domingo, 1 de maio de 2011

Entre epopéias, cordéis, profecias e sonhos!

Por esses dias meu irmão tem lido um livro de J.R.R. Tolkien, "O Silmarillion", diz a Wikipédia que trata-se de "uma coletânea de trabalhos mitopoéticos que foi editada e publicada (após sua morte) por seu filho, Christopher Tolkien, em 1977...", bem deixo os detalhes dessa edição aos fãs de Tolkien, o que me interessa é que como meu irmão tem o costume de ler em voz alta e um talento natural para escolher sempre lugares próximos a mim eu tenho vivido a experiência de trabalhar escutando a narrativa do Silmarillion.


Essa experiência não tem sido de toda ruim, a narrativa de Silmarillion é realmente carregada de lirismo, me lembra a Bíblia, me faz recordar o Apostolo João narrando o principio do mundo em seu evangelho ou falando de guerras entre anjos e anjos ocorridas antes do principio do tempo que conhecemos na terra, me lembra Ezequiel lamentando o pecado de alguém que esteve no distante Edén e mesmo coberto de jóias, um querubim ungido, se rebelou contra Deus e foi expulso de sua presença.

Tolkien me faz lembrar de apóstolos e profetas revelando histórias de antes do surgimento do mundo,  seus escritos tem mística.


Mística também é o que não falta a nova novela da Globo, depois de vários dias tentando assistir os primeiros capítulos dessa nova empreitada global que trouxe para as tela o delicioso lirismo das histórias escritas naqueles livrinhos que se vende preso em uma corda e por isso são chamados de Cordel. Que existem na França e em Portugal, muito antes de existir Nordeste do Brasil, mas que todo brasileiro que se prese pensa quase sempre que é original das terras quentes de nosso sertão nordestino.


Também  é impossível não sentir na narrativa dessa novela, que retrata com inegável doçura aquele nordeste perdido nos sonhos dos intelectuais do Movimento Armorial e eternizado nas artes que eles produziram, o peso das profecias bíblicas. 


Logo no primeiro capitulo o Rei tem um sonho com direito a Matheus Nachtergaele explicando em tom profetico que:

"O fogo, a chuva, a açucena em flor é o sinal que eu estava esperando. O fogo, o poder de um Rei que vai chegar de longe. A chuva a fartura que vai tirar o poder do Sertão. A flor vermelha, uma açucena, a riqueza de um novo tempo que o Rei vai trazer."
(Cordel Encantado)

Impossível não lembrar do choroso Jeremias, um dos meus profetas preferidos, anunciando as palavras do Senhor a Israel: 

"Eis que vem dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; sendo rei, reinará, e prosperará o juízo e a justiça sobre a terra." 
(Jeremias 23, 5)

É inegável na que na cultura que o Ocidente, nós, temos construído ao longo dos séculos, desde Santo Agostinho, o Bispo da distante Hipona da qual só resta as ruínas, até os nossos  dias de longas e rebuscadas epopeias Tolkianas e folhetins televisivos, inumeros sonhos onde peso das palavras da Bíblia inspiram explicações e esperanças para o passado, o presente e o futuro.


Eu me pego pensando se isso é tão bom quanto é lírico.

As vezes, não sempre nem constantemente, me parece que enquanto esperamos um Rei que venha e execute juízo e justiça sobre a terra ficamos parados sofrendo com as injustiças e os desvarios da terra... Me pergunto se é realmente possível que alguém que venha, seja do interior do Pernambuco, de um passado de luta contra uma Ditadura qualquer ou de um reino distante, chegue e com equidade resolva do alto de seu trono de poder os nossos problemas.

Será isso realmente possível ou é apenas um sonho que nos ensinam a sonhar das mais diversas formas para que possamos suportar cotidianamente nossos sofrimentos diários sem que sintamos culpa por nossa falta de capacidade de mobilização pessoal?

E eu não falo sobre a volta de Cristo, certeza  e ponto de equilíbrio máximo dos que são cristãos (como eu), mas daquilo que nos faz pensar que algo como um corpo de politico, intelectuais, presidente ou algo do gênero, imbuído(s), impregnado(s) até a medula de todos os altos ideias, nobreza, honra e honestidade, possa chegar no topo do nosso mundo e resolver todos os problemas organizando a sociedade de uma forma perfeita e clássica para que nós, meros mortais sem dons sobrenaturais ou privilégios divinos, possamos desfrutar da vida em um mundo perfeito.

