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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Luiz Gonzaga, um grande de seu tempo.


O ano do Centenário de Luiz Gonzaga está gerando uma sequência de merecidíssimas homenagens, ao menos aqui no Recife. O sacal nessas situações são os chavões. Os dois que, como historiador, mais me irritam são "homem à frente de seu tempo" e "obra atemporal". Essas expressões tão repetidas partem da premissa absurda de que é possível escolher se você quer fazer parte do seu tempo ou não. Ou ao menos que os gênios têm esse poder.

Uma coisa é ouvir a inigualável música de Bach e se comover com sua beleza eterna. Outra coisa é você ignorar todos os sinais óbvios de que é uma obra indissociavelmente ligada à primeira metade do século XVIII, em especial das áreas protestantes da Alemanha.

O mesmo vale para Machado de Assis. Ler seus romances é excelente, mas tanto pelas convenções do romance realista como pela tematização obsessiva da crise da sociedade senhorial, são muito claramente obras do fim do século XIX brasileiro.

Essas obras não são "atemporais" e não estavam "à frente de seu tempo". Eram tão brilhantes e geniais que, a despeito de todo os seus aspectos datados, continuam tendo muita coisa a dizer para pessoas que vivem em contextos espaciais e temporais muitíssimos diferentes, o que é totalmente diferente.

Luiz Gonzaga era totalmente filho de seu tempo. Foi para o Rio como tantos jovens da época, tentando ser cantor romântico. Não conseguiu, mas percebeu que poderia tentar se destacar no nicho regionalista. A aposta foi certeira. Era o tempo em que a cultura de massas se segmentava, abrindo espaço para manifestações mais particularistas. E também era o tempo em que se cristalizava uma identidade "nordestina", separada de uma identidade "nortista" mais geral.

Ele foi filho desse contexto. Consolidou de forma irresistível o padrão sonoro e visual do que seria a identidade nordestina. Apresentou esse conceito de "nordeste" a milhões de pessoas que não o conheciam, de uma maneira genérica o bastante para ser aceito sem muitas ressalvas por nordestinos e forasteiros. Associou eternamente seu nome a essa identidade. Tudo isso enquanto cantava músicas absolutamente sensacionais.

Luiz Gonzaga não é atemporal nem estava à frente de seu tempo. Foi totalmente um filho de seu tempo. Um dos mais brilhantes. Ajudou a moldar sua época e deixou uma herança que, tantos anos depois, ainda orgulha profundamente a sua gente. Não tá bom?

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Fora de tempo...



Uma vez um amigo meu ao saber que eu tinha um blog me deu uma receita para bombar na blogosfera, ele me disse que o bom era sempre falar no assunto do momento na hora que ocorria. No dia que ele disse isso eu soube exatamente o que eu estaria sempre evitando de falar no blog, não digo que não seda a tentação de falar sobre os assuntos que viram noticia da noite para o dia, mas evito sim isso, até porque isso é um blog e não um jornal ora...

Mas, apesar dessa determinação não posso ignorar que esse ano é o ano do centenário de Luiz Gonzaga e me deu vontade de falar sobre os fios que me unem ao Velho Lua, filho de Januário. Uma vontade nada original visto que até escola de samba falou dele esse ano e ele também foi o tema do São João de Pernambuco sendo por isso abordado por várias Quadrilhas Juninas.

Eu, como boa nordestina, também tenho tenho minhas histórias, preferencias e tudo o mais com o velho Lua, ele é quase uma unanimidade. Eu nunca vi ninguém dizer que odeia Luiz Gonzaga, mesmo entre meus colegas de Escola Bíblica Dominical encontrei fãs dele, um dos meus amigos até biografia tinha. Então, depois de considerar isso, de repente me deu vontade de contar/registrar um pouco disso nesse blog.

O plano era fazer algumas postagens sobre elem então acabei convidando a Michele Lima, uma das pessoas mais orgulhosas de sua origem nordestina que conheço, para falar sobre Luiz Gonzaga e pedi ao Tiago do 171nalata para me emprestar a postagem que ele fez a "500 anos" sobre o Velho Lua e resolvi dedicar essa semana a Luiz Gonzaga meio fora de tempo mesmo.

Espero que haja quem curta essa homenagem meio fora de tempo. Eu curti ler os textos da Michele e do Tiago assim como curto escrever o meu.



quinta-feira, 12 de abril de 2012

Propagandas fofas...

Bem, as pessoas, empresas e derivativos que fazem propagandas nem sempre são muito éticos, verdadeiros ou coisas do gênero... Isso é fato, mas venhamos e convenhamos que publicitário é um bicho cuja criatividade é difícil de contestar.

Uma vez ouvi um publicitário dizer que não é o segredo que é a alma do negócio e sim "A propaganda do segredo é que a alma do negócio!"

Hoje, tive mais uma daquelas tardes no arquivo e em meio aos documentos propícios a minha pesquisa fui observando algumas propagandas muito fofinhas.

Não resisti e fotografei algumas delas e trago-as para a Caixa porque acho uma delicia ver esses vestígios do passado nos contando que a vida já ocorreu de outras formas, que houveram outros presentes, outras surpresas... O passado não é pior ou melhor que o presente é apenas outro tempo.

