Acho que vez ou outra todo mundo tem vontade de sumir, ser engolido pela terra, deixar tudo por fazer... evaporar... e não é apenas uma questão de querer fugir de uma situação, as vezes eu quero mesmo fugir de mim... o que também não me parece algo muito incomum.
São momentos em que tudo o que eu queria era poder fugir para algum lugar onde houvesse mais paz externa de maneira que a paz interna tivesse alguma chance de aflorar... Talvez algum paraíso perdido, um Edén, algo tipo a Tir na nóg dos irlandeses, onde não há velhice, nem dor, nem doenças, uma Jerusalém, em cujas ruas "se ouve o som da harpa de Davi" ou mesmo a boa e velha Pasárgada, afinal já dizia Manuel Bandeira:
"Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização"
MAS, no meio das confusões que me fazem querer desaparecer dei de cara com um sujeitinho diferente de tantas coisas que eu já vi; Entre a multidão de livros, artigos e textos a ler eu encontrei com Ovídio Martins, um poeta cabo-verdiano arretado que lutou pela independência de Cabo Verde e faz qualquer um vibrar com versos algumas vezes até agressivos de tão diretos. Ovídio Martins me sacudiu quando encontrei com ele nas linhas e curvas da história que a literatura desenha, de maneira que faço coro com ele, me agarrarei as pedras e ervas e não vou a lugar nenhum, nem mesmo para Pasárgada.
Anti-evasão
Ovídio Martins
Pedirei
Suplicarei
Chorarei
Não vou para Pasárgada
Atirar-me-ei ao chão
E prenderei nas mãos convulsas
Ervas e pedras de sangue
Não vou para Pasárgada
Gritarei
Berrarei
Matarei
Não vou para Pasárgada
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