sábado, 3 de agosto de 2024

Dois Livros Sobre Viagens no Tempo: "A Máquina do Tempo" de H. G. Wells e "O Fim da Eternidade" de Isaac Asimov

Quando terminei de ler "O fim da Eternidade" de Isaac Asimov percebi que, com esse, completei a leitura de dois livros em torno do tema "viagens no tempo" apenas em 2024, em fevereiro li "A Máquina do Tempo" do H. G. Wells. Ambos as leituras foram fluidas, divertidas e gostosas, fiquei com vontade de escrever sobre os dois e aqui estou organizando minhas impressões sobre essas obras-primas tentando não revelar nada capaz de diminuir o prazer de quem pretende ler esses livros.

A hipótese da viagem no Tempo, a ideia de viajar entre o presente, passado e futuro, figura hoje entre os temas clássicos da ficção científica. Em torno dele existem filmes, séries, jogos, livros e eu acreditava que a abordagem desse tema vinha de longe na História da Humanidade. Fiquei um pouco absurdada quando soube que o tema foi inaugurado no final do século XIX pelo Herbert George Wells, H. G. Wells, com o livro "A Máquina do Tempo".


Nesse livro o H. G. Wells conta a história de um homem com ares de cientista maluco, rico e excêntrico chamado ao longo de todo o livro de "O Viajante do Tempo" que constrói uma máquina, uma cadeira com manivelas, números, roldanas e derivativos, capaz de permitir a um ser humano atravessar a barreira do tempo indo tanto para o passado mais longínquo da Terra quanto o futuro mais remoto e inexorável.


A narrativa de H. G. Wells é influenciada pelo clima social e cultural do fim do século XIX com as ideias evolucionistas de Charles Darwin e o desenvolvimento científico e tecnológico gerado pela II Segunda Revolução Industrial então em curso. Imagino que com novas descobertas científicas e as maravilhosas aplicações dessas descobertas na vida cotidiana as pessoas podiam sentir que a humanidade estava vencendo limites anteriormente intransponíveis, então poderia ser questão de tempo vencer a barreira do tempo.

O livro é narrado em terceira pessoa por um homem, jornalista, que conheceu O Viajante do Tempo, testemunhou seu momento de volta no tempo e ouviu toda a história por ele contada. Através das memórias desse narrador viajamos pelo passado remoto da Terra e seu futuro aterrorizante onde a espécie humana evoluiu criando duas subespécies: os Eloi, que vivem na superfície de forma pacífica, e os Morlocks, que vivem no subterrâneo e passam uma aura de perigo.


Decidi ler "A Máquina do Tempo" depois de rever alguns episódios da série clássica dos X-Mens através do streaming da Disney. Sempre gostei do grupo de mutantes que vive nos subterrâneos da cidade, quando descobri de onde vinha a inspiração para o nome da equipe, "Os Morlocks", fui atrás dele para ler. Ir atrás desse livro foi uma experiência excelente. Trata-se de uma obra elegante com escrita de fácil leitura capaz de capturar a atenção da pessoa leitora nas primeiras páginas e segurar até a última palavra.

O que o H. G. Wells tem de elegante em sua escrita o Isaac Asimov, para mim, tem de divertido e fácil de ler. Peguei um livro dele na estante querendo ler algo leve tranquilo, obtive o esperado e ainda ganhei uma surpresa deliciosíssima no final.


Em "O Fim da Eternidade" a história de Andrew Harlan, um homem que vive no século 575 trabalhando como técnico numa mega megaempresa chamada Eternidade. A Eternidade é a responsável pela manutenção da estabilidade e segurança da humanidade através de constantes mudanças no tempo. Sendo técnico o Harlan vive sua vida indo de época em época da  história, pegando dados da realidade e fazendo pequenas intervenções friamente calculadas para gerar mudanças sempre e continuamente no sentido de manter a espécie humana longe de qualquer coisa capaz de destruí-la.

No mundo onde Harlan existe, toda a humanidade sabe da existência da Eternidade e faz uso dela para trazer e levar coisas de um século para o outro. Tudo que existe fora da empresa é chamado de Tempo, todos os humanos que vivem no Tempo são chamados de TEMPISTAS. Os funcionários são retirados do tempo para trabalhar na Eternidade, são chamados de ETERNOS e ocupam diversos postos dentro dessa mega empresa que administra a manutenção da vida humana no Tempo de forma muito burocrática, higienizada e hierarquizada.