As vezes acho que há algo de terrivelmente danoso nessa ideia de salvadores vindos de reinos distantes que circula em nossa sociedade, nessa coisa de esperar que a solução venha sempre de alguém que ou está em cima ou é por nós colocado em cima...

Acho mesmo que há algum problema em elevar alguém ao estado de realeza  ou conferir privilégios a quem quer que seja e esperar que as soluções necessárias para a miséria nossa de cada dia, que é pior para uns do que para outros, possa vim de cima para baixo, como dádiva, como favor, como algo pelo qual não precisamos lutar, afinal, em algum momento alguém vai chegar e nos da  a solução de tudo como forma de recompensa por estamos cotidianamente sofrendo as pauladas da vida silenciosamente.

E, enquanto esse dia glorioso não chega nós curtimos nossas migalhas de liberdade, afinal, sempre podemos, nas palavras de Fernando Pessoa:

"Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!"

Imagem daqui!

12 comentários:

  1. Pandora,
    Fazendo um apanhado dos seus dois últimos posts, parece-me que está numa fase de mudança. Que seja para melhor, é o meu desejo. E, pelo espírito que vislumbrei, não tenho a menor dúvida de que está pronta para o que der e vier.

    Beijo :)

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  2. Pandora,
    saudades de você!
    Excelente,gosto muito da literatura de cordel,
    gosto tb de fazer reflexões sobre os temas abordados em sua postagem..Apareça.
    Que Maio possa lhe trazer dias plenos,boas energias,paz,saúde e muito amor!
    beijo
    Mari

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  3. Oi Pandora, esta idéia de lider e seguidor esta impregnado em todas as sociedades e também não sei até que ponto isso é benéfico.
    Instituiu-se que todos os povos precisam eleger um "cabeça" que o conduzirá no caminho da ordem e do progresso e em todos os grupos, por menor que sejam, alguém sera o lider e os demais o seguiram.
    Ou seja, sempre haverá um mais forte, tentando sobrepujar os mais fracos e com isso conquistará poder e dinheiro.
    Bjs

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  4. Querida, que lindo texto! Que reflexão! E acabar com Fernando Pessoa, Uau!!!!!!!
    bjs
    Jussara
    PS Um dia lerei a Biblia com você, amei seu olhar lirico!

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  5. Linkou cordel, biblia e Fernando Pessoa com perfeição! Menina retada! Obrigada pelo carinho nos coments da Emilia, viu? Bjo

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  6. Eita q essa minha cunhada é arretada mesmo.
    Escreve muito bem,adorei quando vc ligou o primeiro capítulo da novela(q estou assistindo agora) coma passagem da bíblia, genial.
    Ah,sem contar com a mensão ao meu namorado. kkkkkk...

    beeijos

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  7. Eu podia jurar que tu eras fã do Senhor dos Anéis. Engraçado que dia desses eu ouvi um fã me explicando exatamente o significado desse livro e tanto que eu conclui que Tolkien é um gênio e que por sua vez não dá pra mim. Fato! Tem um outro livro também que ele escreveu para os filhos dele quando eram pequenos, parece que o nome é Robit. Esse, já que foi escrito para crianças, eu me atreveria a ler.

    Saudades!!!

    Beijozzz

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  8. Não sabia que o filho de Tolkien tinha seguido os passos do pai, somente sua ascendência já é um grande indicativo para dar uma conferida em seu trabalho. Obrigada pela dica!
    Beijo
    Adri

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  9. Oi querida

    A literatura de cordel é uma das melhores belezas do folclore brasileiro. Você liga uma coisa à outra com muita facilidade.
    Que entende, ensina, os outros prestam atenção à aula.
    Parabéns pelo texto.

    Bjs no coração!

    Nilce

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  10. Olá, Pandora!
    Nunca tinha pensado por esse lado!
    Bjs!
    Rike.

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  11. Pra pensar e aprender...sempre!

    Bjs e bom dia!

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  12. Se for parar pra pensar em tudo a gente enlouquece, acho que vale a pena fazer o que for possivel e sonhar um pouquinho pra tocar em frente...
    bjs

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