Mostrando postagens com marcador Poesias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poesias. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Uma poesia entre o começo e o fim...

Essa semana para mim é um começo e um fim, é um começo pq sinto que a partir de já começo uma nova fase em minha vida e é um fim pq é a última semana do ano letivo e eu já começo a sentir falta dos meus bebês... 

Da disposição frenética de Kelly para passar todo o tempo brincando, pulando e se agarrando em mim até me dáh uma bela dor nas costas e nos braços, do jeito de Matheus dizer que é um power ranger; do jeito carinhoso de Ray, das peripécias das amigas inseparáveis Adriana e Vanessa, da sintonia poderosa dos gêmeos Kaio e Kaillane, do jeito particular de Iran que faz uma traquinajem a cada cinco segundos e chora de se acabar para não ir para casa, de Vitor com seus sorrisos e inteligencia afiadas... Todos competentes falantes da língua portuguesa, todos altamente independentes, carinhosos, brincalhões, crianças felizes ao menos no tempo que passam com a gente!

E no meio de tudo isso... penso que nada melhor para selar essa semana de começos e fins que uma poesia e destaco a poesia de Johnny Nogueira pq sinto que ao longo desse ano e por toda vida "nos equilibramos no peso em cada asa" e que  "essa tormenta que nos aflige não é fraqueza,/ é em muitas vezes a musa que nos liberta".

 A matéria do ambiente abstrato

Poderíamos mudar o mundo, ganhar troféus, ficar milionários,
Poderíamos voar, inventar, liderar, explodir,
Mas somos poetas demais para viver assim,
Ou vivos demais para se importar com isso,
Não poderíamos jamais construir igrejas,
Nossas palavras ainda que não rimadas seriam incompreensíveis,
Em qualquer cubo fechado de memória apática,
Somos para aqueles que orquestram ao ar livre,
Seja erudito na alma ou vil no coração,
Como um nome que é lembrado, mas em essência esquecido,
Poderíamos sentir felicidade e nunca tristeza,
Melancolia e nunca alegria,
Mas nos equilibramos no peso em cada asa,
Houve aqueles que se perderam é claro,
Como outros que se cortaram,
Mas essa tormenta que nos aflige não é fraqueza,
É em muitas vezes a musa que nos liberta,
Não poderíamos jamais nos limitar a isso,
Nem mesmo a nossa hipocrisia seria tão indulgente,
Como o tédio que se encontra nesse circulo longínquo
Como a metamorfose dessas células mórbidas e inconscientes...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

... quisera trazê-la ao peito...



A flor e o ar
Cecília Meireles

A flor que atiraste agora,
quisera trazê-la ao peito;
mas não há tempo nem jeito...
Adeus, que me vou embora.

Sou dançarina do arame,
não tenho mão para flor:
Pergunto, ao pensar no amor,
como é possível que se ame.

Arame e seda, percorro
o fio do tempo liso.
E nem sei do que preciso,
de tão depressa que morro.

Neste destino a que vim,
tudo é longe, tudo é alheio.
Pulsa o coração no meio
só para marcar um fim.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O dia do amigo!!!

20 de Julho de 2010, dia do amigo... e como amo cada um dos meus próximos e distantes amigos!!!

É curioso como algumas vezes os amigos geograficamente próximos ficam emocionalmente distantes e como os amigos geograficamente distantes ficam próximos e como próximos ou distantes amigos são sempre amigos e podemos contar com eles quando precisamos... No entanto é sempre bom lembrar que nem todos os nossos conhecidos são nossos amigos, amigo é uma peça rara demais para se ter em grande quantidade.

Em relação aos amigos geograficamente próximos nunca consigo entender como as vezes estando tão perto conseguimos ficar tão distante, como permitimos que a rotina e as correrias da vida nos separem com tanta facilidade... E em relação aos geograficamente distantes nunca vou deixar de achar surpreendente amar pessoas que nunca vi ou ouvir na vida, mas que estão tão presentes em meus pensamentos, orações e sonhos quantos as que toco, beijo e cheiro cotidianamente!

