segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia de festa, saudades e formas de eternidade!

Hoje foi um dia bastante festivo em minha igreja, o conjunto musical foi inaugurado, minha irmã faz parte dele e eu fui convocada a comparecer. Até ai nada de anormal, igrejas tem um calendário festivo grande, grande demais para o meu gosto, diga-se de passagem! O anormal foi que eu decidi me arrumar para a festa de forma normal para o padrão da minha igreja e de forma anormal para o meu padrão!

Incrível como as pessoas olharam pra mim hoje, muitas ficaram sem fala até. As adolescentes, naturalmente mais francas, quase deixaram o queixo cair e fizeram um auê daqueles rsrs...Foi muito engraçado, será que as meninas realmente pensam que nunca subi em um salto agulha na vida e que não tenho nem ao menos um vestido de noite decente no guarda-roupa? Fala sério!!!

A festa foi boa, constatar a reação das pessoas em relação a mim vestida em traje de noite também, mas no final enquanto eu conversava com mainha sobre a nossa igreja local, suas festas, seus problemas e soluções de repente sentimos o peso de uma ausência, a noite teve uma virada em seu sentido.

Ouvi em algum lugar que a morte é uma ladra, verdade, ela nos rouba definitivamente o que temos de mais caro e com o tempo, cada vez mais, começamos a perceber o quão caro é o bem que a morte nos rouba.

Agora estou saudosa de um dos meus amigos que a morte roubou cedo demais de todos nós, ele faz falta na hora da festa, mas faz mais, imensamente mais, falta no dia-a-dia, no cotidiano da escola dominical, nos culto de meio de semana, na rotina de cuidar das crianças, de fazer as coisas acontecer. Faz falta sobretudo na hora de conversar, filosofia, história, sociologia, alegrias, dificuldades, solidão e medo, com quantas pessoas ao longo da vida conseguimos juntar todos esses temas em um conversa???

Nesses momentos de falta é preciso se agarrar a algo que amenize a dor da separação, que ao menos por um pouco de tempo traga nosso ente querido de volta, nesse momento eu me apeguei  a alguns textos de meu amigo que foram publicados no Diário de Pernambuco.

Eu lembro quando eles foram publicados, do orgulho que sentimos, todos nós, a gente fez festa, eu disse a ele que aquela certamente era uma forma de garantir um pedaço de eternidade, já que os jornais vão para os arquivos públicos onde mesmo daqui a 100, 200 anos poderão ser lidos, se bem conservados, e com o recurso da net então, nem se fala!

Hoje, lanço mão dessa forma de eternidade que meu amigo conquistou para si, e compartilho um dos textos que foram publicados no Diário de Pernambuco, como ainda estou festejando o aniversário da cidade deixo aqui "O Recife(anos 50) e a pensão de Dona Bombom", atenua minha saudade ler as palavras e sim, posto pq a virtualidade era tema frequente de nossos papos, acho que Felis ficaria até satisfeito de saber que postei algo dele aqui, talvez até tivesse um blog também a essa altura do campeonato. Quem sabe?

O RECIFE (ANOS 50) E A PENSÃO DE DONA BOMBOM

Em meados do ano passado, fui presenteado por uma amiga jornalista com o livro do escritor pernambucano, Cícero Belmar: " Rosseline amou a pensão de Dona Bombom ". Logo, o título nos remete a uma interrogação: Quem foi dona Bombom? E Rosseline? De início, um exímio prefácio de Amim Stepple, jornalista e cineasta. Depois, somos presenteados com uma bela narrativa que nos remete a um Recife, até então, desconhecido: o Recife dos anos 50.
 
A obra retrata a história da vinda do cineasta italiano Rosseline, um dos maiores cineastas contemporâneos, considerado "um dos papas do neo-realismo italiano", um homem que viria ao Brasil, especialmente ao Recife, para filmar "Geografia da Fome" do sociólogo Josué de Castro.
 
