quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Cartas...

 
Outro dia em uma dos meus passeios pela livraria eu dei de cara com um livro com o titulo Correspondência, nele está contido um conjunto de 53 cartas que formam o conjunto da correspondência que foi trocada entre Machado de Assis e Joaquim Nabuco, o livro foi organizado inicialmente por Graça Aranha e editado por Monteiro Lobato, que por essa quase se redimiu comigo, quase porque eu amo implicar com Lobato e não vou deixar de fazer isso só porque ele foi responsável por trazer a público um conjunto de cartas que eu adoro ler. (Implicar com morto é o cumulo da implicância, eu sei... Relevem... isso deve ser falta de lavagem de roupa, namorado ou derivados...)

Quem faz a introdução desse livro é um historiador famoso, José Murilo de Carvalho, e entre muitas coisas lindas ditas sobre um e sobre outro, ele reflecte sobre essa pratica da troca de cartas, diz ele:

"Revelar intimidades, é o que se supõe cartas deverem fazer. E é sorte dos historiadores que se escrevesse muita carta nos tempos de Machado e Nabuco. Futuros pesquisadores não terão tanta facilidade depois que a carta impressa foi substituída, inicialmente pelo telefone, depois pela correpondência eletrônica, apressada, desleixada, descartável."
(CARVALHO, José Murilo de. Correpondência, pg. 11-12)


Eu achei essa opinião curiosa de José Murilo porque ironicamente foi a Internet que me fez escrever cartas e manter uma correspondência com alguém pela primeira vez na vida, ainda que de forma eletrônica. Aliás, grande parte da minha correpondência eletrônica não é nada descuidada, descartável ou desleixada, ainda que muitas cartas tenham sido escritas com pressa ... Ah, foi também a virtualidade que me levou a frequentar os correios e escrever cartas impressas e recebe-las vez ou outra, a Ana Seerig do Alguma coisa a mais pra ti ler... que o diga rsrsrs... E sim foi a Internet que me fez pela primeira vez na vida me preocupar com greve de correios.

E sim, a titulo de conclusão, esse post começou porque hoje eu fui convidada a escrever uma carta para alguém muito especial, nada mais nada menos que nossa respeitável PresidentA, Dona Dilma Rousseff, a convite da Emília do blog "As histórias de Emília", hoje estou lá no 4 por 4, junto com, nas palavras a Emi, mais três feras.



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A propósito, não posso deixar de registrar minha satisfação diante da informação que acabei de receber através da Celina Dutra do Colheita de Girassóis néh que a Caixa tirou do ar o comercial onde Machado de Assis aparece branco com direito até a pedido de desculpas!

Nessas horas eu até me animo, os tempos estão mudando, os que não tinham voz agora tem, Machado não será mais embranquecido e eu tenho esperança que talvez estejamos um pouco mais próximo do dia em que racismo será uma coisa do passado, deixo o link que a Celina me deixou e agora só falta a Caixa responder a respeito do que será feito em relação ao nosso rico dinheirinho que foi gasto nessa mal fadada propaganda!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cultura...

 "Os seres humanos são seres interpretativos, instituidores de sentido. A ação social é significativa tanto para aqueles que a praticam quanto para os que a observam: não em si mesma mas em razão dos muitos e variados sistemas de significado que os seres humanos utilizam para definir o que significam as coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em relação aos outros. Estes sistemas ou códigos de significado dão sentido às nossas ações. Eles nos permitem interpretar significativamente as ações alheias. Tomados em seu conjunto, eles constituem nossas "culturas", que todas as práticas sociais expressam ou comunicam um significado e, neste sentido, são práticas de significação."
(Stuart Hall)
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Nos últimos tempos tenho lido sobre Cultura, entre as leituras cruzei com Stuart Hall, um teórico cultural jamaicano que contribui para os estudos culturais com obras chaves para os estudos da cultura, dos meios de comunicação e dos debates políticos... Gosto muito de tudo que leio dele, é um fofo, tem grandes sacadas em tudo o que escreve, não posso deixar de destacar a passagem ai de cima... Realmente somos seres interpretativos, construímos códigos de sentidos a esses códigos chamamos CULTURA é tudo de bom estudar isso.

Para quem quiser ler o texto de onde tirei a citação ele está aqui eu indico, é óptimo!

Stuart Hall. Photo: Clinton Hurton. Courtesy of Annie Paul.

sábado, 17 de setembro de 2011

Do que veio pelo celular!

Eu e meu celular não vivemos bem uma relação de amor, eu detesto quando ele toca e a julgar pelo fato de viver ele no modo silencioso, perdido ou descarregado o danado também deve detestar tocar.

