Desde que eu dominei a tecnologia da escrita que narrar o que vivo faz parte da minha rotina, ganhei meu primeiro diário quando tinha sete anos, eu adorei a novidade e mergulhei mesmo na escrita. Obviamente ninguém me avisou que os cadeados dos diários são frágeis demais e o que vc escreve possivelmente vai virar motivo de chacota para sua família.
Pois é, nem assim eu desisti da experiência de narrar o que eu vivia, minha rotina, minhas brigas com as primas, com Júnior, com painho, as angustias da minha infância, eu gostava de escrever, escrevia errado que da até pena (ainda escrevo errado de da pena) e uma letra tão pequena que hoje até eu sinto dificuldade em decifrar, mas era legal, ganhei meu ultimo diário de tia Neide, depois disso eu passei a escrever em cadernos escolares pequenos até que me rendi a tecnologia do blog.
Narrar o que vivo de toda forma é importante para mim, viver e narrar é minha forma de equilíbrio, de superar os problemas corriqueiros do dia-a-dia, de colocar para fora essas angústias ridiculamente comuns que me assolam vez ou outra e seguir em frente rumo a sabe Deus onde. Na escrita eu sinto que encerro e recomeço os ciclos da minha vida.
Mas, nessa brincadeira de viver e narrar, eu descobrir uma coisa bem cedo: existem coisas que existem, vivem, porém não podem ser escritas, ditas e pensadas livremente, e tanto não podem como não são ditas, escritas e preservadas que os historiadores dão nome a isso, eles chamam, se eu não me engano, de "silêncios da História", eu chamo de páginas coladas.
Calma, eu explico!
A primeira vez que encarei "aquilo que deveria ser dito" foi quando Mainha abriu meu diário de adolescente, um dos últimos que ganhei, ela me chamou para conversar, uma conversa difícil e travada que terminou assim: "isso não pode ficar aqui, apague".
Eu não tinha a mínima vontade de apagar nada, tudo que escrevi foi a verdade, ao menos a minha verdade, sobre o que estava acontecendo, minha opinião sobre os fatos, não entendia porque deveria ser apagada e escrevi isso no meu diário, a conversa e a minha impossibilidade. De fato, eu não apaguei nada, a solução foi mais simples, eu simplesmente colei as paginas bem coladas.
A parti daquele momento meu diário passou a ser recheado de páginas coladas, tudo que doía de verdade na alma eu escrevia e colava as paginas, depois eu passei a não escrever mais sobre aquilo que não era para ser escrito e nos meus diários a partir de 1998-1999 quando o assunto era chato, eu só escrevia pequenas frases, tipo "Só Deus sabe!" ou "Não posso falar!".
Enfim tempo venho, tempo foi e as páginas coladas passaram a ser mais raras para mim, fazia tempo que esse temor não me batia a porta, mas, de repente não mais que de repente, me vejo fazendo isso novamente, escrevo muito, encho paginas em branco, concluo a escrita e no final sou tomada pelo medo do olhar do outro, então colo uma pagina na outra e fecho o caderno.
Hoje o caderno é outro, o destino da escrita também, mas a parte o que mudou de minha adolescência para cá, as paginas coladas são as coisas que mais me incomodam, colar as páginas é sempre um sofrimento.
Este post é bem um diário mesmo! Sensível e você escreve muito bem, acho que porque comecou cedo. Escrever é ótimo, mesmo quando se tem que colar páginas(adorei isto!). Assim é a vida... Beijo
ResponderExcluirAchei tão lindo esse seu post! De uma sensíbilidade enorme!
ResponderExcluirEu tinha diários que escondia muito bem escondido, mas minha mãe vasculhava todo meu quarto e achava e aquilo virava uma briga famíliar, pois sempre tive esse jeito ácido de escrever sobre as situações.
E já levei muita surra do meu pai por conta dos diários. Um dia cansada de ser invadida por meus pais, que só procuravam motivos para me recriminar sempre, simplesmente parei com os diários, para retornar agora com os blogs, desde 2003.
Acho que essa experiência com meus pais me travou de fazer diarinho do tipo descrever o dia, e acabei encontrando um jeito de dizer as coisas sem dizê-las completamente... rs
Beijocas
Sentimento de escritor mesmo, torturante e incontrolável não é ?:-).
ResponderExcluirPassei aqui para dizer que estou muito feliz por estarmos juntas no concurso/projeto de livro da Elaine, tenho certeza que renderá bons frutos, independente do resultado.
Abraço
OI Pandora!
ResponderExcluirEu já levei castigos homéricos por ter escrito "isto ou aquilo" em diários. Um dia minha irmã/mãe pegou o tal diário e lá tinha tudo que eu NAO queria contar para ela, e ai já viu né??
Sensível seu post, creio que todas as mulheres já se viram na situação que você descreveu.,,,
Eu também escrevo errado que dá dó rs
Adoro vir aqui querida.
Obrigada por tudo.
AH! e Você sempre tem o que falar viu? amo te ver lá no meu bloguito..
Bom Feriado!
QUERIDA AMIGA
ResponderExcluirSe algum dia...
Ninguém se importar mais com você.
Ninguém te amar mais.
Ninguém pensar mais em você,
ou se te esquecerem.
Lembre-se, você tem a mim
e eu estarei sempre com você!!!!
UM LINDO FERIADO!!!
BEIJOS
Uma autocensura interessante. Mas que doi na gente, isso é fato. Coisas que estão pululando na mente, a gente morre de vontade de escrever mas, pelo bem do andamenteo das coisas acaba deixando para lá. Mas que doi, doi.rsrs. Abraços. Pandora.