No mais, se hoje é Dia do Amigo, então é necessário comemorar!!!

Comemoremos então com poesia???

Primeiro o Soneto do Amigo, para lembrar amigos os nos cercam todas as horas, todos os dias e por todos os lados... Que ligam; deixam e recebem recados de três frases no orkut, tipo: "Tou com saudades de tu! Te cuida! Bjs", três frases que traduzidas para o português formal significam: " Por favor, aparece no msn preciso falar com vc!"; te visitam no sábado; aparecem no trabalho ou escrevem e recebem e-mails quilometricos.

Soneto do Amigo
Vinicius de Moraes

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge no outro o velho amigo

Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com os olhos que contém o olhar antigo

Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover

E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo, um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minh'alma multiplica.

E o Soneto da Separação, no qual venho pensando muito nos dois últimos dias... Eu me recuso a deixar de sentir saudades daqueles que marcaram a minha vida, me ensinaram grandes e pequenas coisas, estiveram presentes em grandes momentos, fizeram de pequenas coisas algo memorável, mas que não estão mais em qualquer lugar onde eu os possa achar... Amigos que se foram para nunca mais e deixaram um grande buraco no meu estomago. Uma vez minha mãe me disse: "Viver também é colecionar perdas!", perder amigos doí demais!


Soneto da separação
Vinícius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

domingo, 11 de julho de 2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Carlos Pena Filho, o Poeta do Encantamento.


 


Hoje um jornal local me lembrou de algo que achei importante, me lembrou dos 50 anos da morte de Carlos Pena Filho, o poeta do soneto do desmantelo azul, do Bar Savoy... de uma Recife Boemia, cheia de vida e em processo de modernização...

Sou apaixonada pela poesia dele, mas conheci ele a pouco tempo, em 2008 quando a prefeitura do Recife fez uma agenda com alguns escritores que fizeram parte da história de nossa cidade, Carlos Pena Filho estava entre esses poetas e eu me encantei com ele, depois disso fiz um trabalho sobre a história da cidade e pesquisei um pouco sobre está figura, desde então sou apaixonada por ele, por sua proposta de pintar  de azul sapatos já que não se pode pintar as ruas e de se colorir com gestos insensatos, um dia ainda irei fazer isso, "vestir meus gestos insensatos e colori as minhas mãos e as tuas", resta achar alguém para ser o dono "das tuas" mãos. rsrsrs

Enfim, é um poeta doce, delicioso de se ler... deixo aqui um poema que fala sobre as transformações que o Recife vivia em sua época, a modernização, as mudanças, o frenesi da Avenida Guararapes, os desejos presos, os sonhos frustados... 

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antônio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

Poema de Carlos Pena Filho (1929-1960)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mulher Barriguda, Solano Trindade!!!

Mulher barriguda
Solano Trindade
(musicado por João Ricardo dos Secos e Molhados)

Mulher barriguda
Que vai ter menino
Qual é o destino
Que ele vai ter
Que será ele
Quando crescer...
Haverá ‘inda guerra?
Tomara que não
Mulher barriguda
Tomara que não...


_________________________________________





___________________________________________________

Eu não estava afim de comentar esse poema de Solano que os Secos e Molhados transformaram em musica, mas, sempre tem um mas, acabo que preciso comentar, o sentido de se escrever um diário é que se comente o que se sente...

Hoje vi algumas mulheres barrigudas, gravidas, nada de mais uma vez que o mundo é cheio dela, o diferencial é que essas mulheres que vi hoje e vejo cotidianamente são mulheres que vivem em uma situação de pobreza estrema, no limite da miséria e cujos filhos na maioria das vezes não vivem apenas sobrevivem, e quem trabalha em escola pública, hospital publico ou lugares periféricos nas grandes cidades sabe exatamente do que estou falando... Quem ver a miséria pelo noticiário da TV ou nos sinais de transito  e derivativo não sabe, apenas suspeita...