No ano de 1958, Rosseline foi recebido no Aeroporto do Galeão - RJ, por Josué de Castro e por Pascoal Carlos Magno. Hospedou-se no Copacabana Palace. Semana depois, desembarcou no Aeroporto dos Guararapes, acompanhados pelo pintor Di Cavalcanti e por Josué de Castro. Em terra recifense, foi recebido pelo médico Jamenson Ferreira e pelo prefeito da cidade Pelópidas Silveira. Rosseline ficou hospedado no Hotel Boa Viagem. Num "tur" pela Veneza Brasileira, ficou encantado com as belezas naturais, pois durante o dia, Recife mostrava suas belezas naturais e turísticas, à noite, descortinava sua vida noturna, o bairro do Rio Branco era só vida e prazer, não dormia. O "Chanterclair" com sua belíssima arquitetura esbanjava charme e glamour aos mais aristocratas. Os menos favorecidos freqüentavam as centenas de pensões e bares aos redores, era a famosa "Zona". O Porto do Recife viveu dias de glórias. Os marinheiros americanos traziam produtos importados e trocavam por drogas e sexo. Era o Recife das lindas mulheres e dos mafiosos cafetões.
 
Durante sua estada na cidade, Rosseline foi convidado pelo Merchant Aloísio Magalhães e outro intelectual para conhecer a vida noturna . Dentre os pontos turísticos, a pensão / bar de Dona Bombom, uma senhora setentona, localizada na Rua do Rangel, próximo ao Mercado de São José. Por ser mais afastado, reunia rapazes de família e intelectuais ( Aloisio Magalhães, o professor aposentado Zenildo Cavalcante e o arquiteto Austro Camargo ) entre outros. Dona Bombom era uma mulher respeitada naquele meio, possuía as mulheres mais bonitas e formosas. Eram consideradas suas filhas. E um dos seus objetivos era arranjar casamento e marido para elas. Destacaram-se: Bianca e Bibiana, duas irmãs, conhecidas no meio como irmãs "Passarinhos". Rosseline, em sua visita à pensão, encantou-se por uma delas.
 
Rosseline visitou também o sociólogo Gilberto Freire, escritor do famoso "Casa Grande e Senzala" em seu sobrado em Poço da Panela em Casa Forte. Lá, o patriarca fez questão de receber a ilustre comitiva em seu belo jardim, cercado por mangueiras e pitangueiras. Uma recepção impecável, regada a bolo de rolo e licor de pitanga. Iguarias pertencentes à culinária da família Freyriana, eternizada em seu livro "Casa Grande e Senzala"."Rosseline amou a pensão de Dona Bombom", é uma obra belíssima , uma verdadeira retrospectiva sobre o Recife dos anos 50 e sua cultura, um livro para ser lido e relido à sombra de uma mangueira, degustando um saboroso bolo de rolo, tomando um delicioso licor de pitanga.

José Felismino
Professor e educador
Texto disponível em link

sábado, 19 de março de 2011

Recife, um livro e um sorteio!

Março foi o mês de aniversário do Recife, o dia passou e não fiz uma postagem porque sou adepta dos versos de Drummond onde ele diz:

"São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora."

Então deixei o dia do aniversário passar para falar do meu amor por essa cidade cheia de dicotomias, calor, riqueza, miséria, História, pessoas que amo, sonhos, ilusões perdidas e tudo o mais. Carlos Pena Filho em seu Guia Pratico da Cidade do Recife escreveu no Inicio que:

"Hoje, serena, flutua,
metade roubada ao mar,
metade à imaginação,
pois é do sonho dos homens
que uma cidade se inventa.
"

Tudo verdade, toda cidade nasce da imaginação dos homens, não apenas Recife, verdade também o que ele escreve no fim do poema:

"Recife, cruel cidade,
águia sangrenta, leão.
Ingrata para os da terra,
boa para os que não são.
Amiga dos que a maltratam,
inimiga dos que não
este é o teu retrato feito
com tintas do teu verão
e desmaiadas lembranças
do tempo em que também eras
noiva da revolução"

Recife é mesmo uma cidade cruel, com a miséria a encher as favelas, desigualdade, altos índices de violências, psicopatia dos policiais, falta de vergonha dos políticos, truculência de alguns prefeitos, obras paradas, homens mendigando o pão, nas palavras de Francisco de Assis França, o Chico Science:


"... a cidade se apresenta centro das ambições
Para mendigos ou ricos e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs
A cidade não pára, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce..."