ResponderExcluirAmei seu post, também escrevo diário, até hoje nunca tive problemas com invasão, pelo menos não que eu saiba, por incrível que pareça, eu escrevo bem mais nele quando estou triste, é um desabafo, quando estou feliz escrevo só por cima acho que é bem mais fácil falar com alguém quando estamos bem, já nos momentos difíceis, somos geralmente incompreendidos e aí o diário cumpre um papel muito importante, eu até costumava dar nomes a eles, agora não faço mais isso, mas acho que vou escrever diários a vida inteira.
ResponderExcluirAinda bem que vc tinha coragem de ao menos colar as páginas. Eu nem me atrevia a escrever.
ResponderExcluirHoje tenho diário, mas só uso nos momentos de maior angústia e aflição. É como se fosse um canal palpável entre mim e Deus.
Beijos e Boa Páscoa!
Meu Deus menina, que texto mais limpo, honesto...Não tem como não se idenficar. Meus pais descobriram que eu não era mais virgem através do meu diário, imagine o que foi... Bjo
ResponderExcluirFiquei tão triste quando tive a permissão negada no outro, ainda bem que aqui deu certo... kkkk MAs vou voltar mais vezes viu!!! Gostei do conteúdo. bjs.
ResponderExcluirEu tambem tive muitos diarios. é a melhor forma de se pensar, elaborar suas ideias, refletir. é como um psiquiatra sem custos... Mas acabei parando, queimando todos ( opiniões alheias me afetaram mais que deveria!) Sinto falta, muita falta mesmo desta pratica. eu nao conhecia essa da pagina colada...muito boa!
ResponderExcluirAh, obrigada pelos elogios aos meus coelhos...sinto um prazer enorme em fazer estas coisas, saber que irão sorrir ao receber... tem recompensa mais gratificante? ( não falemos de salario..rsrsr). E a cirurgia? Bom, faltam 10 dias e to com um friozinho na barriga...
Bjs e bom restinho de feriadão!
Tive muuuuitos diários e destruí quase todos por isso. Nem tudo era bom de se ler, poderia ferir, magoar, ou era íntimo demais. Dos diários escritos à mão restou um com 2 páginas coladas, e nem me lembro mais do que escrevi, acredita? Melhor assim.
ResponderExcluirNo blog eu deleto. Se começa a me incomodar eu deleto o post. Aliás já deletei foi muitos blogs mesmo. Aquilo me pesava e deletei.
No wordpress posso ter um post visível só para mim. Ainda não testei, mas é possível rs...
Beijo na alma e feliz Páscoa, Pandora!
Olá,Pandora!!
ResponderExcluirSei bem como é!Sempre tive diários...
Só que nunca ninguém leu,nem minha mãe...servia para desabafar...o bom é que sempre que relemos, percebemos o quanto foi exagero, o quanto foi real...e vamos aprendendo a administrar os sentimentos! Vamos crescendo.
Gostei do seu texto!
**Desejo-lhe uma Feliz Páscoa, com muito amor, paz e luz!!
Beijos!!
Páscoa...
ResponderExcluirÉ ser capaz de mudar,
É partilhar a vida na esperança,
É lutar para vencer toda sorte de sofrimento.
É ajudar mais gente a ser gente,
É viver em constante libertação,
É crer na vida que vence a morte.
É dizer sim ao amor e à vida,
É investir na fraternidade,
É lutar por um mundo melhor,
É vivenciar a solidariedade.
É renascimento, é recomeço,
É uma nova chance para melhorarmos
as coisas que não gostamos em nós,
Para sermos mais felizes por conhecermos
a nós mesmos mais um pouquinho.
É vermos que hoje...
somos melhores do que fomos ontem.
Desejo uma Feliz Páscoa, cheia de paz, amor e muita saúde!
Beijinhos com sabor de chocolate!!!
Nunca tive um diário, só uns poeminhas que escrevi na adolescência que por acaso resgatei há pouco tempo na casa de meu pai...
ResponderExcluirMas se há algo do qual não posso reclamar é desse tipo de invasão de privacidade não sei se por respeito ou pouco caso, mas foi assim...
De qualquer forma, só aprendi mesmo a falar coisas quando conheci os blogs em 2002 e foi de certa forma libertador, porque eu acho que colava minhas páginas sem saber...
Mas sabe? O tempo passa e vc terá cada vez menos páginas pra colar e aí vai acabar com o sofrimento!!
Beijos!!
É bom escrevermos aquilo que sentimos...nos faz dizer coisas que ao fim de muito tempo vamos ler e nos perguntamos...: fui eu que escrevi isto???
ResponderExcluirDeixo-te o desejo de uma Páscoa muito Feliz cheia de paz alegria e muito AMOR....
Beijinho prateado
SOL
Eu tive um diário e escrevia tudo em código.
ResponderExcluirSó eu sabia ler.
Estava tão acostumada que lia como se fosse uma escrita normal.
Não sei te dizer porque parei, mas não escrevi nem a 2 edição.
Feliz Páscoa
Que post sensível. Eu viajei no tempo através de minha memória afetiva ao ler cada linha sua.
ResponderExcluirCada uma de nós desenvolve a sua estratégia de escrita; seja por código, escrever sem falar, ou mesmo através das páginas coladas.
Sabe, pensei agora eu uma coisa: Quem não as tem?
Beijos,
Elaine Cunha