Agora a pouco me peguei folheando um do livro que tenho por aqui, chama-se Gota de Sangue, e apesar de ser um romance dito policial, um dos gêneros que menos gosto, é um livro pelo qual tenho afeição.
Acho que o Lúcio, o detetive da história, deve ser o investigador policial mais reflexivo já visto na história da literatura policial,mas é apenas achismo porque eu realmente não li muitos livros nesse estilo, ele deve ter algum parentesco, ou no minimo um ancestral primitivo comum, com o Alec Leamas de "O espião que saiu do frio" ou com o Tomas de "A Insustentável Leveza do Ser".
Acho que o Lúcio, o detetive da história, deve ser o investigador policial mais reflexivo já visto na história da literatura policial,
Imagem daqui |
A parte isso, no inicio do livro Lúcio vislumbra o amanhecer na cidade de São Paulo, na primeira vez que li essa descrição eu grafei e agora transcrevo:
"Mendigos, putas, policiais, drogados, bandidos, miseráveis, bêbados e doentes esticando a noite pelas calçadas, bares, cortiços, cines pornôs, puteiros e hotéis baratos. Vendedores, secretárias, advogados, PMs, funcionários públicos, lojistas, office-boys e donas de casa afirmando a fronteira do dia desde as primeiras horas. A guerra é por território, nada mais. A noite se estica sob as marquises das lojas fechadas, nos bancos das praças, nos bares infectos, nos cinemas mofados e no bafo quente da ventilação nas calçadas. O dia avança pelas avenidas, descendo dos ônibus, emergindo do metrô, abrindo portas, fazendo barulho, gritando ofertas, ocupando as calçadas e marchando em compras. A noite recua e se esconde nas ruas menores, nas esquinas modestas, nos hotéis, teatros explícitos e moradias caóticas enquanto o dia sobe pelos prédios e se espalha pelas ruas armado de gravatas, pastas, bolsas e sacolas. Afronta-se por doze horas até o dia bater em retirada no desespero do transporte e do transito. Noite novamente. Os molambos retomam suas posições no deserto de portas fechadas e nas ruas sujas da refrega."
(Gota de Sangue_Fábio Brazil_ p. 14-15)
Lembro que grafei essa passagem porque achei que nela o Fábio incluiu sujeitos que usualmente costumam ser ignorados das descrições literárias e descreveu um capitulo do cotidiano da cidade comum a quase todas as cidades. Quando li tive aquela sensação de que a realidade plausível caiu de repente sobre mim.
A cidade descrita nessa passagem foi São Paulo, mas eu acho que podia ser Recife e talvez pessoas de outras cidades também possam traçar paralelos com a sua realidade... O ano no qual se passa a história é 1985 e não é que a pesquisa do autor não foi bem feita ou haja anacronismos no livro, mas francamente, eu tenho a impressão que nos ultimo 27 anos pouca coisa mudou no cotidiano da cidade, nos sujeitos da cidade, na forma como o dia sucede a noite e para piorar as semelhanças, 2012, assim como foi 1985, é ano de eleição...
E curiosamente, as eleições municipais colocam em evidencia que é hora de pensar na cidade, hora de pensar nos diversos sujeitos que formam a cidade, os que aparecem na descrição feita pelo Fábio e os mais que eu e você podemos vim a lembrar e que não foram incluídos.
É hora de pensar no que será de nós e nossas cidades nos próximos 4 anos, que terão direito a Copa e Olimpíadas diga-se de passagem...
Eu confesso que as vezes o processo eleitoral no Brasil me desanima, os caminhos da politica me deprimem e a forma como nós dialogamos com isso tudo me frustra as expectativas de um futuro melhor... E para piorar enquanto pesquiso uma imagem mais ou menos para essa postagem encontro um site/blog todo trabalhado na proposta de uma propaganda politica vitoriosa.
Ai!!! Cansei!!! E olha que ainda nem começou a palhaçada!!! Eu já começo a concordar com o Lúcio: "Distintos empresários manipulando a cidade, distintos políticos sugando a cidade, distintos engenheiros destruindo a cidade, distintos doutores matando pela cidade." (Gota de Sangue_Fábio Brasil_ p. 16).
