sexta-feira, 16 de outubro de 2015

TAG: Os miseráveis

Ao longo de 2015, eu e o Alexandre decidimo ler juntos "Os miseráveis" do francês Victor Hugo. No agarramos a edição da Cosac Naify, ele pegou a edição física, eu me agarrei a digital e seguimos por essa aventura com direito a banner e tudo.

Ao longo do caminho algumas pessoas se juntaram a nós, mas diferenças de filosofias bloguisticas, ritmo de leitura e até mesmo empatia acabaram nos separando.

Outra coisa que aconteceu no meio do caminho foi a elaboração de uma tag baseada em alguns dos personagens do tomo 1 do livro. A ideia é que a gente procure na nossa estante afetiva sete livros que lembrem sete personagens do "Tomo I: Fantine".

Como ando mal das pernas bloguisticas, demorei uma vida para reunir força espiritual para responder essa tag, mas cá estarão as minhas respostas.


1. Bienvenu, Bispo de Digne: Um livro que te abraçou quando você mais precisava.



Há algum tempo eu fiz um post para o "Blog da Elaine Gaspareto" sobre esses livros com propriedades acolhedoras. Aqui, no entanto, só se pode citar 1, então citarei "O livro das coisas perdidas". O John Connolly tem uma escrita sutil, firme, realista mesmo quando trata de fantasia e da a sua história um desfecho absolutamente redondo e firme, do tipo que te abraça e empurra para frente.

2. Jen Valjean: Um livro que precisou de uma segunda chance.


Aqui não vou citar um livro, vou citar uma autora: Cecelia Ahern. Minha primeira experiencia com ela foi morosa, lenta e frustrante, esperava uma coisa e recebi outra, não tive empatia com a protagonista. Totalmente oposta a experiencia com "A lista", não esperava nada desse livro e ele me deu tão mais do que eu esperava que já solicitei ao Alexandre o próximo livro dela.


3. Madelaine: Um livro que parece uma coisa, mas é outra.


"O começo do adeus" é tudo o que a capa não diz dele. Quem protagoniza a história é um homem, o Aaron, que perdeu a esposa em um acidente tão repentino quanto esquisito e precisa lidar com o enorme vazio deixado por ela... Precisa encontrar formas de dar adeus a uma pessoa central na vida dele. Como tudo da Anne Tyler esse livro tem uma pegada forte na psicanalise, não é nada açucarado, fala de pessoas comuns como eu e você e é muito fácil se identificar com os personagens... Em nota, a esposa do Aaron era uma médica negra NADA HAVER com a mulher da capa.

4. Fantine: Um livro cujo o fim de te fez chorar.


"Marina" do Zafón, foi um dos melhores livros do ano até aqui. Depois de Neil Gaiman Zafon foi o autor que mais divinamente vi flertar com os clássicos da literatura ocidental. Ele consegue construir uma Barcelona capaz de encher Alan Poe de orgulho, executa a arte de tornar o absurdo plausível como Kafka e se apropria da ciência para fazer o horror acontecer como Mary Shelley. Aliás, ele homenageia esses autores em seu livro... E quando eu estava totalmente embebida nessa vibe, ele simplesmente me matou de tanto chorar! Livro perfeito, redondo... lindo!

5. Tholomyès: Um livro que foi abandonado.


Eu tentei, juro que tentei, mas não consegui avançar em "História das Assembleias de Deus no Brasil". Letra pequena, linguagem apologética, aquele português difícil... Um dia quem sabe... 

6. Cosette: Um livro infantil pelo qual você tem muito carinho.


Sou apaixonada por "Alice no país das maravilhas", o livro parece uma história de terror, mas a aventura da menina no mundo além da toca do coelho continua me encantando dia após dia, ano após ano da mesma forma que encantava quando há vinte (Deus passaram-se duas décadas) anos atrás.

7. Javet: Um livro cuja leitura foi sofrível.


Não que "Eu estava aqui.... e você?" seja um livro ruiiiiiiiiiiiiiim.... É que eu não me identifiquei mesmo com a protagonista. O Neir Ilelis foi professor de português e como tal conseguiu reproduzir muito bem, embora essa talvez não fosse sua intensão, o lado b da rotina de uma escola... Acho que isso bastou para que eu antipatizasse com sua protagonista e toda sua aventura tornando a leitura sofrível.

