Dentro dessa grande experiência de vida adulta que é morar sozinha, 2024 foi meu Ano 3 e também foi o ano no qual mais me senti desamparada. Cheguei a junho sem conseguir digerir nem mesmo o mês de janeiro e meu coração de repente se sentiu tão pesado.
"Vivem dentro de mim esses bichosSão o pai e a mãe dos meus lixos
Em linhas gerais gosto muito da minha vida dentro do meu apartamento, da minha bagunça, dos cactos devorando o sol, das minhas jiboias trepadeiras se derramando pelas estantes, dos livros espalhados e empilhados pelos cantos, das estantes por toda parte. É tão bom para tudo e fazer uma faxina, comprar um prato colorido novo para compor meu conjunto de louça inspirado em "Alice no País das Maravilhas". Gosto de escrever minhas provas, preparar meus planos de aula, estudar, lavar meus pratos ouvindo kpop tão alto quando a sanidade permite.
Acordo no meu tempo nos meus dias de folga, tomo meu café, leio mangá, uma HQ ou um capítulo de um livro e descobri que vez ou outra também me sinto sozinha. Quando adoeci no final de Janeiro, depois de extrair um siso me senti muito mal, não necessariamente pela dor, mas principalmente por está longe da minha família e senti que não tinha a quem recorrer. Minha mãe, depois de uma vida inteira ao lado do meu pai, essa pessoa sufocante e abusiva, tem muita dificuldade em sair de casa sozinha para uma distância tão grande quanto a que separa Igarassu de Vitória de Santo Antão. Mesmo depois de ter superado o mal estar físico, o mal estar da sensação de desamparo ficou comigo como uma companhia indesejada ocupando os cantos de minha casa.
Foi nesse contexto de desamparo que fixei a meta desumilde de escrever 50 Resenhas em 2024. Objetivamente não pensei em fazer esse exercício de escrita para lidar com meus incômodos emocionais, mas essa atividade me ajudou. Escrever não é terapia, porém se tornou uma atividade bastante terapêutica. Escrever sobre os meus livros lidos se tornou minha forma de não mergulhar em autocomiseração, de me sentir intelectualmente produtiva, de preencher lugares vazios, de não deixar a ansiedade me dominar e continuar vivendo essa experiência de morar comigo mesma uma das conquistas mais preciosas da minha vida adulta.
Ainda não completei a escrita das 50 Resenhas de 2024, talvez nem escreva tudo isso, mas já deixo aqui minha gratidão a todas e todos e todes que leram alguma das que já foram escritas e muitoooooo especialmente a quem deixou um comentário legal. Escrever é muito bom, ser lida é maravilhoso, ser comentada é inesquecível. Escrever esse blog desde o inicio tem sido como abrir as "janelas do meu quarto,/ Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é/ (E se soubessem quem é, o que saberiam?)", receber comentários é experimenta a sensação de ouvir as estrelas descrita por Olavo Bilac em, talvez, um dos mais famosos sonetos da Língua Portuguesa.
"Ouvir EstrelasOra (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas."
estamos parecidas então. fico bem protegida dentro do ap, mas a solidão e vazio no peito dói demais. e não falo nem de solidão de um parceiro. mas ter alguma companhia, nem que seja uma amiga pra sair, viajar. se divertir. não precisa ser uma companhia amorosa. se cuide. beijos, pedrita
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