Ah, antes de ir as propagandas fofas, hoje vi no face a seguinte tira do Calvin:


Bem, história pode até ser um tipo de LITERATURA, mas ficção não é não... O historiador, diferente do ficcionista é limitado pela materialidade da vida. Eles podem até fazer suposições e usar de imaginação em seus textos, mas tem por obrigação amarrar seus pés nos limites do possível enquanto o ficcionista aaaahhh, esse pode voar por mares nunca dantes navegados!

O historiador precisa de suas fontes, seus vestígios do passado, para falar o ficcionista precisa apenas de sua imaginação.

E sim, é possível conhecer, apenas não podemos achar que chegamos a verdade última. Mas o conhecimento, ainda que limitado e fracionado, é conhecimento e não pode ser desprezado antes tem que ser eternamente analisado, pensado e repensado.

E sim, agora vou as propagandas fofas encontradas no Diário de Pernambuco de 1887:

Propaganda de remédio para tosse, há quem diga que no século XIX as crianças eram vistas como pequenos adultos, as vezes eu duvido dessa ideia, e acho que apenas as crianças pobres eram vistas como mão de obra em potencial e propagandas assim me fazem pensar mais ainda nessa hipótese.


Eu não tenho a minima ideia do que vem a ser essas pilulas, mas esses cavalos me pareceram fofos.


Essa serpente saindo da taça ficou uma coisa rica, vamos lá o desenhista caprichou!!!


Aaaahhh... Essa propaganda é claramente enganosa... Mas me faz pensar que problemas com cabelo não são coisas de hoje...


Essa eu achei fofa porque mostra o cuidado com a pequena infância, a mulher cuidando do bebê!!!


Maquinas assim só me lembram da infância na casa de Mãe (avó materna), ele é costureira... Acho lindo maquina de costura!


Gente esse Óleo é praticamente o elixir da vida néh?!?! Mas o que mais me surpreendeu é que a Emulsão Scott passou do século XIX, atravessou o XX e ainda existe... Rapa, eu acho que vou começar a tomar esse óleo!


E sim, a propaganda de produtos dentais desde 1887 prometendo mundos e fundos em proteção contra caries e cura para a dor de dentes... Ah, detalhe o produto podia vim em liquido e em pó, além de em pasta.


Essa imagem não é de 1887, acho que é de 1886, acho linda por mostrar tanto um homem quanto uma mulher manejando a câmera fotográfica.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

No trabalho...

Janeiro terminando, aulas começando e pela primeira vez desde o dia em que decidi me tornar uma professora não tenho uma sala de aula para onde ir... Até principiou a dar uma tristeza, mas foi só um princípio, afinal meu atual trabalho não é tão ruim então tive um instante e registrei um pouco do lugar onde ando pesquisando a documentação base para a minha dissertação, a saber, a:

Fundação Joaquim Nabuco


Fundação Joaquim Nabuco é vinculada ao Ministério da Educação, foi idealizada e fundada em 1949 por Gilberto Freire com o objetivo de preservar documentos históricos-cultural de Joaquim Nabuco e do Brasil, mais especificamente do Norte e Nordeste.


Em todos os sentido é um ótimo lugar para pesquisar é muito agradável chegar lá, é diferente dos arquivos eclesiásticos nos quais estive pesquisando ano passado, mas do mesmo jeito a medida que eu vou entrando no espaço parece que vou mergulhando em um túnel do tempo do século XXI ao século XIX.


O corredor que conduz ao setor de Microfilmagens é meu túnel...


A sala onde nós pesquisamos a última parada, está vazia, mas costuma ficar cheia... Eu adoro quando ela fica cheia, mesmo que cada um de nós esteja em um passado diferente e que geralmente nós mal nos falamos, ainda é como se viajássemos em conjunto!


E começa o mergulho e minha tarde de trabalho, quase sempre uso a mesma maquina porque gosto de rotina e costumo ser uma das primeiras a chegar. 


É como se eu circulasse dentro do Recife do século XIX, naquela época o jornal era muito mais lido que hoje em dia, aliás, como o número de pessoas analfabetas era enorme ele costumava ser lido em voz alta e tratava de todo tipo de assunto então ler o jornal do século XIX é um mergulho na vida daquelas pessoas, em sua forma de falar, sentir, pensar em suas prioridades.


Eu quase escuto as vozes dos jovens estudantes de direito falando sobre a eleição de 1881, dos professores anunciando suas escolas, das pessoas lendo e comentando as notícias, as peças de teatro!!!



Eu sigo sentido falta das crianças, mas não quero lamentar ausências, vou tentar me fixar nas presenças que tenho agora e celebra-las com a mesma alegria que celebrava a creche... E que Deus me ajude... porque as vezes fica difícil...

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Mas sobre a Fundação na Wikipédia

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Blogagem coletiva: Pátria amada, Brasil!


Quando a Vivian do Flores e Livros me escreveu falando da Blogagem Coletiva proposta pela Van do Retalhos de Quem Sou fiquei logo entusiasmada, pensei em mil coisas, mas como mil coisas não da para escrever, lembrei de um soneto publicado no Diário de Pernambuco em 7 de Setembro de 1830 por um brasileiro anônino.

Essa pessoa cujo nome eu não sei, tinha grande esperanças para o Brasil e comemorava esse dia com fé em um futuro melhor pra si e para os seus... De forma diferente nós também sonhamos e que ao sonho se junte o esforço de lutar porque desesperança se não subtrai nada também não acrescenta.

Enfim, resgato as palavras dele para compor a proposta da Van.

