domingo, 11 de julho de 2010

Fernando Pessoa_ Alvaro de Campos

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Como fui desenhada..

Nos últimos dias tenho mexido bastante nas artes do meu irmão, não que eu não conheça a produção dele muito bem obrigada, mas tem épocas que eu olho mais tem época que eu olho menos... acho que é pq tem época que ele produz mais e época que ele produz menos...

Mexendo eu reencontrei comigo mesma, claro que faz um tempão que eu peço para ele fazer um desenho meu, claro que eu queria um desenho mais parecido com o que ele faz das amigas dele, claro que ele não fez... a principio eu fiquei abusada... mas bem depois eu descobrir que ele tinha feito o meu desenho bem antes que eu pedisse, quando vi estava lá e claro, gostei do titulo, embora eu continue querendo um desenho no qual eu apareça sorridente e tão natural como um copo de  Kisuco, eu me reconheço nessa imagem como não me reconheceria em uma imagem colorida.

Ah, como sou do tipo que considera a arte uma representação da realidade, sempre acho curioso que meu irmão tenha me representado dessa maneira... mas sempre fico orgulhosa de que ele considere o meu desenho o melhor!!!! A gente briga mas a gente se ama...


O melhor (Jaci no paint)

Mechendo nas coisas do meu irmão...

Cê sabe que as canções são todas feitas pra você
E vivo porque acredito nesse nosso doido amor
Não vê que tá errado, tá errado me querer quando convém 
E se eu não tô enganado acho que você me ama também

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Como ele diz: todo mundo gosta da dualidade, então pq eu seria diferente? Gosto dessa dualidade, acho curiosa a forma como os discursos se encontram de uma forma ou de outra... e a arte segue representando as infinitas formas de se viver!!!

sábado, 10 de julho de 2010

Doce Manuela: uma história deliciosa!!!


Júlio José Chiavenato diz algo interessante:

"Abomino esse negócio de literatura "infanto-juvenil". Literatura é ou não é. Existem as gradações, ninguém nasceu Machado de Assis. Mas literatura é ou não é."

Eu concordo amplamente com ele, literatura é ou não é, e Doce Manuel, um pequeno romance escrito por Chiavenato só pode ser classificado com um livro delicioso, me apaixonei por ele a primeira vista, logo na primeira linha: "Nem cravo nem canela. Pretinha." (pg. 7).

Foi amor a primeira vista, em um país onde chamar alguém de negro é ofensa, pq o negro está simbolicamente associado a tantas coisas não tão boas que o próprio negro não gosta de se reconhecer como tal e comumente se embraquece  de várias formas e é muito comum que homens e mulheres de cor prefiram ser morenos e morenas, mestiços, mulatos, qualquer coisa menos negros e negras é muito lindo ver um autor começar a descrever o seu personagem como pretinha e a partir daí construa um personagem incrível, maravilhoso, realmente doce! Realmente é muito dificil colocar defeito nessa obra!

E se já é tempo de desconstruir essa imagem de que o negro é feio e de que ser negro é ruim, tudo bem que se pode dizer que no Brasil a essa altura do campeonato ninguém é realmente preto ou branco, azul ou vermelho, nós somos misturados demais, mestiços mesmo.

Mas, seria hipócrisia gravissima dizer que não existem preconceitos de cor no Brasil,  que não há diferença entre ter a pele negra e a pele branca e a começar por minhas experiências pessoais, passando pelas experiencias de amigos e amigas e terminando com as leituras feitas na area, posso ver claramente que  existe muita diferença entre ser branco e ser negro no Brasil.

E se essa relação entre homens e mulheres negros e negras e homens e mulheres de cor clara é marcada por diversos preconceitos, que começam nos descaminhos da história e culminam com práticas sociais, Chiavenato dá com Manuela mais um passo para desconstruir no Brasil a ideia de que ser negro é ruim. Se homens e mulheres de cor tem uma história de dificuldades, trabalho e sofrimentos junto com essa história de opressão existe uma história de resistência, sobrevivencia, lutas e vitórias nos mais diversos lugares da vida social...

Se houve opressão houve também resistência e entre o Zumbi e o Pai João, homens e mulheres de cor viveram uma história da qual todos podemos nos orgulhar, uma história que a personagem Manuela encarna muito bem, uma história que é de todos nós.

