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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Gostos desconexos: você tem???

DESCONEXO: adj. sem conexão; desunido, incoerente, se eu fosse a responsável por escrever o dicionário eu acrescentaria a palavra Jacilene ou Pandora.

Pois é, há algum tempo eu me achava a rainha dos gostos desconexos, nada na minha vida combina com nada. Gosto de coisas que muitas vezes são tão opostas que chegam a dar indigestão. E essa caracteristisca nem sempre é legal, as vezes é uma coisa muita chata. Mas, porém, no entanto, todavia, nem tudo está perdido, recentemente conheci a Mariana Mansur do Blog da Mariana Mansur, ela é igualmente desconexa em seus gostos e adoçou minha vida com um texto onde fala sobre o tema que, claro, trago para a minha Caixa, com todo o orgulho do mundo.

Obrigada Mariana!
___________

SOBRE GOSTOS DESCONEXOS
Mariana Mansur

Quando eu era adolescente, há praticamente dez anos, eu estudei em colégios que pareciam verdadeiros shoppings. As pessoas, então, pareciam protagonistas de filmes.

Por muito tempo, eu desejei ser assim, exatamente como essas pessoas. A vida alheia me parecia muito convidativa e bem, bem melhor que a minha.

Imaginei como seria estar naquela festa, naquela viagem. Como seria vestir aquela roupa, frequentar aqueles lugares. 

Inevitavelmente, o tempo passou. E eu me dei conta de que essas pessoas eram exatamente como muitos outras aí fora, que gostam do que todos gostam, frequentam os lugares que todos frequentam, dizem as coisas que todos dizem. E que, para se identificar com uma delas, não era necessário um esforço para ser - era preciso, justamente, não ser. Não ter opiniões próprias, não ter nada a acrescentar. Era como estar em alto mar e não nadar, deixar-se ir conforme a maré. 

Descobri, então, algo melhor ainda: eu gosto de gostar dos filmes que eu assisto, gosto de gostar das músicas que eu ouço, das bandas em que eu vou a shows, gosto de gostar de escrever. Gosto de ter em mim esse conjunto de características que formam quem sou hoje, e que passa bem longe da grande massa de pessoas que desejam apenas uma coisa todos os dias: ser igual a todo mundo.

"A mediocridade refugia-se na padronização" - Frederick Crane


Beijinhos!!
Mariana Mansur
Blog da Mariana Mansur

domingo, 23 de janeiro de 2011

Ponte JK, em Brasília, é interditada!

Essa semana vi essa matéria no Jornal Nacional, confesso que foi meio que sem querer, não sou o que poderíamos chamar de telespectadora, mas vi essa matéria e fiquei devidamente chocada.

Fatima Bernardes e William Bonner informaram mais ou menos isso:  

"A Ponte JK, em Brasília, interditada desde o início desta manhã, devido a um desnível no piso, foi parcialmente liberada no final da tarde para veículos leves, como carros de passeio e motos. Além disso, a velocidade permitida enquanto persistir o problema será de 40 quilômetros por hora (km/h)."

No site do Globo tem uma matéria sobre o assunto cujo texto resume muito bem o que foi dito na matéria divulgada pela televisão que seguiu o padrão do jornalismo global, aquele que não tem como prática problematizar demais certas realidades, informam daquele jeito pretensamente imparcial.

Quanto a mim estou falando sobre isso por não poder resistir a tentação, estou eu aqui escutando Lenine  na minha paz doméstica e eis caiu na canção "A PONTE", onde Lenine e Gog contam a deliciosa história dessa LINDA, UTIL E BARATA ponte, enfim, eu gosto de histórias, não resisti a tentação de registrar essa por aqui.
 

A ponte
(Lenine e Gog)

(Eu canto pro rei da levada
Na lei da imbolada, na língua da percussão)
Lenine, mestre e inspiração
Eu já atravessei a ponte do Paraguai
Um filme inspirou a ponte do rio que cai
É sucesso em campinas e na voz dos racionais
Mas a ponte da capital é demais
Projetada pra aproximar
Do centro o São Sebastião, o Lago e o Paranoá
Desafogaram o tráfego na região
Visitantes de chegada, nova opção
Fique ligado, acompanhe passo a passo
Condomínios luxuosos de todos os lados
O congresso e o planalto colados
"Aqueles barraco alí ó, vão ser retirados"
A ponte é luxo, nada é mono, só estéreo
Mil e duzentos metros, louco visual aéreo
Quem sobe só pra regular a antena
Reforça as pontes-safena
A ponte começou depois mas terminou
Bem antes que as obras do metrô
Quem mora fora do avião
Bate palma, aplaude, apoia, pede diversão
A ponte é muito, muito iluminada
O pôr-do-sol numa visão privilegiada
O povo quer passar, vê nela algo místico
A ponte virou ponto turístico
(esse lugar é uma maravilha,no horizonte, no horizonte)
A ponte é um vai e vem de doutor
Tem ambulante, tem camelô
Olha pra baixo, vê jet-ski e altos barcos
Olha pra cima, lá estão os três arcos
A ponte saiu do papel, virou realidade
Novo cartão postal da cidade
Um quer transformar ela em patrimônio mundial
Um outro num inquérito policial
Então, então, então na sua opinião, Lenine,
Tá normal ou existe crime?
Se souber o caminho de rocha, me aponte
É...a ponte simboliza união
No nosso caso, Brasília e o Sertão
(a ponte não é de concreto, não é de ferro, não é de cimento)
É do vermelho, é do azul é de cada elemento
Leva o nome de JK
Que transferiu a capital do litoral pra cá
Lenine, te peço mais um favor (diz aí)
Cante a origem deste preto que se apresentou
(nagô, nagô, na Golden Gates...)
(quem foi?)
O projeto é do arquiteto Alexandre Shan
(comprasse, pagasse?)
Todas as contas foram aprovadas pelo TCU
(me diz quanto foi)
164 milhões de reais

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Absurdo pouco é bobagem: sobre aumento salarial dos parlamentares!

Não é novidade para ninguém que nossos parlamentares aumentaram abusivamente seus salários e que isso é absurdooooooooo...

Mas como absurdo pouco é bobagem quando abri o Jornal hoje de manhã quase cai para trás, sabe aquela leitura que faz teu sangue subir para a cabeça e você ter vontade de torcer o pescoço de alguém??? Pois é, foi esse o caso.

Ela falava sobre o fato dos parlamentares daqui (Recife-PE) se reunirem para aprovarem seu fabuloso aumento salarial de 75% e a doação de terrenos para a instalação da Fiat e da Companhia Siderúrgica de Suape (CSS), até ai nada de choques terríveis afinal qual meio de comunicação não noticiou isso a torto a direito nos últimos dias?

