segunda-feira, 13 de junho de 2011

Meus encontros e desencontros com Fernando Pessoa

Quando abrir o Google entre ontem e hoje por volta da meia noite dei de cara com o Fernando Pessoa, um choque, um prazer e uma saudade, tudo ao mesmo tempo e misturado, Fernando Pessoa foi meu primeiro poeta favorito, sou apaixonada por ele desde os dias da adolescência e lá pelos idos dias de Abril de 2009, quando eu pouco sabia sobre blogs e blogagens coletivas... Era uma inocente em matéria de tudo no mundo digital, eu escrevi um texto sobre Fernando Pessoa e meus encontros e desencontros com ele...

Reposto hoje só pelo prazer de me juntar ao google na comemoração do aniversário do poeta que mais marcou minha vida.... Sempre citado, sempre amado...

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MEUS ENCONTROS E DESENCONTROS COM FERNANDO PESSOA

O mundo as vezes nos parece muito grande, na verdade enorme, outras vezes nos parece um pequeno ovo de tão minúsculo e onde pessoas improváveis se encontram e se desencontram para novamente se encontrarem.

Falar de encontros e desencontros não me parece uma coisa fácil, e na verdade não é, nesse tema podemos falar de mil coisas diferentes, faz um mês mais ou menos que tento decidir de que falar e no limiar do momento da escrita, eu penso que não há ninguém melhor para que eu fale agora do que meu querido poeta preferido Fernando Pessoa.

Eu encontrei Fernando Pessoa em um momento de fúria adolescente no meio de uma Enciclopédia:

"Não quero nada
Já disse que não quero nada
Não me venham com conclusões
A única conclusão é morrer"

Huhu... poema perfeito para uma adolescente em crise com a família, com o Estado com tudo. Quem nunca teve vontade de dizer "vão para o inferno sem mim/ ou deixe-me ir sozinha para o inferno/ para que havemos de ir junto..." que me atire uma pedra.

Mas esse momento de crise passou, sempre passa, a gente não sabe aos 13 anos que passa, mas aos 22 a gente já sabe, se bem que há quem diga que ainda há muito mais para se saber, e sim eu vou descobrir.

No entanto, depois desse primeiro encontro houveram muitos outros, quando eu tive meu primeiro amor e no final das contas o menino dos meus sonhos foi embora e nem mesmo a lembrança de um beijo me deixou eu tive um reencontro com Fernando para aprender a lição que o rapaz apaixonado deu a Lídia:

"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o obolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Hoje penso que foi melhor assim, afinal o meu primeiro amor não me arde, não me fere e nem me move, sua lembrança me é suave a memória, e eu lembro dele assim: "pagão triste e com flores no regaço.".

Depois disso eu posso dizer que me perdi do poeta, eu me desencontrei dele no meio da confusão habitual da adolescência, foram muitas confusões, mas amigos sempre se reencontram e eu me reencontrei com Fernando novamente quando chegou o momento de me afirmar como "pessoa livre/independente" e eu usei mais uma vez suas palavras para expressar meus sentimentos:

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

E ainda mais que isso, no momento de declarar meu incoformismo com certas coisas que me ocorreram:

"Queriam-me casado, cotidiano, fútil e tributável?
Queriam-me o contrário disso, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!"

Até hoje eu tenho a impressão de que queriam-me o contrario de qualquer coisa, mas eu aprendi com a pessoa do Fernando que sendo assim como sou as pessoas tem que ter paciência!!!

Enfim, foram muito encontros e desencontros, O "Eu profundo e os outros eus" é ao lado da Bíblia, e guardada as devidas proporções, uma vez que vejo a Bíblia como verdade absoluta e etc e tal...,  meu livro preferido, o que mais me toca o que leio e releio.

E vou fechando esse texto com uma poesia do livro Mensagem, meu último encontro com Fernando Pessoa foi através desse livro, me encontrei com ele estudando a História Ibérica. Mensagem conta toda a saga portuguesa em versos, um livro encantador, que devia compor as aulas sobre o descobrimento, o mundo Ibérico e derivados e de fato vai compor as minhas aulas, afinal néh eu sou apaixonada pelo homem, de todas as poesias do livro Mensagem a que mais se adequa ao meu último encontro com o poeta, sem duvida é o poema "Mar Português".

