Bem, ontem foi dia 23 de Junho e bem, quem mora, já morou ou passou por algum estado do Nordeste sabe que aqui o bicho pega, a fogueira é acesa, o milho assa e a canjica ferve no fogão de lenha ou de gás, tanto faz. Aqui o dia 23 é aguardado com ansiedade, é um dia especial.
Apesar de ser protestante e de não festejar a festa no arrastá pé ou na quadrilha minha família não escapa de certas tradições que são passadas, repassadas e preservadas com carinho como por exemplo a canjica de milho (para quem não sabe canjica é um tipo de papa feita de milho que é ralado e peneirado ficando só o caldo, ao caldo a gente junta leite de coco, açúcar, manteiga e muita força para mexer bastante com uma mega colher de pal). Aqui em casa a canjica faz com que a gente se una: eu, mainha, Júnior, Rafa e quem aparecer na hora, esse ano até um primo da gente ajudou, afinal ralar o milho e mexer a papa dá trabalho e requer força pq nós fazemos um caldeirão mesmo!
A canjica daqui de casa não é servida assim não tá, é no prato mesmo ou na travessa, mas é parecida com essa, é fininha, tem uma que ficam mais grossas
É bonito, eu gosto desse clima de preparar comida junto, passar a vida a limpo, nos uni e é a marca do São João e depois vem o comer todo mundo aquela comida que foi feita um pouco por cada um, é uma tradição que foi inventada (como todas as tradições são) por nossa família e vem durando.
Ah, e tem o fato curioso, eu ajudo no processo, gosto de participar dele, mas sinceramente, fala sério, eu sou alérgica a milho e asmática, então não como comida de milho e nem curto muito a fogueira, nem mesmo posso colocar meus não tão lindos pés fora de casa uma vez que a fumaça rola solta... kkkk...
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Ah, outro ponto desse São João, um não tão bom, na verdade o que me angustiou e tem me angustiado, é a catástrofe desencadeada pela chuva no interior de Pernambuco e Alagoas, fiquei e estou ainda bastante preocupada, comovida, vendo como posso ajudar... Ano passado visitei União dos Palmares, onde fica a Serra da Barriga, o lugar onde ficava o Quilombo dos Palmares e que ainda abriga uma comunidade quilombola, outro dia falo sobre isso tudo e vou até colocar algumas fotos.
Mas, vendo as reportagens reconheci alguns lugares e estão destruídos... Fico pensando em pessoas que conheci por lá, especialmente uma senhora que me contou sua história triste, tinha perdido um filho seis meses antes, encontrei com ela no domingo de manhã, o marido tinha ido no cemitério levar flores para o túmulo do rapaz que tinha acabado de passar na seleção de mestrado na UFPA, ela me contou a história inteira do sucesso dele, de como ele estava caminhando bem, a despedida dele, o acidente, os dias que se seguiram e como estava sendo difícil viver sem ele. A dor da perda, a saudade da separação, a incompreensão do porque de tudo isso!
Um encontro, uma história, um abraço e um chero cheios de lagrimas e dor. Foi um abraço forte o dela e um chero de mãe desfilhada ficou comigo... fico pensando o que houve entre nós para que ela desaguasse nos meus ouvidos a história toda... E agora cada vez que vejo alguma notícia fico pensando nessa senhora , se ela está bem, se nenhum de seus outros filhos se machucou ou algo do gênero, como está sendo o São João dela??? E pensando nela, penso também em todas as outras pessoas que estão vivendo essa situação difícil... aiaiai...
É curioso como enquanto uns estão bem outros estão tão... enfim... pensei a mesma coisa quando fui conhecer a Serra da Barriga, estava super feliz em ir conhecer o Quilombo e tudo o mais e de repente dei de cara com uma pessoa super arrasada. Hoje minha família está super bem, comendo a canjica aproveitando a preguiça do feriado, eu também estou ok e bem...
A vida não é fácil para ninguém mesmoooo....