Ao aniversário da Independência

Brasileiros!... de novo o dia assoma
Natalício feliz da Independência!
Mais fausto, mais brilhante, e de excellencia,
Que os aureos dias que viu Grecia, e Roma!

Cessou da escravidão males sem soma
Cessou de Lysia injusta e prepotente
E da Gloria exaltada a suma essencia
Hoje na Patria, por Pedro o septo toma.

Briozos da ventura que gosamos,
Distintos na virtufe, e lealdade,
Somos livres! He quanto dezejamos!

Ferros não mais, avulte a Integridade!
Prosperem nossos fados, defenda-mos,
A Lei, o Throno, a Patria, a Liberdade.


Ah, também acabei lembrando de uma das canções mais lindas que aprendi com minha mãe durante minha infância, lembro que ela lavava os pratos enquanto me ensinava o Hino da Independência, nós ainda não podemos "ver contente a mãe gentil" ainda "não raiou a liberdade no horizonte do Brasil", mas espero e luto para que esse dia chegue.


Hino - Da Independencia do Brasil

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E sim, para sair da palavra a ação, pego carona na Mari, a Mãe Polvo e convido os que por aqui passarem:

"Então que tal fazermos a nossa parte de cidadão brasileiro assinando a petição a nossa predidentA Dilma para salvar a "Ficha Limpa"!?

Eu já assinei, pq o que eu quero é um BASTA a corrupção."

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia de festa, saudades e formas de eternidade!

Hoje foi um dia bastante festivo em minha igreja, o conjunto musical foi inaugurado, minha irmã faz parte dele e eu fui convocada a comparecer. Até ai nada de anormal, igrejas tem um calendário festivo grande, grande demais para o meu gosto, diga-se de passagem! O anormal foi que eu decidi me arrumar para a festa de forma normal para o padrão da minha igreja e de forma anormal para o meu padrão!

Incrível como as pessoas olharam pra mim hoje, muitas ficaram sem fala até. As adolescentes, naturalmente mais francas, quase deixaram o queixo cair e fizeram um auê daqueles rsrs...Foi muito engraçado, será que as meninas realmente pensam que nunca subi em um salto agulha na vida e que não tenho nem ao menos um vestido de noite decente no guarda-roupa? Fala sério!!!

A festa foi boa, constatar a reação das pessoas em relação a mim vestida em traje de noite também, mas no final enquanto eu conversava com mainha sobre a nossa igreja local, suas festas, seus problemas e soluções de repente sentimos o peso de uma ausência, a noite teve uma virada em seu sentido.

Ouvi em algum lugar que a morte é uma ladra, verdade, ela nos rouba definitivamente o que temos de mais caro e com o tempo, cada vez mais, começamos a perceber o quão caro é o bem que a morte nos rouba.

Agora estou saudosa de um dos meus amigos que a morte roubou cedo demais de todos nós, ele faz falta na hora da festa, mas faz mais, imensamente mais, falta no dia-a-dia, no cotidiano da escola dominical, nos culto de meio de semana, na rotina de cuidar das crianças, de fazer as coisas acontecer. Faz falta sobretudo na hora de conversar, filosofia, história, sociologia, alegrias, dificuldades, solidão e medo, com quantas pessoas ao longo da vida conseguimos juntar todos esses temas em um conversa???

Nesses momentos de falta é preciso se agarrar a algo que amenize a dor da separação, que ao menos por um pouco de tempo traga nosso ente querido de volta, nesse momento eu me apeguei  a alguns textos de meu amigo que foram publicados no Diário de Pernambuco.

Eu lembro quando eles foram publicados, do orgulho que sentimos, todos nós, a gente fez festa, eu disse a ele que aquela certamente era uma forma de garantir um pedaço de eternidade, já que os jornais vão para os arquivos públicos onde mesmo daqui a 100, 200 anos poderão ser lidos, se bem conservados, e com o recurso da net então, nem se fala!

Hoje, lanço mão dessa forma de eternidade que meu amigo conquistou para si, e compartilho um dos textos que foram publicados no Diário de Pernambuco, como ainda estou festejando o aniversário da cidade deixo aqui "O Recife(anos 50) e a pensão de Dona Bombom", atenua minha saudade ler as palavras e sim, posto pq a virtualidade era tema frequente de nossos papos, acho que Felis ficaria até satisfeito de saber que postei algo dele aqui, talvez até tivesse um blog também a essa altura do campeonato. Quem sabe?

O RECIFE (ANOS 50) E A PENSÃO DE DONA BOMBOM

Em meados do ano passado, fui presenteado por uma amiga jornalista com o livro do escritor pernambucano, Cícero Belmar: " Rosseline amou a pensão de Dona Bombom ". Logo, o título nos remete a uma interrogação: Quem foi dona Bombom? E Rosseline? De início, um exímio prefácio de Amim Stepple, jornalista e cineasta. Depois, somos presenteados com uma bela narrativa que nos remete a um Recife, até então, desconhecido: o Recife dos anos 50.
 
A obra retrata a história da vinda do cineasta italiano Rosseline, um dos maiores cineastas contemporâneos, considerado "um dos papas do neo-realismo italiano", um homem que viria ao Brasil, especialmente ao Recife, para filmar "Geografia da Fome" do sociólogo Josué de Castro.
 
