Romeu e Julieta de William Shakespeare [40 Livros Antes dos 40 Anos/05]

Comecei a ler Shakespeare na adolescência com uma versão adaptada de "Sonhos de Uma Noite de Verão" e não gostei muito, porém, nada como um dia depois o outro somando anos para trazer juízo a pessoa. Passar a vida toda sendo leitora e ignorando o Bardo do Avon é muita desonra! Ao longo dos anos acabei me pegando lendo "Macbeth" e no segundo encontro foi amor, acabei decidindo ler tudo dele... e estou fazendo esse exercício ao longo dos anos. Já foi "Hamlet: o Príncipe da Dinamarca", "O Rei Lear", "A tempestade", uma releitura de "Sonho de Uma Noite de Verão" e em Setembro de 2021, finalmente, um dos livros mais famosos da história da Literatura: "Romeu & Julieta".

Minha edição de "Romeu & Julieta" foi um presente do Rafael na ultima visita que ele me fez em 2019 e assim posso dizer: foi escolhida a dedo pela qualidade da tradução e é cheia de notas de rodapé feitas por alguém apaixonado por essa história. Não sei, mas suspeito: Rafaela adora Romeu, acha ele um picareta volúvel, mas não consegue deixar de gostar do rapaz e sua passionalidade. E sim, outra peculiaridade sobre a experiência de minha primeira leitura do clássico é o fato de não ter lido sozinha, uma amiga fez par comigo e ficou as turras com o Romeu, classificando ele como "O Primeiro Emo da História" para ela, tudo poderia ser evitado com o um pombo correio.

"Franja, piercings e tênis coloridos são alguns elementos da estética emo. Além disso, a tribo dos emos possui raízes musicais no emocore, gênero que mistura som pesado e letras românticas." In: RIBEIRO, Paulo Silvino. "Os emos como uma tribo urbana"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/emo.htm. Acesso em 20 de fevereiro de 2022.

Dito isso, ler as tragédia shakespeariana é uma experiência muito gostosa, pois as tramas são construídas em cima de personagens cujos comportamentos, sentimentos e padrões de relacionamentos sociais ainda se comunicam conosco hoje em dia. Família, intrigas, paquera, brigas de rivais, o furor do primeiro amor quando ele acontece nos primeiros anos da juventude, tudo isso anima a história trágica de "Romeu & Julieta" tornando fácil a conexão. E para completar, ainda existem as passagens belíssimas, os poemas de amor, a entrega aos desdobramentos nervosos de uma história cujo final todos já conhecemos e nos deixa a possibilidade de atentamente olhar o miolo sem a ansiedade pela fim.

Romeu é um personagem apaixonado por natureza, a impressão é que ele ama o amor. Começa a história deprimido pela frustração com o amor de Rosalina, o pai dele diz:

"Meu triste filho esconde-se da luz

E bem sozinho tranca-se em seu quarto,

Fecha as janelas afastando o dia

Criando noite falsa para si..."

Achei sensacional e demasiadamente engraçado e terno e jovem o dialogo entre esse apaixonado e o seu primo e amigo Benvólio:

Benvólio: ... O que alonga as horas de Romeu?

Romeu: A falta do que posso torná-las curtas.

Benvólio: Amor?

Romeu: Das graças da que tem o meu amor.

[...]

Romeu: [...] O amor é fumo de um suspiro em chama/ Que faz brilhas os olhos de quem ama;/ Contrariado é um mar feito de lágrimas;/ E o que mais? Critério na loucura,/ Trago de fel que preserva a doçura.."

Romeu é um romântico, um apaixonado... Julieta é uma moça ponderada, cética, pronta a aceitar as demandas de seus pais e o destino para ela escolhido por eles. Ela começa a história desejando obedecer aos seus pais, mas quando o amor chega e lhe toca o coração, ela nem pestaneja e se entrega a ele com arrebatamento.

Julieta: Romeu, Romeu, por que há de ser Romeu? Negue o seu pai, recuse-se esse nome,/ Ou se não quer, jure só que me ama/ E eu não serei mais dos Capuletos.

[...]

Minha afeição é como um mar sem fim,/ Meu amor tão profundo. Mais eu dou/ Mais tenho, pois são ambos infinitos...

Comecei a ler pensando em não me envolver para não sofrer, mas basta pouco  para se vê apaixonada pela paixão do casal, torcer por eles, se envolver na trama deles. É uma história muito vivida, muito vibrante, muito envolvente. Não parece caminhar para o trágico até que caminha e então a gente sofre sem querer, sem saber que mesmo sabendo como tudo termina é possível se sentir triste pela forma como termina.

Além do casal principal, os coadjuvantes também são muito divertidos de se acompanhar, a Ama de Julieta fornece momentos bem engraçado com seu libido e o Frei Franciscano uma das reflexões mais famosas e ajuizadas da peça, um  dos meus xodós, serve para tudo na vida.

Frei: "E violento prazer tem fim violento,/ E morre no esplendor, qual fogo e pólvora,/ Consumido num beijo. O mel mais doce/ Repugna pelo excesso de delícia,/ Que acaba perturbando o apetite./Modere-se para o amor poder durar;/ A pressa atrasa igual ao devagar.

Também na boca do Frei Shakespeare fala uma das coisas mais coerentes sobre a leveza de quem ama:

"Quem ama pode caminhar nas teias sacudidas nas brisas do verão sem cair..."

É uma história muito cativante! O tipo de livro que posso ler incontáveis vezes sem desejar chegar ao fim, sem tédio, sem perder a capacidade de ficar absurdada com a trama e me apaixonar pela sinceridade dos personagens e a forma como são tomados pelos sentimentos. Quando as disputas entre os membros das famílias cruzam o caminho dos dois e atrapalham seu romance senti raiva dos responsáveis, quando eles morrem sofri furiosamente desejando outro fim para eles.

Romeu é um pandego, apaixonado pela paixão. Nada nos garante a capacidade dele ser fiel a Julieta caso o fim fosse outro, todavia a Julieta, apesar de jovem, não é uma ingênua. Posso crê nela como uma pessoa capaz de na convivência conduzias as pessoas em seu entorno a continuamente se apaixonarem por ela. O Romeu é passional, mas a Julieta é muito esperta, sabe amar e tramar.

Escrever sobre o livro tantos meses após a leitura me fez reler várias parte e mergulhar novamente no amor a obra. Obrigada Rafa pela visita, pelo presente e pelo marcador da minha amada Jane Austen.