segunda-feira, 14 de março de 2011

Noite na Taverna e as experiencias com a virtualidade.

Andando essa semana pelos corredores de uma dessas lojas enormes que vendem de tudo, mergulhada até o pescoço na busca de uma amiga pelos melhores preços me vi diante desse livro que dá nome ao post: Noite na Taverna de Álvares de Azevedo.

Álvares de Azevedo é um velho conhecido meu, conheci ele entre as estantes da biblioteca da minha escola através de uma edição velha e surrada de Noite na Taverna e Macário.

Noite na Taverna fala da conversa de uns amigos altamente alcoolizados em um bar em meio a cachaçada eles começam a contar suas histórias e que Deus tenha misericordia de nós pq uma é mais macabra que a outra... Lembro que eu li esse livro de olhas arregalados o tempo todo. É delicioso, adorei \o/.

Ah, Macário é uma peça que o Álvares estava escrevendo pouco antes de morrer de tuberculose, não deu tempo dele concluir, mas ainda assim, parar a vida e ler Macário é uma boa pedida em qualquer tempo \o/

Mas, não é bem dos livros ou minhas impressões adolescentes sobre eles que eu estou afim de falar.

O que achei interessante e deu vontade de postar é que quando peguei no livro, lembrei automaticamente do Senhor Verden do Delirios e Surtos de Roderick Verden. Fiquei folheando o livro e lembrando do blog, dos posts sobre o Allan Poe, das imagens de filmes de terror clássicos e claro das musicas de Pink Floyd. É, eu ri lembrando disso e sim, enfrentei a fila e trouxe o livro pra casa \o/

Não me canso de constatar o quanto essas relações mantidas através do computador se imbricam na vida concreta que construimos com nossos corpos, como a vida que construimos nos corredores  insólidos da net se misturam a vida que construimos em nossas cidades feitas de pedra, cal e caus. 

Acho fabuloso como os amigos virtuais se tornam concretos, como a medida que nós levamos a virtualidade a serio ela começa também a nos levar a serio e essas novas experiências nos modificam, incluem novos sentidos, nos fazem ouvir e ver as coisas de uma forma diferente.

As vezes me pergunto se os meus queridos amigos virtuais, cujos blogs, orkuts, perfis yahoodianos e caixa de e-mail frequento seriam amigos se em vez de encontra-los no mundo onde as pessoas são feitas de bits e bytes eu as tivesse encontrado no mundo onde as pessoas são feitas de carne e sangue. 

Possivelmente metade dos meus queridos amigos/colegas/companheiros de virtualidade seriam apenas sombras que passam, desconhecidos que se cruzam e permanecem desconhecidos... Lamentável!

Mas, a parte as suposições, ainda bem que existe a net e que dentro dessa grande maquina que nunca se desliga podemos encontrar pessoas diferentes, conversar, viver novas experiências e vez em quando, ou vez em sempre, cresce no processo de descobrir reflexos de universos particulares presos ou libertos em blogs e derivativos. Magnífico!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Eu confesso!

Medo de Amar
Vinicius de Morais

O céu está parado, não conta nenhum segredo
A estrada está parada, não leva a nenhum lugar
A areia do tempo escorre de entre meus dedos
Ai que medo de amar!

O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam
Entre elas e eu, que imenso abismo secular...
As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio
Ai que medo de amar!

Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo
Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar
Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco
Ai que medo de amar!

Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso
E parto a cantar canções, sou um patético jogral
Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...
Ai que medo de amar!

E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço
Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar
Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço...
Ai que medo de amar!
__________________

Nos últimos tempos ando conversando tanto com minhas amigas sobre amor (parece que até na blogosfera esse tema me persegue) que eu acho que me rendo, eu admito, faço minha confissão... O problema não é peso, a altura ou a profundidade... O problema único, raiz de todos os outros é o medo... Tenho mais medo de amar do que tenho medo de pimenta e sim não pense que eu não tenho motivo para temer pimentas \o/. Enquanto eu não vencer esse medo não posso admitir ninguém por perto, simplesmente da mesma forma que não quero ser magoada, não quero magoar ninguém... Por hora, eu continuo sendo, nas palavras de uma querida amiga, "uma das pessoas mais fechadas para relacionamentos", lamento, espero que isso mude em breve e que pimenta volte a ser meu único pavor noturno e enquanto esse dia não chega me permito ficar apenas sozinha, mesmo que as vezes esse tipo de solidão me pese!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Recomeçando em festa \o/

Eita, lá se foi o Carnaval, mas decididamente não estou em cinzas, pelo contrario, estou em festa \o/!

É que a Irene do M@myrene, que ganhou Persépolis no sorteio da blogagem coletiva recebeu o livro e me mandou as fotos e deixou eu publicar aqui \o/!

Irene super linda\o/
Uma vez mais obrigada Irene, pelo carinho, por ter participado, por ter mandado as fotos!!!

E sim, eu gostei muito dessa proposta de Blogagem Coletiva e já estou pensando em novas possibilidade \o/ Adoro presentear!!!