No ano de 1958, Rosseline foi recebido no Aeroporto do Galeão - RJ, por Josué de Castro e por Pascoal Carlos Magno. Hospedou-se no Copacabana Palace. Semana depois, desembarcou no Aeroporto dos Guararapes, acompanhados pelo pintor Di Cavalcanti e por Josué de Castro. Em terra recifense, foi recebido pelo médico Jamenson Ferreira e pelo prefeito da cidade Pelópidas Silveira. Rosseline ficou hospedado no Hotel Boa Viagem. Num "tur" pela Veneza Brasileira, ficou encantado com as belezas naturais, pois durante o dia, Recife mostrava suas belezas naturais e turísticas, à noite, descortinava sua vida noturna, o bairro do Rio Branco era só vida e prazer, não dormia. O "Chanterclair" com sua belíssima arquitetura esbanjava charme e glamour aos mais aristocratas. Os menos favorecidos freqüentavam as centenas de pensões e bares aos redores, era a famosa "Zona". O Porto do Recife viveu dias de glórias. Os marinheiros americanos traziam produtos importados e trocavam por drogas e sexo. Era o Recife das lindas mulheres e dos mafiosos cafetões.
 
Durante sua estada na cidade, Rosseline foi convidado pelo Merchant Aloísio Magalhães e outro intelectual para conhecer a vida noturna . Dentre os pontos turísticos, a pensão / bar de Dona Bombom, uma senhora setentona, localizada na Rua do Rangel, próximo ao Mercado de São José. Por ser mais afastado, reunia rapazes de família e intelectuais ( Aloisio Magalhães, o professor aposentado Zenildo Cavalcante e o arquiteto Austro Camargo ) entre outros. Dona Bombom era uma mulher respeitada naquele meio, possuía as mulheres mais bonitas e formosas. Eram consideradas suas filhas. E um dos seus objetivos era arranjar casamento e marido para elas. Destacaram-se: Bianca e Bibiana, duas irmãs, conhecidas no meio como irmãs "Passarinhos". Rosseline, em sua visita à pensão, encantou-se por uma delas.
 
Rosseline visitou também o sociólogo Gilberto Freire, escritor do famoso "Casa Grande e Senzala" em seu sobrado em Poço da Panela em Casa Forte. Lá, o patriarca fez questão de receber a ilustre comitiva em seu belo jardim, cercado por mangueiras e pitangueiras. Uma recepção impecável, regada a bolo de rolo e licor de pitanga. Iguarias pertencentes à culinária da família Freyriana, eternizada em seu livro "Casa Grande e Senzala"."Rosseline amou a pensão de Dona Bombom", é uma obra belíssima , uma verdadeira retrospectiva sobre o Recife dos anos 50 e sua cultura, um livro para ser lido e relido à sombra de uma mangueira, degustando um saboroso bolo de rolo, tomando um delicioso licor de pitanga.

José Felismino
Professor e educador
Texto disponível em link

sábado, 19 de março de 2011

Recife, um livro e um sorteio!

Março foi o mês de aniversário do Recife, o dia passou e não fiz uma postagem porque sou adepta dos versos de Drummond onde ele diz:

"São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora."

Então deixei o dia do aniversário passar para falar do meu amor por essa cidade cheia de dicotomias, calor, riqueza, miséria, História, pessoas que amo, sonhos, ilusões perdidas e tudo o mais. Carlos Pena Filho em seu Guia Pratico da Cidade do Recife escreveu no Inicio que:

"Hoje, serena, flutua,
metade roubada ao mar,
metade à imaginação,
pois é do sonho dos homens
que uma cidade se inventa.
"

Tudo verdade, toda cidade nasce da imaginação dos homens, não apenas Recife, verdade também o que ele escreve no fim do poema:

"Recife, cruel cidade,
águia sangrenta, leão.
Ingrata para os da terra,
boa para os que não são.
Amiga dos que a maltratam,
inimiga dos que não
este é o teu retrato feito
com tintas do teu verão
e desmaiadas lembranças
do tempo em que também eras
noiva da revolução"

Recife é mesmo uma cidade cruel, com a miséria a encher as favelas, desigualdade, altos índices de violências, psicopatia dos policiais, falta de vergonha dos políticos, truculência de alguns prefeitos, obras paradas, homens mendigando o pão, nas palavras de Francisco de Assis França, o Chico Science:


"... a cidade se apresenta centro das ambições
Para mendigos ou ricos e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs
A cidade não pára, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce..."

Penso eu que é nessas subidas e descidas, nessa brincadeira de sonho, luta, realização, vitória e fracasso, encontros e desencontros entre os  "de cima" e os "de baixo", que a História da cidade é vivida, sentida e constantemente escrita e reescrita.

E que cabe a cada um de nós que aqui nascemos e vivemos nos orgulhar de quão interessante são essas histórias. Como diz o titulo do livro de Lenice Gomes e Hugo Monteiro Ferreira é possivel titular essa urbe quente e problematica como:

"RECIFE: cidade das pontes, dos rios, dos poetas e dos carnavais."


E já que citei o titulo, já vou falando desse livro infantil que de forma bem didática conta a História do Recife desde seu inicio lá no longínquo século XVI, especificamente no dia 12 de Março de 1537, com o nome de "Vila de Ribeiro do Mar dos Arrecifes" onde residia um pequeno grupo de pescadores sem importância nenhuma. Aliás, economicamente importante mesmo eram os riquíssimos moradores de Olinda, a cidade da açucarocracia portuguesa na América, pq sim, naquela época todos os homens livres existentes nessa terra se consideravam muito portugueses, brasileiro era quem carregava pau-brasil.