Penso eu que é nessas subidas e descidas, nessa brincadeira de sonho, luta, realização, vitória e fracasso, encontros e desencontros entre os  "de cima" e os "de baixo", que a História da cidade é vivida, sentida e constantemente escrita e reescrita.

E que cabe a cada um de nós que aqui nascemos e vivemos nos orgulhar de quão interessante são essas histórias. Como diz o titulo do livro de Lenice Gomes e Hugo Monteiro Ferreira é possivel titular essa urbe quente e problematica como:

"RECIFE: cidade das pontes, dos rios, dos poetas e dos carnavais."


E já que citei o titulo, já vou falando desse livro infantil que de forma bem didática conta a História do Recife desde seu inicio lá no longínquo século XVI, especificamente no dia 12 de Março de 1537, com o nome de "Vila de Ribeiro do Mar dos Arrecifes" onde residia um pequeno grupo de pescadores sem importância nenhuma. Aliás, economicamente importante mesmo eram os riquíssimos moradores de Olinda, a cidade da açucarocracia portuguesa na América, pq sim, naquela época todos os homens livres existentes nessa terra se consideravam muito portugueses, brasileiro era quem carregava pau-brasil.


Ele conta os episódios marcantes de nossa história, a presença holandesa por essas bandas de cá,  a primeira ponte das amaricas, a história de um boi voador de mentirinha, a Guerra dos Mascates, a vida as margens dos rios Capibaribe e Beberibe.

Notem que há a branca, a negra e o indiozinho fazendo o boi!
O século XIX e um tal de processo de modernização que fez nascer espaços como um certo Teatro Santa Isabel, também são citados, assim como as várias revoluções que nasceram sobre nosso chão quente, como a Revolução de 1827, a Praiera e a Confederação do Equador. A presença da escravidão, a chegada do século XX, os nossos poetas, os Carnavais.

Notem negros e negras trabalhando na frente do teatro!


Interior do Teatro: um dos meus fofos da igreja esta ai tocando violino!

No geral eu gostei do livro, ele da conta da história oficial da cidade com uma certa graça e a Tati Moes se inspirou nos grandes artistas que pintaram a cidade em outros tempos e fez um trabalho muito lindo como ilustradora. Da até orgulho de ser recifense!

Ao longo dos últimos três meses eu vi muita gente falando de suas cidades, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém do Pará e tantas outras, cada uma tendo um motivo para amar seu espaço, sua cidade, seu lugar. Se bairrismo demais é ignorância, uma pequena dose não faz lá tão mal aos dentes néh!?!? Se orgulhar de sua própria história as vezes faz bem e aqui deixo o meu registro do orgulho que tenho de ser recifense.

___________

Ah, quase esqueci, se você gostou do livro, achou ele interessante, ficou afim de conhecer ele pessoalmente e saber um pouco mais sobre a história de minha cidade eu tenho uma boa noticia pra você:


Eu tenho dois e é só você deixar um comentário aqui que um deles pode ser seu, porque sábado que vem eu vou sortear esse livro entre os que comentarem nesse post \o/

quinta-feira, 17 de março de 2011

Vida de Historiadora é dificil????

Vida de historiadora é difícil??? Não, se vc gosta da brincadeira, decididamente não é difícil, é até agradável, mesmo com cheirinho de mofo, garranchos terríveis de padres que devem está queimando no fogo do inferno desde o século XIX por terem letras tão enganranchadas!!!

Será que seria pedir demais que eles pensassem nos pobres historiadores do século XXI que iriam precisar ler o que eles escrevem e caprichassem um pouquinho mais na legibilidade das palavras????

E sim, para vocês acreditarem que o que falo é verdade, deixo as imagens que fiz em um dia em que o tedio tava me dominando!

Eu totalmente desiludida, decidi tirar essa foto, pq não consegui achar quem estava procurando, a mascara é necessária, minhas alergias recomendam:

 

Pra ninguém achar que eu estou mentindo, tentem ler esses garranchos terríveis:


Acredite eu vi pagina por pagina de vários livros desses?

Alguém ai já ouviu falar de semi-branca?


Sim, essa conversa de vida difícil, é bobagem, eu gosto tanto de pesquisar quanto gosto de lecionar, amodoru minha profissão\o/ com toda a sua problematica! Cansada, preocupada, mas feliz da vida!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Noite na Taverna e as experiencias com a virtualidade.

