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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Recife de muitas faces...

Recife é uma cidade de muitas faces, tantas que as vezes eu fico tonta e sem rumo no meio do caos barulhento do transito, das idas e vindas, dos absurdos, das dicotomias, das diferentes paisagens e lugares... Cidade cheia de paradigmas, de sonhos e sombras diferentes, dilemas, segredos, lugares a mostra, lugares escondidos.

Como diria Zé Ramalho, uma cidade cheia de pessoas que fazem parte...
  
"... dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber...
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer




 Cidade que como na letra da Nação Zumbi: 

"sobe morro, ladeira, corrego, beco, favela"




Que nas palavras de João Cabral de Melo Neto... 

"é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão." 


 

Com subúrbios tão diferentes dos que falou Carlos Pena Filho:

"Nos subúrbios coloridos
em que a cidade se estende,
em seus longos arredores,
onde, a cada instante nasce
uma rosa de papel,
caminham as tecelãs.
Restos de amor nos cabelos
que ocultam por ocultar,
levam a noite no ventre
e a madrugada no olhar
e em esqueletos da sombra,
onde a luz chega filtrada,
as tecelãs vão parar.
Adeus lembrança de amores,
adeus leve caminhar.
Agora resta somente
um desencanto sereno:
o gerente e as botinas,
magoando o silencio pleno."

Os subúrbios hoje não são tão coloridos, eles são verdes, pretos e tão íngremes que é impossível não pensar que estamos próximos do céu.






Mas que apesar dos pesares tem o céu mais azul do mundo, tanto que olhando para ele eu não consigo deixar de lembrar de Fernando Pessoa:

"Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
[...]
Ó mágoa revisitada, Recife de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!"




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Os lugares das fotos são espaços que fazem parte das minhas andanças diárias...  por isso todas  foram tiradas com celular fraquinho, há quem não goste da forma como as fotos saem, imperfeitas, pouco fiel, embaçadas... mas penso que a foto NUNCA nunca é a verdade, é apenas um olhar sobre a verdade, por mais clara que ela seja nunca é REALMENTE CLARA... Minha visão é uma foto de celular... sempre meio desfocada... sem obrigatoriedade de ser precisa, assertiva... Sou fã da lente desfocada do meu celular então não peço desculpas pelo desfoque, ele é totalmente proposital.

sábado, 2 de outubro de 2010

"Por que no rio tem pato comendo lama?": sobre eleições.

Sabe que sempre que escuto a música "Rios, Pontes e Overdrives" de Chico e Nação Zumbi me faço essa pergunta: "Por que no rio tem pato comendo lama?" Não sei, eu lá tenho cara de bióloga, ambientalista ou mesmo especialista em Mangue Bit???

O que sei é que gosto muito dessa música e não é só pq nela há referencia a inúmeros bairros da cidade:

"Macaxeira, Imbiribeira, Bom pastor, é o Ibura, Ipsep, Torreão,Casa Amarela, Boa Viagem, Genipapo, Bonifácio, Santo Amaro, Madalena, Boa Vista, Dois Irmãos, é o Cais do porto, é Caxangá, é Brasilit, Beberibe,CDU, Capibaribe, é o Sertão."

Alguns dos quais guardam a população mais pobre da cidade que tantas e tantas vezes tem sua vida esquecida e apagada da História. Mas, não é isso que mais me agrada nessa música que começa de uma forma tão curiosa.

Me agrada nessa música quando Chico se põe a falar sobre rios, pontes, overdrives e muito especialmente sobre esculturas de lama. Aliás, no meio de sua falação ele nos conta  uma coisa interessante sobre a lama, ele diz que a lama que forma a cidade e suas esculturas come em um mocambo onde existem mulambos e daí narra a história do mulambo:

"E a lama come no mocambo e no mocambo tem mulambo
E o mulambo já voou, caiu lá no calçamento bem no sol do meio dia
O carro passou por cima e o mulambo ficou lá."

E quem é esse mulambo??? A resposta é simples e ele dá na mesma canção:

"Mulambo eu, mulambo tu, mulambo eu, mulambo tu...
(...)
Mulambo boa peça de pano pra se costurar mentira
Mulambo boa peça pra se costurar miséria, miséria..."

E estou falando dessa canção e esse papo todo sobre patos comendo lama, mulambos e derivados, pq ao longo de todo esse processo eleitoral, que termina amanhã com o sagrado momento em chegamos as urnas e votamos, o que mais eu me sentir foi um mulambo. Sim cada vez que eu liguei a minha telinha para assistir o horário eleitoral, cada vez que eu vi algo na net falando sobre os candidatos, cruzei com pessoas na rua fazendo campanha, ouvi no pulbito da igreja (sim, no pulbito da igreja mesmoooo) um pastor indicando um candidato, recebi panfletos na rua, vi banes... cartazes e o diabo a quatro eu me sentia mais e mais um mulambo, uma boa peça de pano pra se costurar mentira, pra se costurar miséria... e sim houveram momentos em que eu sentir uma vontade imensaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... de gritar:  

"ALÔ!!! EU NÃO SOU UM MULAMBOOO!!!!"

