"Apenas Mais Uma Chance" de Helena Vieira

Como é bom ler um romance! Meu coração é um romance fofinho onde independente de como a realidade possa vir a ser desafiadora as pessoas terminam felizes para sempre. Sendo como sou, a história de amor entre Dalila e Patrícia contada pela Helena Vieira em "Apenas mais uma chance" iluminou muito meu coração nesses dias turbulentos de Agosto.

Nesse livro, Helena nos apresenta Dalila, uma microempreendedora dona de um brechó em um bairro bom da cidade fictícia de Pastos Bons que começa a história seguindo sua namorada, suspeita de traição; e Patrícia, uma decorada bem empregada vivendo a experiência de depois dos 30, finalmente, se assumir como mulher lésbica e está em um encontro com a namorada traidora da Dalila. Não, não é nesse momento que as duas vêm as luzes brilhando, os passarinhos cantando e se apaixonam, as romancistas não são tão óbvias assim, após esse momento meio constrangedor, as nossas protagonistas acabam por uma coincidência do destino dividindo o mesmo apartamento e da convivência cotidiana vão vendo a cumplicidade, confiança e desejo sexual construírem uma relação de amor sólida e duradoura.

Pati é uma mulher introvertida que viveu uma mentira ao longo da adolescência e juventude, ela está amando verdadeiramente pela primeira vez e é uma experiência muito terna vê o desabrochar dela como mulher lésbica, sexualmente livre e satisfeita. Dalila é uma mulher bem resolvida, com uma família muito agregadora para a qual a lesbiandade dela jamais foi algo problemático, a grande questão da Lila é ter ficado um tempo com uma pessoa traidora. Ambas são mulheres adultas que vão se apaixonando através da convivência cotidiana.

A gente pode dividir o livro em duas partes. Na primeira vemos o primeiro encontro das duas no meio da pataquada gerada pela ex da Dalila, a coincidência de repentinamente estarem dividindo o mesmo apartamento e a convivência cúmplice das duas até a descoberta do amor. Na segunda vemos o desenvolvimento do relacionamento romântico, sensual e sexual das duas com muitas cenas quentes pegando fogo, bem gráficas, +18. Somando as duas partes temos um romance muito lindo, absurdamente romântico.

Um romance bom tem que dosar a realidade na qual vivemos com a Utopia do que desejamos viver e a Helena Vieira faz isso muito bem. Trata-se de uma autora que também é uma grande leitora, muito atenta aos erros e acertos das romancistas da atualidade que tem modelado seu universo narrativo dentro da cidade fictícia de Pastos Bons com personagens cheios de personalidade.

A cada novo romance vejo a Helena testando alguma coisa nova em suas experiências de escrita, dessa vez ela trouxe a narrativa em primeira pessoa. Senti que deu um trabalhinho para ela encontrar sua própria voz dentro da narrativa, em livros anteriores ela contou a história usando a voz dos personagens. Então o esforço era encontrar a voz dos personagens e seguir sendo coerente aquela presença e personalidade, aqui a Helena precisou encontrar a si mesma, seu tom de autora para narrar e é visível como ela foi se encontrando ao longo da escrita do livro que seguiu numa crescente reafirmando a máxima de que "só se aprende a escrever escrevendo".

Em síntese, aqui temos um livro lindo, lesbocentrado, com desenvolvimento divertido e delicado, leal às suas protagonistas e com um final absolutamente feliz como a gente deseja que a vida tenha.