Ser nordestina, na maioria dos casos, é sinônimo de ter orgulho de crescer e viver dentro de uma cultura muito rica, plural, fantástica e ao mesmo tempo se perceber como alvo de xenofobia por parte de boa parte do povo brasileiro. Lembro de ter lido no meu livro de geografia na 7ª série, atual 8º ano, a Região Nordeste sendo caracterizada como "região problema do Brasil", já senti o peso do preconceito algumas vezes pelo Brasil a fora.
Realmente, como todas as regiões do Brasil, nós temos nossas questões dolorosamente problemáticas, mas nada nem ninguém é apenas um emaranhado de problemas, nós também somos um povo altivo, divertido, trabalhador, constantemente em busca de solução para nossas dores e criadores de uma cultura cheia de elementos incríveis. E no livro "O Auto da Maga Josefa", a Paola Siviero criou uma história abordando justamente o maravilhoso e o fantástico contido na Cultura Nordestina.
Que livro SENSACIONAL! Não tem outra forma de começar a falar nesse sem ser a afirmação do quanto esse livro é bom. A Paola Siviero é natural de Belo Horizonte, cresceu no interior de São Paulo, mas pesquisou muito bem a cultura e o estilo de vida no Nordeste durante a década de 1960 conseguindo entregar um livro cuja história gerou em mim um forte sentimento de identificação e amor.
Em "O Auto da Maga Josefa" acompanhamos as aventuras de um caçador de monstros e assombrações chamado Toninho e de uma Maga poderosa e mal humorada chamada Josefa. O livro tem o formato de uma narrativa episódica e ao longo de seus 10 capítulos acompanhamos justamente 10 histórias de caçadas aos mais variados tipos de criaturas fantásticas que habitam o nordeste brasileiro tais como: chupa-cabra, lobisomem, demônios, dragões, gênio da lâmpada e por aí vai.
Foi extremamente satisfatório acompanhar Toninho montado em sua mula chamada Véia e a poderosa Maga Josefa que voa em cima de um galho de cajueiro. Eles são uma dupla absurdamente divertida. Josefa, apesar de ter esse nome que remete a pessoas idosas, é uma personagem jovem, altivo, ranzinza, com resposta para tudo e com zero paciência. Nossa! Me lembrou muito a personalidade "doce" de Dona Rita, também chamada por mim de Voinha, e minha própria e querida personalidade. Sou Jacilene, mas tenho meus momentos Josefa, especialmente lidando com adultos no contexto do meu ambiente de trabalho. Toninho é um doce de rapaz, cheio de coragem, muito bem orientado, educado e concentrado em sua tarefa de caçar monstros, ajudar pessoas e aumentar seu conhecimento dos interiores do Nordeste, não existe parceiro melhor para uma maga ranzinza que um rapaz querido, corajoso e bem educado.
Me vi nos personagens do livro e também vi os meus. Escrever sobre o místico, o misterioso e maravilhoso das culturas humanas é trabalho de artesanato delicado que requer cuidado, ternura e um pouco de busca de compreensão dos medos e formas de fé dos seres humanos. Me encantou a forma linda como a Paola Siviero retratou pessoas, lugares e diferentes tipos de religiosidade em seu trabalho. "O Auto da Maga Josefa" é um livro no qual transborda cuidado, ternura, compreensão, fé e sobretudo RESPEITO às formas de ser, estar, crer e viver no Nordeste do século XX e atual também. O livro é lindo, muito bem escrito, fácil e gostoso de ler.
Para pessoas apaixonadas por histórias de fantasia com heróis, magia, seres encantados e cultura nordestina esse livro é um encanto.
quero ler esse livro. beijos, pedrita
ResponderExcluirEste livro deve ser muito interessante e eu, particularmente, gosto muito de obras que falam de nossas lendas, tradições, costumes, enfim cultura.
ResponderExcluirP.S: Nos últimos dez anos muitas coisas de política (antes apenas suspeitas) ficaram claras para mim. Entendi que a xenofobia contra nordestinos (bem como a que existe contra brasileiros) têm origem em interesses escusos, de gente que ganha com essas discriminações e divisões.
Beijo
Que bom que você gostou! Eu amei esse livro, se tornou um dos meus favoritos.
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