Ele conta os episódios marcantes de nossa história, a presença holandesa por essas bandas de cá,  a primeira ponte das amaricas, a história de um boi voador de mentirinha, a Guerra dos Mascates, a vida as margens dos rios Capibaribe e Beberibe.

Notem que há a branca, a negra e o indiozinho fazendo o boi!
O século XIX e um tal de processo de modernização que fez nascer espaços como um certo Teatro Santa Isabel, também são citados, assim como as várias revoluções que nasceram sobre nosso chão quente, como a Revolução de 1827, a Praiera e a Confederação do Equador. A presença da escravidão, a chegada do século XX, os nossos poetas, os Carnavais.

Notem negros e negras trabalhando na frente do teatro!


Interior do Teatro: um dos meus fofos da igreja esta ai tocando violino!

No geral eu gostei do livro, ele da conta da história oficial da cidade com uma certa graça e a Tati Moes se inspirou nos grandes artistas que pintaram a cidade em outros tempos e fez um trabalho muito lindo como ilustradora. Da até orgulho de ser recifense!

Ao longo dos últimos três meses eu vi muita gente falando de suas cidades, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém do Pará e tantas outras, cada uma tendo um motivo para amar seu espaço, sua cidade, seu lugar. Se bairrismo demais é ignorância, uma pequena dose não faz lá tão mal aos dentes néh!?!? Se orgulhar de sua própria história as vezes faz bem e aqui deixo o meu registro do orgulho que tenho de ser recifense.

___________

Ah, quase esqueci, se você gostou do livro, achou ele interessante, ficou afim de conhecer ele pessoalmente e saber um pouco mais sobre a história de minha cidade eu tenho uma boa noticia pra você:


Eu tenho dois e é só você deixar um comentário aqui que um deles pode ser seu, porque sábado que vem eu vou sortear esse livro entre os que comentarem nesse post \o/

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Igreja Barroca, missa matinal e uma vontade de verdade!

Desde que ir ao centro do Recife passou a fazer parte da minha rotina visitar as igrejas antigas lentamente passou a também a ser parte de meu cotidiano...

Igreja de Santo Antônio no início do Século XX

Dessas igrjas a que mais gosto é a do Santissimo Sacramento de Santo Antônio, ou apenas a Matriz de Santo Antonio. Gosto demais dessa igreja, do seu tom do século XVIII, da sua barroquice, de seu cheiro de devoção antiga, dos seus muitos santos, de seu altar e do ar de reverencia que ela imputa a quem adentra suas portas.

Nossa Senhora da Piedade...
Sempre que entro nela viajo no tempo, penso nas pessoas que trabalharam nessa construção. Quantas pessoas se moveram para que essa igreja fosse construída? Pedreiros, arquitetos, entalhadores, pintores, marceneiros? O custo para esse tipo de construção era alto, levou décadas para que ela fosse erguida e dada por pronta com seus altares, portais, retábulo, cúpula, frontispício... mobiliários, sinos, alfaias... Um trabalho laborioso, demorado, custoso, resistente, capaz de vencer os séculos e se manter erguida e vigilante em pleno século XXI, dominando a paisagem da Praça da Independência.


Também não consigo deixar de pensar nos homens, mulheres e crianças que eram trazidos Atlântico afora pelos mercadores e traficantes de escravos para o Recife e que eram batizados em pé dentro desse templo. Fico me perguntando o que eles sentiam quando entravam por essas portas, se sentiam medo, incompreensão ou espanto... Fico pensando nos pequenos e pequenas que aparentavam ter 12 anos e já eram registrados como adultos, que recebiam um novo nome e eram inclusos no cotidiano da quente e movimentada cidade colonial do Recife.

Nossa Senhora das Dores.

Imagino os adultos de 12 anos... É talvez o padre não estivesse errado em dizer que eram adultos, afinal se sobreviveram a travessia do Atlântico com certeza deixaram sua meninice nas terras já distantes da África. Quem passaria por aquela experiência e se conservaria sua meninice, seu adolescer??? Sempre me doí pensar nesses pequenos e pequenas, perdoem-me o anacronismo, mas sempre lembro de minhas alunas de doze anos, se sentindo tão adultas, e em como seria terrível que elas fossem levadas de nós para o outro lado do mundo tornado-se um pequeno nada. Penso em como a cobiça dos olhos dos homens varreriam para longe as esperanças delas, isso me angustia profundamente.

Penso na dor daqueles adultos e crianças e contemplo as paredes, não há espaço vazios em uma obra de arte barroca e é o que está igreja é... Opressivamente barroca, construída por mãos negras expressa a angustia dessas mãos.

Cristo Morto.

Acho incrível como essas pessoas que vieram, ou foram trazidas a força, ao Brasil através do Atlântico conseguiram conservar sua cultura, suas maneiras de fazer, seus mundos simbólicos, resistindo a toda forma de violência física e simbólica. Se movendo na brecha, na falha, no visível e no invisível... Sempre penso em até que ponto o manto azul das inúmeras versões da Virgem Maria tem da igualmente benevolente Iemanjá e o quanto do dourado das paredes esconde e mostra o dourado da luxuriante Oxum, o quanto do São Jorge constantemente em guerra com seu dragão se mistura com destemido Ogum.
São Jorge de pé.