Andando essa semana pelos corredores de uma dessas lojas enormes que vendem de tudo, mergulhada até o pescoço na busca de uma amiga pelos melhores preços me vi diante desse livro que dá nome ao post: Noite na Taverna de Álvares de Azevedo.

Álvares de Azevedo é um velho conhecido meu, conheci ele entre as estantes da biblioteca da minha escola através de uma edição velha e surrada de Noite na Taverna e Macário.

Noite na Taverna fala da conversa de uns amigos altamente alcoolizados em um bar em meio a cachaçada eles começam a contar suas histórias e que Deus tenha misericordia de nós pq uma é mais macabra que a outra... Lembro que eu li esse livro de olhas arregalados o tempo todo. É delicioso, adorei \o/.

Ah, Macário é uma peça que o Álvares estava escrevendo pouco antes de morrer de tuberculose, não deu tempo dele concluir, mas ainda assim, parar a vida e ler Macário é uma boa pedida em qualquer tempo \o/

Mas, não é bem dos livros ou minhas impressões adolescentes sobre eles que eu estou afim de falar.

O que achei interessante e deu vontade de postar é que quando peguei no livro, lembrei automaticamente do Senhor Verden do Delirios e Surtos de Roderick Verden. Fiquei folheando o livro e lembrando do blog, dos posts sobre o Allan Poe, das imagens de filmes de terror clássicos e claro das musicas de Pink Floyd. É, eu ri lembrando disso e sim, enfrentei a fila e trouxe o livro pra casa \o/

Não me canso de constatar o quanto essas relações mantidas através do computador se imbricam na vida concreta que construimos com nossos corpos, como a vida que construimos nos corredores  insólidos da net se misturam a vida que construimos em nossas cidades feitas de pedra, cal e caus. 

Acho fabuloso como os amigos virtuais se tornam concretos, como a medida que nós levamos a virtualidade a serio ela começa também a nos levar a serio e essas novas experiências nos modificam, incluem novos sentidos, nos fazem ouvir e ver as coisas de uma forma diferente.

As vezes me pergunto se os meus queridos amigos virtuais, cujos blogs, orkuts, perfis yahoodianos e caixa de e-mail frequento seriam amigos se em vez de encontra-los no mundo onde as pessoas são feitas de bits e bytes eu as tivesse encontrado no mundo onde as pessoas são feitas de carne e sangue. 

Possivelmente metade dos meus queridos amigos/colegas/companheiros de virtualidade seriam apenas sombras que passam, desconhecidos que se cruzam e permanecem desconhecidos... Lamentável!

Mas, a parte as suposições, ainda bem que existe a net e que dentro dessa grande maquina que nunca se desliga podemos encontrar pessoas diferentes, conversar, viver novas experiências e vez em quando, ou vez em sempre, cresce no processo de descobrir reflexos de universos particulares presos ou libertos em blogs e derivativos. Magnífico!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Eu confesso!

Medo de Amar
Vinicius de Morais

O céu está parado, não conta nenhum segredo
A estrada está parada, não leva a nenhum lugar
A areia do tempo escorre de entre meus dedos
Ai que medo de amar!

O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam
Entre elas e eu, que imenso abismo secular...
As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio
Ai que medo de amar!

Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo
Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar
Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco
Ai que medo de amar!

Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso
E parto a cantar canções, sou um patético jogral
Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...
Ai que medo de amar!

E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço
Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar
Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço...
Ai que medo de amar!
__________________

Nos últimos tempos ando conversando tanto com minhas amigas sobre amor (parece que até na blogosfera esse tema me persegue) que eu acho que me rendo, eu admito, faço minha confissão... O problema não é peso, a altura ou a profundidade... O problema único, raiz de todos os outros é o medo... Tenho mais medo de amar do que tenho medo de pimenta e sim não pense que eu não tenho motivo para temer pimentas \o/. Enquanto eu não vencer esse medo não posso admitir ninguém por perto, simplesmente da mesma forma que não quero ser magoada, não quero magoar ninguém... Por hora, eu continuo sendo, nas palavras de uma querida amiga, "uma das pessoas mais fechadas para relacionamentos", lamento, espero que isso mude em breve e que pimenta volte a ser meu único pavor noturno e enquanto esse dia não chega me permito ficar apenas sozinha, mesmo que as vezes esse tipo de solidão me pese!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Recomeçando em festa \o/

Eita, lá se foi o Carnaval, mas decididamente não estou em cinzas, pelo contrario, estou em festa \o/!