Ao compor sua personagem o que Chiavenato mais faz é fugir de alguns estereótipos, Manuela é inteligente, possui um raciocínio rápido, é determinada, trabalha duro e estuda pesado todos os dias... Ela encara a vida de frente, enchegar uma oportunidade e se esforça para aproveitar essa oportunidade. Ela tem força e ternura e apesar das dificuldade que passa em sua rotina, que não são poucas, vai lutando e conquistando espaços.

Ela estuda em uma escola pública que tem uma caracteristica peculiar, pela manhã estudam na escola os filhos da "burguesia", crianças de classe média, e a tarde as crianças da periferia. Por uma sucessão de acasos e coisas do gênero Manuela acaba indo estudar no horário da manhã, então ela se torna "a negra da manhã" (pg. 18), e ela segue estudando de maneira que "Dez anos depois, com um metro e oitenta e oito, está no segundo colegial. Já não a estranham. Só que Manuela sabe 'Eles me aceitam, tudo bem, mas sou a negra da manhã." (pg. 18). E essa menina, ao contrario do que alguns pensam não é traumatizada, afinal, nas linhas do pensamento da própria Manuela, "Pobreza não é trauma... Se morre alguém, fico triste, mas não me abalo. O que me angustia é viver como bicho. Pior que bicho, tem cachorro que... A miséria é que deprime." (pg. 8,9).

A menina é forte, perdeu a mãe, trabalha para sustentar o irmão, estuda, cuida de uma tia velha, leva a vida como pode, é orgulhosa, firme, mas também se abate e tem um ponto chave da história que a menina leva um tombo da vida e desse tombo nasce uma queda que quase leva nossa pequena heroína de todos os dias a quase desistir, mas não final das contas ela recebe a ajuda bem quista, a ajuda necessária. Ninguém consegue vencer a miséria sozinho, não existem super-humanos e não é o caso dessa heroína, ela não é uma super humana, acima do bem e do mal, se ela não é um Pai João manso e conformado, também não é uma reencarnação de Zumbi lutando com a força dos orixás acima do bem e do mal.

No final das contas, Doce Manuela é um livro escrito por alguém muito antenado com as discussões a cerca da história do Negro no Brasil, da História e Cultura Afro-brasileira e da própria realidade brasileira, muito bem escrito, muito bem pensado, carregado de várias discussões super interessantes, tais como: o papel da escola na vida dos sujeitos, o papel do professor, o peso do discurso jornalistico na sociedade, a importância da prática de algum esporte dentro da escola, as leis, o comportamento do poder publico e etc... tudo isso em um livrinho de 125 páginas... Fiquei tão apaixonada quanto absurdada com essa história... tanto que vale um post, dois, três...

E embora o livro esteja classificado como literatura infanto-juvenil, ele realmente é LITERATURA e faz tudo que um livro tem que fazer, ele nos convida a pensar o mundo que nos cerca, a nossa realidade e o que a sustenta fazendo um convite intelectual a nos posicionar-mos a tentar-mos mudar, nos reinventar... A história de Manuela é a história de tantas meninas e meninos, negros e brancos, é uma história encantadora, não tem o final de novela das oito, não é uma epopeia... é apenas uma história linda, sem fins dignos de princesa da Disney e nem de heroína global, aqui não temos uma Helena.

E sobre Júlio José Chiavenato, sobre o qual eu poderia escrever muita coisa também, que é jornalista,  auto-didata e que escreveu o livro "Genocídio Americano - A Guerra do Paraguai" (Brasiliense), questionando a história oficial do conflito, um livro de 1979, ou seja, já foi amplamente criticado, mas que oferece uma visão alternativa do conflito na qual nós não somos heróis, sobre ele deixo as palavras dele e quem quizer saber mais o linck de uma materia da Folha Online:
"... sou uma Manuela da vida. Apenas não tive a sorte de fechar o set, fazer o ponto final. Taí: é horrível escrever sobre a gente. Deu a entender que espero um vitória, uma conquista. Nada disso.
O que espero é um mundo em que o amor e a esperança vençam. Isso não depende da literatura, nem que eu ou você fechemos o set. Depende de toda uma mudança das estruturas, e tome etc., etc. e etc."
 (pg. 128).