Mas se eu gritasse assim no meio da rua, na cara de uma pessoa, eu seria considerada louca, bem eu sei que isso seria a constatação do óbvio, mas não vamos escrachar néh?!?!

A questão é, francamente, em meio a meu desabafo acabei esquecendo o que eu ia falar... Deixa eu ver... Ah, é mesmo: as Eleições, algumas coisas que eu observei no micro-cosmo do meu bairro que é Nova Descoberta, a história de alguns candidatos e práticas eleitorais.

Por aqui em épocas de eleição sempre aparecem candidatos saídos da classe média e derivativos cheios de discursos popularescos oferecendo padrões aos times que costumam jogar nos campinhos que temos por aqui (e como temos campinhos, bibliotecas não, mas campinhos...), recentemente os candidatos descobriram outro filão, eles descobriram que para além do pessoal da pelada composto por trabalhadores braçais que extravasam em jogos de futebol no fim de semana, existem as igrejas e seus intermináveis e custosos calendários de festa!!!

Muitos candidatos em época de eleição sedem ônibus, dinheiro e derivativos para as pessoas envolvidas na liderança de alguma coisa na igreja, em troca eles querem apenas que nós lancemos mão de nossa credibilidade e anuncie-mos que vamos votar nele. E acredite, por incrível que pareça, professoras de escola dominical ainda tem influencia suficiente para fazerem alguém votar em alguém.  Quando eu me vejo vivenciando uma experiência eu sinto lá dentro do peito a dor de ser tratada como um mulambo... Eu não aceito ser tratada como mulambo, se eu posso evitar! E lamento, mas essa professora aqui se não pode custear as festas de suas alunas, crianças e afins não as faz.

Ah, mas eu não sou a única pessoa cansada de ser feita de mulambo não... Na ultima eleição para prefeitos e vereadores aconteceu algo curioso em Nova Descoberta, a população se cansou desses candidatos e resolveu eleger um homem daqui mesmo. Trata-se de um policial, líder comunitário, honesto, evangelico e engajado há muito tempo em obras públicas que garantiram uma certa qualidade de vida a várias pessoas que vivem nos morros.

Porque aqui o que costuma ocorrer é o seguinte: a comunidade se mobiliza para  que  corra a obra de pavimentação de certas ruas, a construção de algumas escadarias assim como de barreiras, os recursos para a obra até saem, as obras até começam, MAS... nunca terminam, algo ou alguém consome as verbas, a obra aparece como concluída na prefeitura e, por mais que nós nos queixemos, aquela situação permanece se arrastando por anos para que inúmeros candidatos possam chegar por aqui nos fazendo de mulambos...

Voltando a esse policial, sobre a liderança dele a comunidade conseguiu se organizar e fazer com que as obras começassem e terminassem, algo ótimo que mudou a estética desse lugar. O que antes era lona preta virou barreira feita e isso com certeza trás noites de sono tranquilo a quem mora nas alturas.



Com tantas conquistas, a população cansada de ser feita de mulambo tentou e elegeu o policial vereador, só que parece que é difícil deixar de ser mulambo... Houve uma série de problemas com contagens de votos e percentagens e com seis meses de mandato o vereador foi deposto do cargo... luto geral... E essa  história não acaba aqui... Nessa eleição, um dos vereadores resolveu virar deputado estadual e se ele sair como deputado o policial volta a ser vereador... Adivinhem o que está acontecendo?????? Politica partidaria da braba!!!

É, o vereador está pedindo votos para esse deputado... mas afinal quem é ele??? De onde ele veio??? Quais seus planos??? Qual sua percepção do que é ser deputado estadual??????? Nada disso vem a baila!!!! O discurso de campanha dele por aqui é: Vote em mim que fulano volta!!! Nada contra, mas isso é nos fazer novamente de MULAMBO!!! Eu me recuso, não vou votar em Sicrano pensando em Beltrano!

Me pergunto até quando o brasileiro vai se permitir ser tratado como mulambo, me pergunto até quando isso vai perdurar, me pergunto se é possível reverter esse processo, me pergunto se é possível se libertar desse processo onde a gente termina caindo no cauçamento bem no sol do meio-dia para um carro passar por cima de nós.

Seriamente me pergunto isso todos os dias enquanto vejo a propaganda eleitoral de Dilma, onde ela aparece como possível mãe dos pobres, e de Serra, onde ele aparece como homem experiente que sabe como construir um Brasil onde todos pertenceremos a classe média. Coisas que fazem o processo eleitoral parece e ser uma piada de extremo mal gosto, coisas que me fazem não acreditar na democracia enquanto forma de gestão dos bens públicos... coisas que me fazem fazer coro com as irmãs mais velhas da minha igreja e dizer: "Jesus volta logo!"