É que a Irene do M@myrene, que ganhou Persépolis no sorteio da blogagem coletiva recebeu o livro e me mandou as fotos e deixou eu publicar aqui \o/!

Irene super linda\o/
Uma vez mais obrigada Irene, pelo carinho, por ter participado, por ter mandado as fotos!!!

E sim, eu gostei muito dessa proposta de Blogagem Coletiva e já estou pensando em novas possibilidade \o/ Adoro presentear!!!

E sim[2], Alexia não esqueci de você viu!

E sim, meu ano recomeçou em festa!!!

terça-feira, 8 de março de 2011

Blogagem Coletiva - Amazônia e Seus Povos

A Bia do Jubiart está comemorando o primeiro aniversário de seu blog e a festa dela inclui essa blogagem coletiva, como eu realmente gosto de participar de blogagens coletivas cáh estou eu e vamos lá, falar um pouco sobre a "Amozônia e seus povos", no caso optei por falar um pouco da história da Amazônia, pq sim, eu não resisto a tentação de falar de História.

E para começar vou logo dizendo que esse é um tema um tanto quanto difícil de se falar, afinal a Amazônia, como tantas outras coisas referentes a América, a Ásia e a África foram envoltas pelos Europeus ao longo dos século por um manto de exotismo que muita vezes cega nossa visão para a realidade.

Um historiador francês (que também é um fofo super educado) Serge Gruzinski, escreveu uma vez que "o exotismo não é apenas um fornecedor de clichês. Na melhor das hipóteses é a maneira pela qual o Ocidente costuma, por toda parte, imprimir sua marca.". É ainda Gruzinski que me alertou em seus textos que a Amazônia é um tipo de reservatório que alimenta a muito tempo a nossa sede de exotismo e de pureza cultural, segundo o francês, e eu concordo com ele:

"Tudo conspira para isso. Na foz do Amazonas, as bodas da Terra e do Oceano confundem nossos pontos de referencia e tornam o terreno quase impenetrável... No interior o mar de vegetação que sobrevoamos horas a fio lembra inevitavelmente a virgindade de uma natureza ainda preservada da civilização e de suas poluições... a Amazônia parece oferecer a muralha de suas florestas gigantescas e de seus rios intermináveis a uma humanidade durante muito tempo isolada do resto do continente, e que, imaginávamos, só há pouco tempo teria sido entregue a cobiça dos brancos."
(GRUZINSKI, Serge. O pensamento Mestiço. pág. 29)

A Amazônia excita a imaginação de filósofos, estudiosos e derivativos desde o Renascimento. Espanhóis, portugueses, franceses, ingleses e italianos, os primeiros exploradores ocidentais dessa imensidão sem fim, voltavam-se para ela em busca de eldorados e jardins de Hespérides, um tipo de paraíso perdido onde os bons selvagens conservam sua pureza.

E nessa brincadeira a gente acaba de esquecer que desde a época do descobrimento que a Amazônia cedo conheceu os mercadores europeus que incluíram na vivência dos "índios" desde facões franceses até fuzis holandeses, desde o Renascimento esse povo descia o Amazonas a partir de Belém desbravando a grande floresta e promovendo mestiçagens culturais a torto e a direito. Durante o século XVIII o Marquês de Pombal com sua politica esclarecida organizou a militarização desse espaço, com construções militares e urbanização que levou Belém a receber arquitetos, desenhistas, cientistas, missionários e funcionários encarregados de estudar a população nativa.