Enquanto estava dando uns cheiros em uma das crianças próxima a porta de saída (um momento até agradável, estava rindo com ele), sem querer pousei olhar em uma "mulher barriguda", um olhar de poucos segundos e me ocorreu qual seria o destino daquela criança. Tive vontade de perguntar: "Mulher barriguda qual é o destino que ele vai ter?", ela passou eu apertei o abraço no pequeno ele se irritou eu coloquei no chão... olhei as crianças cujos pais ainda não haviam vindo buscar, pensei sobre o destino delas também... pensei tanta coisa... que só posso repetir as palavras de Solano e dizer a cada um de meus pensamentos: "Tomara que não!".


Tem Gente com fome, Solano Trindade!

TEM GENTE COM FOME
Solano Trindade

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
mando o trem calar
Psiuuuuuuuuuuuu


domingo, 30 de maio de 2010

Paisagens de Inverno, Camilo Pessanha.

Paisagens de Inverno
Camilo Pessanha
Ó meu coração, torna para trás.
Onde vais a correr, desatinado?
Meus olhos incendidos que o pecado
Queimou! o sol! Volvei, noites de paz.
 
Vergam da neve os olmos dos caminhos.
A cinza arrefeceu sobre o brasido.
Noites da serra, o casebre transido...
Ó meus olhos, cismai como os velhinhos.
 
Extintas primaveras evocai-as:
Já vai florir o pomar das maceiras.
Hemos de enfeitar os chapéus de maias.
 
Sossegai, esfriai, olhos febris.
E hemos de ir cantar nas derradeiras
Ladainhas...Doces vozes senis...

__________________
Recife, 21 de Junho de 2011.

Já faz mais de um ano que publiquei esse soneto de Camilo Pessanha, ironicamente publiquei no dia do meu aniversário de 24 anos... Pois é, sempre preciso pedir a meu coração que torne para trás, ele está sempre desatinado, sem contar que em plena primavera quase sempre sinto que algumas paisagens de minha vida são de um Inverno melancólico...

Odeio inverno, amo o Sol!

Espero ansiosamente que o inverno passe, que ele dê espaço a dias de luz, que o calor tome conta dos corpos e que quando tudo se tornar insuportável venha uma brisa marítima esvoaçar as saia e despentear os cabelos... Que a tristeza dê lugar as alegrias breves e longas dos que amam com a certeza de que são amados...

Amo essas postagens antigas que eu tenho a impressão que ninguém ler! Sempre que volto a elas tenho a impressão que estou me encontrando comigo mesmo.

O blog é uma falha no tempo, onde eu posso voltar e ver a mim mesma em um lapso do passado!
_______________________

Recife, 29 de Outubro de 2011.


Se passou mais de um ano desde que esse texto foi postado, notadamente ele é mais acessado durante o inverso e, segundo os mecanismos de rastreamento de acessos, os seus acessos costumam vim da Russia e de Portugal, são pessoas que não costumam comentar a postagem, não sei se pegam a imagem ou a poesia.

Para os que vem em busca da poesia deixo essa pérola que encontrei no site da Biblioteca Nacional de Portugal, que é a imagem do manuscrito dessa poesia escrito pelo autor:


Eu adoraria que cada pessoa que se detem no blog ao menos deixasse uma pequena nota na caixa de comentário aos menos para dizer que detestou o texto. Mas, como não posso impor o comentário como condição de acesso o que faço é me resignar.

Decidi hoje adicionar algum dado bibliografico em relação a Camilo Pessanha a essa postagem, tendo como fonte o Portal São Francisco, escolhido pela objetividade do texto, mas um espaço realmente bom para aprender sobre o autor é sua página no site da Biblioteca Nacional de Portugal.