Mas, desde que Eick nasceu que minha relação com meu celular melhorou sensivelmente... Tia que vive presa em casa pelas muitas leituras que tem que fazer (graças a Deus por isso) ou no arquivo, acabo que não posso ir tanto quanto gostaria na casa de Gô vê meu sobrinho lindo de maneira que a tecnologia vem em meu auxilio.

Hoje, quando fui conferir o celular, que estava esquecido debaixo do travesseiro tinha uma mensagem a ser aberta, quando abro, adivinha o que me apareceu na tela? Pois é! A pessoinha mais linda do mundo!

Gente, não é corujice, simplesmente não tenho culpa se meu sobrinho é lindoooooooo!!! E esse sapinho do lado dele não é um bichinho de pelúcia não viu... É um livro, o primeirissimo que antes mesmo dele nascer já estava esperando por ele... Porque a gente tem que começar cedo a incentivar a leitura néh!?!?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Dos poesia que reencontrei entre meus papeis...

Para uma orgulhosa portadora de rinitis, sinositis e todas as itis do mundo... mexer em papeis já antigos não é tarefa fácil, mas na aula de ontem a tarde um colega de curso me falou de sua necessidade em relação a um determinado texto e eu lembrei que tinha esse texto cometendo em seguida a temeridade de dizer a ele.

Resultado: tive que abrir as pastas de guardados de 2009... Tou espirrando até agora e acho que vou caminhar até o meu lindo broncodilatador do coração um doce amigo para todas as horas amargas!

Mas, não é isso que eu queria compartilhar, o que gostaria de partilhar são os versos que achei entre meus papeis não tão antigos, são uns versos com os quais me encontrei pela primeira vez através dos mares virtuais, na época me tocaram profundamente e eu, felizmente, tive a ideia de imprimir e guardar, na impressão só faltou, creio eu, o titulo, não sei bem porque, acho que na ansiedade ou pressa por fazer alo que não me recordo mais... não copiei e colei... Sei lá...

Mas, a questão que realmente martela em minha mente nesse momento é, afinal de contas:

Quem é mais afetado pelo choque;
o Sândalo caído
ou o machado perfumado?

É curiosos como ao rever as palavras as emoções voltam na mesma intensidade, é um tipo de sensação agridoce... Uma nostalgia... Um peso... E também alguma leveza...

Enfim, deixo os versos por aqui para guardar a lembrança, para encontros menos asmáticos e para compartilhar uma poesia que amo, claro.

"De todo o conhecimento que posso buscar
de toda a riqueza que posso alcançar,
de toda a virtude a que minha alma anseia,
e por tudo o que me esfolo e sondo
e sonho,
nem a sabedoria dos mestres,
nem a pureza dos santos
me ajudam a responder essa indagação:

Quem é mais afetado pelo choque;
o Sândalo caído
ou o machado perfumado?
Ironia cruel, vendo o gigante caído,
Penso que o gume frio do machado
Nada vale sem um cabo que o empunhe.
O Sândalo o forneceu a mão que o deitou.

Observo-o caído interrompendo a passagem.
Caiu sobre a trilha antiga, obrigando os passantes a darem a volta.
Eu o deixarei lá, o bravo gigante!
Ficará ali até que seu tronco se desfaça sob a chuva e o sol.
Um testemunho incômodo, de que ali viveu e floriu.
Perfumou o ar com sua extinção...
Breve a trilha se desviará para o canto
E os viajantes, evitando o tronco,
Passarão ao largo do lago morto.

E entre essas duas coisas mortas,
A trilha da vida dará uma pausa,
Suspirará e tomará um novo alento.
Talvez o lago volte a brilhar, talvez o toco de árvore
Reviva seus galhos de folhas e sombra.
Talvez...

Atrás de mim, sinto a lareira arder suavemente,
Uma frágil flama que se apaga em lento crepitar.
Sua forma delgada lembra a figura de uma mulher
Dançando lenta e sensualmente.
Sinto um impulso de avivar-lhe as brasas
Lançar-lhe uma nova acha que fortaleça suas chamas
Mas não me movo.
Tudo tem um inicio e tudo tem um fim.
Sinto isso, mesmo que minha razão fraqueje em aceitá-lo.

E por mais que eu lamente a queda da árvore
E tema o frio que se instalará na casa e na minha alma
Quando a labareda delicada se apagar
Deixo que o mundo pulse e siga.
Deixo que a chama apague."

(Sahge)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

CAIXA 150 Anos: O Bruxo do Cosme Velho / Desde quando Machado de Assis foi Branco?