O que me chocou foram as palavras do juiz aposentado, atual  presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, o deputado Guilherme Uchoa (PDT):

“Alguém imagina que um deputado sobreviva com R$ 8 mil? Ah! Porque o trabalhador vive com R$ 600. Mas se formos nos nivelar por baixo... Tem que ser uma coisa justa. Encaro com  naturalidade. Se querem alguém honesto, tem que dar independência”,

Ah filho da... e ele ainda admite que não é um trabalhador e sim um aproveitador! Aiiiii... me dá ódio só em pensar que essa mesma criatura entrava nos subúrbios da cidade há pouquíssimo tempo atrás prometendo mundos e fundos... E sem contar que ainda admite a falta latente de honestidade dos nossos parlamentares e justifica elas com o "baixo salário", "baixo salário" isso é uma piada??? Baixo é o meu salário de educadora infantil, baixo são os salários dos meus vizinhos, baixo é o salário mínimo e a aposentadoria de milhares de brasileiros... 

Pela fala do deputado eu começo a pensar que o trabalhador tem que ser honesto ganhando uma miséria que mal da para pagar luz e água e compra o leite dos pirralhos e ele não pode ser honesto com o seu salário atual, ele precisa de 75% e o trabalhador comum não. E isso é justo. É justo que o salário mínimo aumente uma miséria todo ano e até um real que lhe é acrescido cause debates calorosos  e o dos parlamentares  75%. Meu Deus, é melhor ler isso que ser cega!

Isso é tão absurdo, abusivo, fora de propósito...

Ai que ódio... que ódio... que ódio duplo... triplo... Isso é uma droga de insulto!!!! Eu me sinto insultada, violentada, e não, o bonito ainda não acabou, ele ainda disse mais:

“Ninguém está achando ruim o aumento. Pelo menos, a mim não reclamaram”

Como assim ninguém achou ruim???? É, de fato, realmente, claro que ninguém achou ruim, eu não achei ruim, a população não achou ruim!  

EU ACHEI PÉSSIMO, A POPULAÇÃO ACHOU PÉSSIMO, TODOS ACHAMOS PÉSSIMO!!!

Alguém que por acaso passar por aqui me diga se acha isso bom, bonito e barato a seu bolso por que assim eu vou conhecer alguém que tenha achado isso bom e a fala do deputado terá enfim algum sentido, pq até aqui eu não vi uma única alma que tenha achado essa pouca vergonha uma coisa boa!

Ah o titulo da matéria foi "Reajuste na pauta extraordinária: parlamentares estaduais devem aprovar o próprio aumento salarial hoje" saiu na Folha de Pernambuco e vc pode ler a matéria completa aqui.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Educação Infantil: entre a magia e a dureza da vida!.

Pois é, todo mundo sabe que Educação não é uma das dez aréas mais legais para se trabalhar no Brasil... Dãh... Todo mundo que trabalha com Educação sabe disso desde o primeiro momento que decide seguir por esse caminho... Mas, nós somos idealistas, cheios de energia... e sim, queremos mudar o mundo...

Há quem diga que não há idealismo que resista a prática pedagógica. A rotina da sala de aula é incansável, só que nós não somos... Nós cansamos... minguamos, somos vencidos pelos problemas cotidianos e ser vencido é sempre frustrante, porém, não duvide do poder de um ideal... Ele é forte viu! Não sou a mesma idealista que era a cinco anos atrás, contudo ainda há muito idealismo para ser ressignificado por aqui!

Enfim, Educação Infantil tem coisas boas, muitas coisas boas... Por exemplo:

Você chega cheia de olheiras, mais pra lá do que pra cá... E então escuta aquele "Tiaaaaaaaaaaaaaaaaa..." E todo mundo pula em cima de você como se vc fosse o último biscoito do pacote! Loucura total, se vc não voltar a vida como uma Fénix então desista!!!

Também tem aquela situação clássica: final de expediente, morta de cansaço, descabelada, suja de sopa (pq quando vc tem dois anos é normal derramar sopa por todo lado e isso inclue a saia da tia, o cabelo da tia, a camisa da tia, a tia como um todo...), vc pensa que tá mal, muito mal, ai vem um pirrainho daqueles olha pra vc e diz: "Tia tu é linda!". Aí o que vc faz? Se joga, mata o menino de chero e o mundo fica perfeito novamente!!!

E os momentos únicos de congelamento estarrecido diante de certas atitudes??? Pense na cena: um pequeno do alto dos seus dois anos de idade acorda no meio da soneca da tarde e pede para fazer chichi, vai no banheiro, tira a torneirinha, fez seu chichizinho, balança o lindo goguinho, guarda, da descarga, lava as mãos, enxuga, olha para você, informa: "Sou homem tia!" e volta a deitar. Confesso que se meu queixo não estivesse no chão eu ia ter dito: "Que conversa é essa??? Você é bebê!!!"

É, tem coisas boas, muitos beijos, muitos afagos, as brincadeiras, o descobrir da fala, o descobrir do corpo, o amor verdadeiro... é muito doce, apesar de cansativo. Eu sou apaixonada por Educação Infantil, de todos os universo pedagógicos que eu frequento esse é o mais desestressante... É legal trabalhar com adolescentes, é legal trabalhar com formação de professores, mas trabalhar com Educação Infantil é mágico!!!

Só que tem coisas ruins... Tem coisas péssimas.... Tem coisas muito dolorosas... A vida não é fácil para ninguém, mas perceber que tem pessoas que começam a sofrer antes de saber falar a palavra "sofrer" machuca um pouco.

Crianças mal cuidadas, pais que parecem adolescentes, senão crianças, que não tem senso de higiene pessoal, que vivem abaixo da linha da pobreza... que sofrem com fome, descaso e exploração e passam esse legado aos filhos... Cresceram sem perspectiva, vivem sem perspectiva e educam seus filhos no mesmo caminho...

Mães e Pais muito rudes... que só receberam rudeza da vida e só respondem a vida com mais rudeza... e eu sou parte da vida deles, nós (tias e tios) somos parte da vida deles, a parte que só é tratada aos gritos, que tem que medir até onde devemos ser gentis e até onde devemos nos impor... o limite sútil que existe entre o "Eu te entendo..." e o "Me respeite...".

Mães que trabalham muito e pesado, que não tem marido, atrasadas, eternamente atrasadas. Já me incomodei muito com atrasos, hoje levo com tranquilidade, espero, tenho paciência... Simplesmente é necessário entender que algumas patroas simplesmente não entendem que as suas empregadas também tem família e precisam pegar o filho na creche as 5:30 da tarde então largam as empregadas de seis da tarde... Também é preciso entender que algumas mães trabalham vendendo doces em terminais de integração do outro lado da cidade, não tem ajuda nenhuma de homem algum, contam apenas com a creche... Atrasos não me estressam mais...

Muita coisa não me estressa mais, nem minha chefe que fecha meu ponto se me atraso mais que 15 minutos (não só o meu, mas de todo mundo) e que esquece de olhar os problemas estruturais que temos na sala, de olhar a forma como os pais nos tratam, de garantir que exista dentro da creche uma gestão democrática!!! Nem a Gerência de Educação Infantil da cidade do Recife que se importa demais com a parte da legislação que fala de horários e de menos em nos garantir um salário digno de nossa enorme responsabilidade e coisas básicas como um plano de saúde me tiram do sério mais...