Talvez no futuro eu venha a mecher um pouco mais nessa postagem e acrescente a ela palavras minhas, por hora deixo um texto sintetico sobre o autor.


Camilo de Almeida Pessanha nasceu no dia 7 de setembro de 1867 na cidade de Coimbra em Portugal.

Após formar-se em Direito foi para Macau, na China, onde exerceu a função de Professor.

Acometido de Tuberculose e, segundo alguns estudiosos, viciado em ópio, o que contribuía para o agravamento da doença, retornou várias vezes para a Portugal para tratar da sua saúde.

Essas viagens de pouco valeram, uma vez que o poeta faleceu em 1º de março de 1926 em Macau.

Camilo Pesanha que é, sem sombra de dúvidas, o maior e mais autêntico poeta Simbolista português foi fortemente influenciado pela poesia de do poeta frances Verlaine.

Sua poesia, que influenciou vários poetas modernistas, como por exemplo Fernando Pessoa, mostra o mundo sob a ótica da ilusão, da dor e do pessimismo.

O exílio do mundo e a desilusão em relação à Pátria também estão presentes em sua obra e passam a impressão de desintegração do seu ser.

A sua obra mais famosa é " Clepsidra", relógio de água, que contém poemas com musicalidade marcante e temas até certo ponto dramáticos.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Símbolos

Símbolos? Estou farto de símbolos... 

Álvaro de Campos

Símbolos? Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo,
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos. —
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...
Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas,
Para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para achar
Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes,
Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria — pobre figura de miséria e desamparo! —
Que o namorado voltasse para a costureira.
_______________________________

Por todos os lados estamos cercados, rodeados, envolvidos por  símbolos. Os historiadores se valem da analise dos signos para escrever seus trabalhos, lançam mão do que chamam de "paradigma indiciário" e citam Carlo Ginzburg em seu celebre livro "Mitos, emblemas e sinais",  mesmo eu costumo lançar mão desse autor para validar alguns tipos de analises. 

Dizem os historiadores que mesmo a arte é um signo, um indicio a ser lido, que, por exemplo,  os textos literarios falam sobre o escritor, a cultura que produziu e a sociedade na qual ele vive e que isso vai além da poesia, da crônica, do romance e tudo o mais. Para além de nos embriagar-mos com a beleza da arte produzida por quem sabe manejar a palavra, a tinta,  a argila e etc... podemos com ela compreender o mundo de quem escreve, pinta, modela e isso é grande, é nobre, é lúcido e garante a possibilidade de que a história seja preservada e recontada por aqueles que não a viveram.

No entanto, a parte o fato de me embriagar nos símbolos que a arte produz,  quando me vejo diante de alguns deles não posso evitar a pergunta  de Fernando Pessoa: "que espécie de símbolo é uma costureira desamparada demorando-se em um lugar onde outrora ficava com o namorado que a deixou?", embora essa figura do desamparo componha um quadro digno de ser visto em sua beleza dramática, sempre penso que melhor seria ver o quadro vulgar e comum do namorado voltando para a costureira e o tradicional "Felizes para sempre!".

Dança...

 
Dança
Mario Quintana

A menina dança sozinha
por um momento

A menina dança sozinha
com o vento, com o ar, com
o sonho de olhos imensos...

A forma grácil de suas pernas
ele é que as plasma, o seu par
de ar,
de vento,
o seu par fantasma...

Menina de olhos imensos,
tu , agora, paras,
mas a mão ainda erguida
segura ainda no ar
o hastil invisivel
deste poema!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Soneto do Desmantelo Azul, Carlos Pena Filho

“Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sol
vertiginosamente azul. Azul.”

sábado, 8 de maio de 2010

Uma poesia terna!


= x - + %
Cristina Fróes

Ao se dividir, você se multiplica.
Ao se subtrair, adiciona a alguém.
No percentual da vida,
Às vezes dividida,
Uma soma estranha,
Onde o que sobra é tão grande,
O que vai tão pequeno,
Que fica difícil saber se,
Na prova dos nove,
A menos que alguém prove,
As contas são certas,
As equações corretas
E as soluções as metas.  

sábado, 10 de abril de 2010

Noites eternas e Abdicações...


ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.


Fernando Pessoa, 1913
_________________

Esse, decididamente é um dos poemas que mais gosto. Li esses versos pela primeira vez em um jornal que um tio meu comprou. Caraca isso faz um tempão! Foi amor a primeira vista.

Não resisti, automaticamente peguei a tesoura de costura de minha avó e recortei o poema do jornal. O que não foi um ato ilegal, minha avó deixou eu cortar o jornal, era velho mesmo e ia para o lixo, menos um pedaço não ia fazer falta!

Desde então, vez ou outra lembro dessa poesia, desse desejo enorme de ser tomada nos braços da noite tal como uma filha que voluntariamente abandona os cançasos nos braços de uma mãe afetuosa...

Penso que de certa forma, todo mundo já quiz abdicar de seu trono, seu lugar seguro na vida onde vc tem a plena consciência de que é REI, seu elemento primordial que é feito de força, certeza, alegria, vaidade e também de tristeza, cansaço, pesadas armaduras, grossas e inúteis cotas de malha e tantas coisas fúteis.... quem nunca quis largar tudo e se entregar ao nada... ou ao menos a alguma coisa mais leve, calida, menos rude e pesada... alguma coisa tão eterna e constante e antiga quanto a noite... eu não faço questão de ser excessão a regra alguma, me enquadro entre os que sentem vontade de despir-se da realeza de corpo e alma e encontrar a noite antiga e calma.

O problema é que sempre tenho o triste e fatal habito de lembrar que a calma da noite é um disfarce macabro, não existe calma na escuridão... A aparência tranquila é um engodo, dentro da escuridão silenciosa da noite borbulham e queimam milhares de vidas, milhares de movimentos... a noite é antiga, mas não é calma... talvez o dia seja mais calmo que a noite...

Quantos animais perigosos não escolhem a noite para caçar, quantos pesadelos tenebrosos não separaram a noite para tornarem-se realidade, quantos desvarios não saíram de mentes tão grandiosas quanto tenebrosas enquanto as sombras cobriam a terra com seu véu negro???

OOoooohhh.... Que triste a vida de alguém que não consegue se render nem mesmo a um de seus mais antigos desejos infantis sem antes questiona-lo!!!

Sim... pode até ser meio triste, mas é claro que alto-piedade não consta entre os meus atributos... ainda não é hoje que vou me render a minha antiga vontade de ABDICAR de meu espírito (metaforicamente e concretamente) a noite é eterna ela não precisa de mim e se quer tanto meu sangue para se importar a ponto de me tentar a verte-lo com tanta constância e desde tão cedo pode esperar mais um pouco... talvez tenha que esperar o tempo de uma vida inteira... podemos nos encontrar tarde, muito tarde... quando não houverem mais cetros e coroas a serem feitos em pedaços...

Além do mais, abandonar não está em mim... Não abandono nem mesmo espadas, mesmo as mais pesadas; cetros e coroas, que ficariam bem melhor feitos em pedaços; cotas de malha, que já foram feitas inúteis; ou mesmo esporas de tinir fútil... deixar pela escadaria não faz parte de meus hábitos... E mesmo quando fazem parte de algum plano, é um plano que já nasce morto...

Minha Abdicação sempre e sempre é adiada... mas enquanto a noite é eterna a minha carne foi feita para morrer... certamente me encontrarei com a noite em algum lugar... e se meu espírito é eterno ele se irmanara a essa noite e seremos um só... penso como esperança que um dia meu espírito regressará a "essa noite antiga e calma como a paisagem ao morrer do dia"!

P.S.: A julgar pela hora em que escrevi isso... deve ter tanto erro ortográfico... rsrsrsrs... depois corrijo com calma!!!
___________

Realmente haviam muitos erros de escrita... minha pérolas!!!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um poema lindooo!!!

