Voltando ao clima Natalino, tentando esquecer as confusões familiares, celebrando o que há para ser celebrado guardo na minha caixita a história de um encontro qque a Sônia viveu e contou no seu blog A História de Santhiago em Dezembro do ano passado.
Contos de Natal: Um Encontro...
Final da tarde de hoje, eu vagando pela Avenida Paulista, adoro aquele lugar, muitas lojas de arte, gente bonita, especialmente no Natal fica linda, as luzinhas me fascinam. Paro em frente a loja de artes mais bonita que tem na Paulista, telas lindas, esculturas de encher os olhos, entro mesmo sabendo que eu jamais poderia comprar algo daquela loja.
Lá no cantinho, uma vitrine bem pequena me chama a atenção, e vejo uma escultura que me arrepiou (eu reconheceria aqueles traços, aquelas impressões, aquela sensibilidade mesmo daqui a mil anos), um moça muito simpática se aproxima (nessas alturas eu já estava fascina pelo magnetismo da escultura), me aproximo mais da vitrine para ver se via impressões digitais, (característica dele, não tirava as impressões que ficavam nas esculturas, moldava com as mãos e não se preocupava em tirá-las) nesse momento não me restava a menor dúvida, mas como? se eu nunca tinha visto aquela escultura, nem uma foto dela eu tinha visto?
A moça diz:
- Em que posso ajudá-la moça?
- Em até quantas parcelas são vendidos os trabalhos?
- Fazemos em até dezoito parcelas, você gostou de algo?
- Eu quero aquela escultura moça (voz trêmula e engolindo as lágrimas, a moça esboça uma expressão estranha)
- Só um momento, vou chamar o dono da loja (minutos intermináveis)
- Boa tarde moça, qual o seu nome?
- Me chamo Sônia...eu quero aquela escultura ali, vou pagar em dezoito veses (já meio sem paciência, sem saber nem se eu poderia pagar, isso já não me importava).
- Desculpa moça, mas aquela é minha, fica aqui só pra exposição.
- Você não a vende?
- Não! quem fez ela pra mim, nunca mais poderá fazer outra, eu comprei quatro, vendi três, me arrependo. Esse rapaz foi um dos melhores artistas que vi em minha vida, ele expunha aqui na feira da Paulista, República etc, essa escultura é toda feita de epoxi, ele se chamava José Roberto Gerônimo, mas já não está mais aqui entre nós, linda a ninfa né? Olha, tem outras esculturas lindas na loja, não quer dar uma olhada? você há de se identificar com alguma, mas essa não vendo.
- Como você se chama? (eu pergunto pra ele)
- Me chamo Marco Sales (e me entrega um cartão)
- Sr.Marcos, sei que você não a vende, mas deixa eu ver a escultura fora do vidro (ele faz uma cara de quem não está entendendo nada, tira umas chaves do bolso, abre a vitrine e põe a escultura no balcão), e eu fico ali não sei por quanto tempo fazendo carinho nas impressões digitais do artista que pra mim foi o melhor artista na arte de viver.
- Sônia, esse é o seu nome né? deixa eu te mostrar outras obras de outros artistas?
- Não precisa Marcos.
- Você conheceu o Beto, tem algum trabalho dele? (ele me pergunta, já guardando a escultura)
- Tenho sim Marcos, a obra mais valiosa dele, o seu melhor trabalho está comigo.
- Não entendi Dona Sônia (ele ri, parece que quer me descontrair)
- Nada não Sr. Marcos (devolvo a brincadeira), obrigada por cuidar dela tão bem, feliz Natal pra você.
Saio de lá com uma sensação estranha, mas feliz em saber que aquela ninfa tão linda está em mãos tão cuidadosas...
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