A arte barroca nas Américas é um registro da intensidade da condição desses homens e mulheres, das suas duvidas, incertezas, questionamentos. Lembrei de Carlos Fuentes agora, refletindo sobre a Espanha e o Novo Mundo ele disse que o Barroco da América "é uma arte de deslocamentos, semelhante a um espelho em que, constantemente, podemos ver a nossa identidade em mudança." uma arte criada em cima dos escombros de utopias destruídas...


Os portugueses pensaram encontrar o Éden quando aportaram nas praias de Vera Cruz e logo descobriram que o paraíso ainda estava distante do lugar encontrado, os indígenas perderam a sua paz e liberdade e os africanos que aqui chegaram tiveram até suas identidades violadas o que se dirá do resto... Não é à toa que, em Santo Antônio, Maria fica eternamente triste, dolorosa e piedosa, e o Cristo esteja eternamente prostrado em seus braços, sustentando o peso da cruz ou nela pregado.... Os artistas sentem a dor do mundo em frangalhos em que vivem e exprimem essa dor em sua arte.


E hoje pela manhã quando eu passei na Igreja do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio estava na hora da missa e eu me permiti ficar ali, observando em pé mesmo, encostada nessa madeira de circunda os bancos... Foi uma cerimônia bonita, o padre falou sobre a necessidade que temos de falar com Jesus, mesmo que Ele já saiba todas as coisas é necessário que falemos a Ele as nossas dores... Depois se seguiu o ritual... com direito ao tinir dos sinos, ao silêncio reverente dos fieis, tão diferente do que vejo na minha igreja local, e na hora do Pai Nosso quando o padre mandou as pessoas se darem as mãos também minha mão foi tomada a principio por uma senhora e depois outra se moveu e pegou a restante e eu sei que vivi uma experiência digna dessa nota.

Eu não rezei, mas orei! Orei pedindo a Deus que me ensinasse a entender esse mundo que se mostra diante de mim, que Ele me ensinasse a entender, a descobrir, a Verdade e antes mesmo de terminar minha oração eu lembrei das palavras de Nietzsche, esse fabuloso implicante, porque quando ele inicia seu caminho em Para além do bem e do mal, ele diz "A vontade de verdade ainda nos há de arrastar para muitas aventuras..." e eu já não tenho dúvidas quanto a isso!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Lembrando de um personagem e descansando em uma Igreja

Há alguns anos atrás, quando eu ainda era "uma rata de biblioteca", ou "a rata de biblioteca da escola"  conheci Millan Kundera e "Risíveis Amores", um livro composto por sete contos INCRÍVEIS;  bem,  continuo sendo um rata, mas hoje frequento outras tocas. Foi em meio as minhas novas tocas  lembrei de Eduardo, um personagem do sétimo conto de Risíveis Amores: "Eduardo e Deus".

(esse post contém spoiler sobre o conto)

Em "Eduardo e Deus", Milan conta a história de um cabra que para conquistar uma moça acaba aprendendo a frequentar igrejas e da uma de cristão, com o tempo já esqueci muita coisa sobre esse livro, mas jamais vou esquecer a cara pasma de Eduardo observando sua amante tão tímida e puritana desfilando nua pelo apartamento depois de ter conseguido o que queria... Acho que ele esperava que ela chorasse arrependida por ter traído um mandamento divino ou algo do gênero... Acredite, enquanto eu lia eu ria e não me pergunte o motivo pq eu até hoje não sei...

Como li em um blog, para conquistar a moça Eduardo se mete em "um jogo fascinante entre representar, ser, brincadeira, leveza, peso, gratuidade e irreversibilidade" e "se vê enredado em situações que o levam cada vez mais a ser aquilo que utilizava como representação". Se bem me lembro o conto termina com um Eduardo que já maduro frequenta a igreja e chega mesmo a crer, quem diria???

Ah tá... mas não é sobre Eduardo que eu queria falar.... mas sim o motivo da lembrança... lembrei de Eduardo em meio a um momento de angustia quando parei, pensei duas vezes e entrei na Igreja da Boa Vista, sentei, contemplei as paredes que me cercavam e respirei... não vou dizer que tive um estase religioso, um momento de revelação e decidir me tornar uma cristã católica... Não, não é isso, não é dessa vez que vou me tornar professora de catequese em vez de professora da escola dominical... Não é isso mesmo...

É que, de repente me lembrei que quando eu era criança, educada religiosamente por um avó e uma avô evangélicos consevadorissimos eu não conseguia nem mesmo entrar em uma igreja católica, me sentia mal... tinha medo... angústia... sei lá... hoje, depois de realizar alguns trabalhos dentro de igrejas católicas da minha cidade me aproximei demais desses espaços, me apropriei de sua geografia, me familiarizei com a estética e chego a me sentir confortável dentro desse espaço... pensando nisso me lembrei de Eduardo, não do homem boquiaberto que me fez ri, mas do homem que se percebe em estase religioso... e ri novamente, mas dessa vez ri de mim.

Ah, vou deixar aqui algumas imagens da Matriz da Boa Vista, que fica na Rua da Imperatriz, Boa Vista, em Recife-PE, uma igreja que demorou 105 anos para ser construída e é um dos mais belos templos de Recife, vou colocar fotos que tirei em dois momentos diferentes... nesse meu momento risível e  em uma missa  (embora eu goste mais da Igreja de Santo Antônio_depois faço um poste sobre a Igreja em si_).






segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ao aniversário da nação... não que eu seja patriota!!!