Porém, no entanto, todavia... tem coisas que não dáh para engolir em seco... Existe um limite para todos nós, um limite do suportável!! E esse limite para mim é quando vejo uma criança em estado de sofrimento, doente, as doenças infantis são um limite para mim... ai não tem ignorância de pai certa, rudeza certa... chefe certa... ou burrice certa da minha parte...

Quando entrei na creche, há quatro anos atrás, as meninas que trabalhavam na minha classe reclamavam que os pais procuravam machucado no corpo dos filhos e pediam explicações... Hoje, quatro anos depois, os pais é que reclamam pq nós estamos de olho neles... Os pais é que chegam explicando o que aconteceu com os filhos... E tanto eu quanto Go, ou tanto Go quanto eu (não sei qual das duas é mais chata com esse assunto) pegamos no pé, e pegamos menos do que devíamos, acredite, poderíamos ser mais chatas e não somos.

Essa semana, depois do feriadão do Dia da Republica aconteceu um fato interessante a esse respeito, digno de nota... Na volta desse feriado, na terça, Gô percebeu na hora do banho um ferimento estranho no bumbum de uma de nossas crianças... Bem, esse tipo de coisa não dá para passar. Qualquer pessoa sã sabe disso... Passou milhares de coisas por nossas cabeças, não vou mentir... É só ver o noticiário e qualquer um entende o que quero dizer... Mostramos o ferimento a nossa coordenadora pedagógica e ela disse para mandar o pai levar a criança na pediatra e trazer um parecer dela, não somos médicas... Tudo bem... 

Go me pediu para falar com o pai, e lá fui eu... Pacientemente conversei, expliquei, combinei... "Vá na pediatra para ela vê o que é isso... traga a receita... traga o parecer dela... Precisamos saber do que se trata!" Gente eu falei com ele com toda a paciência do mundo... Ele me disse que levaria na pediatra do posto de saúde que tem ao lado da creche onde nossas crianças são atendidas sem marcação de consulta... É só chegar comprovar que é da creche e pronto...

Enfim, ficamos tranquilas, conhecemos a pediatra, confiamos na pediatra (muito não, mas eu sou chata e não confio muito nem em mim)... Enfim, quando cheguei na creche ontem perguntei pela receita as meninas da manhã e qual não foi a surpresa!!! O pai não foi na pediatra... Não fez nada do que combinamos, meu sangue subiu a cabeça... Fiquei contando os minutos para ver o dito... E quando ele chegou me ouviu... me ouviu muito... Confesso que exagerei um pouco, no meio da conversa a esposa dele alterou a voz para mim, eu me alterei a voz para ela, não devia ter me alterado, perdi o controle.

Hoje a coordenadora pedagógica venho falar comigo, disse que os pais se queixaram da "ignorância da tia"... Que nós temos que manter um padrão de comportamento, que não podemos nos alterar com os pais... Blábláblá... Mas vou contar uma coisa a vocês, não me importo de ser chamada de ignorante, não me importo nem mesmo de ser ignorante... Até pq depois de ter sido ignorante com eles, os dois trataram de levar o menino na pediatra, ela esclareceu que o ferimento tratava de um sintoma de um germe de cachorro, receitou tratamento e os pais iniciaram hoje mesmo.

E esse para mim é um dos lados mais duros da Educação Infantil: tem mãe e pai que só faz o que é necessário, o básico, quando vc sai da linha, é necessário que vc acumule uma fama de ignorante para que um direito básico da criança seja respeitado por seus próprios pais.

Confesso que eu adoraria que os pais me ouvissem quando falo sorrindo, com voz doce e rosto amável, mas também confesso que se for preciso ser tachada de "ignorante" para garantir que uma criança faça tratamento médico, use roupas razoavelmente limpas e seja bem tratada eu vou ser "ignorante" até dizer basta! 

Ah, também confesso que não sou tão ignorante assim, antes fosse... metade disso tudo é fama... eu sou um pouco chata, confesso... SÓ QUE:

Ignorância é que eu aguento dos pais todos os dias. Ignorância é a gestora me dizer que três atrasos e eu terei uma falta, ignorância é as infinitas infiltrações no banheiro, ignorância é um aumento porco todo ano... ignorância é vc ficar três dias com seu filho e deixar ele pegar germe de cachorro!!! Ignorância é vc gritar com uma pessoa que quer apenas que vc leve seu filho no médico!!! Isso é ignorância!!!

___________
O post ficou grande demais... mas eu precisava falar!

domingo, 14 de novembro de 2010

Entre reinações e caçadas: minhas impressões sobre Monteiro Lobato

Assim, particularmente, EU não sou fã de Monteiro Lobato, li alguns de seus livros: As caçadas de Pedrinho, Saci e os dois volumes de Os doze trabalhos de Hércules ainda quando era criança, entre os nove e os doze, e posteriormente fiz algumas pesquisas sobre ele e vou confessar que mesmo quando era criança não era fã.

Sempre me desagradava a maneira que Emília tratava Tia Anastacia e todo mundo, ela é extremamente mal educada e minha avó era negra (era pq faleceu) e na minha imaginação infantil algumas coisas me entalavam com Emília e o fato de Narizinho não ir a escola me dava abuso, sempre adorei a escola (mesmo quando vivi problemas a escola era um lugar que eu gostava)... Isso me referindo "As caçadas de Pedrinho" e ao livro "Saci", só li "Os doze trabalhos de Hercules" pq aos 12 anos eu já era louca de amor por Mitologia Grega (Cavaleiros do Zodiaco também é cultura táh, sempre acho interessante a versão oriental dos mitos ocidentais) e também vivi essa angústia pq Narizinho não vai a essa aventura, fica cuidando da avó no Sítio.

Enfim, depois de começar a estudar história fui dá uma olhadinha em "Reinações de Narizinho" e me estarreci com um Monteiro Lobato que diz que Tia Anastacia é a "negra de estimação" do Sítio!!! Ops, o que é isso? Fala sério!!!

Ah, lembrei da história que me fez ver Reinações, conto ela aqui pq acho importante: uma amiga ganhou de uma amigo uma edição de "Histórias de Tia Anastacia", é que ela tem uma filhinha e gosta de ler histórias para ela, minha amiga foi ler para a menina dela despreocupadamente e imagine só o que aconteceu?

Ela me confidenciou que enrolou a pirralha e não terminou nem a primeira página. Graças a Deus! Afinal basta o mundo para expor as crianças de cor a situações de preconceito e violência simbólica, elas não precisam vivenciar esse tipo de experiência dentro de casa e menos ainda na hora de dormir. E seria hipocrisia da parte de qualquer um negar que o preconceito existe e que situações simbolicamente e as vezes concretamente violêntas são rotina na vida de homens e mulheres de cor no Brasil.

