rsrsrs...


Mas, quem é o top 1 da lista das crianças não é nenhum desses heróis ou derivativos. O TOP 1 das crianças é sem sombra de dúvidas o Ben 10.


Todos querem ser Ben 10. E eles apertam o relógio imaginário no braço dizem "HERÓI" e saem sala a fora dizendo "Sou Ben 10 tia". Eita... um dia desses eu resolvi assisti Ben 10 e descobrir que esse pirralho é um moleque que detesta estudar, adora comer tudo o que não presta e o desenho é bem violentinho para crianças pequenas... Mas, as mães passam um fim de semana com as crianças e deixam ela assisti episódios e mais episódios do Ben 10 e por mais que eu reclame elas dizem qualquer coisa e continuam não só deixando as crianças assistirem como estimulando o consumo, pq o que tem de sandália, papete, bolsa, bermuda e camiseta do Ben 10 na sala não é brincadeira.

Enfim, claro que sempre que as crianças começam com essa de dizer que são Max S..., Ben ..., Pica Pau ou Power eu corrijo e digo: "Não tia, vc é Victor, Matheus, José, Filipe..." e por ai vai... Mas, hoje aconteceu uma coisa tão fofa gente, que eu tou derretida até agora e tenho que contar pra me exibir um pouquinho \o/

É que hoje um dos meninos disse que era o Ben 10 e lá fui eu corrigir: "Não, vc não é o Ben 10, você é...", conversa prá lá, conversa pra cá, até que eu perguntei a ele "E eu, sou quem?", eu pensei que ele ia responder algo do tipo: "Tia!" ou "Jaci!" para daí eu reafirmar que ele não era o Ben 10, mas ahaaaaaaa, criança é imprevisível!!! E ele respondeu a queima roupa, sem que eu estivesse preparada: "Você é a princesa!".

Então, ao menos por hoje, advinha que é A Princesa???
Sim, ao menos por hoje: EU SOU A PRINCESA!!!
rsrsrsrsrs... uma princesa, diga-se de passagem, rindo a toa... rsrsrs

domingo, 24 de abril de 2011

Palavra de professor.

Como os textos se avolumam sobre minha mesa, reservei o feriadão para ficar em casa de frente para o computador organizando a vida, lendo, fichando e digitando...  De maneira que cá estou eu em pleno sábado a noite curtindo a companhia do Profº Rogério Fernandes, um português, professor da Universidade de Lisboa, que morreu de ataque cardíaco no ano passado com 78 anos.

O fato que ele foi um pioneiro na área de pesquisa em História da Educação não garantiu a ele destaque no Jornal Nacional nem derivativos no Brasil, em Portugal eu já não sei... O que sei que ele é velho conhecido meu e que me deu um trabalhão trazer para minha estante "Os caminhos do ABC."


Mas, não é esse livro que me fez abrir esse post, embora esse livro seja um clássico, leitura recomendada para qualquer pessoa que queira começar a entender o que é educação em Portugal e em todos os lugares que fizeram parte daquele imenso Império que foi o Português, tão grande e rico que um certo historiador francês disse que o século XVI foi o século Ibérico da mesma forma que o século XX foi o século americano.

Voltando ao assunto... estive lendo essa noite o artigo "Da palmatória à Internet: uma revisitação da profissão docente", ele escreveu esse artigo para o número 11 da Revista Brasileira de História da Educação, está disponível inclusive para download aqui, nele se reflecte, como o titulo sugere, sobre os diversos métodos didaticos já utilizados nas salas de aula de Portugal, é, junto com todos os livros e pesquisas que este professor construiu, uma herança para cada um de nós, afinal quer história mais imbricada com a portuguesa que a nossa???

E sim, em meio as reflexões sobre as praticas educativas ele também fala sobre a Internet e os blogs  algo que realmente é palavra de professor que vale a pena não só escutar como gravar na memoria para tentar aprender a administrar cada dia melhor essa louca experiência que é a vida virtual.