Referencia:

CHIAVENATO, Júlio José. Doce Manuela. São Paulo: Moderna, 2003.

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PS.: Quase esqueci de agradecer a Go por ter me emprestado o livro: Valeu, adorei a leitura!!!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A arte é uma representação da realidade e meu irmão sabe representar a realidade muito bem!!!

No coração das trevas estou
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Sempre admiro a arte do meu irmão, quando ele está com algo na cabeça ele consegue transformar  imagens perdidas em algo encontrado... Incrível... esse desenho nasceu de uma mancha na parede(e de algo mais, na minha opinião pessoal)... Ah, assim que vi essa imagem lembrei de uma música de Nação Zumbi que diz: "o vermelho ainda é a cor que incita a fome", mas  a essência azul que existe em todas as coisas sempre está lá para  equilibrar  as coisas, afinal "ninguém quer saber o gosto do sangue"

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Reta final nos preparativos da EBF

Correria geral, sai do trabalho corre para a casa das meninas, reunião... reunião... reunião, faz material, refaz materia... escreve, recorta, cola... corre mais... meus dedos estão quase todos cortados, eu cortei minha mão com papel, isso mesmo o papel cortou meus dedos... Isso parece mentira, mas sempre corto meus dedos com papel e com meu próprio cabelo... É uma coisa séria!

Na reta final estamos fazendo a faixa de divulgação:

E outros cartazes mais:

Cartaz para para a sala dos meninos e meninas de 09 a 10 aninhos.

Cartas para a sala dos pimpolhos e pimpolhas de 07 as 08 aninhos.

Minha música!!!

Ontem a conversa de meus irmãos entrou novamente madrugada a dentro, eu confesso que não acompanhei, estava com sono demais para isso... mas peguei uma parte da conversa, a parte em que os meninos falavam de musicas que os caracterizavam, em certo momento rindo um pouco, eles disseram que a musica que me caracterizava era Negue.

Fala sério!!! Eu não sou tão assim, embora eu ainda esteja achando engraçado que meus irmãos tenham me dado essa canção e seja ainda capaz de grava o registro desse momento... de duas uma ou eles vão me ver de outra forma posteriormente ou eu vou perseber que eles estão certos... enfim, eu não sei qual das duas opções é mais correta... no mais não aguentei terminar a noitada conversando e não sei direito para onde a conversa foi... Fica a música e o video de Maria Bethania arrasando (na minha opinião) cantando essa música feita para roer!!!

Negue
Adelino Moreira/Enzo de Almeida Passos

Negue seu amor, o seu carinho
Diga que você já me esqueceu
Pise, machucando com jeitinho
Este coração que ainda é seu
Diga que meu pranto é covardia
Mas não se esqueça
Que você foi meu um dia
Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
Ainda marcada pelo beijo seu

Cazuza!

Hoje acontece mais um aniversário de morte de um de meus poetas preferidos, dessa vez o anivessariante é Cazuza...

No meu imaginário Cazuza aparece muito mais como poeta do que com cantor, uma vez que tive primeiro contato com as letras de suas canções escritas, lidas em livros didáticos e afins. Só depois de bem crescida, quando dominei a tecnologia do computador conheci o Cazuza cantor, o que aconteceu pq eu não era uma adolescente muito dada a escutar músicas, não era mesmo meu forte, eu gostava mesmo era de ler, nunca fez muita diferença o que eu escutava, muito diferente do que eu lia, isso sim fazia toda a diferença.

E sempre que eu achava uma música de Cazuza ela se fixava a minha memória, lembro que eu costumava recitar Exagerado para Rafaela, minha irmã caçula, eu dizia a ela: "Amor da minha vida, daqui até a eternidade..." e realmente ela é o amor da minha vida... minha irmã é linda, é a coisa mais linda do mundo e enquanto era criança gostava dessas leseras...

Também gostava de Malandragem, li a letra dessa canção em algum lugar e adotei: "Quem sabe ainda sou uma garotinha..." eu gostava dela pq sempre esperava o ônibus da escola sozinha e durante um tempo ir para a escola me deixava melancólica, eu rezava baixo mesmo pedindo perdão por meio mundo de coisas más que eu pensava e coragem... Depois eu passei a caminhar da minha casa até a escola, mas não parei de pensar nessa música, fui descobrindo Cazuza aos poucos nos meus momentos de melancolia... depois conheci aquela música "Minha flor meu bebê" que conta tão bem uma história altamente boba que eu vivi. 