Quem quiser responder a tag, sinta-se convidado. Se e quando fizer, deixa o link aqui para que eu possa vê!

domingo, 27 de setembro de 2015

Em pausa...

Estou tentando juntar coragem e animo para atualizar o blog...
Ultimamente está difícil.
Poderia argumentar para justificar: tempo, trabalho, dividir o computador... mas na realidade é só animo mesmo...
Escrevo para constatar o obvio e tentar voltar a escrever com regularidade...
Se a tática não funcionar já sabem.... Eu to viva, continuo olhando os blog amigos e comentando quando posso... pois realmente tenho trabalhado com constância e divido o computador com minha irmã e ainda não consigo lidar com comentar via celular.

Cheros Gente, até nosso próximo encontro...

domingo, 13 de setembro de 2015

Ensino de história, alunos, docência e fracassos pedagógicos...

Nesse momento deveria está planejando as aulas de amanhã, mas acabei de corrigir umas provas, quase tive um ataque cardíaco de tanta raiva.

Precisei parar...

Fui botar meu almoço de amanhã no fogo, porque cozinhar me relaxa e agora preciso pensar.

Penso melhor quando escrevo, então estou aqui tentando avaliar o tamanho do estrago e o que fazer com ele.

Não tenho problemas com todas as minhas turmas. Na verdade esse ano está sendo um balsamo para as feridas do ano passado. Mudei totalmente minhas estratégicas didáticas com os sextos anos e vejo dia após dia o quanto eles facilmente se envolvem no conteúdo desde os nossos primeiros momentos.

A despeito das urgências tecnológicas, tenho usado muito com meus alunos do sexto ano objetos concretos, fotos palpáveis, livros, narrativas mitológicas, mapas, rodas de conversa, contação de história. Os resultados não podiam ser melhores! Eles viajam, exploram os documentos, boa parte dos alunos fazem analises interessantes, quando não chamam atenção para detalhes que até hoje tinham passados despercebidos a mim.

Me pego e me peguei muitas vezes me aprofundando nos meus próprios estudos da Antiguidade Ocidental e explorando a Oriental devido a debates nascidos nesses sextos anos. É uma delicia trabalhar com eles, está com eles. Aliás, esse fim de semana me peguei vendo um filme indicado por uma das minhas alunas do sexto ano.

"Mr. Peabody & Sherman" é uma interessante aventura pelo passado. Não cheguei a vê no cinema, adorei ter visto. Adorei mais ainda ter visto por indicação de uma aluna.

A Educação Infantil também não tem me oferecido desafios além da conta. Na verdade, percebo cada vez mais que a "Educação Infantil" como um lugar de conforto. Apesar de exigir muita transpiração, movimento e força, cumpri sua rotina se tornou algo fluido e intuitivo. Está com as crianças é exaustivo e trabalhoso, mas também prazeroso e reconfortante. Me sinto em equilíbrio comigo mesma quando vejo mais uma tarde indo embora.

Não contém a ninguém, mas tenho pensado muito na possibilidade de uma nova graduação em pedagogia focada em estudos voltado totalmente para a educação infantil. Me digam o que vocês acham! Sejam sinceros: é uma boa ideia, ou é loucura?

Meu desafio é esse sétimo ano! Fico me perguntando o que fazer e não chego a uma resposta satisfatória. Troco a didática e piora! Queria envolve-los, o conteúdo do sétimo ano é tão bom! Mas, só para citar um exemplos, se levo um livro de arte com obras de Leonardo da Vinci para debater o Renascimento, alguém jocosamente pergunta: "Professora, quando a aula vai começa?". Vou corrigir os livros... Oh Deus, parece que eu sou a única pessoa que costuma abri-los... Tem livro com cheiro de novo em SETEMBRO! Chamo os pais e mães dos mais negligentes, eles confessam não saber o que fazer. Depois do resultado de hoje penso seriamente em dar um esporro neles amanhã! Mas, se esporro resolvesse, bem, essa avaliação não teria sido um fracasso!

