Fim de ano, hora de arrumar as bagunças, sim, "as bagunças" no plural pq eu sou tão banguceira que tenho bagunças diferentes em diferentes lugares!
Uma das minhas mais elevadas bagunças é a bagunça dos livros e é incrível como sempre que vou arrumar essa bagunça especifica me pego pensando nos livros que emprestei e não recebi de volta. Geralmente eu não tenho problemas em emprestar, mas, francamente, quando paro para pensar nos livros que emprestei e nunca mais recebi de volta me da um baita aperto no coração... Sinto falta deles é como perder de vista um tipo de ente querido, fica um vazio simbólico... Aquela sensação de eu tenho e não tenho ao mesmo tempo...
Uma das minhas mais elevadas bagunças é a bagunça dos livros e é incrível como sempre que vou arrumar essa bagunça especifica me pego pensando nos livros que emprestei e não recebi de volta. Geralmente eu não tenho problemas em emprestar, mas, francamente, quando paro para pensar nos livros que emprestei e nunca mais recebi de volta me da um baita aperto no coração... Sinto falta deles é como perder de vista um tipo de ente querido, fica um vazio simbólico... Aquela sensação de eu tenho e não tenho ao mesmo tempo...
Tipo, emprestei meu livro "A Revolução dos Bichos" de George Orwell. Na minha pobre opinião, uma perfeita parábola a cerca de regimes que nascem a partir de revoluções populares, como a Revolução Russa, e acabam virando regimes totalitários... tão cruéis e excludentes quanto o capitalismo, senão piores... Livro adorável, usei ele como linguagem alternativa em uma aula sobre os antecedentes da Revolução Russa, uma experiência pedagógica memorável... emprestei o danado e até hoje, nunca mais tive notícias...
Outro livro que adorei e que perdi de vista para nunca mais, foi "O Rei de Ferro", o primeiro livro da serie "Os Reis Malditos" de Maurice Druon. Ótimo livro, fala sobre os precedentes da Guerra dos cem anos, da um panorama massa da França naquele período de fim do Feudalismo, a consolidação do poder do Rei sobre os nobres e sobre a Igreja. O papa de grande lider passando a apenas um joguete nas mãos de Filipe o Belo, alguns dos grandes mitos históricos, como aquela questão da espoliação dos bens dos templários e a morte do líder da ordem e sua famosa maldição (que ficou mais famosa ainda pela pena de Dan Brown em seu Código Da Vinci). Maurice Druon da show nesse livro, ai sim sabe escrever ficção usando história.
Outro que foi emprestado para nunca mais, foi "O perfume" de Patrick Süskind, também ótimo livro de ficção histórica, virou até filme, eu até hoje não vi o dito, mas dizem que também é ótimo... Na desculpa de falar sobre um assassino que se orienta pelo olfato, Patrick fala sobre a França anterior Revolução Francesa, mas não vida politica e coisa do gênero, ele fala de História da Vida Privada... Amas de leite, infância, sobre como o trabalho infantil era coisa comum na ocidente de então, saúde pública, as corporações de ofícios pré-capitalistas... e tantas coisas mais, personagens históricos se mesclam a personagens fictícios e a história é ótima... e eu emprestei e nunca mais... Resultado, comprei novamente outra edição no sebo.
Outro que tive que comprar uma segunda edição foi "O passado esteve aqui" de Stella Caar, não sou bem fã dessa autora, mas gostei muito desse livro, foi um dos primeiros que comprei na vida, tinha 15 anos quando comprei esse livro, não faz tanto tempo assim... Mas a história tem valor sentimental... emprestei a minha prima, até hoje, acho que ela nem lembra onde deixou o livro. Resultado, um dia desses passei no sebo, vi essa edição e comprei... dessa vez vou pensar duas vezes antes de emprestar.
Mas, de todos os golpes do destino, de todos os empréstimos não devolvidos... O pior, o mais doloroso... foi o da "Metamorfose" de Kafka!
Pocha, ganhei esse livro de um amigo, nós participamos de uma peça de teatro juntos, durante os ensaios falávamos muito sobre livros e coisas do gênero, então pouco tempo depois da apresentação da peça ele chegou para mim e me mostrou uma edição desse livro: "Olha Jaci o que ganhei!" (professores as vezes ganham livros na escola)... Eu: "Pocha que massa! A gente tava falando desse livro outro dia não foi!?!"... Ele: "Foi, então, este eu trouxe pra tu, toma é presente!". Quase que eu choro! Ta bom... eu sou sentimental táh! Emprestei cheia de recomendações... Nenhuma delas funcionou e o livro jamais voltou para mim... As vezes até penso em comprar outra edição, mas sei lá... nunca vai ser a mesma coisa...
Foto com todos os atores da peça, menos eu, estava fazendo não sei o que...
Já estou traumatizada com empréstimos... E se fosse continuar com a lista, ela ficaria infindável... Quase chego a dizer que hoje não empresto mais meus livros, só que isso seria uma conversa mole, eu tenho uma seria dificuldade de dizer não a quem quer que seja e como também gosto de pegar emprestado sei que vou continuar emprestando.
Outro dia um dos meus adoráveis adolescentes passou aqui em casa, estava fazendo um trabalho sobre Fernando Pessoa e precisava de material, emprestei a ele "O eu profundo e os outros eus" e "Mensagem", com o coração na mão, mas emprestei! Ele fez o trabalho, foi muito bem obrigada, demorou um pouquinho, mas devolveu... confesso que já estava de agonia... detesto me separar de "O eu profundo e os outros eus", sei lá... Me dá agonia ficar longe desse livro, mas ele ainda assim não é a Bíblia que não possa sair do meu calcanhar néh?!?!
O único dos meus livros que realmente não empresto é ela: a Bíblia... essa não sai de perto de mim de jeito nenhum... quer uma Bíblia? Eu te dou, mas a minha não empresto! E não é questão de superstição, tenho plena consciência que a Bíblia fechada é um livro qualquer, só que aberta é o livro do meu Deus néh?!?!? Ainda assim tenho esse culete de te-la como algo pessoal e intransferível.
Os outros livros, até sofro, mas não sei dizer não e sinceramente penso que não faz sentido ter livros apenas para mim... literatura tem mesmo é que circular, que ser lida e relida pelo máximo de pessoas possíveis... Só gostaria que as pessoas lembrassem de devolver.