As palavras quando saem da condição de dicionário, possuem o incomodo poder de tocar a alma... Eu não consigo ficar indiferente ao poder das palavras organizadas em versos e os versos em poesia...

A poesia toca minha alma e me faz sonhar com coisas que as vezes parecem idilicas demais para serem reais... enfim, nos descaminhos da net encontrei mais uma poesia que acho que vale a pena colar aqui!!!





Observo-te

Observo-te!... Teu campo, teu domínio
Tua grandeza, tua proporção
Causa em mim, um tal fascínio
Que me entrego à contemplação...

Um oceano negro, salpicado
Reluzindo um brilho desigual
Em cada ponto teu, que é prateado
Há uma incerteza natural

Envolve a Terra com simplicidade
Interfere no comando da razão
Negas ao mundo tua claridade
Pois teu segredo, habita a escuridão

Os astros, súditos de teu reinado
São carícias, em teu revolto manto
Inspiram mistérios velados
Que chagam a causar-me espanto...

Sugere sempre o desconhecido
Incita toda a sensibilidade
Dominas o rumo de quem foi vencido
Pela fraqueza da curiosidade...

Causa-me inquietação
Quase um medo de te conhecer
Receio tua força, tua solidão
Quando te afastas ao amanhecer...

Céu... Infinito... Paraíso!
Quem sabe o que és realmente
Permaneces num ato conciso
Acolhendo este planeta incoerente...

Meus olhos brilham ao observar-te
Porto de almas infantis!
Meu coração deseja revelar-te
O quanto na verdade, me fazes sonhar...


Renato Moura

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A beira do Rio...

Mergulhada no universo de lirico de várias pessoas diferentes de repente lembrei-me dessa poesia de Fernando Pessoa!!!


Vez ou outra encontro com uma "Lidia" em minha vida e tenho vontade de convidar esta pessoa a se juntar comigo a ver o rio da vida e enlaçar as nossas mãos enquanto apreciamos a visão, mas repentinamente me ocorre o mesmo que ocorreu ao poeta quando escreveu essa poesia... persebo que é melhor não enlaçar as mãos... afinal de toda forma o rio passa e mais vale saber passar socegadamente...

Mas, será mesmo que mais vale ver o rio passar sossegadamente??? Será que não vale a pena se deixar inflamar pelo fogo da paixão, por ódios, amores e sabe Deus o que??? Hummmmm... Vai Saber?!?!?!

A única coisa que tenho certeza é que a vida passa tal como o rio...


Deixo, a quem interessar possa, a dita poesia, do dito Fernando Pessoa:

VEM SENTAR-SE COMIGO LÍDIA, À BEIRA DO RIO

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Fonte: www.instituto-camoes.pt

domingo, 24 de janeiro de 2010

Mulher Despida




Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade - emocionalmente. Nudez pode ter um significado diferente. Muito mais intenso é assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história.
É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente. Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos - aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não bonecas de porcelana. Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais.

Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior. Mas é o que devemos continuar fazendo. Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro.
Não conheço strip-tease mais sedutor.

Martha Medeiros

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Arte de perder

Se equilibrar depois de uma perda é dificil algumas vezes, mas não impossivel, é possivel se equilibrar no meio do caos existencial dolorido, encontrei esse poema por ai, fala sobre a arte de perder, "perder é uma arte?", eu pensei olhando o título e fui ao texto, achei o texto todo adoravel...

Respiro fundo e deixo aqui essa pérola delicada: "Arte de Perder" de Elisabeth Bishop.






Arte de perder


A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério

Elisabeth Bishop

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Trapo: o dia deu em chuvoso...

É, não tem como, tem dias que mesmo ensolarados acabam dando em chuvoso, não importa o quanto a manhã esteja clara, enquanto o Sol brilha, tem dias que simplesmente dão em chuvoso e você se sente um pequeno trapo esfarelado, para dias assim nada melhor que uma poesia de Fernando Pessoa!