Também não me conformo com o fracasso, me RECUSO! Não gastei quase uma década da minha vida aprendendo história para ser facilmente vencida.

Estou aqui respirando fundo, olhando para meus livros, as avaliações empilhadas, minha inseparável caneca de café... O tempo de cozimento da se encerrou... Acho que vou voltar aos planos de aulas!

sábado, 5 de setembro de 2015

Uma foto da infância pendurada no varal...

Escolher uma foto da infância para mim não foi um exercício fácil. Há quase 30 anos atrás a sensibilidade das mães e pais na hora de fotografar os filhos era outra. Os momentos a serem fotografados eram escolhidos com cuidado, só os momentos significativos ganhavam a honra do registro.

A foto que escolhi não é minha melhor foto de infância, talvez se minha mãe chegar a vê esse texto ela vá brigar um pouco comigo, afinal ela expõe a parte de trás do quintal da vizinha da frente (na época minha tia) e ele não está apresentável.


Essa foto foi tirada por Painho, eu tinha dois anos e três meses, nesse dia Mainha não estava em casa ela tinha ido dar a luz a Junior e eu estava sob os cuidados de Tia Neide, todas as vezes que olho essa foto tenho a sensação de voltar no tempo sabe... Eu lembro desse ocasião, de vê Painho desarmando o berço, de ver ele mexendo nas peças, de sair de casa e fazer perguntas a ele, do sentimento de ansiedade, um pouco de tensão diante da situação nova, lembro dele decidindo tirar a foto.

Não lembro de tia Neide protestar contra o vandalismo fotográfico de tirar uma foto com a menina vestindo roupas de casa e com pés descalços, mas Tia Neide diz que houve e ainda reclama quando vê essa foto, mas faz isso rindo. Também costumo me perguntar como fiquei sem sandálias tempo suficiente para a foto se  uma das lembranças mais fortes da minha infância é da grande proibição de sair de casa sem sandálias nos pés.

Acabei escolhendo essa foto porque no ultimo dia 3 de Setembro meu irmão completou 27 anos, pensei em escolher uma foto com ele, mas me ocorreu que essa foi a minha primeira foto com ele, acho que foi nesse dia que meu irmão nasceu para mim, o dia que virei irmã mais velha, umas das minhas "identidades" favoritas e mais definidoras das características gerais da minha personalidade.

Se você quiser conhecer um pedacinho de outras infâncias,

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O que farei e o que não farei [Citação 011]

"Eu vou dizer-te o que farei e o que não farei. Não irei servir mais aqueles nos quais eu já não acredito, quer seja a minha casa, a minha pátria ou a minha igreja: e vou tentar exprimir-me nalguns modos de vida ou de arte tão livremente quanto possa e durante o tempo que puder, utilizando para minha defesa as únicas armas que me permito usar: - Silêncio, Exílio e Astúcia." (James Joyce - A Portrait of the Artist as a Young Man)

Encontrei há muito tempo essa fala do James Joyce pelos descaminhos da internet em um lugar que, hoje descobri, já não existe mais.

A parte isso, já há muito tempo adotei essa expressão do James Joyce como lema de vida e vou seguindo... Não sou muito boa em astúcia, mas exílio tem se tornado uma especialidade e espero logo aprender as artes do silêncio.

domingo, 19 de julho de 2015

Você já ouviu falar sobre a Síndrome de Möebius?

Você já ouviu falar da "Síndrome de Möebius? Não? Pois é, até conhecer a Erica Ferro eu também não tinha ouvido NADA sobre essa síndrome, mas um belo dia no Twitter eu conheci essa pessoa e descobrir com ela algumas coisas que eu não sabia.

