sábado, 20 de abril de 2024

Inclusive amor é a grande desilusão do que se pensava que era amor [ Citação 015]


"A um certo modo de olhar, a um jeito, a um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é mais necessário dissimular. Amor é quando é concedido conhecer um pouco mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor." (Clarice Lispector)

Quando comprei a edição em e-book de "Todos os Contos" de Clarice fiquei mais ou menos incrédula se realmente eu conseguiria ler ainda nessa vida um calhamaço heterogêneo de 656 páginas, se esse não seria aquele elefante branco na minha Biblioteca Kindle. Surpreendentemente, isso não ocorreu, a leitura dos contos me tomam muitas vezes como uma febre. Pouco a pouco me vejo avançar atônita, encantada com cada lance de palavras, digressão, epifania e foi 57% do livro.

A citação acima foi tirada do conto "O ovo e a galinha" no qual acompanhamos a linha de raciocínio de uma mulher que, de manhã, na cozinha, sobre a mesa, vê um ovo e a partir dessa visão nos viajar através de questões sobre ser, estar e sentir a si mesma. É um texto esquisito, misterioso e sensacional contido no livro "A Legião Estrangeira".

Clarice Lispector tem sido a grande autora desses anos finais da minha era Balzaquiana. Meu reencontro com ela é uma das coisas que mais animam meus dias, me fazem pensar e ajudam a organizar minha experiência como mulher no mundo.

Falando sobre o amor, ele se torna menos idealizado quando a gente vai se aprofundando cada vez mais nesse abismo imprevisível da vida adulta. E sim, não só "o amor" é a desilusão daquilo que pensava que era... muitas outras coisas tem se tornando desilusões do que eu pensava que elas eram quando eu tinha 15, 20, 30 anos.

5 comentários:

  1. Que "marcador"espetacular para os anos finais da tua era Balzaquiana - simplesmente Clarice!

    Jaci, volta lá no blog, tem uma postagem que acabou de entrar e gostaria que lesse. beijo, ana paula

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  2. que lindo trecho que escolheu. clarice é maravilhosa. sim, estar disponível ao amor é querer perder as ilusões, ver o outro como ele é. precisa coragem realmente se dispor ao amor. eu acompanhei bastante o ovo e a galinha pq tive contato com uma tese feita sobre esse conto. bela leitura. beijos, pedrita

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  3. Eu queria ter o interesse de ler Clarice mas infelizmente não rolou..
    https://www.balaiodebabados.com.br/

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  4. Eu gosto muito de Clarice, leio alguns livros, mas não digital. Abraços

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  5. Oi, querida.
    Que post gostoso de ler e que me trouxe muitas reflexões, e eu vou me atrever a dizer que a maturidade é um eterno desiludir. E a cada década completada é uma cortina que a gente tira dos olhos, o que tinha muita importância ontem, hoje muda tudo, foi assim nos meus 20, 30, 40 e hoje chegando aos 50, até me assusto, a gente consegue escolher o que vale a pena continuar iludida, ou voltar a se iludir, até mesmo para ter paz, ou de fato partir para a desilusão. O amor é um quesito que muda muito com a maturidade.
    Amei!
    Beijo, beijo.

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