Li "O Morro dos Ventos Uivantes" no final de 2021, passei pela estante, avistei ele e me perguntei: "Quantas vezes vou precisar ler esse livro para decidi se gosto ou não dele?". Quanto mais as leituras se somam umas as outras mais me absurda a genialidade feroz da Emily Brontë e sua capacidade de descrever a perfeição a crueldade, intensidade, passionalidade e imprevisibilidade das pessoas moldadas por relações abusivas, desconhecem outra forma de sociabilidade e em grande medida rejeitam e desprezam qualquer coisa longe disso.
Mesmo agora não consigo definir com clareza meus sentimentos em relação a Catherine & Heathcliff. Dentro do meu coração "O Morro dos Ventos Uivantes" permanece sendo um conto de terror mais sombrio, oposto simétrico do conto de amor mais luminoso contido em "Orgulho e Preceito". Assim como Jane Austen, Emily Brontë é seminal em minha trajetória de leitora, parte do Yin Yang de minha personalidade construída em torno de aproximações de opostos.
Em "O Morro dos Ventos Uivantes" Emyli Brontë nos conta a história dos Earnshaw, uma família proprietária de terras no interior da Inglaterra oitocentista que não podia ser outra coisa senão patriarcal, com os membros se relacionando de forma hierarquicamente desigual e contando com vizinhos, agregados e empregados como dependentes/membros subalternos a família. A história de Haethcliff e Catherine acontece dentro da história dessa família. Catherine sendo filha legitima de um senhor de terras, Heathcliff um membro adotado, trazido para dentro de casa pela força do Pater familias, proprietário das terras e pessoas contidas nelas.
A forma como o velho Sr. Earnshaw trouxe de uma de suas viagens a Liverpool, embrulhado em um sobretudo dobrado nos braços "um menino sujo e maltrapilho de cabelos negros, grande o suficiente para andar e falar", me lembra a forma como no livro "Helena" de Machado de Assis o Conselheiro Vale introduz a Helena em casa: sem aviso prévio, sem esperar outra coisa além da aceitação do núcleo familiar, afinal em uma família patriarcal oitocentista, em qualquer lugar do mundo Ocidental, todo o poder pertence ao Pai e cabe aos outros membros da família aceitar tais vontades sem exigir explicações adicionais.
Como o Sr. Earnshaw não carecia de explicar nada a nenhum dos membros da família sobre a origem do menino, nenhuma explicação temos sobre origem. A Sra. Earnshaw recebe do seu marido apenas a sentença: "Olhe aqui, mulher. Nunca fiquei tão cansado com nada na vida. Mas você tem que receber isso como uma dádiva de Deus, apesar de ser quase tão escuro como se tivesse vindo do diabo.". Sendo assim introduzido dentro da família, o menino recebe o nome igual ao do filho morto da família (Heathcliff), mas nenhum sobrenome. O menino não é branco, mas qual a origem étnica dessa criança? Cigano, afrodescendente, indígena, indiano? Mistério! No entanto, independente da origem étnica, dentro da ordem familiar o destino da criança está traçado, ele está em uma posição subordinada, quando o Velho Senhor for substituído pelo Novo ele deve de submeter a sua autoridade ou se rebelar.
A não aceitação de Heathcliff de um papel subordinado, desde a infância, é um dos pontos a movimentar a trama. Ele constrói um forte vinculo afetivo com Catherine, a filha única da família, desde a infância atravessando a adolescência e vida adulta. Um vinculo forte, destemido, não hierarquizado, extremamente passional, com forte potencia para desembocar em tragédia dado o fato de nenhum dos dois ter habilidade para meias palavras, meios termos, meias medidas, meios sentimentos. Explosivos e desmedidos, vivem isolados no mundo pequeno de uma vida doméstica abrasiva.
A forma como a Emily Brontë embala esse amor atroz, capaz de sobreviver a distancia, ao frio do inverno, ao verão mais iluminado e até mesmo a morte é muito envolvente, mas também pesada. Em mim, esse é um livro sempre atordoante, vem leitura, vai leitura e sempre tem aquele pedaço do livro que paro e sinto, desaprendo a pensar. Bate uma angustia... Os personagens são pessoas difíceis, absurdamente distantes de qualquer modelo de ternura, capazes de sobreviver a atrocidades para praticar atrocidades ainda maiores e confessa-las sem pudor.
Oi Pandora , tudo bem?
ResponderExcluirConhecia de forma superficial a trama do livro; Leio muitos comentários sobre a relação de Catherine & Heathcliff, mas ainda não tive coragem de ler o livro.
*bye*
Marla
https://loucaporromances.blogspot.com/
Oi, Jaci, boa noite,
ResponderExcluirEste livro é realmente impactante. Já li que a Emily Brönte trabalhou como governanta (ou serviçal) durante um tempo, então ela conhecia bem o 'terreno' em que a Nelly se movia . O Heathcliff, após a morte de seu protetor, teve que enfrentar muito abuso e muita humilhação, né? As coisas naquela época, quero dizer, a estrutura social e moral, os costumes, tudo era muito rígido e isso predispunha ou dava causa aos efeitos radicais de violências ou extremismos, que a gente vê nessa obra.
Que bom que você tem lido esses clássicos e refletido nas estórias deles. Com certeza obterá benefícios dessas leituras.
Beijo e boa semana
Olá Jacilene!
ResponderExcluirAinda não li este livro e agora fiquei ainda com mais vontade de ler! :)
Gostei muito da resenha, apesar da dúvida entre o gostar e não gostar, penso que um livro que nos faz pensar é um bom livro :)
Beijos
https://escritosdemartasousa.blogspot.com/
Olá, Pandora.
ResponderExcluirEu não gostei. Li esperando uma história de amor e encontrei tudo menos amor. Acho que as expectativas estavam altas demais. Não consegui gostar de nenhum dos personagens e terminei o livro arrependida de ter lido ele na verdade.
Prefácio