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

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Nos últimos anos houveram muitos outros encontros com Fernando Pessoa e os seus vários eus... e sim, jamais pretendo perde-lo de vista...


Ah, minha vaidade não resiste e eu tenho que adicionar isso ao post, ainda há pouco uma amiga minha no msn e meu deu os parabéns, quando perguntei porque ele disse: "porque hoje é aniversário do seu poeta favorito, vi no google e lembrei de você!" Aaaahhh... Nem queria, mas um afago desse tenho que registrar \o/

sábado, 11 de junho de 2011

Um blog para virar livro!

Desde que eu me tornei blogueira percebi que existem blogs para todos os gostos e desgostos, blogs para artesanato, blogs para reflectir, para falar de politica, de esporte, de comida, blogs para falar de blogs... Blogs para falar de nada, sim existem blogs cujo conteúdo é uma mistura de nada com coisa nenhuma que dá até dor no ovário.

E despeito de muita gente dizer por ai que a virtualidade vai fazer sumir as páginas impressas, nos últimos dias veio a luz da blogosfera um blog feito para virar livro.
E sim, estou falando do blog do:


O blog do Concurso Conto Vidas foi idealizado pela Elaine Gaspareto, que promoveu um concurso de contos com o mesmo nome, inicialmente a ideia era publicar todos os contos, mas a quantidade de contos excedeu as expectativas da Elaine e acabou que foram seleccionados 18 contos que foram reunidos nesse blog que vai virar livro... Ufaa...

E sim, estou falando do blog e do Concurso Conto Vidas porque essa foi uma das mais interessantes experiências de virtualidade que eu já experimentei... Fazer parte de um espaço virtual que vai virar espaço material é uma coisa que eu jamais cogitaria quando comecei na navegar pelos mares virtuais.

As blogueiras e blogueiros que participaram falaram dos mais diversos assuntos desde aquele sonho que algumas meninas nutrem em relação ao casamento, como a Vanessa Anacleto em Nina e o Sonho, passando por histórias divertidas como a que a Iram Matias contou em A história de um celular, chegando a história de amor e de sofrimento como as que a Iara Gonçalvez e a Patricia Daltro contaran em Ana Luiza e Oito Anos, chegando até a história da Irene contou em A estação de trem tão real que eu me identifiquei de cara, quem nunca chegou arrasada de tão cansada a uma estação de trem ou terminal de integração da vida ein?!?!?!

Foram histórias para ri e para chorar também, que eu sou mole e vou logo dizendo que chorei  muito com  a história da Ana Luiza que eu não sou de prender lágrimas... essa história sempre vai caminhar comigo, assim como o campo de tulipas que o Tailor Soares em Aniversário, a Boneca quebrada da Ana Beatriz e Os sonambulos de Erika Freire.

Cada conto desse blog me deixou uma marquinha, um sorriso, uma dor, uma esperança ou uma indagação... Sempre vou me orgulhar de ter feito parte disso, de esta entre autores experientes como o Cacá que sabe brincar com as palavras e construir a graça de conto que é Júdice.

Essa semana a Elaine abriu a votação para os três contos e eu lembrei que não posso deixar de falar sobre essa aventura, sobre esse prazer, sobre a emoção que foi vê meu conto escolhido para o blog, participando da votação para os melhores.

 

Nunca tinha escrito um conto antes, escrevi num ato de sei lá, foi coisa de momento... em três tempos inventei uma história para a Marianna e mandei para a Elaine de uma vez só para não me arrepender rsrs... No momento seguinte me arrependi... fiquei com medo, sofri, mas depois fiquei orgulhosa \o/ tanto que convido a quem se interessar para conhecer a história que eu sonhei para a Mariana e que virou o conto "Querendo se manter honesta".