O livro é construído em cima de uma narrativa episódica onde cada capítulo conta uma parte da vida do Harlan e vai revelando detalhes sobre essa curiosa empresa e essa capciosa realidade na qual os seres humanos dominam a viagem no tempo e a praticam sem medo. Acompanhando o trabalho do Técnico da Eternidade vamos saber como funciona essa empresa, quais seus paradigmas, seus valores, aparelhos e métodos.

No começo, o livro me pareceu confuso com as explicações de todos os aparelhos, cenários e histórias, mas aos poucos as coisas foram se encaixando. Quando senti o gosto do livro quis fazer ele durar lendo um capítulo por dia antes da primeira aula do dia ou antes de dormir e essa decisão tornou a leitura mais legal ainda. Foi como ir vendo uma série tendo raiva do Harlan, conhecendo as circunstâncias da vida dele, seus hobbies, sua solidão e o momento no qual ele conhece a Nöys, uma tempista que vai trabalhar na Eternidade e traz novas cores para a vida dele criando um romance até clichê.

"O Fim da Eternidade" é aquele tipo de livro que começa lento, meio monótono, Asimov vai apresentando cenário, personagens, contexto, dando forma, cor, tom a sua história até o ponto de arrematar a pessoa leitora. O ritmo da história vai numa crescente, do começo para o meio é bom, do meio até o penúltimo capítulo é muito bom, do penúltimo para o último capítulo torna-se ÓTIMA em letras maiúsculas. Reviravoltas inesperadas, sensacionais, desfecho inesperadamente LINDO!


Comparando os dois livros, achei interessante como o Asimov amplia a discursão aberta pelo H. G. Wells sobre viagens no Tempo fazendo uma discursão sobre as implicações das mudanças no tempo para o desenvolvimento da História da humanidade inexistentes em "A Máquina do Tempo." Achei perfeito como em "O Fim da Eternidade" a máquina construída pelo Viajante do Tempo na qual apenas um homem pode viajar se transforma em uma empresa multinacional gigantesca.

Tanto a ficção do Asimov quando a do H. G. Wells são masculinas. Tanto "A Máquina do Tempo" quanto "O Fim da Eternidade" são livros sobre homens, escritos para um público masculino, mesmo sendo divertidas e gostosas de ler, carregam em si suas questões problemáticas. O contexto histórico no qual eles foram produzidos eram extremamente problemáticos para as mulheres e isso se reflete nas histórias, faz a gente ter certo ranço dos protagonistas aqui e ali, traz aquele sentimento de gratidão a todas as mulheres que ousaram escrever ficção científica e nos entregaram histórias nas quais as mulheres são protagonistas incríveis e inspiradoras.

3 comentários:

  1. apesar de clássicos não li nenhum. bela postagem. beijos, pedrita

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  2. Eu sempre tive um grande fascínio pela questão do tempo, que é algo misterioso, porém capaz de transformar tudo. E o fato de a gente saber que, por exemplo, o tempo nos diversos planetas do sistema solar é diferente, uma vez que tempo está relacionado com o movimento desses planetas em volta deles mesmos e especialmente em volta do sol, só torna tudo mais interessante. Quando digo "diferente", refiro-me à duração do que chamamos de dia/ano.
    Por isso eu já li alguns livros sobre o assunto, como este A máquina do tempo, do H.G.Wells. Mas eu li este livro muito jovem, como diversão mesmo, coisa que o correr dos anos e a leitura de menções feitas ao livro por outros leitores, me mostraram que que ele merece ser lido com mais atenção. Já o livro do Asimov eu não conheço, mas parece ser também muito interessante.

    Beijo, boa noite e bom domingo

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  3. Oi! Eu ainda não li nada de ambos os autores, mas a maneira que você comenta sobre os dois livros me deixou com bastante vontade de conhecer as histórias. Já li sobre o tema em obras mais recentes e seria ótimo conferir em abordagens mais antigas. Eu não sei se um dia viajaremos no tempo, mas sinceramente, espero que não. É poder demais na mão da humanidade.
    Moonlight Books

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