O mundo as vezes nos parece muito grande, na verdade enorme, outras vezes nos parece um pequeno ovo de tão minúsculo e onde pessoas improváveis se encontram e se desencontram para novamente se encontrarem.
Falar de encontros e desencontros não me parece uma coisa fácil, e na verdade não é, nesse tema podemos falar de mil coisas diferentes, faz um mês mais ou menos que tento decidir de que falar e no limiar do momento da escrita, eu penso que não há ninguém melhor para que eu fale agora do que meu querido poeta preferido Fernando Pessoa.
Eu encontrei Fernando Pessoa em um momento de fúria adolescente no meio de uma enciclopédia:
"Não quero nada
Já disse que não quero nada
Não me venham com conclusões
A única conclusão é morrer"
Huhu... poema perfeito para uma adolescente em crise com a família, com o Estado com tudo, quem nunca teve vontade de dizer "vão para o inferno sem mim/ ou deixe-me ir sozinha para o inferno/ para que havemos de ir junto..." que me atire uma pedra.
Mas esse momento de crise passou, sempre passa, a gente não sabe aos 13 anos que passa, mas aos 22 a gente já sabe, se bem que há quem diga que ainda há muito mais para se saber, e sim eu vou descobrir.
No entanto, depois desse primeiro encontro houveram muitos outros, quando eu tive meu primeiro amor e no final das contas o menino dos meus sonhos foi embora e nem mesmo a lembrança de um beijo me deixou eu tive um reencontro com Fernando para aprender a lição que o rapaz apaixonado deu a pobre Lídia:
"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o obolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Hoje penso que foi melhor assim, afinal o meu primeiro amor não me arde, não me fere e nem me move, sua lembrança me é suave a memória, e eu lembro dele assim: "pagão triste e com flores no regaço.".
Depois disso eu posso dizer que me perdi do poeta, eu me desencontrei dele no meio da confusão habitual da adolescência, foram muitas confusões, mas amigos sempre se reencontram e eu me reencontrei com Fernando novamente quando chegou o momento de me afirmar como pessoa livre e eu usei mais uma vez suas palavras para expressar meus sentimentos:
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
E ainda mais que isso, no momento de declarar meu incoformismo com certas coisas que me ocorreram:
"Queriam-me casado, cotidiano, fútil e tributável?
Queriam-me o contrário disso, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!"
Até hoje eu tenho a impressão de que queriam-me o contrario de qualquer coisa, mas eu aprendi com a pessoa do Fernando que sendo assim como sou as pessoas tem que ter paciência!!!
Enfim, foram muito encontros e desencontros, O "Eu profundo e os outros eus" é ao lado da Bíblia e guardada as devidas proporções, uma vez que vejo a Bíblia como verdade absoluta e etc e tal..., ele é meu livro preferido, o que mais me toca o que leio e releio e vou fechando esse texto com uma poesia do livro Mensagem, meu último encontro com Fernando Pessoa foi através desse livro, me encontrei com ele estudando a História Ibérica, afinal Mensagem conta toda a saga portuguesa em versos, um livro encantador, que devia compor as aulas sobre o descobrimento, o mundo Ibérico e derivados e de fato vai compor as minhas aulas, afinal néh eu sou apaixonada pelo homem, de todas as poesias do livro Mensagem a que mais se adequa ao meu último encontro com o poeta, sem duvida é o poema "Mar Português".
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Destaco esse poema, porque nos corredores dos meus estudos sobre história, adivinha qual é o meu objeto de estudo, não, não é a obra de Fernando Pessoa, mas as noivas que ficaram por casar e as mães que choraram o destino de seus filhos.
Enfim, sobre encontros e desencontros esse é meu texto!!! Espero que alguém goste dele!!!