"A verdade é que Laura tem o pescoço mais feio que já vi no mundo. Mas você não se importa, não é? Porque o que vale mesmo é ser bonito por dentro. Você tem beleza por dentro? Aposto como tem. Como é que sei? É que estou adivinhando você." (pág. 08)
"Quando eu era do tamanho de você, ficava horas e horas olhando para as galinhas. Não sei por quê. Conheço tanto as galinhas que podia nunca mais parar de contar." (pág. 13)
Clarice escolhe contar a história de Laura construindo diálogo com a pessoa leitora, cheia de perguntas que buscam nos fazer pensar e cheia de afirmações muito ternas que buscam nos acolher e fortalecer emocionalmente tanto quanto um texto literário é capaz de fazer. Dos quatro textos contidos nesta coletânea, "A mulher que matou os peixes" é aquele no qual a comunicação da autora com os leitores é mais terna e sincera, pois quem matou os peixes foi a própria autora, então esse livro é sobre ela mesma.
Se eu quisesse introduzir a literatura clariceana (essa expressão existe de verdade) na vida de alguém começaria por esse texto. É linda a forma com que ela se apresenta e, através das histórias dos vários animais que passaram por sua vida, conta muito de si mesma de um jeito franco, acessível e até interativo.
"Antes de começar, quero que vocês saibam que meu nome é Clarice. E vocês, como se chamam? Digam baixinho e o nome de vocês e o meu coração vai ouvir." (pág. 23)
"A mulher que matou os peixes" é um texto lindíssimo, cheio de afeto e empatia para com as crianças e seus sentimentos. À medida que vamos nos afastando da nossa própria infância é muito fácil esquecer os sentimentos de medo, tristeza, angústia e desamparo comuns a essa fase da vida. Não é raro encontrar pessoas adultas sem empatia alguma com as aflições infantis, Clarice certamente não foi esse tipo de pessoa adulta, também eu não quero ser esse tipo de pessoa.
"Vocês ficaram tristes com esta história? Vou fazer um pedido para vocês: todas as vezes que vocês se sentirem solitários, isto é, sozinhos, procurem uma pessoa para conversar. Escolham uma pessoa grande que seja muito boa para crianças e que entenda que às vezes um menino e uma menina estão sofrendo." (pág. 43)
"Quem de vocês tiver medo, eu cuido e consolo. Porque sei o que é o medo que as crianças têm porque já fui criança. Até hoje ainda tenho medo de certas coisas." (pág. 47).
Em "Quase de verdade" quem nos conta a história é Ulisses, cachorro cuja dona é a autora que entendendo seus latidos e vai contando aos pequenos leitores uma história de "uma árvore enorme chamada figueira" localizada no quintal de uma senhora chamada Oniria que começou a ter uns pensamentos ruins e vingativos e aí vai se desenrolando uma trama com bruxas, ovos e, claro, GALINHAS.
O último texto do livro é aquele que o nomeia: "O mistério do Coelho Pensante" cuja história foi inventada para homenagear os coelhos de Pedro e Paulo, os filhos da autora. O coelho da história chama-se Joãozinho e resolve fugir toda vez que não encontra comida na sua casinhola. É nessas fugas que ele vive aventuras, aprende a pensar e desenvolve o mistério da história.
"Às vezes também Joãozinho fugia só para ficar olhando as coisas, já que ninguém levava ele para passear. Nessa hora é que virava mesmo um coelho pensante. Foi olhando as coisas que seu nariz adivinhou, por exemplo, que a Terra era redonda.
Só há dois modos de descobrir que a Terra é redonda: ou estudando em livros, ou sendo feliz. Coelho feliz sabe um bocado de coisas." (pág. 76)
Os textos de "Quase de verdade" e "O mistério do Coelho Pensante" são muito lúdicos. Histórias que remetem puramente a infância, a coisas que crianças acostumadas a conviver com animais adoram especular e imaginar.
Fui uma criança leitora. Minha professora da 1ª Série dedicava o horário após o lanche de quase todas as sextas para uma gostosa ida à biblioteca da escola e nós ainda podíamos escolher um livro para levar para casa e foi assim comecei a desenvolver o hábito da leitura. Ler esses textos destinados à infância me fez relembrar o gostinho de ser criança e ler livros com cachorros e coelhos falantes vivendo pequenas histórias insólitas e fantásticas. Bom Demais!
uma graça a capa. esse não conhecia. beijos, pedrita
ResponderExcluirOi Pandora! Eu hoje li um quadrinho que me fez voltar aos meus dias de infância e trouxe um sentimento muito bom. E vejo que este livro parece causar o mesmo efeito no leitor, fiquei encantada e com muita vontade de ler. Bjos!!
ResponderExcluirMoonlight Books
Não conheço as estórias para crianças dessa autora. Mas fiquei com muita vontade de conhecer!
ResponderExcluirBeijo