Hoje a Erica escreveu um texto com cara de confissão no qual ela conta sobre a Síndrome de Möebius, me emocionou, fez pensar. Como disse a Erica lá no blog dela, crescemos e nos desenvolvemos ouvindo várias mentiras, tais como:
  • Existe um padrão de beleza que nos torna felizes;
  • Existe um jeito certo de ser;
  • Existe um tal de padrão de normalidade.
  • Se as pessoas não te acham bonita, então você é feia.
A gente escuta tanto essas mentiras que boa parte das pessoas acreditar nelas e vive buscando esse estilo de vida que para mim é um tipo de morte. Porém, muitos não são todos, há aqueles que descobrem as suas verdades sobre beleza, normalidade e formas diferentes de ser... Algumas dessas pessoas prefere se esconder do mundo e viver se achando um floco de neve único, especial e solitário, outros gritam ao mundo suas descobertas, pois sabem que, como diz a Bíblia, quando a gente conhece a verdade pouco a pouco ela vai nos libertando.

A Erica Ferro é esse tipo de pessoa com personalidade e capacidade de gritar ao mundo, ela explica direitinho o que é "Síndrome de Möebius". Só desejo divulgar o texto dela aqui.


Ah, só para constar: pessoas com Möebius são expressivas!

terça-feira, 14 de julho de 2015

Quando me encontrei em um livro...

Encontrar-se consigo mesmo dentro de um livro não é raro para pessoas para as quais a leitura é uma rotina. Vez ou outra estamos lá lendo aquele livro e de repente acontece... e quando acontece não é raro que a gente tenha um momento de catarse emocional.

Há alguns dias atrás, a convite do Alexandre Melo me peguei lendo "A lista" da Cecelia Ahern. Não foi meu primeiro encontro com a autora, então apesar de esperar um bom texto e uma boa história, não esperava esse tipo de encontro.

Engraçado, no meu primeiro encontro com a Cecelia espera muito dela e ela me deu bem menos, nesse segundo encontro não esperava nada e ela me deu uma pequena porção de tudo. Bem, isso me leva a pensar que quando dizemos "todos merecem uma segunda chance" é bom incluir autores nisso.

A história contada em "A lista" me pegado desde o começo, sentir empatia pela protagonista nas primeiras páginas, mas foi o encontro com a história da Eva Wu na reta final a minha grande catarse. A Cecelia me enterneceu e surpreendeu!


Não escrevo nesse blog diariamente, mas esse blog tem mini-pretensões à diário e um diário também se faz de pequenos registros... Esse post foi escrito pela minha necessidade de guardar em um lugar quente e pessoal esse acontecimento, mas se alguém desejar saber um pouco mais sobre minhas impressões a respeito desse livro pode passar lá no blog do Alexandre, fiz a resenha do livro para ele e deixo o link.



sábado, 11 de julho de 2015

Era uma vez uma turminha de crianças...


Era uma vez uma turminha de crianças de dois a três anos de idade, eles amavam livros e leitura.
Todas as tardes, mesmo quando a educadora estava indisposta, eles exigiam seus livros e suas histórias.
Essas crianças amavam tanto as histórias a ponto de serem capazes de contagiar quem estava em volta.
Eles levavam até pós-adolescentes que não leem nem pra si a se debruçar sobre livros.
Todas as tardes essa turminha renova a crença de uma certa educadora em seu trabalho.
Graças a eles todas as tardes a educadora volta a acredita em si, no seu trabalho, em suas escolhas.
Olhando eles agarrarem cada um seu livro preferido ela se sente estranhamente realizada.
As vezes ela não sabe se ri ou chora e na duvida, sendo geminiana, faz os dois.

domingo, 5 de julho de 2015

Top 10: Melhores Livros de 2015.1

Já é tradição, em Julho, seguindo o ideia do Luciano do .Livro, faço a lista dos dez melhores livros do semestre. Segundo ele mesmo disse, essa post é um ode ao "tempo que não para".

Sobre a lista, ela foi feita seguindo a ordem da conclusão de cada livro e não de preferência. Os livros citados aqui se equivalem em questão de qualidade. Como não escrevi resenha para cada um deles, optei por comentar cada um deles.