Deixa esse livro para a menina ler quando for mocinha e tiver meios intelectuais para entender o contexto histórico em que a obra de Monteiro Lobato foi escrita, quem era o homem e a própria história afro-brasileira néh! "Vamos devagar com o andor que o Santo é de barro"

Aliás, sobre ir "devagar com o andor pq o santo é de barro", acho que é mais ou menos isso que propõe  o Conselho Nacional de Educação com o Parecer CNE/CEB n°.15/2010 (que está aguardando homologação pelo Ministério de Educação), cujo assunto é uma possível “orientação para que a Secretaria de Educação do Distrito Federal se abstenha de utilizar material que não se coadune com as políticas públicas para uma educação antirracista”. Algo que é muito pertinente, se a Secretaria de Educação pretende distribuir nas escolas livros de Monteiro Lobato, ou qualquer outro autor que nesse livros existam Introdução, Prefacio ou notas de rodapé esclarecendo sobre o período histórico, sobre as relações interracias que marcaram esse periodo e derivativos. Afinal as histórias de Monteiro Lobato que chegam até nós através da Globo são muito diferentes das que chegam através do punho do autor.

Quando comecei fazer releituras da obra de Monteiro Lobato entendi coisas que não percebia antes, mais tarde passei a me debruçar com mais atenção sobre a História Afro-brasileira, que é a história de todos nós, e sobre os intelectuais afro-brasileiros... Descobrir Solano Trindade, redescobrir Machado de Assis, encontrei com um José Carlos do Patrocínio, "Tigre da Abolição" e tantos outros nomes que marcaram nossa história que são esquecidos, nem aparecem nos livros didáticos e ainda de quebra são embranquecidos.

Descobrir nessa onda os motivos de Monteiro Lobato tecer sua narrativa e, sinceramente, minha opinião pessoal é que o fato dele ser um grande nome da Literatura Brasileira mostra apenas que o brasileiro é racista e machista e nem percebe. (Mas, isso é pessoal viu gente).

Bem, essa é minha opinião pessoal sobre o tema e como este é meu blog é um lugar mais que adquado para colocar essa opinião.

Ainda sobre Monteiro Lobato e minhas pesquisas sobre ele e a questão do afro-descendente, encontrei um conto dele que tem o titulo "Negrinha" e fala de uma menina que mesmo depois da Abolição continua sendo tolerada na casa da ex-senhora de sua mãe para ser vitima de violência e maus tratos constantes até morrer de febre e ninguém nem perceber direito... Nesse conto a gente encontra um Monteito Lobato que denuncia as violências sofridas pelos homens e mulheres, violência contra a criança, detalhes de uma sociedade altamente hipócrita e derivativos... Nas palavras dele de negrinha ficaram apenas duas impressões:

"Uma cômica, na memória das meninas ricas:
— Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?
Outra de saudade, no nó dos dedos de D. Inácia: — Como era boa para um cocre!..." 
(LOBATO, 1927)

Juntando esse conto com as obras infantis a gente ver a ideia de Monteiro Lobato a cerca do lugar do negro na sociedade: sempre servindo e na dependência dos brancos de posse... Ou uma sofrida Negrinha, "negra de estimação" de uma mulher má ou uma boa tia Anastácia, "negra de estimação" de uma mulher boa e generosa como Dona Benta! Sempre vistos como seres a servir, colocados na copa e na cozinha, sempre com seus destinos a serem determinados por terceiros... Eu detesto essa forma de olhar... e mesmo sabendo o momento histórico de Monteiro Lobato e considerando tudo isso, sei essa visão de mundo e essa forma de relação interracial ainda persiste em nossa sociedade, é uma continuidade.

Bem, minhas sinceras desculpas aos fãs do homem, eu não sou ninguém no jogo do bicho, minha opinião é só minha opinião táh, mas é justamente desconstruir essas imagens do Negro em nossa História que humildemente pessoas como eu, que trabalham pesquisando História e Cultura Afro-brasileira, querem.

Queremos que as pessoas percebam que embora homens e mulheres de cor tenham ocupado esses lugares de sofrimento e subordinação houveram outros lugares para eles... Os negros não foram apenas escravos, foram também homens e mulheres que superaram a escravidão, chegaram aqui e deram a volta por cima.  A abolição não é resultado apenas do trabalho de homens como Joaquim Nabuco ou dos interesses dos ingleses, mas sim do trabalho duro e constante de homens e mulheres negros e negras que compunham uma imprensa negra, pessoas que se movimentavam não só fisicamente como intelectualmente, que organizavam um discurso que validava a Abolição, organizavam fugas coletivas, faziam coisas que até Deus duvida e que me enchem de orgulho de ser herdeira de uma cultura afro-descente, tanto quando sou herdeira da cultura portuguesa e indígena.

Ah, como professora, mesmo não morrendo de amores, eu até trago Monteiro Lobato para a roda de leitura, não dá para ignora-lo, mas trago através dos estudos recentes sobre a representação do negro na literatura infantil, como por exemplo a desses textinhos legais que capinei na net com a ajuda de pessoas que também pesquisam esse tema, a saber:

Imagens do negro na literatura infantil brasileira: análise historiográfica. de Maria Cristina Soares. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, nº 1, p.77-89, janº/abr.2005. Disponível aqui!

A figura do negro em Monteiro Lobato. de Marisa Lajolo. Presença Pedagógica. vol. 4, nº 23, p. 23-31, set/out. 1998. Disponível aqui! 

O universo ideológico da obra infantil de Monteiro Lobato de Zinda Maria Carvalho de Vasconcelos.
"... a autora analisa a obra infantil de Lobato com argúcia, perspicácia e conhecimento de causa, apoiada na sua própria ideologia, mas sem preconceito, numa brilhante crítica que sabe compreender e interpretar não só a obra, mas também a personalidade e as contradições do escritor que, sendo intransigente fiel a si mesmo, foi igualmente fiel ao Brasil e às suas crianças." 
 
Acho absurdo que os livros de Monteiro Lobato venham para as escolas com nota de rodapé falando sobre as questões ambientais que cercam "As caçadas de Pedrinho" e não falem sobre as questões que envolvem as relações raciais e acho que a denuncia de Antônio Gomes da Costa Neto, mestrando da UNB e toda a polêmica gerada em torno são o máximo... Se queremos construir um Brasil verdadeiramente igualitário onde a cidadania de direito seja exercida de fato por todos temos mesmo que colocar nossa boca no trombone!!!

Não é questão de banir as obras de Monteiro Lobato, como a imprensa alardeou aos sete ventos nas últimas semanas, mas sim de não deixar passar em branco as relações raciais contidas na obra do homem... e sobre isso tem um texto muito interessante no Blog da Cidinha... Achei super esclarecedor e recomendo!

sábado, 2 de outubro de 2010

"Por que no rio tem pato comendo lama?": sobre eleições.

Sabe que sempre que escuto a música "Rios, Pontes e Overdrives" de Chico e Nação Zumbi me faço essa pergunta: "Por que no rio tem pato comendo lama?" Não sei, eu lá tenho cara de bióloga, ambientalista ou mesmo especialista em Mangue Bit???

