terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Longuíssimo Balanço Emocional


Tenho descoberto novas vozes alienígenas a cada novo dia enquanto observo as estrelas do céu noturno de Igarassu e converso com as plantas do Jardim do Meu Irmão e a mangueira do quintal vizinho. Escrevo grandes desabafos em meus cadernos escolares originalmente comprados para fichamentos de textos sobre Egito, Grécia, Primeira Guerra Mundial, Racismo, Antirracismo e todas as coisas com as quais se preenche 120 horas aulas em um ano letivo de turmas do 6º, 7°, 8° e 9º anos.

As vezes me sinto tão velha. Todas as pessoas nadando no mar da sua trigésima década de vida, com ou sem pandemia, se sentem assim? As vezes toda essa sensação de velhice e experiência de vida parecem meras ilusões de ótica, prepotência sobrevivente da adolescência que não nos abandona nos vinte anos e parece voltar a vida nos trinta. As vezes toda essa sensação de velhice e experiência de vida parecem direitos naturais das sobreviventes de suas próprias loucuras dos vinte anos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Joana D'arc: Médium de Leon Denis [40 Livros Antes dos 40/1]


Incluí "Joana D'arc: médium" do Léon Denis na minha lista de "40 livros antes dos 40" por ele ser parte da lista dos muitos livros com os quais a Ana Seerig me presenteou ao longo de pouco mais de década de amizade. Esse livro chegou na minha casa em Janeiro de 2020 em circunstâncias muito especiais, a dedicatória, a carta e toda história na qual essa edição está envolvida é muito tocante e um dos episódios mais especiais da minha vida adulta. Só de olhar para esse livro me sinto de alguma forma reconfortada dos muitos males do mundo.

domingo, 3 de janeiro de 2021

40 LIVROS ANTES DOS 40 ANOS


01. O grande massacre dos gatos: e outros episódios da história cultural francesa -  Robert Darnton.

02.  A Enxada e a Lança: a África antes dos portugueses - Alberto da Costa e Silva.

03. Villete - Charlotte Bronte.


05. As Aventuras de Tom Sawyer - Mark Twyn

06. Os Maias - Eça de Queiros

07. A Odisseia - Homero

08. História - Heródoto


10. Fernando Pessoa: uma quase autobiografia - Jose Paulo Cavalcanti Filho

E, no entanto...

Aos meus olhos parece incrível um ano ter se passado assim e, no entanto 2020 se foi e já estamos em 2021. Um genocida no poder, incertezas e descobrindo como se vive uma pandemia. A Peste Negra parecia tão longe e, no entanto, cá estamos nós com nossos muitos lutos, covas rasas, vivendo um dia de cada vez.

Para quem, como eu, saiu da vida de estudante para a vida de professora, passar um ano sem as quatro unidades, cadernetas empilhadas, avaliações por todos os lados, cansaço incrível, Pascoa, São João é uma coisa tão despropositada.

Eu acreditaria mais facilmente no fim do mundo causado pelo impacto do um cometa errado do que numa vida sem o cotidiano escolar e, no entanto, desde  março não piso numa sala de aula concreta. Minha vida pelo avesso, a falência momentânea do eixo no qual minha vida se organiza. Não sei nem como sobrevivi a esses meses.

sábado, 6 de junho de 2020

Barricadas...


Quando vim para cá, trouxe pouca coisa comigo. Eu mesma, Lion, roupas, documentos, computador, dois lençóis, livros. Eram tão escaços eram os símbolos de minha existência aqui que comprei um móvel novo: uma mesa. O intuito era montar um mini-escritório, mas agora, olhando o meu entorno, me  pergunto se estou montando um espaço de trabalho, fazendo bagunça ou simplesmente montando barricadas durante a guerra.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Cheguei aqui em uma noite de fim de verão


Cheguei aqui em uma noite de fim de verão, ainda estava quente, o céu estava estrelado, não havia Lua. Nunca vi um céu tão estrelado, não sabia que existia céu estrelado em noites permeadas por tanto medo e incerteza.

No dia seguinte não haveria aula e nem no próximo e nem no posterior a ele... Todas as minhas urgências estavam suspensas. O amanhã era um espaço de tempo vazio... Resolvi aproveitar a visão até então inédita de um céu estrelado a esse ponto em uma noite quente de Lua Nova. Deitei no chão, havia uma música em minha cabeça, coloquei para tocar o mais baixo possível e diante de mim milhões de luzes fantasmas no céu noturno.

Já ouvi falar mais de uma vez sobre o sentimento de pequenez imposto pela visão do céu noturno, mas tenho um metro e meio de altura, estou habituada a me senti pequena e o sentimento não me emociona, assusta ou intimida.

