segunda-feira, 23 de julho de 2012

Da dignidade do Gato!!!

Ontem eu terminei de ler O clã dos Magos, livro que me foi enviado pelo Luciano do .Livro, ai mexendo na net vi uma foto de uma moça que colocou uma toalha em cima da cachorrinha dela e tirou uma foto junto com o mini-mago e o livro pra combinar...

Eu achei a foto e a ideia muito fofa (clique aqui para conferir) e entre mim e "mim mesma" comecei a planejar fazer o mesmo com meu lindo gato Batatinha Rafael Clemente.

Bem, ele ficaria lindo de Mago Negro, mas vamos e venhamos, é claro que isso nunca daria certo!!! Batata é qualquer coisa menos um animal dócil que se deixa apanhar para brincadeirinhas minhas néh?!?!

Mas, o legal, foi que antes mesmo que eu começasse a sequencia "caça ao Batata", Rafaela me chegou no computador com a seguinte imagem:


Desconfio que pode até existir animal tão digno quanto, porém, no entanto, todavia, mais digno que esse felino é difícil. Bem já disse Terry Pratchett:


"Nos tempos antigos os gatos eram adorados como deuses, eles não se esqueceram disso até hoje."
(Terry Pratchett)

Reza a lenda que os egípcios realmente adoravam a Bastet, a deusa gato, associando-a ao sol, a fertilidade e a gestação... Ainda segundo conta a lenda, com passar dos séculos e o crescimento do Império Romano Bastet passou a ser associada/misturada a Ártemis ficando definitivamente ligada a Lua, noite e derivativos.


Na minha época de graduanda li um livro chamado "O grande massacre dos gatos" e nele tem um capitulo que discute como a imagem do gato associada a feminilidade, a sensualidade e ao perigo foi sendo construída ao longo do tempo. Talvez por essas associações, reze outra lenda que uma bruxa sempre tem um gato preto por perto, o que me leva novamente a Terry Pratchett e suas bruxas.


Uma das bruxas desse autor é a Tia Ogg, ela tem um gato chamado Greebo, depois de Garfield, Greboo é definitivamente meu gato preferido da literatura.



"Para Tia Ogg, Greebo era o gatinho fofo que corria atrás de novelos de lã pelo chão.
Para o resto do mundo, era um gato enorme, um pacote de forças vitais incrivelmente indestrutíveis dentro de um couro que não parecia pele de animal, mas um pedaço de pão deixado num lugar úmido durante quinze dias.

Os estranhos sempre ficavam com pena dele porque suas orelhas não existiam e sua cara dava a impressão de que um urso acampara em cima dela. Não sabiam que ela era assim porque, por uma questão de orgulho felino, tentava violentar ou brigar com absolutamente qualquer coisa, incluindo uma carroça para transporte de toras puxada por quatro cavalos. Cães ferozes gemiam e se escondiam debaixo da escada quando Greebo passava pela rua. Raposas mantinham-se distantes da aldeia. Lobos davam meia-volta.

Era provavelmente o único gato que conseguia ronronar com escárnio."
(Terry Pratchett- Quando as bruxas viajam)



E claro, se estamos falando de gatos não podemos esquecer do gato de Cheshire que em Alice no País das Maravilhas é autor de uma das tiradas mais inquietantes da literatura:


"- Gatinho de Cheshire (...) Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
- Isso depende muito de para onde quer ir - responder o Gato.
- Para mim, acho que tanto faz... - disse a menina.
- Nesse caso, qualquer caminho serve - afirmou o Gato.
- ... contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice, para se explicar melhor.
- Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.
- Mas eu não quero me meter com gente louca - ressaltou Alice.
- Mas isso é impossível - disse o Gato. - Porque todo mundo é meio louco por aqui. Eu sou. Você também é.
- Como pode saber se sou louca ou não? - disse a menina.
- Mas só pode ser - explicou o Gato. - Ou não teria vindo parar aqui."
(Lewis Carroll)

Em síntese, eu não tenho coragem de fazer traquinagens com Batatinha!!!! A dignidade e o orgulho felino que atribuo a ele se confunde com o orgulho e dignidade que eu mesma procuro construir em mim.



Sem contar que eu sempre lembro de Sandman vol. 18, do Sonho de Mil Gatos e de uma Gata informando-nos que podemos mudar o mundo!



E por fim, já que para nossa alegria e pena é segunda-feira novamente, só me resta concluir esse post com o Garfiel:



sábado, 21 de julho de 2012

A Blogagem Coletiva, a pergunta e a falta de resposta!

Hoje é o dia da blogagem proposta pela Aleska, acho que depois de tanto tempo de parceria eu meio que tenho um compromisso moral de postar algo a respeito... Mas confesso que está sendo mais complicado do que eu pensei.

Eu não sou uma pessoa que dialogue muito bem com seu próprio corpo e isso não é de ontem ou de antes de ontem, é um caso antigo que inclui espelhos quebrados, anos sem olhar no espelho, impaciência crônica, dietas loucas e algumas coisitas que são mais comuns do que se pode supor olhando assim de longe.