O que sei é que gosto muito dessa música e não é só pq nela há referencia a inúmeros bairros da cidade:

"Macaxeira, Imbiribeira, Bom pastor, é o Ibura, Ipsep, Torreão,Casa Amarela, Boa Viagem, Genipapo, Bonifácio, Santo Amaro, Madalena, Boa Vista, Dois Irmãos, é o Cais do porto, é Caxangá, é Brasilit, Beberibe,CDU, Capibaribe, é o Sertão."

Alguns dos quais guardam a população mais pobre da cidade que tantas e tantas vezes tem sua vida esquecida e apagada da História. Mas, não é isso que mais me agrada nessa música que começa de uma forma tão curiosa.

Me agrada nessa música quando Chico se põe a falar sobre rios, pontes, overdrives e muito especialmente sobre esculturas de lama. Aliás, no meio de sua falação ele nos conta  uma coisa interessante sobre a lama, ele diz que a lama que forma a cidade e suas esculturas come em um mocambo onde existem mulambos e daí narra a história do mulambo:

"E a lama come no mocambo e no mocambo tem mulambo
E o mulambo já voou, caiu lá no calçamento bem no sol do meio dia
O carro passou por cima e o mulambo ficou lá."

E quem é esse mulambo??? A resposta é simples e ele dá na mesma canção:

"Mulambo eu, mulambo tu, mulambo eu, mulambo tu...
(...)
Mulambo boa peça de pano pra se costurar mentira
Mulambo boa peça pra se costurar miséria, miséria..."

E estou falando dessa canção e esse papo todo sobre patos comendo lama, mulambos e derivados, pq ao longo de todo esse processo eleitoral, que termina amanhã com o sagrado momento em chegamos as urnas e votamos, o que mais eu me sentir foi um mulambo. Sim cada vez que eu liguei a minha telinha para assistir o horário eleitoral, cada vez que eu vi algo na net falando sobre os candidatos, cruzei com pessoas na rua fazendo campanha, ouvi no pulbito da igreja (sim, no pulbito da igreja mesmoooo) um pastor indicando um candidato, recebi panfletos na rua, vi banes... cartazes e o diabo a quatro eu me sentia mais e mais um mulambo, uma boa peça de pano pra se costurar mentira, pra se costurar miséria... e sim houveram momentos em que eu sentir uma vontade imensaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... de gritar:  

"ALÔ!!! EU NÃO SOU UM MULAMBOOO!!!!"

Mas se eu gritasse assim no meio da rua, na cara de uma pessoa, eu seria considerada louca, bem eu sei que isso seria a constatação do óbvio, mas não vamos escrachar néh?!?!

A questão é, francamente, em meio a meu desabafo acabei esquecendo o que eu ia falar... Deixa eu ver... Ah, é mesmo: as Eleições, algumas coisas que eu observei no micro-cosmo do meu bairro que é Nova Descoberta, a história de alguns candidatos e práticas eleitorais.

Por aqui em épocas de eleição sempre aparecem candidatos saídos da classe média e derivativos cheios de discursos popularescos oferecendo padrões aos times que costumam jogar nos campinhos que temos por aqui (e como temos campinhos, bibliotecas não, mas campinhos...), recentemente os candidatos descobriram outro filão, eles descobriram que para além do pessoal da pelada composto por trabalhadores braçais que extravasam em jogos de futebol no fim de semana, existem as igrejas e seus intermináveis e custosos calendários de festa!!!

Muitos candidatos em época de eleição sedem ônibus, dinheiro e derivativos para as pessoas envolvidas na liderança de alguma coisa na igreja, em troca eles querem apenas que nós lancemos mão de nossa credibilidade e anuncie-mos que vamos votar nele. E acredite, por incrível que pareça, professoras de escola dominical ainda tem influencia suficiente para fazerem alguém votar em alguém.  Quando eu me vejo vivenciando uma experiência eu sinto lá dentro do peito a dor de ser tratada como um mulambo... Eu não aceito ser tratada como mulambo, se eu posso evitar! E lamento, mas essa professora aqui se não pode custear as festas de suas alunas, crianças e afins não as faz.

Ah, mas eu não sou a única pessoa cansada de ser feita de mulambo não... Na ultima eleição para prefeitos e vereadores aconteceu algo curioso em Nova Descoberta, a população se cansou desses candidatos e resolveu eleger um homem daqui mesmo. Trata-se de um policial, líder comunitário, honesto, evangelico e engajado há muito tempo em obras públicas que garantiram uma certa qualidade de vida a várias pessoas que vivem nos morros.

Porque aqui o que costuma ocorrer é o seguinte: a comunidade se mobiliza para  que  corra a obra de pavimentação de certas ruas, a construção de algumas escadarias assim como de barreiras, os recursos para a obra até saem, as obras até começam, MAS... nunca terminam, algo ou alguém consome as verbas, a obra aparece como concluída na prefeitura e, por mais que nós nos queixemos, aquela situação permanece se arrastando por anos para que inúmeros candidatos possam chegar por aqui nos fazendo de mulambos...

Voltando a esse policial, sobre a liderança dele a comunidade conseguiu se organizar e fazer com que as obras começassem e terminassem, algo ótimo que mudou a estética desse lugar. O que antes era lona preta virou barreira feita e isso com certeza trás noites de sono tranquilo a quem mora nas alturas.



Com tantas conquistas, a população cansada de ser feita de mulambo tentou e elegeu o policial vereador, só que parece que é difícil deixar de ser mulambo... Houve uma série de problemas com contagens de votos e percentagens e com seis meses de mandato o vereador foi deposto do cargo... luto geral... E essa  história não acaba aqui... Nessa eleição, um dos vereadores resolveu virar deputado estadual e se ele sair como deputado o policial volta a ser vereador... Adivinhem o que está acontecendo?????? Politica partidaria da braba!!!

É, o vereador está pedindo votos para esse deputado... mas afinal quem é ele??? De onde ele veio??? Quais seus planos??? Qual sua percepção do que é ser deputado estadual??????? Nada disso vem a baila!!!! O discurso de campanha dele por aqui é: Vote em mim que fulano volta!!! Nada contra, mas isso é nos fazer novamente de MULAMBO!!! Eu me recuso, não vou votar em Sicrano pensando em Beltrano!

Me pergunto até quando o brasileiro vai se permitir ser tratado como mulambo, me pergunto até quando isso vai perdurar, me pergunto se é possível reverter esse processo, me pergunto se é possível se libertar desse processo onde a gente termina caindo no cauçamento bem no sol do meio-dia para um carro passar por cima de nós.

Seriamente me pergunto isso todos os dias enquanto vejo a propaganda eleitoral de Dilma, onde ela aparece como possível mãe dos pobres, e de Serra, onde ele aparece como homem experiente que sabe como construir um Brasil onde todos pertenceremos a classe média. Coisas que fazem o processo eleitoral parece e ser uma piada de extremo mal gosto, coisas que me fazem não acreditar na democracia enquanto forma de gestão dos bens públicos... coisas que me fazem fazer coro com as irmãs mais velhas da minha igreja e dizer: "Jesus volta logo!"