"Ratos e Homens" de John Steinbeck, o Luciano foi o responsável por colocar John Steinbeck no meu mapa afetivo. Em fins de 2014 vi a resenha desse livros no .Livro, o interesse foi imediato. Steinbeck é um observador atento e um contador de histórias consciencioso, a história de todos os personagens é contada de uma forma ou de outra e no final... no final não tem como não se emocionar. "Ratos e Homens" tem peso emocional, nele conhecemos o cotidiano de trabalhadores rurais temporários, homens que vagam de lavoura em lavoura trabalhando muito para ganhar pouco.


"Universo Desconstruído: Ficção Científica Feminista" é trata-se de uma coletânea de contos de diferentes autores e autoras com uma abordagem feminista. Quem me conhece sabe que sou feminista, consequentemente atormentada consciência de que mulheres são seres humanos plenos em possibilidades de ser e está no mundo. Navegar pelas histórias contidas nesse livro é uma experiencia deliciosa, inquietante, instigante e diferente, devo a ele uma resenha completa, sei disso. Por hora, você podemo conferir a opnião da Sybylla lá no Momentum Saga, o e-book é gratuito.


"Morte: Edição Definitiva" de Neil Gaiman. Morte dos Perpétuos tem sido minha personagem preferida do universo de "The Sandman" desde o primeiro encontro. Foi uma realização pessoal ter em mãos todas as suas histórias em um volume. E sim, a caneca da foto foi um presente do Alexandre. Como não amar pessoas que respeitam meu gosto por essa personagem conscienciosa, empática, amorosa e fiel aos seus princípios e responsabilidades?


"Mentirosos" de E. Lockhart, ganhei esse livro em um evento promovido pela Editora Seguinte aqui em Recife. De cara classifiquei ele como "drama dos muitos ricos" e rejeitei por longo tempo. Mas, um dia o livro chamou o meu nome, respondi e me deparei com uma autora surpreendente. E. Lockhart é uma mestre contadora de histórias, certeira, não desperdiça palavras, nos faz caminhar em sua história sem que sintamos o peso dos passos e então nos oferece um desfecho inacreditável do tipo "só lendo para saber".


"Kiki de Montparnasse" de Catel e Bocquet. Aaah como não amar a história da simpática Kiki de Montparnasse? Só de pensar nessa HQ me vem um sorriso ao rosto. Kiki viveu no inicio do século XX em meio a boemia francesa, foi uma mulher dona de si e de seu corpo com um coração enorme capaz de inspirar vários artistas tanto no terreno da pintura quanto no da fotografia. Ela foi uma mulher livre, viveu segundo suas normas e desfrutou da experiencia de exercer sua liberdade. A forma despretensiosa, quase zombeteira, com a qual ela sustenta a si nos quadros e fotos já me inspirava antes de conhecer sua história.


"Violent Cases" de Neil Gaiman e Dave McKean. Minha coleção de Neil Gaiman só cresce, assim como minha sensação de intimidade ao adentrar nesse mundo despretensioso, porém cativante criado por ele. Em "Violent Cases" um homem rememora um episódio de sua infância onde o osteopata de Al Capone, festas infantis e situações de violência se encontram. A proposito, o produto da soma "Gaiman + McKean" tende a ser algo levemente perturbador.


"Precisamos Falar Sobre o Kevin" de Lionel Shriver: por esses dias um rapaz entrou em uma igreja americana e matou várias pessoas. Tal fato causou comoção, o próprio presidente Obama esteve no velório das vitimas, citou cada uma delas pelo nome, entoou um cântico espiritual com os parentes e amigos das vitimas. Me arrepiou a situação, me arripa a recordação. Situações assim parecem ser dolorosamente comum nos EUA e Lional Shriver se propõe a refletir sobre como esse tipo de jovem é gestado ao contar a história de Kevin Khatchadourian, 16 anos – autor de uma chacina que liquidou sete colegas, uma professora e um servente no ginásio. Quem narra a história é a mãe dele, sempre o réu principal no tribunal social no qual são distribuídas as culpas.


"Azul é a Cor Mais Quente" de Julie Maroh. Pensando nesse livro me pergunto se houve algum momento na história do Ocidente no qual a homoafetividade fosse tão discutida e os homossexuais brigassem com tanta coragem por seus direitos. Uma das personagens de "Azul é a cor mais quente" é militante nessa batalha, mas o HQ não é sobre isso. Ele é sobre amor, solidão, dor, desamparo. Como disse o Rafael, em raro momento de lucidez: "Não é uma história de amor, é um drama!". Mas também não é só drama, é belo, humano, cálido e inesquecível. Obrigada Rafael!