E sim, a Elaine, aos super jurados que ela convocou e aos que comentaram lá no blog o meu conto, deixo o meu:

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Educação em tempos pós-modernos: isso deprime!







By Quino.
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Ia postar outra coisa, mas cheguei em casa e ao abrir meu e-mail dei com essa gracinha, já é a terceira vez que um amigo meu me envia essa reflexão... Bem, é um sinal dos céus... Compartilho com vocês essa angústia, cada vez mais me vejo em um mundo de valores muito malucos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Um convite surpreendente.


Domingo passado eu recebi um convite surpreendente e não, não foi para uma festa de casamento, um chá de bebê ou uma festa de aniversário.

O convite que recebi foi para integrar a equipe do "Em Quantos" e sim, confesso, tremi... Afinal as pessoas que integram esse espaço não são de brincadeira não violão.

Lá escreve a Sônia Cristina que conta a História de Santhiago e contando essa história nos ensina como se pode viver a vida mesmo quando essa nos prega grandes peças.

Também tem a Beth Lilás, a Mãe Gaia.

O Cacá, do Uaí, Mundo? O blog do Cacá, um escritor certeiro, cujo livro eu ganhei lá na Elaine! \o/

A Silvia Cristina, do Meu lado contido, blogueira que além de escrever muito bem obrigada, ainda saca tudo dessa tecnologia que faz o blog funcionar.

O poeta Moacir Eduão, uma pessoa singular, que se permite não ter perfil, ele diz apenas que:

"A única coisa que desloca o meu rosto é uma imagem poética.
Meu perfil, portanto, é tudo que eu fito.
E nada que eu fito me conhece, ou me faz alvo."

A Giuliara Martinelli a dizer "o indizivel ao se chocar com os limites da linguagem.".

E agora também eu me junto a essa equipe que é o "Em Quantos", lembrando que:

"Em quantos rima com cantos, contos, talentos e encantos...
Assim nasce este blog, da união de alguns sonhadores, dispostos a dividir sonhos, idéias, arte, amor, sentimentos e sobretudo a vida na mais pura essência, na sua forma simples porém verdadeira de ser."

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Engraçado, nos últimos dias eu ando precisando dá um tempo na actividade diária de blogar, não por tristeza ou melancolia, que se eu fosse deixar de fazer algo por esse motivo eu ia está perdida (mais do que já sou usualmente), mas por falta de tempo mesmo... Ai a Sônia vem e me faz um convite desse... rsrsrs...

Ironia da vida... Sou um caso perdido... 1000 a Zero para a blogosfera \o/ Perdi \o/

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Quando não fugi para Pasárgada...

Acho que vez ou outra todo mundo tem vontade de sumir, ser engolido pela terra, deixar tudo por fazer... evaporar... e não é apenas uma questão de querer fugir de uma situação, as vezes eu quero mesmo fugir de mim... o que também não me parece algo muito incomum.


São momentos em que tudo o que eu queria era poder fugir para algum lugar onde houvesse mais paz externa de maneira que a paz interna tivesse alguma chance de aflorar... Talvez algum paraíso perdido, um Edén, algo tipo a Tir na nóg dos irlandeses, onde não há velhice, nem dor, nem doenças, uma Jerusalém, em cujas ruas "se ouve o som da harpa de Davi" ou mesmo a boa e velha Pasárgada, afinal já dizia Manuel Bandeira:

"Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização"

MAS, no meio das confusões que me fazem querer desaparecer dei de cara com um sujeitinho diferente de tantas coisas que eu já vi; Entre a multidão de livros, artigos e textos a ler eu encontrei com Ovídio Martins, um poeta cabo-verdiano arretado que lutou pela independência de Cabo Verde e faz qualquer um vibrar com versos algumas vezes até agressivos de tão diretos. Ovídio Martins me sacudiu quando encontrei com ele nas linhas e curvas da história que a literatura desenha, de maneira que faço coro com ele, me agarrarei as pedras e ervas e não vou a lugar nenhum, nem mesmo para Pasárgada.