Há algum tempo atrás achei um soneto em um jornal da cidade do Recife, nesse época eu estava pesquisando e no emaranhado de vida que ficou registrado nos jornais do longooooo século XIX encontrei o soneto "Ao aniversário da nação"... que não tem nada de especial em si, ao não ser o fato de que celebrava a Independência do Brasil no ano de 1829, inicio do século XIX, primeiros anos da nação Brasil que surgia no horizonte...

Uma nação não é algo que nasce do nada, não nos enganemos, toda nação é algo que, como tudo na vida, se constroe primeiro através do reino mágico das palavras e apenas posteriormente em ações. 

Uma nação é primeiro pensada, e nessa poesia agente percebe como a nossa nação começou a ser pensada, como se deseja que ela seja, o que se desejava festejar no 7 de Setembro... O soneto não carregava junto a si o nome do autor, ou eu não vi... copiei apenas o texto e guardei na intenção de usa-lo em uma aula de história da vida, essa aula de história ainda não chegou (Chegará, queira Deus!) então resolvi nesse nobre aniversário aqui deixar essa pérola do patriotismo, verdadeiro culto cívico onde a divindade maior é a pátria, essa entidade quase mística que existe no nosso imaginário e não encontra expressão na realidade (ou encontra e eu é que não vejo?).

 Pátria, Pedro Bruno, Museu da Republica.

Ah, e se você ler o que eu escrevo e consegue compreender, apesar das distâncias (e da minha capacidade de cometer erros absurdos de ortografia), é porque temos uma língua oficial na qual escrevemos, muito embora essa língua varie de região para região, lemos, escrevemos e falamos em português, temos a idéia de que no final das contas somos brasileiros com pontos em comum, nos identificamos com o verde e o amarelo, em época de copa falamos de futebol, seja para enaltecer ou reafirmar nosso desgosto, comemos arroz e feijão e tantas outras coisas que atestam que temos em nós, apesar das inúmeras diferenças regionais, essa noção tão "alta, nobre e lúcida" de que somos um único povo e consequentemente o sucesso do projeto dos intelectuais do século XIX que idealizaram a ideia de NAÇÃO BRASILEIRA, aos trancos e barrancos esse ideal deu certo, para nosso azar ou sorte.

Ah, não é que tudo que nos contaram seja mentira... é que toda verdade é uma construção discursiva, o que achamos verdadeiro, alto, nobre, interessante e bom para ser ensinado a nossas crianças hoje não é a mesma coisa que esses homens e mulheres que viveram e morreram antes de nós pensavam ser bom, nobre, lúcido e mesmo o que os homens e mulheres que viverão por aqui daqui a 200 anos não será a mesma coisa que pensamos ser bom hoje... as concepções mudam e não podemos dar uma de Juiz, promotor e júri dos que aqui estiveram antes de nós.

Quando se olha para o passado, para o ontem, é sempre bom ter em mente o  que escreveu Mary Shelley em seu Frankenstein "O amanhã jamais igualará o ontem; Nada, exceto o mutável, pode perdurar!" (adoro essa frase, um dia desses tomo vergonha na cara e leio o livro, por enquanto aproveito que existem amigos que parecem ter lido todos os livros possíveis e imaginados e estão dispostos a falar a respeito). Da mesma forma como algo a duzentos anos atrás parecia bom e hoje não é tão legal assim, o que é legal hoje poderá não ser legal amanhã, é bom ter cuidado.

Enfim, cá está o soneto, copiado da mesma forma que estava no jornal... Feliz feriado para todos! 

Ao aniversário da Independência


Brasileiros!... de novo o dia assoma
Natalício feliz da Independência!
Mais fausto, mais brilhante, e de excellencia,
Que os aureos dias que viu Grecia, e Roma!

Cessou da escravidão males sem soma
Cessou de Lysia injusta e prepotente
E da Gloria exaltada a suma essencia
Hoje na Patria, por Pedro o septo toma.

Briozos da ventura que gosamos,
Distintos na virtufe, e lealdade,
Somos livres! He quanto dezejamos!

Ferros não mais, avulte a Integridade!
Prosperem nossos fados, defenda-mos,
A Lei, o Throno, a Patria, a Liberdade.


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Referencia:

Diário de Pernambuco, nº 161, pg. 1, 7 de Setembro de 1829.

domingo, 8 de agosto de 2010

Dom Helder Camara

Mexendo nos meus livros, naquele eterno organizar e bagunçar, que eu amo fazer sempre que posso, reencontrei um presente que um amigo me deu:


Uma lembrança da a mostra "DOM HELDER – CAMINHOS DA UTOPIA PARTILHADA”, montada pela Prefeitura do Recife no Natal do ano passado, eu não fui, ele e como trabalha na prefeitura trouxe esse mimo para mim.

Sou apaixonada pela história, pelo exemplo, pelas palavras de Dom Helder! Espero que a Igreja Católica não o transforme em Santo, tiraria o brilho dessa personalidade, afinal o que torna ele tão cativante aos meus olhos é seu lado humano, humano demais ao lutar por seus ideais.