Trapo
Álvaro de Campos

O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Vai passar como tudo nessa vida ????

Nos descaminhos e caminhos da internet, em um dos muitos espaços que freqüento pouco e mal, mas freqüento, achei uma mensagem com esse titulo: "Vai passar como tudo nessa vida!!!" e eu fiquei pensando que tem coisa que realmente passa, mas algumas parecem que não vão passar mesmo, como por exemplo a saudade enorme que um amor vivido deixa no coração, todos os dias essa saudade apenas aumenta, ela nunca, absolutamente nunca passa...







VAI PASSAR COMO TUDO NESSA VIDA.......!!!!


Vvv, vvv.


Vvv, vvv.


Vibra o telefone no bolso de trás da minha calça jeans.


Atendo.


Do lado de lá, soluços.


- Estou te ligando pra você me dizer, mais uma vez, que vai passar.

- Vai passar, vai passar. Claro que vai!

No caminhar dos ponteiros do relógio da Central, depois de três ou quatro luas cheias, no dia seguinte em que aquele filme sair em DVD, quando o seu cabelo crescer dois dedos e nascer uma flor no pé de maracujá, vai passar.



‘Mas vai passar, eu garanto. Se não for por um golpe de sorte, será por esforço e merecimento. E, se tardar, por necessidade e instinto de sobrevivência, vai passar

Se contar com a companhia de amigos com quem você possa chorar ou dar risada (a escolher) passará mais rápido. Se tiver sorvete de chocolate no congelador passará ligeiro. E se tomar com calda de caramelo passará como um raio.


Às sete da manhã, vai passar. Quando começar a fazer calor, vai passar. Depois que você chorar a última de tantas lágrimas, vai passar. Como um mantra, vai passar.


O bom de se estar vivo , é a certeza da sobrevivência pós-separação. Eu sei que agora está doendo e que é uma dor tão profunda que fica difícil acreditar que um dia ela não estará mais aí, apertando suas costelas e molhando seus travesseiros. Mas vai passar, eu garanto. Se não for por um golpe de sorte, será por esforço e merecimento. E, se tardar, por necessidade e instinto de sobrevivência, vai passar.


E toda essa tristeza vai dar lugar a um novo amor. E ele há de ser grande para preencher tanto espaço. E, acredite, você será feliz com ele. Muito feliz, insuportavelmente feliz. E vai maldizer os últimos dias com o outro, quando nem se lembrava da sensação de ter as bochechas mais coradas da festa.


Aí você vai pensar no dia de hoje como se ele pertencesse a uma vida passada, há muito tempo, lá longe. E essa lembrança virá com desdém e um pouco de mágoa. Talvez traga uma ponta de saudade - às vezes, muitas, os sentimentos não se casam. O importante - pode confiar - é que você estará tranqüila, sem o assombro nem os olhos tristes de agora.


Em nome da nossa amizade: vai passar, eu juro - beijo os dedos em xis.


Ela soluça alto do lado de lá.


- Se, por ora, estiver doendo em demasia, tome metade de um remedinho e vá para debaixo das cobertas.Não sem antes consultar um médico .


Desligo.


Enfio o celular no bolso de trás da calça jeans. Fecho os olhos, recapitulo a minha fala (a parte do "merecimento" e do "instinto" até que foi boa) e me pergunto se fui mesmo convincente.

Texto de Rossana Caiado

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Um trechinho do Canto IV da Odisseia

De todas estas Dádivas
Só quero a Taça de Ouro trabalhada a Fogo.

Facilmente, em teu reino de chão fértil,
Nascem Trigais de espigas ondulantes;
Minha terra porem não possui Campos
É Sagrada, selvagem, pedregosa
Tudo, ali, são Pastagens e rebanhos
de jumentos, de ovelhas e Cabras

Não quero chegar lá de mãos vazias.