Anti-evasão
Ovídio Martins

Pedirei
Suplicarei
Chorarei
Não vou para Pasárgada
Atirar-me-ei ao chão
E prenderei nas mãos convulsas
Ervas e pedras de sangue
Não vou para Pasárgada
Gritarei
Berrarei
Matarei
Não vou para Pasárgada

 
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Mais sobre Ovidio Martins:

sábado, 28 de maio de 2011

Eu queria ter nascido gato!



 

"Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livre"
(Enriquez/Bardotti/Chico Buarque)



"Em tempos antigos os gatos eram adorados como deuses;
eles não se esqueceram disso." 
 (Terry Pratchett)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Como se escreve corretamente: Um Pouco Perdida, Meio Perdida ou Perdida Inteira???

"O homem lúcido é aquele que se livra das "idéias" fantásticas (ilusões a respeito de si mesmo e da realidade) e encara a vida sem temor. Percebe que tudo nela é problemático e se sente perdido. E esta é a verdade elementar - viver é sentir-se perdido - que aquele que a aceita já começou a encontrar a si mesmo, a pisar em terra firme. Por instinto, como fazem os náufragos, olhará em torno, à procura de algo em que possa se agarrar, e esse olhar trágico, implacável, absolutamente sincero, porque se trata da sua salvação, irá fazer com que ponha ordem no caos de sua vida. São essas as únicas idéias autênticas; as idéias dos náufragos. Tudo o mais é retórica, pose, farsa. Aquele que realmente não se sentir perdido não tem perdão; quer dizer, nunca se encontrará, nunca enfrentará a sua realidade." 



Ótimo, independente de como se escreve, já me sinto suficientemente perdida!!!!
Já olho para onde estou e não sei de onde vim ou para onde vou!!!
Então, será que agora, só para variar, a terra firme poderia surgir no horizonte???
Uma placa de orientação também seria bem vinda, estou cansada de ficar perdida em uma esquina vazia!


sábado, 14 de maio de 2011

A SEMANA, 14 de maio de 1893.

ONTEM DE MANHÃ, descendo ao jardim, achei a grama, as flores e as folhagens transidas de frio e pingando. Chovera a noute inteira; o chão estava molhado, o céu feio e triste, e o Corcovado de carapuça. Eram seis horas; as fortalezas e os navios começaram a salvar pelo quinto aniversário do Treze de Maio. Não havia esperanças de sol; e eu perguntei a mim mesmo se o não teríamos nesse grande aniversário. É tão bom poder exclamar: "Soldados, é o sol de Austerlitz!" O sol é, na verdade, o sócio natural das alegrias públicas; e ainda as domésticas, sem ele, parecem minguadas.

Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto. Essas memórias atravessaram-me o espírito, enquanto os pássaros treinavam os nomes dos grandes batalhadores e vencedores, que receberam ontem nesta mesma coluna da Gazeta a merecida glorificação. No meio de tudo, porém, uma tristeza indefinível. A ausência do sol coincidia com a do povo? O espírito público tornaria à sanidade habitual?

Chegaram-me os jornais. Deles vi que uma comissão da sociedade que tem o nome de Rio Branco, iria levar à sepultura deste homem de Estado uma coroa de louros e amores-perfeitos. Compreendi a filosofia do ato; era relembrar o primeiro tiro vibrado na escravidão. Não me dissipou a melancolia. Imaginei ver a comissão entrar modestamente pelo cemitério, desviar-se de um enterro obscuro, quase anônimo, e ir depor piedosamente a coroa na sepultura do vencedor de 1871. Uma comissão, uma grinalda. Então lembraram-me outras flores. Quando o Senado acabou de votar a lei de 28 de setembro, caíram punhados de flores das galerias e das tribunas sobre a cabeça do vencedor e dos seus pares. E ainda me lembraram outras flores...

Estas eram de climas alheias. Primrose day!