Ah, não vamos esquecer de minha igreja local, denominação, ela está apoiando candidatos a deputado federal e estadual, "Meu Deus!", o discurso é que eles vão defender nossos direitos... Me pergunto desde quando deputados existem para defender direitos de um grupo social especifico (táh, desde sempre eu sei...)??? Eles não deveriam existir para defender o direito da população inteira??? Para garantir a TODOS a manutenção de sua qualidade de vida, liberdade e derivativos... eu não preciso de um politico que defenda o meu direito enquanto evangélica e sim enquanto cidadã!!!

Aiaiaia... talvez esteja errada, talvez esteja certa, não sei, mas estou afim de desabafa... e ver se me livro dessa sensação de ser mulambização.

Ah, aparte tudo, esse ano, em edição extraordinaria vou votar, possivelmente a urna vai dar pal, vai achar que ocorreu algum problema, uma vez que eu tradicionalmente voto em qualquer número que me venha a cabeça, desde que ele não seja valido...

Porém, nessa eleição descobri uma candidata que realmente sabe a que venho, que sabe qual a função de um deputado, que tem clareza de papel, que é coerente, que não defende em sua prática cotidiana os direitos de um grupo social, da sua família ou de seu partido e sim da totalidade, do ser humano... Trata-se de uma pessoa que hoje é correta em sua forma de se conduzir politicamente (amanhã pode não ser mais), enfim, conheço a trajectória e vou dar meu voto a ela e sei que mesmo que não ganhe eu não perco meu voto e votando nela sei que não estou sendo feita de mulambo... é isso...
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Todos os anos escrevo em meu diário sobre as eleições... Lembro da eleição do Lula, tem um adesivo enorme colado lá e um texto falando sobre todo o frenesi descrito no Fantástico e em todos os jornais. Pela primeira vez escrevo no blog... É, parece que eu abandonei mesmo a prática de escrever no papel... meu diário 2010 está tão vazio de anotações!!!!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um video muito fofo!!!

Sabe como é, cá estava eu, usando o tempo que eu não tenho para navegar pela blogosfera e eis que vou parar no site do GREEN NATION FEST, mais especificamente no vídeo do Acacio Alves, um vídeo de 2 minutos... Fiquei encantada... que robozinho mais lindinho, e feito todo com sucata... não resistir e trago o video e o robozinho para cá. Não posso deixar de me dar ao luxo de adicionar esse fofo a minha caixa!!! Essa coisa de trabalhar com animação tem todo um tom de mágica para mim, acho lindo demais, sem contar com a mensagem que a história trás!!!



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Ah, pelo prazer de assistir a essa animação agradeço a Mari Amorin do blog Mari Amorin Brincando com a Rima, ela indicou o vídeo pq ele está concorrendo no GREENNATIONFEST, um festival de vídeos com temática ambiental e ela indicou para quem quizer ver e votar, deixo o linck também para quem gostar do curta e quiser votar nele.

sábado, 10 de julho de 2010

Doce Manuela: uma história deliciosa!!!


Júlio José Chiavenato diz algo interessante:

"Abomino esse negócio de literatura "infanto-juvenil". Literatura é ou não é. Existem as gradações, ninguém nasceu Machado de Assis. Mas literatura é ou não é."

Eu concordo amplamente com ele, literatura é ou não é, e Doce Manuel, um pequeno romance escrito por Chiavenato só pode ser classificado com um livro delicioso, me apaixonei por ele a primeira vista, logo na primeira linha: "Nem cravo nem canela. Pretinha." (pg. 7).

Foi amor a primeira vista, em um país onde chamar alguém de negro é ofensa, pq o negro está simbolicamente associado a tantas coisas não tão boas que o próprio negro não gosta de se reconhecer como tal e comumente se embraquece  de várias formas e é muito comum que homens e mulheres de cor prefiram ser morenos e morenas, mestiços, mulatos, qualquer coisa menos negros e negras é muito lindo ver um autor começar a descrever o seu personagem como pretinha e a partir daí construa um personagem incrível, maravilhoso, realmente doce! Realmente é muito dificil colocar defeito nessa obra!

E se já é tempo de desconstruir essa imagem de que o negro é feio e de que ser negro é ruim, tudo bem que se pode dizer que no Brasil a essa altura do campeonato ninguém é realmente preto ou branco, azul ou vermelho, nós somos misturados demais, mestiços mesmo.

Mas, seria hipócrisia gravissima dizer que não existem preconceitos de cor no Brasil,  que não há diferença entre ter a pele negra e a pele branca e a começar por minhas experiências pessoais, passando pelas experiencias de amigos e amigas e terminando com as leituras feitas na area, posso ver claramente que  existe muita diferença entre ser branco e ser negro no Brasil.

E se essa relação entre homens e mulheres negros e negras e homens e mulheres de cor clara é marcada por diversos preconceitos, que começam nos descaminhos da história e culminam com práticas sociais, Chiavenato dá com Manuela mais um passo para desconstruir no Brasil a ideia de que ser negro é ruim. Se homens e mulheres de cor tem uma história de dificuldades, trabalho e sofrimentos junto com essa história de opressão existe uma história de resistência, sobrevivencia, lutas e vitórias nos mais diversos lugares da vida social...

Se houve opressão houve também resistência e entre o Zumbi e o Pai João, homens e mulheres de cor viveram uma história da qual todos podemos nos orgulhar, uma história que a personagem Manuela encarna muito bem, uma história que é de todos nós.

Ao compor sua personagem o que Chiavenato mais faz é fugir de alguns estereótipos, Manuela é inteligente, possui um raciocínio rápido, é determinada, trabalha duro e estuda pesado todos os dias... Ela encara a vida de frente, enchegar uma oportunidade e se esforça para aproveitar essa oportunidade. Ela tem força e ternura e apesar das dificuldade que passa em sua rotina, que não são poucas, vai lutando e conquistando espaços.

Ela estuda em uma escola pública que tem uma caracteristica peculiar, pela manhã estudam na escola os filhos da "burguesia", crianças de classe média, e a tarde as crianças da periferia. Por uma sucessão de acasos e coisas do gênero Manuela acaba indo estudar no horário da manhã, então ela se torna "a negra da manhã" (pg. 18), e ela segue estudando de maneira que "Dez anos depois, com um metro e oitenta e oito, está no segundo colegial. Já não a estranham. Só que Manuela sabe 'Eles me aceitam, tudo bem, mas sou a negra da manhã." (pg. 18). E essa menina, ao contrario do que alguns pensam não é traumatizada, afinal, nas linhas do pensamento da própria Manuela, "Pobreza não é trauma... Se morre alguém, fico triste, mas não me abalo. O que me angustia é viver como bicho. Pior que bicho, tem cachorro que... A miséria é que deprime." (pg. 8,9).