Ah, a Wikipédia também tem uma definição para o Dom da Paz, segundo ela ele "foi um bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro. Pregava uma Igreja simples, voltada para os pobres e a não-violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi o único brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz."

João Paulo II, em 1980, também esboçou uma definição interessante para Dom Helder, ele disse: “D. Hélder, irmão dos pobres, é meu irmão”.

Quanto a mim, me permito deixa aqui algumas frases dele que considero marcantes e que trago comigo como lições a carregar por todo a vida e que acho que definem quem foi esse homem melhor do que qualquer enciclopédia e até mesmo o Santo Papa.

"É possível caminhar sozinho. Mas o bom viajante sabe que a grande caminhada é a vida e esta supõe companheiros. Companheiro, etimologicamente, é quem come o mesmo pão."

"Religião não pode ser Museu em que a Gente comemore o que passou e passou... Só adianta comemorar o passado, na medida em que ele nos abrir os olhos para o presente e para o futuro."

"Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para permanecer sempre o mesmo."

"A fome dos outros condena a civilização dos que não tem fome."

"Eu gosto muito de problemas... eu gosto até de oposição, mas que haja lealdade, um jogo limpo, um jogo claro."

"Que importa que a sede fique em grande parte insatisfeita?" (ai dos saciados)

"Há criaturas como a cana, mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura."

"Um dos meus anseios de chegar ao infinito é a esperança de que, ao menos lá, as paralelas se encontrem."

quinta-feira, 24 de junho de 2010

São João... Tradições familiares... Lembranças de viagem...

Bem, ontem foi dia 23 de Junho e bem, quem mora, já morou ou passou por algum estado do Nordeste sabe que aqui o bicho pega, a fogueira é acesa, o milho assa e a canjica ferve no fogão de lenha ou de gás, tanto faz. Aqui o dia 23 é aguardado com ansiedade, é um dia especial.

Apesar de ser protestante e de não festejar a festa no arrastá pé ou na quadrilha minha família não escapa de certas tradições que são passadas, repassadas e preservadas com carinho como por exemplo a canjica de milho (para quem não sabe canjica é um tipo de papa feita de milho que é ralado e peneirado ficando só o caldo, ao caldo a gente junta leite de coco, açúcar, manteiga e muita força para mexer bastante com uma mega colher de pal). Aqui em casa a canjica faz com que a gente se una: eu, mainha, Júnior, Rafa e quem aparecer na hora, esse ano até um primo da gente ajudou, afinal ralar o milho e mexer a papa dá trabalho e requer força pq nós fazemos um caldeirão mesmo!

A canjica daqui de casa não é servida assim não tá, é no prato mesmo ou na travessa, mas é parecida com essa, é fininha, tem uma que ficam mais grossas

É bonito, eu gosto desse clima de preparar comida junto, passar a vida a limpo, nos uni e é a marca do São João e depois vem o comer todo mundo aquela comida que foi feita um pouco por cada um, é uma tradição que foi inventada (como todas as tradições são) por nossa família e vem durando.

Ah, e tem o fato curioso, eu ajudo no processo, gosto de participar dele, mas sinceramente, fala sério, eu sou alérgica a milho e asmática, então não como comida de milho e nem curto muito a fogueira, nem mesmo posso colocar meus não tão lindos pés fora de casa uma vez que a fumaça rola solta... kkkk...

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Ah, outro ponto desse São João, um não tão bom, na verdade o que me angustiou e tem me angustiado, é  a catástrofe desencadeada pela chuva no interior de Pernambuco e Alagoas, fiquei e estou ainda bastante preocupada, comovida, vendo como posso ajudar... Ano passado visitei União dos Palmares,  onde fica a Serra da Barriga, o lugar onde ficava o Quilombo dos Palmares e que ainda abriga uma comunidade quilombola, outro dia falo sobre isso tudo e vou até colocar algumas fotos.

Mas, vendo as reportagens reconheci alguns lugares e estão destruídos... Fico pensando em pessoas que conheci por lá, especialmente uma senhora que me contou sua história triste, tinha perdido um filho seis meses antes, encontrei com ela no domingo de manhã, o marido tinha ido no cemitério levar flores para o túmulo do rapaz que tinha acabado de passar na seleção de mestrado na UFPA, ela me contou a história inteira do sucesso dele, de como ele estava caminhando bem, a despedida dele, o acidente, os dias que se seguiram e como estava sendo difícil viver sem ele. A dor da perda, a saudade da separação, a incompreensão do porque de tudo isso!

Um encontro, uma história, um abraço e um chero cheios de lagrimas e dor. Foi um abraço forte o dela e um chero de mãe desfilhada ficou comigo... fico pensando o que houve entre nós para que ela desaguasse nos meus ouvidos a história toda... E agora cada vez que vejo alguma notícia fico pensando nessa senhora , se  ela está bem, se nenhum de seus outros filhos se machucou ou algo do gênero, como está sendo o São João dela??? E pensando nela, penso também em  todas as outras pessoas que estão vivendo essa situação difícil... aiaiai...

É curioso como enquanto uns estão bem outros estão tão... enfim... pensei a mesma coisa quando fui conhecer a Serra da Barriga, estava super feliz em ir conhecer o Quilombo e tudo o mais e de repente dei de cara com uma pessoa super arrasada. Hoje minha família está super bem, comendo a canjica aproveitando a preguiça do feriado, eu também estou ok e bem...

A vida não é fácil para ninguém mesmoooo....