Eu sei que não sou a única mulher do mundo que tem uma pequena grande aversão a si mesma, há quem diga que toda mulher é uma insatisfeita. Mas eu sou um tipo que leva tudo muito a sério e rumina questões como bois ruminam a grama e desde que Aleska propôs esse tema e a Vaneza com Z me fez a seguinte pergunta:


"Como você pretende falar do seu corpo se você nem gosta de si?"


Eu simplesmente não consigo organizar meus pensamentos de maneira adequada para falar sobre esse tema, estou meio que parada no tempo pensando... A pergunta da Vaneza foi um soco no estomago e tanto, não tinha parado para pensar que a falta de paciência com meu corpo é uma falta de paciência e de afeto comigo mesma...

Um dos meus primos debochados costuma dizer que eu sou muito pouco gentil comigo mesma, as palavras da Vaneza me lembraram as dele e eu continuo em curto, a pergunta da Vaneza não tem resposta e eu não tenho como desenvolver esse tema no momento.

Sei de cor que:

"Temos que nos aceitar;
O padrão de beleza é uma coisa historicamente construída;
Ninguém é obrigado a se pautar pelo padrão arbitrário da mídia;
Todos tem sua própria beleza;
Aos olhos do Pai todos somos obras primas..."

Eu repito isso para mim todos os dias, já disse isso centenas de vezes a um monte de pessoas, eu acredito nisso... Mas me olho no espelho e vacilo e um dia sim e o outro também penso que séria melhor não ter nascido, não é que eu não veja beleza na vida, eu vejo, tem a poesia, as crianças, o sol, o mar, meus amigos, mas, isso tudo existia sem mim lindamente...

Enfim, não consigo falar sobre o tema da postagem de forma decente... Aleska, minha linda, me perdoe, sei que sua proposta vai ser o sucesso e corre o risco de ajudar a quem precisa tanto agora quanto no futuro, afinal sempre tem meninas/mulheres em busca desse tipo de conteúdo na net quando elas pesquisarem vão encontrar esses textos e eu espero que com eles encontrem o apoio que precisam para ser mais elas e menos o que os outros desejam que elas sejam.

sábado, 14 de julho de 2012

Cartas e concursos...

Desde o ano passado eu e a Ana Seerig nos tornamos correspondentes, a Ana quebrou todos os muros da virtualidade e entrou na minha vida concreta, e se Deus quiser, vai ficar por muito tempo e invadir, quem sabe, a eternidade.


Essa experiencia de escrever cartas se ampliou de tal forma que me tornei correspondente de algumas pessoas queridas, nós fazemos terapia, colecionamos lembranças e bons momentos... Escrever cartas é uma experiencia maravilhosa, abrir uma carta é uma experiencia maravilhosa.


Foi a experiencia de escrever e abrir cartas que me inspirou a participar do concurso que a Elaine Gaspareto promoveu pela segunda vez em seu blog o Um pouco de mim.

Pois é, por incrível que pareça esse conto passou na seleção e vai fazer parte de um novo livro. O Um pouco de nós vai carregar consigo uma parte de minhas palavras e é impossível não ficar feliz em ser parte dessa lista.


Agora é só esperar o livro sair e descobrir o que os outros autores deixaram de si nesse livro!


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Um pequeno grande livro: Antologia Poética de Fernando Pessoa da Jane Tutikian

Quando eu vi essa pequena "Antologia Poética de Fernando Pessoa" na livraria e fui magneticamente atraída para ela. Não resistir a cara linda do livro e abusando da liberdade que os meninos que trabalham lá me dão, sentei e comecei a folhear, pensando a cada página: "Mas que pequeno grande livro é esse?".

Tudo bem que eu sou apenas uma fã babona de Fernando Pessoa, não sou especialista, nem coisa do gênero. Altamente suspeita e nada recomendada para avaliar para o bem ou para o mal a obras, mas tenho que dizer que achei cada escolha da Jane Tutikian perfeita.

Imagino que deve ter sido terrível para ela abrir o Eu profundo e os outros Eus, respirar fundo, considerar toda obra completa do homem e escolher apenas poemas suficientes para encher 64 páginas. Imagino que o exercício de escolher esse e não aquele, aquele e não este deve ter exigido uma ginastica mental profunda.

Independente da felicidade ou infelicidade das escolas da Tutikian, sentar e apreciar Fernando Pessoa sempre foi e será uma experiencia enternecedora.


É impossível não se enternecer pensando a respeito de uma ceifeira que mesmo pobre canta:

"Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida."

Outra impossibilidade é não amar. Como não amar o Alberto Caeiro?

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás..."

E como não se apaixonar pela milesima vez pelas palavras de um certo Pastor Amoroso?

"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar."

Como não vibrar com os versos de Álvaro de Campos?

"NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!"

Acho que nunca houve quem me inspirasse a escrita de ridículas cartas de amor...

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas."

E no fim ainda há aquele que foi a primeira parte do Pessoa que despertou o meu amor, o Ricardo Reis convidando sua Lídia a vim sentar e ver passar o rio...

"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos.
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos."

Eu não sou Lídia, mas já estou sentada olhando correr o rio e vendo que a vida realmente passa, mas meu amor por Fernando Pessoa fica, sempre firme e forte como o bramido das grandes ondas do mar ou a força das mares.