Diante da imensidão me sinto reconfortada, livre como alguém que pode se mover sem ser percebida e assim pode ir para onde desejar.

O pequeno me intimida mais: bebês de colo, a pequena infância, crianças, pré-adolescentes, animais de outra especie, objetos pequenos, anéis, livros. Se deixar caí quebra. Se derrubar pode morrer na queda. Com facilidade se fere. Basta uma palavra mal colocada para decepcionar. Podem chorar até passar mal.

O imenso impõe admiração. O pequeno exige atenção, dedicação, tempo, espaço, prudência.

Nossa! O que estou falando? É um tempo no qual o invisível se misturou ao visível, matou milhares em questão de meses e sitiou o mundo inteiro. Nós, talvez, sejamos uma geração compreensiva em relação a como coisas pequenas são opressivas e exigentes e perigosas.

O céu estava estrelado, me senti minúscula tive a sensação de poder ficar uma vida inteira ali, diante do céu imenso, o chão frio nas minhas costas, a noite quente me cobrindo, ouvindo o som baixíssimo de uma voz suave cantando em um idioma quase extraterrestre... Foi apenas um momento, um momento infinito.

domingo, 17 de maio de 2020

Estação Atocha, Super Junior e o Triunfo do Irreal.


"Esforcei-me para pensar nos meus poemas, ou em qualquer poema, como maquinas de fazer eventos acontecerem, de mudar os governos, a economia, ou apenas a sua linguagem, e o conjunto das suas funções sensoriais, mas não consegui imaginar isso nem me imaginar imaginando todas essas outras coisas sobre a poesia, quando imaginava - pressentimento terrível - um mundo privado até mesmo dos pretextos mais idiotas para escrever poemas que permanecessem fiéis às possibilidades virtuais do meio, privado dos rituais absurdos como aquele do eu tinha participado naquela noite, então eu intuía uma perde inestimável, uma perda não de obras de arte, mas da própria arte, e portanto infinita, o triunfo total do real, e me dei conta de que em um mundo assim eu engoliria uma cartela inteira de comprimidos brancos." (Ben Lerner, Estação Atocha, pg. 55).

Em "Estação Atocha" a proposta é acompanhar a vida de Adan, um estudante americano vivendo em Madri com o objetivo de escrever um longo poema como forma de concluir seu curso. Adan é um daqueles personagens absurdos com os quais a pessoa leitora vez ou outra cruza. Ele é um mentiroso endêmico, apático, fortemente compromissado em não se deixar encantar por nada, capaz de consumir drogas como se elas fossem confeitos e é absolutamente franco quando narra suas não-aventuras.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Medo

Outro dia me meti em um acidente de carro em uma noite chuvosa. Estava voltando de um encontro com uma amiga, um carro bateu em cheio na porta traseira do uber no qual eu viajava. No pequeno espaço de tempo entre o impacto da minha cabeça no vidro e ser jogada para o lado pensei: "É assim que se morre."

No longo espaço de tempo após o acidente, conferi as partes do meu corpo, encontrei meu óculos, olhei em torno, falei qualquer coisa para o motorista e pensei no quão inoportuno seria morrer numa noite assim com chuva que Deus mandava, voltando de um encontro com uma amiga, meus pais em há três cidades de distância, em um domingo... Que bom não ter morrido ali, não era um bom momento para morrer.

domingo, 5 de janeiro de 2020

Registros de Ausência

Não quero abrir mão desse espaço, mas é inegável o quão negligente me tornei com esse blog com o decorrer do tempo. O blog ficou praticamente 2019 inteiro entregue as traças. Uma terra abandonada colecionando páginas e páginas vazias enquanto meu instagram segue sendo alimentado com  constância religiosa.

Claro, toda pessoa detentora de um blog intimo sabe: nada se compara ao blog. O instagram é rápido e dinâmico, mas nada supera a intimidade dessa interface, a liberdade de não ter limites de caracteres e a satisfação de um post publicado. Mesmo quando a possibilidade de alguém ler vai de vaga a remota, o processo de blogar é mais exigente e o de clicar no botão "Publicar" promove, ao menos em mim, uma catarse mais consistente.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Um rosto de sol


No caminho cotidiano entre a Estação Central do Metrô Recife e o Terminal do Cais de Santa Rita todos os dias tem esse rosto cheio do sol trazendo luz para meu no retorno do trabalho para casa. É uma das minhas alegrias cotidianas, um motivo para que eu sempre sente a esquerda.

A arte é da Nathália Ferreira.