Cavalheiro: Homem de sentimentos e ações nobres.
Poderíamos adicionar a essa definição, sem prejuízo algum do sentido, a expressão: "algo terrivelmente difícil de se encontrar".
Aliás, até hoje eu chegaria até a dizer que cavalheiro só existe naqueles romances açucarados que vende nas bancas e nos sebos e que eu, diga-se de passagem, adoro. Mas cheguei em casa com uma certeza: encontrei no turbilhão urbano de Recife, em meio ao suor e ao caos de um ônibus lotado, um cavalheiro!
E como disse, eu já não acreditava mais que essa espécie de homens existia, pensava que tal ser tinha entrado em extinção, varrida da superfície do planeta por um cometa de grosseria e truculência que caiu sobre os homens, especialmente os que usam o sistema de transporte coletivo em Recife. Mas não é disso que quero falar.
O que queria contar é que provavelmente encontrei o últimos dos cavalheiros da terra!
Não foi nada de muito incrível, sinos não tocaram, pássaros não voaram, eu não estou apaixonada, apenas levemente admirada com o que me aconteceu em no quarto ônibus lotado do dia a uma pessoa devidamente em pé, portando uma bolsa incrivelmente pesada, com um ombro latejando de dor, a irritação misturada com a fome gritando ao pé do ouvido e com um mal humor de dar dor em qualquer criatura, mas que de repente se deparou com uma atitude diferente de um exemplar do sexo oposto.
Inacreditável, mas o rapaz olhou pra mim, de mim para minha bolsa, da minha bolsa para a bolsa dele, parou uns segundos e tascou a sangue frio em minha carne cansada um: "senta aqui!"
Será que alguém acredita se eu disser que recusei a oferta?
Pois é, eu recusei! Mas ele insistiu, quando eu pensei ele já estava em pé, me deu o lugar mesmo, com recusa e tudo!
E eu fiquei tão admirada que demorei uns bons três segundos para pedir a bolsa dele e descobrir porque ele hesitou em se levantar, a bolsa estava infinitamente mais pesada que a minha, por isso ele pensou tanto.
É, afinal de contas, ainda existem cavalheiros no mundo, podem até está em perigo de extinção, mas definitivamente ainda existem e eu encontrei com um desses espécimes raros em um ônibus lotado no meio do frenezi dessa cidade que não conhece o significado da palavra Outono!
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Ah, só para constar! Quase cai para trás quando cheguei em casa e me deparei com a noticia do que ocorreu no Rio de Janeiro com as crianças... Terrível, doloroso, angustiante e tantas coisas mais que no calor da tristeza e da revolta sinto agora, achei melhor escrever sobre algo corriqueiro... Mas, a revolta está aqui comigo e ela não é apenas contra esse demente monstruoso, mas também contra o Estado que não garantiu a essas crianças uma escola segura, sei que se amanhã outro demente acordar com vontade de matar crianças ele vai encontrar um enorme leque de escolas públicas brasileiras sem segurança alguma cheias de "brasileirinhos" e "brasileirinhas" desprotegidos(as). Isso doí no coração!