Ah, não vamos esquecer de minha igreja local, denominação, ela está apoiando candidatos a deputado federal e estadual, "Meu Deus!", o discurso é que eles vão defender nossos direitos... Me pergunto desde quando deputados existem para defender direitos de um grupo social especifico (táh, desde sempre eu sei...)??? Eles não deveriam existir para defender o direito da população inteira??? Para garantir a TODOS a manutenção de sua qualidade de vida, liberdade e derivativos... eu não preciso de um politico que defenda o meu direito enquanto evangélica e sim enquanto cidadã!!!

Aiaiaia... talvez esteja errada, talvez esteja certa, não sei, mas estou afim de desabafa... e ver se me livro dessa sensação de ser mulambização.

Ah, aparte tudo, esse ano, em edição extraordinaria vou votar, possivelmente a urna vai dar pal, vai achar que ocorreu algum problema, uma vez que eu tradicionalmente voto em qualquer número que me venha a cabeça, desde que ele não seja valido...

Porém, nessa eleição descobri uma candidata que realmente sabe a que venho, que sabe qual a função de um deputado, que tem clareza de papel, que é coerente, que não defende em sua prática cotidiana os direitos de um grupo social, da sua família ou de seu partido e sim da totalidade, do ser humano... Trata-se de uma pessoa que hoje é correta em sua forma de se conduzir politicamente (amanhã pode não ser mais), enfim, conheço a trajectória e vou dar meu voto a ela e sei que mesmo que não ganhe eu não perco meu voto e votando nela sei que não estou sendo feita de mulambo... é isso...
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Todos os anos escrevo em meu diário sobre as eleições... Lembro da eleição do Lula, tem um adesivo enorme colado lá e um texto falando sobre todo o frenesi descrito no Fantástico e em todos os jornais. Pela primeira vez escrevo no blog... É, parece que eu abandonei mesmo a prática de escrever no papel... meu diário 2010 está tão vazio de anotações!!!!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A arte é uma representação da realidade e meu irmão sabe representar a realidade muito bem!!!

No coração das trevas estou
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Sempre admiro a arte do meu irmão, quando ele está com algo na cabeça ele consegue transformar  imagens perdidas em algo encontrado... Incrível... esse desenho nasceu de uma mancha na parede(e de algo mais, na minha opinião pessoal)... Ah, assim que vi essa imagem lembrei de uma música de Nação Zumbi que diz: "o vermelho ainda é a cor que incita a fome", mas  a essência azul que existe em todas as coisas sempre está lá para  equilibrar  as coisas, afinal "ninguém quer saber o gosto do sangue"

sexta-feira, 4 de junho de 2010


A moradia dos pedreiros suicidas! Do lado de cá nós vemos o lado de lá, mas desconfio que do lado de lá seja muito difícil enxergar quem está cá.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O vermelho Ainda é a cor que incita a fome

Bossa Nostra
Nação Zumbi

Ninguém quer saber
O gosto do sangue
Mas o vermelho
Ainda é a cor que incita a fome
Depende da hora e da cor
Depende da hora,
Da hora, da cor e do cheiro
Cada cor tem o seu cheiro
Cada hora lança sua dor
E dessa insustentável leveza de ser
Eu gosto mesmo é de vida real
Elevei
Minha alma pra passear
Elevei
Minha alma pra passear
Não me distancio muito de mim
E quando saio não vou longe
fico sempre por perto
Depende da hora e da cor
Depende da hora,
Da hora, da cor e do cheiro
Cada cor tem o seu cheiro
Cada hora lança sua dor
E dessa insustentável leveza de ser
Eu gosto mesmo é de vida real
Elevei
Minha alma pra passear
Elevei
Minha alma pra passear
Linck 

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Não sou uma pessoa musicalizada, entendo muito pouco de música, mas sou apaixonada pelo som da guitarra e pela música produzida pelo povo que forma a Nação Zumbi, não só pq são pernambucanos, mas pq realmente são bons... Maracatu psicodelico, capoeira da pesada \o/.

Nação Zumbi é a prova máxima de que a cultura é dinâmica e se transforma a tradição dos tambores do maracatu misturada ao som das guitarras psicodelicas para falar de temas filosóficos, da realidade social e de tudo o mais que a imaginação humana achar pertinente. Melhor que isso só dois disso \o/.

Chico é importante, claro! Mas, um grupo é mais que seu vocalista e embora o malungo realmente tenha sido genial e sua produção seja firme e ecoe ainda hoje, Nação Zumbi é mais que Chico e persiste, fazendo valer o legado que ele deixou e criando coisas novas... enquanto eu saiu de minha casa cantarolando baixinho que "ninguém quer saber o gosto do sangue, mas o vermelho ainda é a cor que incita a fome...".

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Recife, 27 de Abril de 2011.


É estranho dizer isso pq todo mundo gosta de ter um blog visitado e comentado, mas as vezes, não sempre, nem constantemente, sinto saudades desse tempo em que escrevia 100% para mim e a possibilidade de que alguém aparecesse para ler os comentários era bem vaga.

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Recife, 20 de Maio de 2011.


Saudades de ter vontade de postar!