A História da Amazônia e seus povos é longa e se reflete no presente em Belém por exemplo, ainda nas palavras do francês baixinho, popularmente conhecido como Gruzinski:

"Belém, a capital da Amazônia ocidental, é uma mistura de cidade colonial construida no século XVIII por um arquiteto italiano, de Paris da belle époque e de modernidade caótica cercada de favelas. Os palacetes neoclássicos do bolonhês Landi, as casas em ruínas do inicio do século XX, os prédios de classe média e os bairros de tábuas curvadas sobre esgotos ao ar livre compõem um conjunto tão inclassificável quanto heterogêneo."
(GRUZINSKI, Serge. O pensamento Mestiço. pág. 25)

Bem, muito do que escrevi aqui aprendi lendo Gruzinski e pouco tempo depois de ler o livro dele tive a oportunidade de conhecer Belém junto com um grupo de amigos meus, foi uma experiência óptima. Belém é tudo isso que Gruzinski falou e talvez ainda seja muito mais, a baixo vou colocar algumas das fotos que tirei enquanto estava por lá e sim, lembrando que não sou fotografa e minha câmera digital não é bem a oitava maravilha do mundo tecnológico, mas ainda assim são fotos que amo e guardo com todo o prazer de quem visitou e fotografou um lugar pelo qual já havia se apaixonado antes mesmo de conhecer pessoalmente.

A Igreja do Círio de Nazaré, foi um dos lugares mais marcantes de Belém, ela é impressionante:


Verdadeiramente grandiosa em suas estruturas:


O interior é cheio de imagens de mulheres que marcaram as histórias bíblicas, vale um post só para ela, um dia ele virá:


Belém também é o lugar onde nasceu a Assembleia de Deus, no inicio do século XX,  estamos comemorando nosso centenário, e tudo começou em Belém:


Vista do Mercado do Ver o Peso:


O rio Guamá, domina a paisagem


Na margem direita do rio Guamá fica a Universidade Federal do Pará, tomar o café da manhã as margens desse rio não tem preço:


 O rio Guamá é navegável, impressionante não?



Até hoje não sei direito o que é isso, mas adoro essa imagem:


Forte do Presépio, foi construído em 1616, hoje é um museu:





Relogio das Quatro estações, estetica francesa, herança do ciclo da borracha, se não me engano:

domingo, 6 de março de 2011

Contos de fadas, príncipes e princesas.

Eu poderia começar dizendo que "quando era criança adorava contos de fadas, príncipes e princesas!". Não seria uma mentira, mas também não seria uma total verdade.


De fato, quando criança eu adorava contos de fadas, histórias de príncipes e princesas, fadas, bruxas e duendes, desde aquelas cuja Bíblia narra passando pelas de Charles Perrault, dos Grimms até os de Hans Christian Andersen, mil vezes fofo em sua forma doce de contar histórias profundas, mesmo que nem sempre tivessem o óbvio final feliz.

Sempre que lia Andersen sentia que aquele autor tinha confiança na minha infantil capacidade de compreender que a vida não era só flores e que nem sempre o final seria o irreal "... viveram felizes para sempre". Uma vez adulta é fácil perceber o cuidado de uma autor que tinha a intenção de através de seus escritos retratar o seu olhar sobre a vida e o mundo que o cercavam. Enfim, como não se emocionar lendo A menina dos fósforos ou A pequena sereia?

Uma história de Natal, muito real!
Quando li esses contos pela primeira vez chorei até dizer basta, como já era noite, fui dormir com dor de cabeça e devo ter deixado lágrimas no travesseiro enquanto Mainha dizia: "Deixa de ser besta Jaci, é só um livro!"  Quem dera fosse, as vezes o livro é o espelho da vida e a vida quase sempre a vida é cheia de histórias tristes de fazer chorar lágrimas sentidas.

No meio do frenesi do Natal quantas vendedoras de fósforos existem dispersas pela cidade, filhas de ninguém, sendo exploradas por alguma pessoa, sentindo saudade de alguém que amam, desejando aquela vida de comercial de Natal? E quantas histórias de amor são como a da pequena sereia (mas não a da Disney pq essa ficou açucarada demais) quantas pessoas oferecem "o céu meu bem e o seu amor também" e acabam virando espuma no mar da vida do outro?

Uma história de amor real também!
Aliás, entre os contos que marcam por sua capacidade de falar do mundo real, não consigo deixar de lembrar de Chapeuzinho Vermelho. Quando li a versão de Perraut, que diferente da versão dos irmão Grimm, nos apresenta um conto onde o Lobo come a avó, a menina e não existem nem caçadores nem finais felizes, me impressionei bastante naquela época.