Nos diz ele:

"Graças ao ciberespaço e ao universo cognitivo da Internet, professores e alunos, graças a esse aparelho, poderão investigar os temas que lhes interessam, obtendo informações rápidas. Serão elas fiáveis? Além disso, graças a existência de blogs emanados de comunicadores entusiastas, o computador, mediante o acesso à Internet, permite alargar a comunicação. Todos sabemos, contudo, que nem sempre a comunicação via Internet se inscreve em propósitos transparentes, podendo, ao invés, servir para enredar numa teia prejudicial aqueles que se deixam envolver por falta de advertência."
(Rogério Fernandes_2006)

Ah, quase esqueci: Feliz Páscoa!

Imagem daqui!
 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Páginas Coladas

Desde que eu dominei a tecnologia da escrita que narrar o que vivo faz parte da minha rotina, ganhei meu primeiro diário quando tinha sete anos, eu adorei a novidade e mergulhei mesmo na escrita. Obviamente ninguém me avisou que os cadeados dos diários são frágeis demais e o que vc escreve possivelmente vai virar motivo de chacota para sua família.


Pois é, nem assim eu desisti da experiência de narrar o que eu vivia, minha rotina, minhas brigas com as primas, com Júnior, com painho, as angustias da minha infância, eu gostava de escrever, escrevia errado que da até pena (ainda escrevo errado de da pena) e uma letra tão pequena que hoje até eu sinto dificuldade em decifrar, mas era legal, ganhei meu ultimo diário de tia Neide, depois disso eu passei a escrever em cadernos escolares pequenos até que me rendi a tecnologia do blog.

Narrar o que vivo de toda forma é importante para mim, viver e narrar é minha forma de equilíbrio, de superar os problemas corriqueiros do dia-a-dia, de colocar para fora essas angústias  ridiculamente comuns que me assolam vez ou outra e seguir em frente rumo a sabe Deus onde. Na escrita eu sinto que encerro e recomeço os ciclos da minha vida.

Mas, nessa brincadeira de viver e narrar, eu descobrir uma coisa bem cedo: existem coisas que  existem, vivem, porém não podem ser escritas, ditas e pensadas livremente, e tanto não podem como não são ditas, escritas e preservadas que os historiadores dão nome a isso, eles chamam, se eu não me engano, de "silêncios da História", eu chamo de páginas coladas.

Calma, eu explico!

A primeira vez que encarei "aquilo que deveria ser dito" foi quando Mainha abriu meu diário de adolescente, um dos últimos que ganhei, ela me chamou para conversar, uma conversa difícil e travada que terminou assim: "isso não pode ficar aqui, apague"

Eu não tinha a mínima vontade de apagar nada, tudo que escrevi foi a verdade, ao menos a minha verdade, sobre o que estava acontecendo, minha opinião sobre os fatos, não entendia porque deveria ser apagada e escrevi isso no meu diário, a conversa e a minha impossibilidade. De fato, eu não apaguei nada, a solução foi mais simples, eu simplesmente colei as paginas bem coladas.

A parti daquele momento meu diário passou a ser recheado de páginas coladas, tudo que doía de verdade na alma eu escrevia e colava as paginas, depois eu passei a não escrever  mais sobre aquilo que não era para ser escrito e nos meus diários a partir de 1998-1999 quando o assunto era chato, eu só escrevia pequenas frases, tipo "Só Deus sabe!" ou "Não posso falar!".

Enfim tempo venho, tempo foi e as páginas coladas passaram a ser mais raras para mim, fazia tempo que esse temor não me batia a porta, mas, de repente não mais que de repente, me vejo fazendo isso novamente, escrevo muito, encho paginas em branco, concluo a escrita e no final sou tomada pelo medo do olhar do outro, então colo uma pagina na outra e fecho o caderno.

Hoje o caderno é outro, o destino da escrita também, mas a parte o que mudou de  minha adolescência para cá, as paginas coladas são as coisas que mais me incomodam, colar as páginas é sempre um sofrimento.