A menina é forte, perdeu a mãe, trabalha para sustentar o irmão, estuda, cuida de uma tia velha, leva a vida como pode, é orgulhosa, firme, mas também se abate e tem um ponto chave da história que a menina leva um tombo da vida e desse tombo nasce uma queda que quase leva nossa pequena heroína de todos os dias a quase desistir, mas não final das contas ela recebe a ajuda bem quista, a ajuda necessária. Ninguém consegue vencer a miséria sozinho, não existem super-humanos e não é o caso dessa heroína, ela não é uma super humana, acima do bem e do mal, se ela não é um Pai João manso e conformado, também não é uma reencarnação de Zumbi lutando com a força dos orixás acima do bem e do mal.

No final das contas, Doce Manuela é um livro escrito por alguém muito antenado com as discussões a cerca da história do Negro no Brasil, da História e Cultura Afro-brasileira e da própria realidade brasileira, muito bem escrito, muito bem pensado, carregado de várias discussões super interessantes, tais como: o papel da escola na vida dos sujeitos, o papel do professor, o peso do discurso jornalistico na sociedade, a importância da prática de algum esporte dentro da escola, as leis, o comportamento do poder publico e etc... tudo isso em um livrinho de 125 páginas... Fiquei tão apaixonada quanto absurdada com essa história... tanto que vale um post, dois, três...

E embora o livro esteja classificado como literatura infanto-juvenil, ele realmente é LITERATURA e faz tudo que um livro tem que fazer, ele nos convida a pensar o mundo que nos cerca, a nossa realidade e o que a sustenta fazendo um convite intelectual a nos posicionar-mos a tentar-mos mudar, nos reinventar... A história de Manuela é a história de tantas meninas e meninos, negros e brancos, é uma história encantadora, não tem o final de novela das oito, não é uma epopeia... é apenas uma história linda, sem fins dignos de princesa da Disney e nem de heroína global, aqui não temos uma Helena.

E sobre Júlio José Chiavenato, sobre o qual eu poderia escrever muita coisa também, que é jornalista,  auto-didata e que escreveu o livro "Genocídio Americano - A Guerra do Paraguai" (Brasiliense), questionando a história oficial do conflito, um livro de 1979, ou seja, já foi amplamente criticado, mas que oferece uma visão alternativa do conflito na qual nós não somos heróis, sobre ele deixo as palavras dele e quem quizer saber mais o linck de uma materia da Folha Online:
"... sou uma Manuela da vida. Apenas não tive a sorte de fechar o set, fazer o ponto final. Taí: é horrível escrever sobre a gente. Deu a entender que espero um vitória, uma conquista. Nada disso.
O que espero é um mundo em que o amor e a esperança vençam. Isso não depende da literatura, nem que eu ou você fechemos o set. Depende de toda uma mudança das estruturas, e tome etc., etc. e etc."
 (pg. 128).

Referencia:

CHIAVENATO, Júlio José. Doce Manuela. São Paulo: Moderna, 2003.

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PS.: Quase esqueci de agradecer a Go por ter me emprestado o livro: Valeu, adorei a leitura!!!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Chega de Bullyng


Enfim chegou o grande dia, o dia da postagem proposta pela Vanessa do Mãe é tudo igual. Uma postagem na qual venho pensando a algum tempo, ponderando o que vou ou não escrever a respeito desse tema tão polêmico, tão constante e tão presente no cotidiano escolar dentro e fora das paredes da escola, hoje o bullyng que acontecia dentro do universo escolar e que no máximo chegava aos espaços que estão em torno da escola, rompe fronteiras e chega até mesmo na net, a Nova Escola da Editora Abril em sua edição Junho/Julho por exemplo, abordou o Cyber Bullyng como matéria de capa mostrando o quão latente é esse problema no cotidiano escolar.

Fico muito reçabiada de dar minha opinião nesse caso, mas vamos ao que eu penso a respeito:

O que ocorre é que a escola, tanto quanto a Internet, são espelhos da sociedade, o que acontece na escola nada mais é do que o acontece em sociedade e a sociedade em si é preconceituosa, homofóbica e despreparada para conviver com as diferenças.

Negros, Gays e pessoas que fazem uma opção por viver um estilho de vida diferente do habitual podem contar milhares de casos e situações em que passaram por constrangimentos e afins por não serem "iguais" a maioria das pessoas.

Só para dar um exemplo de como diferentes são tratados no Brasil, no site do Grupo Gay da Bahia  nós vemos o resultado de um relatório que fala que em 2009 foram assassinados no Brasil  198 homossexuais,  pessoas que foram assassinadas por viverem sua sexualidade de forma diferente, um dado que não deixa de ser alarmante.

E o que falar da situação do negro? Rita de Cássia Fazzi tem um trabalho impressionante que fala sobre a situação da criança negra na escola "O drama racial das crianças brasileiras – socialização entre pares e preconceito" onde, baseada em uma solida pesquisa cientifica, a autora, professora do departamento de Ciências Sociais da PUC/MG, mostra entre outras coisas como a instituição escolar e os próprios educadores são cheios de preconceitos em relação as crianças negras.

Quanto a pessoas que vivem um padrão de vida diferente, paltado por exemplo por uma forma de religiosidade mais ortodoxa, bem ai eu posso falar por mim que sou evangélica e congrego em uma igreja conservadora com costumes bem rígidos que vão desde um cabelo que não deve ser cortado a tipos específicos de roupas. Por exemplo, eu só uso saia e camisas com manga e adulta já passei por diversas situações super chatas por carregar essa estética evangélica, assim como amigos meus que são do candomblé passaram e passam por situações humilhantes por carregarem sua estética sendo chamados até de filhos do diabo, algo que acho muito forte de se dizer de qualquer um.

A sociedade é preconceituosa e esse preconceito vai invariavelmente parar na escola, não tem jeito. O bullyng, que pode ser descrito como ato de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou  grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo ou grupo de indivíduos incapazes de se defender, é um reflexo da nossa situação social, da nossa falta de habilidade de lidar com o diferente, com aquilo que nos assusta, que nos causa muitas vezes repulsa ou que achamos anormal, quadrado ou antiquado.

As crianças e adolescente (e essa é minha opinião como educadora) refletem na escola o que presenciam em casa, o que os pais fazem veladamente as crianças fazem descaradamente em público. Pais homofóbicos produzem crianças violentas contra homossexuais, pais racistas produzem crianças que vão chamar o coleguinha negro de nomes feios e pais que gostam de ridicularizar a religião dos outros vão produzir crianças capazes, por exemplo, de tascar chiclete no cabelo de uma irmanzinha, e isso não foi ninguém que me contou, eu vivi isso.