Mas não tanto quanto me choquei com a versão contada durante o século XVIII pelos camponeses franceses não alcançados pelas suas luzes dos tão racionais filósofos Iluministas.


Outro dia reencontrei essa história entre os escritos de Neil Gaiman, mas especificamente em The Sandman, vol. 13 publicado em Fevereiro de 1990.  É incrível como sempre soa assustador constatar que violência contra a criança é uma coisa tão antiga em nossa história e que verdadeiramente recente é a categoria infância.

Até bem pouco tempo atrás crianças eram tidas como adultos pequenos, tenho ciência disso, mas, ainda assim, fere a minha sensibilidade do inicio do século XXI constatar através de histórias infantis que, a despeito do que reza a lenda, antigamente o mundo não era tão melhor do que hoje em dia, que violência sexual é uma constante desde sempre e a diferença entre ontem e hoje talvez seja apenas a forma como perpetuamos a memória dessas violências e a reação que podemos ter diante delas.

Os franceses não iluminados do século XVIII reagiam a histórias assim contando-as em suas rodas de conversa diante de fogueiras aos sussurros, fazendo metáforas com lobos, hoje nós escrevemos em blogs,  lemos em jornais, assistimos em noticiários sensacionalistas, temos a falsa impressão de que o que se fala é uma novidade digna do fim dos tempos, quando na verdade a violência é apenas uma continuidade no terreno da história humana sobre a terra! Não é de hoje que lobos espreitam crianças, talvez apenas a selva é que seja outra. Definitivamente assustador!

Lobo Mau e Chapeuzinho vermelho, Gustave Doré.
Assustador também, mas não igualmente, é perceber como até hoje os contadores de histórias infantis são competentes na arte de retratar o presente, mesmo quando tentam com sua arte retratar o passado. Recentemente tive contacto através de minha linda amiga Costureira com dois livros muito doces, ambos contendo histórias de príncipes e princesas, com fadas, magicas e encantamentos... lindos mesmo, tanto que até agora estou tentando decidir qual dos dois foi o mais encantador se "O casamento da Princesa" de Celso Sisto ou "Nina África" de Lenice Gomes, Arlene Holanda e Clayson Gomes.


Os dois fazem parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE/2010 e contam histórias que visam resgatar a memória simbólica de uma África ancestral onde homens e divindades viam por inúmeras vezes suas vidas se cruzarem e se trançarem em histórias as serem contadas e recontadas através dos séculos, atravessando se preciso até mesmo a grandeza do Oceano Atlântico para chegar aos ouvidos das crianças do século XXI.
Abena, que andava junto com a beleza.
Nesse intuito "O casamento da Princesa" é uma adaptação de um conto popular da África Ocidental, a princesa em questão é a jovem Abena, a bela que conquista para si o amor do Fogo e da Chuva e se vê em meio a um difícil dilema quando a Chuva conquista seu amor e sua promessa de casamento e o Fogo conquista a simpatia e bênção de casamento do seu pai.

Chuva conquistando com boa conversa o amor de Abena!
Diante de seu dilema é proposto uma competição, os dois Chuva e Fogo disputarão a mão da princesa em uma corrida. Lindo livro, lindo trabalho de Simone Matias, as ilustrações são belíssimas, inspiram o sonho, como deve ser todo livro infantil. Mas, me pergunto diante da história de Abena e seus príncipes até que ponto ele fala da África de séculos atrás ou da África de hoje que se destaca nas Olimpíadas e Maratonas da vida com seus corredores quase inumanos de tão velozes.

Abena conversando com seu pai, sobre o melhor pretendente.
Ou mesmo das mulheres de hoje que pretendem escolher seu príncipe entre aqueles que antes de quererem a bênção do pai, querem cativar seu coração com palavras e sonhos. Nós educamos nossas meninas para fazerem valer suas escolhas, isso é muito novo na história da educação feminina, a bem pouco tempo atrás as histórias ensinavam as meninas a acatarem a vontade do pai.

Mas, "O casamento da Princesa" desde o principio que é uma adaptação e não a versão original, então desde sempre nós sabemos que trata-se de uma história do passado narrada a maneira do presente. Não é o caso de "Nina África", pq nele os autores se propõem a escrever "Contos de uma África menina para ninar gente de todas as idades".