Assim, sabe quando você está tão estarrecida(o), tão abismada(a), tão surpresa(o) que não pode ficar quieta(o) , sou eu nesse momento! A cinco minuto atrás estava eu no conforto do meu sofá assistindo televisão com meu pai e meu irmão e tenho uma surpresa, entre em cena um dos comerciais comemorativos dos 150 anos da Caixa Econômica Federal, a Gloria Pires entra em cena nos apresenta o Bruxo do Cosme Velho!

Opa, eu me endireito toda, pq Joaquim Maria é um dos meus preferidos desde a sétima série quando eu li Dom Casmurro pela primeira vez e o meu amor por ele só cresce, nos últimos meses a obra dele foi uma das fontes inspiração que me ajudaram a reconfigurar meu projecto de mestrado... Estudei durante a graduação a obra de Machado de Assis na trilha de Sidney Chalhoub, mergulhei na percepção social de Machado, como ele evidencia em sua obra o carater paternalista, patrimonialista e hierárquico da sociedade Imperial.

Aprendi com Eduardo de Assis Duarte sobre o fato de ser esse homem um dos grande intelectuais afro-descentes, neto de escravos, educado dentro de um morro carioca iniciado nas arte da impressão e no mundo editorial pelo tipógrafo, editor e também afro-descendente Francisco de Paula Brito.

Machado, um homem introspectivo, carrancudo, mas que mesmo assim no 1º de Maio de 1888 saiu em carro aberto pelas ruas do Rio de Janeiro que em 1893 quando tantos já haviam esquecido a importância desse dia escreveu que:


"Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto."

Esse homem brilhante, diferentemente de um certo ídolo pop do século XX, pelo que me consta, nunca sofreu de vitiligo para aparecer branco em um comercial do século XXI. Eu estou definitivamente chocada, chateada e ofendida!

Eu sei que no senso comum, e no não comum também, é difícil para as pessoas imaginarem que coube aos negros e negras que habitaram o Império do Brasil um papel diferente do de escravo, até porque eu trabalhei a graduação inteira oferecendo um curso sobre Cultura Afro-brasileira e as pessoas SEMPRE se surpreenderam quando me viam falando de INTELECTUAIS AFRO-DESCENDENTES.

O Literafro da UFMG: um dos meus bancos de dados preferidos para quem quiser conferir algo mais!

 

Não é de surpreender alguém que nunca precisou pesquisar nada sobre Cultura Afro ignore que o papel de intelectual, literato, politico, artista, jornalista foi ocupado por inúmeros homens e mulheres de cor ao longo de nosso história, afinal temos ai séculos de escravidão... E como Lilia Schwarcz tão bem trabalhou no fabuloso "O espetaculo das raças" temos neodarwinismo nas costas, Antropologia criminal, racismo, preconceito... novela das oito, não vamos esquecer dela, fonte inesgotável estereótipos, MAS como pode alguém que pesquisou a vida de Machado de Assis ignorar uma particularidade tão importante a respeito do homem que ele foi?

O que significa isso?


Eu estou com minha vista seriamente comprometida ou esse actor é branco demais para representar Machado de Assis?



Não gostei desse vídeo, não aprovei, me revoltei e lamento muito sentir que ainda estamos nessa, de sentir o quão racista o Brasil é... Eu estou me sentido roubada em relação a minha história... Embranquecer Machado de Assis dessa forma é uma violência sem tamanho, me enoja!

E sim, esse post está sendo escrito mediante altos índices de ódio fulminante, raiva e o que mais vocês puderem imaginar, perdoem se houve algum excesso, se eu me furtei de ser polida em algum momento afinal discutir tudo o que diz respeito a memória afro-brasileira requer cuidado e cuidado é tudo que eu não estou com paciência de ter nesse momento, o que mais quero é desabafar minha raiva e de forma alguma eu poderia me furtar de escrever isso...

Sei que não sou ninguém no jogo do bicho, sou só mais uma educadora em formação, tentando ser a melhor profissional possível para meus pequenos, pode parecer pouco, mas para mim é muito, além do fato de que esse assunto pode não interessar a maioria das pessoas... mas para mim é importante e como esse blog é afinal de contas meu diario a educadora que sou não pode ficar com essa raiva presa de jeito nenhum, isso me sufocaria.

  O vídeo criado pela BorghiErh/Lowe para a campanha de 150 anos da CAIXA. 


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Na trilha da Jussara eu também descobri a Ouvidoria da Caixa, onde podemos reclamar, para os que por acaso também se revoltarem com o ocorrido e quiserem reclamar deixo o link: Ouvidoria Caixa!