Quando eu estava na 4ª série vivi um inferno na escola pelo simples fato de assumir uma estética diferente da maioria das crianças de minha sala, era ridicularizada, xingada e cheguei até a ter meu cabelo recheado de chiclete, algo que foi extremamente dolorido para mim porque tive que corta-lo e as mulheres de meu grupo religioso se caracterizam por manter o cabelo grande. Uma colega minha do candomblé levou um murro na sua cabeça quando teve que fazer um ritual de iniciação que exigia que ela raspasse seu cabelo. Outra colega cigana passava por um grande constrangimento sempre que sumia algo na sala, a bolsa dela era a primeira a ser aberta pela professora.

A mim parece que para que a escola se transforme em um ambiente onde os diferentes possam conviver em  paz o mundo precisa se tornar um ambiente onde os diferentes possam conviver em paz! Enquanto o macrocosmo da sociedade for marcado por relações perversas de exclusão o microcosmo da escola vai continuar sendo um local marcado por violências simbólicas e concretas de todo tipo.

Claro, educadores sempre precisam está preparados para enfrentar esse tipo de dificuldade, eu e minhas amigas passamos por todas essas situações abusivas, e isso é uma leitura minha, pq nossas professoras não estavam preparadas para mediar as relações entre nossos colegas e nós..

Minha professora da 4ª série é uma pessoa ótima, mas não conseguia lidar bem com a turma, não conseguia nem mesmo tratar do processo de ensino o que se dirá das relações entre alunos sem estrutura familiar nenhuma, altamente violentos até mesmo com ela, e uma criança que se vestia de forma deslocada no tempo (eu me vestia como minha avó literalmente falando, ela sempre fazia vestidos iguais aos dela para mim). A professora de minhas duas amigas cujos exemplos citei não eram mais preparadas que ela para administrar essas "situações problema", e claro nós sofremos com isso, não poderia ser diferente. O bullyng só pode ser combatido quando a instituição escolar na figura de seus educadores estão preparados para lidar com essas situações e mediar os conflitos que são naturais.

No mais, acho que nós que somos comprometidos com a construção de uma escola que acolhe crianças e adolescentes respeitando suas singularidades estamos dando passos adiante na construção dessa escola ideal, passos lentos, mas estamos dando, assim como a sociedade da passos decisivos para essa construção, especialmente quando se mobiliza em torno de um debate sobre o bullyng como esse proposto pela Vanessa e que tantas pessoas participam com os mais diversos tipos de textos.

Debater é sempre o primeiro passo, não o único, mas o primeiro, e toda grande caminhada, já diz um ditado conhecidissimo, começa com o primeiro passo. O segundo passo é se despir dos preconceitos, tentar entender o outro e não julgar, excluir, condenar ou violentar. Se os adultos começarem a se construir como pessoas menos preconceituosas certamente as crianças vão se construir como pessoas melhores, afinal nós nos construi-mos a partir do outro.

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E bem, essa é minha opinião pessoal sobre o tema, com muitos erros ortograficos e excessos como sempre, eis também minha colaboração ao debate!!!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mulher Barriguda, Solano Trindade!!!

Mulher barriguda
Solano Trindade
(musicado por João Ricardo dos Secos e Molhados)

Mulher barriguda
Que vai ter menino
Qual é o destino
Que ele vai ter
Que será ele
Quando crescer...
Haverá ‘inda guerra?
Tomara que não
Mulher barriguda
Tomara que não...


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Eu não estava afim de comentar esse poema de Solano que os Secos e Molhados transformaram em musica, mas, sempre tem um mas, acabo que preciso comentar, o sentido de se escrever um diário é que se comente o que se sente...

Hoje vi algumas mulheres barrigudas, gravidas, nada de mais uma vez que o mundo é cheio dela, o diferencial é que essas mulheres que vi hoje e vejo cotidianamente são mulheres que vivem em uma situação de pobreza estrema, no limite da miséria e cujos filhos na maioria das vezes não vivem apenas sobrevivem, e quem trabalha em escola pública, hospital publico ou lugares periféricos nas grandes cidades sabe exatamente do que estou falando... Quem ver a miséria pelo noticiário da TV ou nos sinais de transito  e derivativo não sabe, apenas suspeita...

Enquanto estava dando uns cheiros em uma das crianças próxima a porta de saída (um momento até agradável, estava rindo com ele), sem querer pousei olhar em uma "mulher barriguda", um olhar de poucos segundos e me ocorreu qual seria o destino daquela criança. Tive vontade de perguntar: "Mulher barriguda qual é o destino que ele vai ter?", ela passou eu apertei o abraço no pequeno ele se irritou eu coloquei no chão... olhei as crianças cujos pais ainda não haviam vindo buscar, pensei sobre o destino delas também... pensei tanta coisa... que só posso repetir as palavras de Solano e dizer a cada um de meus pensamentos: "Tomara que não!".


Tem Gente com fome, Solano Trindade!

TEM GENTE COM FOME
Solano Trindade

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
mando o trem calar
Psiuuuuuuuuuuuu


sexta-feira, 4 de junho de 2010


A moradia dos pedreiros suicidas! Do lado de cá nós vemos o lado de lá, mas desconfio que do lado de lá seja muito difícil enxergar quem está cá.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Blues da Piedade: vamos pedir piedade!!!!

Gosto muito das músicas do Cazuza, faço coro com os consideram ele um grande poeta. Obviamente não ignoro o estilo de vida que ele levou, um estilo estremo, facilmente criticável, mas a parte qualquer coisa, amo o que ele escreveu e devo a vida e obra de Cazuza uma pesquisa mais apurada...

Mas por hora sinto-me impelida a deixar aqui, marcado entre as coisas que gosto de ouvir, ler e pensar em meu tempo vago o incrível Blues da piedade, que foi brilhantemente cantado por ele. Me junto ao Cazuza e a todos os que pedem piedade...

Blues da Piedade
Composição: Roberto Frejat/Cazuza

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Site consultado:

http://letras.terra.com.br/cazuza/44997/ em 03/04/2009.

domingo, 22 de março de 2009

Bertold Brecht e Se os tubarões fossem homens


Eu sou fã de Bertold Brecht, ele é ótimo em sua analise das sociedades humanas e esse esse texto dele é clássico. Não sou marxista de carteirinha, mas tenho muito simpatia por essa corrente filosófica e histórica. Gosto dos marxistas por seu comprometimento com a causa, por sua luta e por sua convicção na possibilidade de uma mudança, são pessoas que não tem medo...

Quanto a Bertold Brecht, foi um dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX,seus trabalhos o tornaram mundialmente conhecido, no final dos anos 1920 Brecht tornou-se marxista, vivendo o intenso período das mobilizações da República de Weimar. Brecht fez do teatro um lugar de discussões das complicadas relações humanas dentro do sistema capitalista na perspectiva de uma estética marxista.

Se os tubarões fossem homens

Se os tubarões fossem homens, perguntou a filha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais amáveis para com os peixinhos?

Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adoptariam todas as medidas sanitárias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direcção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.

O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.

Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói.

Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.

Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.

Se os tubarões fossem homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc.

Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.

Sites consultados:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht em 22 de março de 2009.
http://resistir.info/brecht/tubaroes_homens.html em 22 de março de 2009.