E sim, Maurício Veneza da um verdadeiro show visual em Nina África. Simplesmente PERFEITO, com letras grandes mesmo, que é pra da ênfase ao trabalho fantástico que ele fez nesse livro. Ficou muito rico, mas se o titulo e o subtítulo nos fazem pensar que o livro vai tratar de contos que remetem ao passado dos povos africanos o livro passa longe disso.

Embora traga história gostosas de ser ler e de se conhecer e seja um trabalho onde texto e imagem se cruzam e dialogam com uma beleza ímpar, os autores falaram muito mais da ideia que temos hoje da África e de seus povos do que de histórias antigas, nos contos encontramos muito mais da África de hoje que da África de ontem, com direito até a deus vento que vem a terra para jogar futebol.

É, de fato, eu poderia dizer que "quando era criança adorava contos de fadas, príncipes e princesas!" e não seria mentira, porém, mais coerente com a verdade seria dizer que até hoje sou louca por contos de fadas, mitos, lendas, histórias que contam por símbolos e pretensas fantasias sobre vida, morte, amor, perda, perdão, meandros da vida que os homens fundaram e construíram ao longos dos milênios nesse globo girante que tem 70% de sua superfície coberta por água, mas que mesmo assim chamamos de Terra.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Surpresas: o que eu não ia escrever hoje!

Eu não ia escrever sobre isso hoje, estava as voltas com um texto totalmente diverso das linhas que começo a digitar agora, mas não resisto, paro tudo e me entrego ao prazer de escrever sobre essa sensação boa que sinto correndo pelas minhas veias.

Tive um bom encontro hoje e uma boa surpresa o que eu pensei que seria uma relação de forças difícil de se estabilizar se tornou algo até bom de se viver, as pessoas nos surpreendem e definitivamente  a primeira impressão não é a que fica. A impressão que fica é aquela que construimos com a convivência, com a troca, com o dialogo. 

As vezes as pessoas que parecem mais difíceis são as mais fáceis, as aparentemente mais fáceis são as mais difíceis e chatice em si não é um defeito, as vezes é até uma virtude!

Lembrei que uma das pessoas que me soou mais intelectualmente intimidativa (talvez a mais intimidativa que conheci até hoje) de repente se tornou alguém a quem chamo de irmão. 

Ah, acrescento que existem flores que nascem nos lugares mais inesperados e que sempre e constantemente um "Pode contar comigo!" é uma expressão cujo valor excede toda a prata e ouro que existem no mundo, companheirismo não tem preço!
 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Quem sou eu no mundo de Jane Austen?

Pois é, toda vez que começo uma postagem com esse "Pois é..." sinto que vou falar de algo inusitado bobo que fiz. rsrs...

Pois é, dessa vez a bobice que fiz foi o teste para saber que personagem de Jane Austen sou eu, até porque sou fã da inglesa, gosto muito dela, ela é o tipo de autora que nos premia as leitoras com finais felizes e heróis que se não são perfeitos chegam muitíssimo perto de serem. Afinal, quem se percebeu diante de Orgulho e Preconceito e não se apaixonou por Darcy?

Os romances dessa inglesa são sempre um sonho, coisa para se ler e reler por todos os anos de nossa vida e de quebra fazer as outras pessoas lerem também néh.

Porque sim, eu tenho essa mania, quando gosto de um livro, falo pra todo mundo, comento os trechos, explico passagens da história, empresto uma adaptação para o cinema que tenha a mão, faço tudo para que alguém que convive comigo venha a ler o livro e comentar também \o/. Uma de minhas amigas uma vez me acusou de ser sedutora, néh fogo, se fosse tão sedutora não estava encalhada solteira a muito mais de ano buaaaa... :'-(

Enfim, as meninas sempre me identificam com as heroínas agitadinhas de língua afiada e olhar critico tipo Elizabeth Bennet, mas sim, eu fiz o teste e para minha total surpresa me identificaram com Anne Elliot de Persuasão. Nem preciso dizer que fiquei cheia de mim néh, Anne é uma das minhas personagens favoritas. Gostei \o/