Houveram outras canções associadas a uma critica social e a conteúdos de história das quais eu gosto muito, porém para concluir deixo aqui, como forma de marcar a memória desse dia e não como forma de celebração, a letra de "Todo amor que houver nessa vida" que, na  minha opinião- que não é isso tudo, ficou perfeita na voz de Maria Bethania.

Todo amor que houver nessa vida
Composição: Frejat/ Cazuza

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
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Ah, até pouco tempo atrás todos os meus autores preferidos formavam um celebre batalhão de mortos,  não tinha um vivo sequer, esceto os que se relacionavam a minha vida profissional!! Recentemente adicionei a essa galeria estranha alguns autores vivos, e o curioso é que muitas vezes eu me pego sentindo um estranhamento enorme em  gostar da produção de autores vivos enquanto não sinto nenhum estranhamento em gostar da produção de um  Cazuza, que viveu de uma forma tão constantemente condenada por meus pares dentro da sociedade.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Antiga anedota Alemã narrada por Freud


"Os habitantes de um vilarejo chamado Schilda possuíam um cavalo. Mas não estavam satisfeitos: ele consumia aveia demais e esta era cara. Resolveram corrigi-lo pouco-a-pouco. Todos os dias diminuíam a ração em alguns grãos, até que fizeram com que ele se acostumasse abstinência quase completa. Por um tempo tudo correu às mil maravilhas. O cavalo já estava comendo apenas um grãozinho. No dia seguinte iria certamente trabalhar sem alimento algum. Entretanto, o que ocorreu não foi isso: no outro dia, o cavalo amanheceu morto. Os cidadãos de Schilda não souberam explicar por quê."
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DAVID, Sergio Nazar. Freud e a Religião. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 45.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Chega de Bullyng


Enfim chegou o grande dia, o dia da postagem proposta pela Vanessa do Mãe é tudo igual. Uma postagem na qual venho pensando a algum tempo, ponderando o que vou ou não escrever a respeito desse tema tão polêmico, tão constante e tão presente no cotidiano escolar dentro e fora das paredes da escola, hoje o bullyng que acontecia dentro do universo escolar e que no máximo chegava aos espaços que estão em torno da escola, rompe fronteiras e chega até mesmo na net, a Nova Escola da Editora Abril em sua edição Junho/Julho por exemplo, abordou o Cyber Bullyng como matéria de capa mostrando o quão latente é esse problema no cotidiano escolar.

Fico muito reçabiada de dar minha opinião nesse caso, mas vamos ao que eu penso a respeito:

O que ocorre é que a escola, tanto quanto a Internet, são espelhos da sociedade, o que acontece na escola nada mais é do que o acontece em sociedade e a sociedade em si é preconceituosa, homofóbica e despreparada para conviver com as diferenças.

Negros, Gays e pessoas que fazem uma opção por viver um estilho de vida diferente do habitual podem contar milhares de casos e situações em que passaram por constrangimentos e afins por não serem "iguais" a maioria das pessoas.

Só para dar um exemplo de como diferentes são tratados no Brasil, no site do Grupo Gay da Bahia  nós vemos o resultado de um relatório que fala que em 2009 foram assassinados no Brasil  198 homossexuais,  pessoas que foram assassinadas por viverem sua sexualidade de forma diferente, um dado que não deixa de ser alarmante.

E o que falar da situação do negro? Rita de Cássia Fazzi tem um trabalho impressionante que fala sobre a situação da criança negra na escola "O drama racial das crianças brasileiras – socialização entre pares e preconceito" onde, baseada em uma solida pesquisa cientifica, a autora, professora do departamento de Ciências Sociais da PUC/MG, mostra entre outras coisas como a instituição escolar e os próprios educadores são cheios de preconceitos em relação as crianças negras.

Quanto a pessoas que vivem um padrão de vida diferente, paltado por exemplo por uma forma de religiosidade mais ortodoxa, bem ai eu posso falar por mim que sou evangélica e congrego em uma igreja conservadora com costumes bem rígidos que vão desde um cabelo que não deve ser cortado a tipos específicos de roupas. Por exemplo, eu só uso saia e camisas com manga e adulta já passei por diversas situações super chatas por carregar essa estética evangélica, assim como amigos meus que são do candomblé passaram e passam por situações humilhantes por carregarem sua estética sendo chamados até de filhos do diabo, algo que acho muito forte de se dizer de qualquer um.