Oh! se pudéssemos tem um primrose day! Esse dia de primavera é consagrado à memória de Disraeli pela idealista e poética Inglaterra. É o da sua morte, há treze anos. Nesse dia, o pedestal da estátua do homem de Estado e romancista é forrado de seda e coberto de infinitas grinaldas e ramalhetes. Dizem que a primavera era a flor da sua predileção. Daí o nome do dia. Aqui estão jornais que contam a festa de 19 do mês passado. Primrose day! Oh! quem nos dera um primrose day! Começaríamos, é certo, por ter os pedestais.

Um velho autor da nossa língua, — creio que João de Barros; não posso ir verificá-lo agora; ponhamos João de Barros. Este velho autor fala de um provérbio que dizia: "os italianos governam-se pelo passado, os espanhóis pelo presente e os franceses pelo que há de vir." E em seguida dava "uma repreensão de pena à nossa Espanha", considerando que Espanha é toda a península, e só Castela é Castela. A nossa gente, que dali veio, tem de receber a mesma repreensão de pena; governa-se pelo presente, tem o porvir em pouco, o passado em nada ou quase nada. Eu creio que os ingleses resumem as outras três nações.

Temo que o nosso regozijo vá morrendo, e a lembrança do passado com ele, e tudo se acabe naquela frase estereotipada da imprensa nos dias da minha primeira juventude. Que eram afinal as festas da independência? Uma parada, um cortejo, um espetáculo de gala. Tudo isso ocupava duas linhas, e mais estas duas: as fortalezas e os navios de guerra nacionais e estrangeiros surtos no porto deram as salvas de estilo. Com este pouco, e certo, estava comemorado o grande ato da nossa separação da metrópole.

Em menino, conheci de vista o Major Valadares; morava na Rua Sete de Setembro, que ainda não tinha este título, mas o vulgar nome de Rua do Cano

Todos os anos, no dia 7 de setembro, armava a porta da rua com cetim verde e amarelo, espalhava na calçada e no corredor da casa folhas da Independência, reunia amigos, não sei se também música, e comemorava assim o dia nacional.

Foi o último abencerragem. Depois ficaram as salvas do estilo.

Todas essas minhas idéias melancólicas bateram as asas à entrada do sol, que afinal rompeu as nuvens, e às três horas governava o céu, salvo alguns trechos onde as nuvens teimavam em ficar. O Corcovado desbarretou-se, mas com tal fastio, que se via bem ser obrigação de vassalo, não amor da cortesia, menos ainda amizade pessoal ou admiração. Quando tornei ao jardim, achei as flores enxutas e lépidas. Vivam as flores! Gladstone não fala na Câmara dos Comuns sem levar alguma na sobrecasaca; o seu grande rival morto tinha o mesmo vício. Imaginai o efeito que nos faria Rio Branco ou Itaboraí com uma rosa ao peito, discutindo o orçamento, e dizei-me se não somos um povo triste.

Não, não. O triste sou eu. Provavelmente má digestão. Comi favas, e as favas não se dão comigo. Comerei rosas ou primaveras, e pedir-vos-ei uma estátua e uma festa que dure, pelo menos, deus aniversários. Já é demais para um homem modesto.


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Ontem foi dia 13 de Maio, o Dia da Abolição da Escravidão no Brasil, por inúmeros motivos essa data não é comemorada, é mal lembrada e o mais que se possa dizer... Mas, a Abolição foi a primeira grande luta social na qual homens e mulheres brasileiras empenharam vida, trabalho, esforço e o mais que se possa pensar e venceram em esforço conjunto...


No dia 14 de Maio Machado fez publicar esse texto que ai está... Com toda humildade de minha pouca importância público esse texto por aqui.

Interrompo minha pausa para gravar aqui as letras do Bruxo do Cosme Velho, o meu primeiro amor literário afro-negão, meu primeiro chato do coração. Inesquecível como todo primeiro amor!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

As vezes é bom dar uma pausa...


Do jeito que sou apaixonada por blogar, isso pode durar um dia, uma semana ou nem mesmo um minuto... Nunca avisei a ninguém ao longo dos últimos cinco anos de vida on line que estava dando um tempo em alguma atividade, mas agora sinto que é bom dizer!!!

Uma pequena pausa na atividade de blogar se faz necessária!!!