sábado, 7 de setembro de 2024

Pelo visto, não aprenderam nada sobre guerra [Citação 016]

"Digam-me. Já mataram alguém antes? Já foram mortos por alguém? Já tiveram braços e pernas arrancados em uma explosão? Ouviram o som de ossos quebrando? Sentiram o cheiro de carne apodrecendo? Viram os destroços das casas esmagarem seus pais e irmãos bem na sua frente? E quanto a pedaços da pessoa amada grudados na parede? Já chegaram a morder cascas de árvore, de tanta fome? E carne humana? Alguma vez já chegaram a cozinhá-la? Já viram alguém próximo seguir desumanizando e matando o inimigo e uma vez de volta à vida civil, ficar transtornado chorar e vomitar de arrependimento e vergonha e acabar tirando a própria vida? Pelo visto, não aprenderam nada sobre "GUERRA" na faculdade, hein, garotos?" (Fala de Sylvia, Handler do Serviço Secreto de Inteligência de Westalis, personagem de Tatsuya Endo em Spy x Family, vol. 4.)


"Spy X Family" da Tatsuya Endo é aquele mangá leve e divertido que a gente lê gostando. Nele a gente encontra as aventuras de uma família com uma composição muitíssimo única. O pai, Loid, é um espião cuja profissão de disfarce é psiquiatra; a mãe, Yor, uma assassina profissional cuja profissão de disfarce é funcionária da pública; e a filha adotiva do casal, Anya, é uma criança paranormal que lê mentes, fruto de experiências com humanos.

Todo ambiente da história contada em "Spy X Family" remete ao mundo da Guerra Fria surgido após a II Guerra Mundial quando a extinta URSS e o EUA protagonizaram uma luta às vezes silenciosa, às vezes nem tanto, pelo topo do Mercado Econômico Mundial, o palco lembra um pouco Berlim dividida entre as potências, os personagens todos eles carregam traumas de uma guerra recente.

No mangá as potências rivais são Ostania e Westalis, Loid é um espião de Westalis que adota a criança Anya e propõe casamento a Yor para cumprir uma missão. No entanto, tanto Yor quanto Anya entram nessa aventura com objetivos próprios, Yor é assassina profissional e precisa de um marido para manter as aparências e não se tornar alvo; Anya como criança paranormal sabe o segredo de todo mundo e só deseja um lar com pai e mãe. Temos uma família disfuncional querida, onde todos estão aprendendo a se amar, respeitar e guardar seus segredos e vidas ocultas a sete chaves. É muito divertido acompanhar as venturas desse povo querido, a cada novo volume fico mais apaixonada pelo universo de espionagem, conflitos secretos e vida familiar criado pela Tatsuya.

Nesse volume 4 a aventura é encontrar um cãozinho de estimação para a Anya como prêmio por ela ter ido bem em uma atividade na escola, no entanto no meio do caminho aparece uma missão para Loid e ele tem que correr atrás de uma organização de jovens terroristas que desejam desmontar o frágil equilíbrio entre Ostania e Westalis gerando uma nova guerra.

A citação que abre esse texto é uma fala da Sylvia, Handler do Serviço Secreto de Inteligência de Westalis. Não sei nada sobre a personagem, ela é aquela pessoa cheia de mistérios, mas achei muito forte cada palavra, me fez refletir e ter vontade de levar para a sala de aula.

 

A Guerra Esquecida na Ucrânia, a situação da Palestina, as tensões no Sudão do Sul e do Norte, a Venezuela, a Coreia dividida em Coreia do Sul e Coreia do Norte... São tantos os exemplos, são tantos os lugares do mundo fervendo nesse momento, são tantas as fervuras que atingiram nosso mundo em tempos passados, as vezes sinto como se no Capitalismo vivêssemos em uma Guerra Eterna.

Me divirto muito lendo "Spy X Family", mas também tenho meus momentos de reflexão e emoção. Estou amando acompanhar essa história, ela é divertida que consegue aqui e ali, como quem não quer nada, propor reflexões muito bem colocadas sobre os caminhos da humanidade, como viver além das consequências de nossos traumas e encontrar possibilidades de ser feliz aceitando nossas diferenças, particularidades e necessidade de privacidade.

5 comentários:

  1. não conhecia. eu falei de um livro juvenil no meu blog. beijos, pedrita

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  2. Oi Pandora! Li apenas os dois primeiros volumes e acompanho a história pelo anime. Realmente é muito divertida, mas aqui e ali insere temas muito reais e que nos levam a pensar. Eu amo esta família incomum e torço para que no final, após a missão, sigam juntos. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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  3. Minhas duas filhas tiveram uma fase de adoração por mangás e animes. A mais nova tinha centenas. Às vezes ela vendia alguns. Não me lembro se tinham este. Quanto às guerras, muitos acham que é um dos desdobramentos do capitalismo. De qualquer modo, o que é chamado de "Real Politik" é a prática - digamos - da política real, que engloba muita coisa feia, capaz de causar indignação e... guerras.

    Beijo

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  4. Oi Pandora, nunca li um Mangá, tenho que tomar vergonha na cara e conhecer esse estilo. Que bom que a leitura despertou vários sentimento em você.

    Até mais!
     www.relatosdalih.com.br 🩷

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  5. Nossa Pandora, você escreve de uma forma magnífica!
    Em primeiro lugar a citação que você inseriu no preâmbulo do texto me congelou...
    Que texto forte e verdadeiro. Eu quase passei mal ao lê-lo. Lembrou-me do Filme "O Pianista"onde pude constatar os horrores da guerra. Ele foi baseado no livro autobiográfico "The Pianist" que conta as memórias do Holocausto de um pianista e compositor judeu em um ambiente deprimente de destruição e caos, onde pilhas de cadáveres faziam parte do cenário das cidades e execuções passaram a ser feitas arbitrariamente, apenas para saciar o sadismo dos nazistas. Puxa, me perdoe fugir do tema, mas é que a citação foi realmente marcante.
    Em relação ao mangá, acredita que não tenho o costume de ler? Eu preciso aprender a amar essa forma de leitura que é muito mais divertida e dinâmica!!
    Adorei a sugestão, amei o seu blog! Já vou inserí-lo na minha lista de favoritos do Vivendo Bem Feliz! :))))
    Maravilhosa semana!!

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