"A Vida Privada das Árvores" de Alejandro Zambra. Pense em um texto no qual não sobra uma misera palavra, virgula ou adjetivo. Pensou? Pois eu também, e a minha resposta imediata foi: "A vida privada das árvores". Esse chileno escreve com lirismo, atenção ao cotidiano e economia de palavras. Em um mundo cada vez mais prolixo, onde é comum usar muitas palavras para dizer "pouco e menos ainda", ler um texto assim é um refrigério para a alma, uma lição de escrita também.


"O Príncipe dos Canalhas" de Loretta Chase, esse livro foi quase um alivio cômico em um "TOP 10" onde reinaram dramas. A Loreta Chase é divertida, tem escrita leve e um pouco fora do comum. Ri muito lendo "O príncipe dos canalhas", me apaixonei pelo Lord Belzebu, estou pedindo mais dessa autora para a minha vida. Como ela escreve bem e é humorada!



Menções Honrosas: nesse primeiro semestre de 2015 tive o prazer de reencontrar dois velhos e queridos amigos. Eles estava com roupas diferentes das usadas em nossos encontros anteriores, mas não menos honrosas. "O Amante" de Marguerite Duras veio em forma de e-book e "Stardust: O Mistério da Estrela" de Neil Gaiman em formata de livro ilustrado. Esses livros são velhos amigos, com os quais é bom reencontrar pois trazem consigo tanto novidades como histórias inesquecivelmente acolhedoras, reler é como reencontrar consigo mesmo em tempos diferentes.

Ponderações sobre as leituras a partir da lista:
  • O kobo me conquistou, possui um grande espaço em minha rotina de leituras. Metade de meu top 10 ser composto de e-books denuncia isso;
  • Neil Gaiman pode não ser meu autor preferido, mas é mais lido. É o único autor com 2 livros na lista;
  • HQs é definitivamente um dos meus gêneros textuais preferidos, dos 5 livos físicos, 4 são HQs; e
  • Nossa como teve drama nesse "TOP 10", ao menos 4 livros tiveram essa pegada, para o próximo semestre mais amor por favor!
Para conferir a lista do Luciano, clique na imagem abaixo!


sábado, 4 de julho de 2015

Saudades [Blogagem Coletiva do 1º Sábado #2]


Em algum momento desse período entre os 25 e 30 [tenho 29 anos agora] ocorreu-me: viver é também acumular saudades. Não sou nem mesmo uma pessoa idosa, mas já acumulo tantas saudades.

Tenho saudades da biblioteca da escola do ensino fundamental 2 e média, mas não a de agora. Meu sentimento é por aquela versão localizada na penúltima e imensa sala do terceiro corredor. Tinha uma árvore na frente dela na sombra da qual um dia a professora Christianne decidiu dar uma aula para uma turma que não era a minha... Por dentro ela era dividida em quatro partes, arejada, com muitos basculantes e ventiladores. Silenciosa, mas permitia ouvir os barulhos de fora. Sem condicionadores de ar. Perfeita... Quando eu preciso de paz, fecho os olhos e volto para lá.

Tenho saudades da Erica, de seu sorriso cujo som lembrava o tinir de sinos... Ela tinha longos cabelos castanhos, era muito magra, alta, falava alto, era conscienciosa com a condição de moradores de ruas... Alegre... Entre os 13 e 14 anos, adorava romances de banca... Quando leio meus diários simplesmente gostaria de não ter desperdiçado o tempo brigando tanto... Eu lamento tanto cada discussão desnecessária. Nós vamos nos encontrar na Eternidade e no entanto, nesse exato momento, gostaria de poder me encontrar com ela nas redes sociais ou na esquina de qualquer rua de Recife... Me pergunto se um dia, vai doer menos encontrá-la na paginas dos diários.