A sociedade é preconceituosa e esse preconceito vai invariavelmente parar na escola, não tem jeito. O bullyng, que pode ser descrito como ato de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou  grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo ou grupo de indivíduos incapazes de se defender, é um reflexo da nossa situação social, da nossa falta de habilidade de lidar com o diferente, com aquilo que nos assusta, que nos causa muitas vezes repulsa ou que achamos anormal, quadrado ou antiquado.

As crianças e adolescente (e essa é minha opinião como educadora) refletem na escola o que presenciam em casa, o que os pais fazem veladamente as crianças fazem descaradamente em público. Pais homofóbicos produzem crianças violentas contra homossexuais, pais racistas produzem crianças que vão chamar o coleguinha negro de nomes feios e pais que gostam de ridicularizar a religião dos outros vão produzir crianças capazes, por exemplo, de tascar chiclete no cabelo de uma irmanzinha, e isso não foi ninguém que me contou, eu vivi isso.

Quando eu estava na 4ª série vivi um inferno na escola pelo simples fato de assumir uma estética diferente da maioria das crianças de minha sala, era ridicularizada, xingada e cheguei até a ter meu cabelo recheado de chiclete, algo que foi extremamente dolorido para mim porque tive que corta-lo e as mulheres de meu grupo religioso se caracterizam por manter o cabelo grande. Uma colega minha do candomblé levou um murro na sua cabeça quando teve que fazer um ritual de iniciação que exigia que ela raspasse seu cabelo. Outra colega cigana passava por um grande constrangimento sempre que sumia algo na sala, a bolsa dela era a primeira a ser aberta pela professora.

A mim parece que para que a escola se transforme em um ambiente onde os diferentes possam conviver em  paz o mundo precisa se tornar um ambiente onde os diferentes possam conviver em paz! Enquanto o macrocosmo da sociedade for marcado por relações perversas de exclusão o microcosmo da escola vai continuar sendo um local marcado por violências simbólicas e concretas de todo tipo.

Claro, educadores sempre precisam está preparados para enfrentar esse tipo de dificuldade, eu e minhas amigas passamos por todas essas situações abusivas, e isso é uma leitura minha, pq nossas professoras não estavam preparadas para mediar as relações entre nossos colegas e nós..

Minha professora da 4ª série é uma pessoa ótima, mas não conseguia lidar bem com a turma, não conseguia nem mesmo tratar do processo de ensino o que se dirá das relações entre alunos sem estrutura familiar nenhuma, altamente violentos até mesmo com ela, e uma criança que se vestia de forma deslocada no tempo (eu me vestia como minha avó literalmente falando, ela sempre fazia vestidos iguais aos dela para mim). A professora de minhas duas amigas cujos exemplos citei não eram mais preparadas que ela para administrar essas "situações problema", e claro nós sofremos com isso, não poderia ser diferente. O bullyng só pode ser combatido quando a instituição escolar na figura de seus educadores estão preparados para lidar com essas situações e mediar os conflitos que são naturais.

No mais, acho que nós que somos comprometidos com a construção de uma escola que acolhe crianças e adolescentes respeitando suas singularidades estamos dando passos adiante na construção dessa escola ideal, passos lentos, mas estamos dando, assim como a sociedade da passos decisivos para essa construção, especialmente quando se mobiliza em torno de um debate sobre o bullyng como esse proposto pela Vanessa e que tantas pessoas participam com os mais diversos tipos de textos.

Debater é sempre o primeiro passo, não o único, mas o primeiro, e toda grande caminhada, já diz um ditado conhecidissimo, começa com o primeiro passo. O segundo passo é se despir dos preconceitos, tentar entender o outro e não julgar, excluir, condenar ou violentar. Se os adultos começarem a se construir como pessoas menos preconceituosas certamente as crianças vão se construir como pessoas melhores, afinal nós nos construi-mos a partir do outro.

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E bem, essa é minha opinião pessoal sobre o tema, com muitos erros ortograficos e excessos como sempre, eis também minha colaboração ao debate!!!