Só que a cidade não é deles, ou melhor, a cidade não é apenas deles. A cidade é minha e de todos os que vivem e morrem nela e sendo assim também é responsabilidade nossa.
Talvez não apenas os assuntos de nossa sala, cozinha, banheiro e vida afetiva sejam de nossa alçada, mas os assuntos da cidade inteira... Todo dia é dia para pensar na cidade, mas acho que na época das eleições é hora de decidi algo em relação a cidade, a saber: quem será responsável pela gestão dela pelos próximos 4 anos.
Nos cabe lembrar quem farrapou, quem não cumpriu promessas, o que fizeram e não fizeram os prefeitos e vereadores... Os ditos e os não-ditos... Avaliar propostas de gestão dos bens públicos... Isso tudo me cansa só de pensar quer dirá de votar.
Mas, eu desconfio que enquanto os muitos sujeito que são a cidade, entre eles eu, não começarem a si sentirem na obrigação de cuidar da cidade pessoalmente em todos os sentidos ela continuará sendo manipulada, sugada e assassinada cada dia um pouco mais...
A cidade descrita nessa passagem foi São Paulo, mas eu acho que podia ser Recife e talvez pessoas de outras cidades também possam traçar paralelos com a sua realidade... O ano no qual se passa a história é 1985 e não é que a pesquisa do autor não foi bem feita ou haja anacronismos no livro, mas francamente, eu tenho a impressão que nos ultimo 27 anos pouca coisa mudou no cotidiano da cidade, nos sujeitos da cidade, na forma como o dia sucede a noite e para piorar as semelhanças, 2012, assim como foi 1985, é ano de eleição...
E curiosamente, as eleições municipais colocam em evidencia que é hora de pensar na cidade, hora de pensar nos diversos sujeitos que formam a cidade, os que aparecem na descrição feita pelo Fábio e os mais que eu e você podemos vim a lembrar e que não foram incluídos.
É hora de pensar no que será de nós e nossas cidades nos próximos 4 anos, que terão direito a Copa e Olimpíadas diga-se de passagem...
Eu confesso que as vezes o processo eleitoral no Brasil me desanima, os caminhos da politica me deprimem e a forma como nós dialogamos com isso tudo me frustra as expectativas de um futuro melhor... E para piorar enquanto pesquiso uma imagem mais ou menos para essa postagem encontro um site/blog todo trabalhado na proposta de uma propaganda politica vitoriosa.
Ai!!! Cansei!!! E olha que ainda nem começou a palhaçada!!! Eu já começo a concordar com o Lúcio: "Distintos empresários manipulando a cidade, distintos políticos sugando a cidade, distintos engenheiros destruindo a cidade, distintos doutores matando pela cidade." (Gota de Sangue_Fábio Brasil_ p. 16).
Só que a cidade não é deles, ou melhor, a cidade não é apenas deles. A cidade é minha e de todos os que vivem e morrem nela e sendo assim também é responsabilidade nossa.
Talvez não apenas os assuntos de nossa sala, cozinha, banheiro e vida afetiva sejam de nossa alçada, mas os assuntos da cidade inteira... Todo dia é dia para pensar na cidade, mas acho que na época das eleições é hora de decidi algo em relação a cidade, a saber: quem será responsável pela gestão dela pelos próximos 4 anos.
Nos cabe lembrar quem farrapou, quem não cumpriu promessas, o que fizeram e não fizeram os prefeitos e vereadores... Os ditos e os não-ditos... Avaliar propostas de gestão dos bens públicos... Isso tudo me cansa só de pensar quer dirá de votar.
Mas, eu desconfio que enquanto os muitos sujeito que são a cidade, entre eles eu, não começarem a si sentirem na obrigação de cuidar da cidade pessoalmente em todos os sentidos ela continuará sendo manipulada, sugada e assassinada cada dia um pouco mais...