Tenho saudades do meu amigo Felismino, da confiança mutua na opinião um do outro, dos encontros na igreja nas manhãs de domingo, das caminhadas para casa. Nossas conversas eram feitas de planos para o casamento dele, conflitos do meu namoro/não-namoro, experiências de escrita, coisas da docência, família... ternuras... Aquela rotina de fazer acontecer as aulas e as festas de um departamento infantil com cerca de uma centena de crianças sustentado por menos de uma dezena de adultos mal pagos, porém capazes de atitudes de desprendimento sem tamanho. Certos amigos ajudam a construir nosso caráter, são moralmente edificantes, deixam marcas na forma através da qual decidimos quais atitudes tomar diante das situações da vida. Essas amizades só podem ser interrompidas por algo definitivo. São inesquecíveis.

Tenho saudades das sombrinhas com as quais Voinha me presenteava. Sou uma pessoa área e esquecida, completo ano no penúltimo dia de Maio, Junho é tradicionalmente um mês chuvoso em Recife e por isso Voinha sempre me presenteava com sombrinhas. Sinto saudades não só das sombrinhas, sinto saudades do jeito resmungão de Voinha, de como ela comia pouco e ainda xingava a pobre comida, do seu sarcasmo, do seu cheiro, da pele dele... Meu Deus como Voinha reclamava das coisas kkk... Parece uma versão minha 50 anos mais velha... Ou eu sou uma versão dela 50 anos mais jovem? Eu me encontro com ela cada vez mais, enquanto me vejo instintivamente fazendo coisas como ela fazia, especialmente aquelas que me aborreciam profundamente... kkkk...

Me pego descobrindo várias e variadas saudades:

De quando meus tios me colocavam em cima de seus ombros e eu era um gigante;
De dormir com tia Neide;
Da terceira série;
De conviver diariamente com Aline;
Do gosto dos chocolates trazidos por meu pai para mim e meu irmão;
Dos brinquedos vindos dos interiores do Nordeste;
Das enormes barras de doce de leite da minha infância;
Dos litros de mel vindo do Sertão;
Das longas conversas com seu João lá da venda;
Da turma do ônibus dos meus dias de graduação;
Do tom de voz e da forma de se expressar da minha orientadora do mestrado;
Das visitas ao arquivo em minha época de mestrado;
De ir sozinha ao cinema depois de passar a tarde pesquisando no arquivo da Fundação Joaquim Nabuco;
De encontrar a Bella na parada do ônibus, esquecer o cinema e ficar de papo sobre tudo e nada;
Da primeira infância de algumas crianças, hoje na segunda infância;
Da segunda infância de alguns adolescentes;
Da terrível adolescência (quem diria?) de algumas mulheres e homens agora adultos...

Quanto mais me concentro, mas penso nas coisas das quais sinto saudade... Mas, vejam só, nesse esforço de memória, constato absurdada: saudade não é propriamente sinônimo de falta ou de ausência.

Todas as coisas das quais sinto saudades são coisas minhas... Experiências, pessoas amadas, conversas, realizações, fazes da vida presas no passado, mas não necessariamente perdidas...

Nossa... De repente me pergunto se essas experiencias e pessoas das quais tenho saudades não estão necessariamente perdidas, se elas não estão logo ali ao alcance da lembrança... Embora não possa mais morar com elas, posso visitá-las, cultivá-las, não deixar que se percam.

Lembrar talvez seja uma eterna forma de resgate.

Saudade talvez seja um sinal de vida; espaços preenchidos; sonhos sonhados; experiências vividas, desejos realizados...

Talvez sentir saudade não seja, como estive pensando até um momento atrás, um tipo de estranha coleção de ausências. Talvez, seja o contrário, talvez saudade seja um conjunto de inúmeras presenças.

Quem sabe saudades não é a soma das pessoas e experiências marcantes ao ponto de não poderem ser esquecidas ou ignoradas, mesmo quando fazem parte de um passado impossível de ser recuperado por qualquer caminho além do oferecido pela memória.
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Esse texto faz parte da Blogagem Coletiva promovida pela Ana Paula e pela Tina Bau Couto.
Para conferir as outras participações basta ir lá no "Lado de fora do coração".