E sim[2], Alexia não esqueci de você viu!

E sim, meu ano recomeçou em festa!!!

terça-feira, 8 de março de 2011

Blogagem Coletiva - Amazônia e Seus Povos

A Bia do Jubiart está comemorando o primeiro aniversário de seu blog e a festa dela inclui essa blogagem coletiva, como eu realmente gosto de participar de blogagens coletivas cáh estou eu e vamos lá, falar um pouco sobre a "Amozônia e seus povos", no caso optei por falar um pouco da história da Amazônia, pq sim, eu não resisto a tentação de falar de História.

E para começar vou logo dizendo que esse é um tema um tanto quanto difícil de se falar, afinal a Amazônia, como tantas outras coisas referentes a América, a Ásia e a África foram envoltas pelos Europeus ao longo dos século por um manto de exotismo que muita vezes cega nossa visão para a realidade.

Um historiador francês (que também é um fofo super educado) Serge Gruzinski, escreveu uma vez que "o exotismo não é apenas um fornecedor de clichês. Na melhor das hipóteses é a maneira pela qual o Ocidente costuma, por toda parte, imprimir sua marca.". É ainda Gruzinski que me alertou em seus textos que a Amazônia é um tipo de reservatório que alimenta a muito tempo a nossa sede de exotismo e de pureza cultural, segundo o francês, e eu concordo com ele:

"Tudo conspira para isso. Na foz do Amazonas, as bodas da Terra e do Oceano confundem nossos pontos de referencia e tornam o terreno quase impenetrável... No interior o mar de vegetação que sobrevoamos horas a fio lembra inevitavelmente a virgindade de uma natureza ainda preservada da civilização e de suas poluições... a Amazônia parece oferecer a muralha de suas florestas gigantescas e de seus rios intermináveis a uma humanidade durante muito tempo isolada do resto do continente, e que, imaginávamos, só há pouco tempo teria sido entregue a cobiça dos brancos."
(GRUZINSKI, Serge. O pensamento Mestiço. pág. 29)

A Amazônia excita a imaginação de filósofos, estudiosos e derivativos desde o Renascimento. Espanhóis, portugueses, franceses, ingleses e italianos, os primeiros exploradores ocidentais dessa imensidão sem fim, voltavam-se para ela em busca de eldorados e jardins de Hespérides, um tipo de paraíso perdido onde os bons selvagens conservam sua pureza.

E nessa brincadeira a gente acaba de esquecer que desde a época do descobrimento que a Amazônia cedo conheceu os mercadores europeus que incluíram na vivência dos "índios" desde facões franceses até fuzis holandeses, desde o Renascimento esse povo descia o Amazonas a partir de Belém desbravando a grande floresta e promovendo mestiçagens culturais a torto e a direito. Durante o século XVIII o Marquês de Pombal com sua politica esclarecida organizou a militarização desse espaço, com construções militares e urbanização que levou Belém a receber arquitetos, desenhistas, cientistas, missionários e funcionários encarregados de estudar a população nativa.

A História da Amazônia e seus povos é longa e se reflete no presente em Belém por exemplo, ainda nas palavras do francês baixinho, popularmente conhecido como Gruzinski:

"Belém, a capital da Amazônia ocidental, é uma mistura de cidade colonial construida no século XVIII por um arquiteto italiano, de Paris da belle époque e de modernidade caótica cercada de favelas. Os palacetes neoclássicos do bolonhês Landi, as casas em ruínas do inicio do século XX, os prédios de classe média e os bairros de tábuas curvadas sobre esgotos ao ar livre compõem um conjunto tão inclassificável quanto heterogêneo."
(GRUZINSKI, Serge. O pensamento Mestiço. pág. 25)

Bem, muito do que escrevi aqui aprendi lendo Gruzinski e pouco tempo depois de ler o livro dele tive a oportunidade de conhecer Belém junto com um grupo de amigos meus, foi uma experiência óptima. Belém é tudo isso que Gruzinski falou e talvez ainda seja muito mais, a baixo vou colocar algumas das fotos que tirei enquanto estava por lá e sim, lembrando que não sou fotografa e minha câmera digital não é bem a oitava maravilha do mundo tecnológico, mas ainda assim são fotos que amo e guardo com todo o prazer de quem visitou e fotografou um lugar pelo qual já havia se apaixonado antes mesmo de conhecer pessoalmente.

A Igreja do Círio de Nazaré, foi um dos lugares mais marcantes de Belém, ela é impressionante:


Verdadeiramente grandiosa em suas estruturas:


O interior é cheio de imagens de mulheres que marcaram as histórias bíblicas, vale um post só para ela, um dia ele virá:


Belém também é o lugar onde nasceu a Assembleia de Deus, no inicio do século XX,  estamos comemorando nosso centenário, e tudo começou em Belém:


Vista do Mercado do Ver o Peso:


O rio Guamá, domina a paisagem


Na margem direita do rio Guamá fica a Universidade Federal do Pará, tomar o café da manhã as margens desse rio não tem preço:


 O rio Guamá é navegável, impressionante não?



Até hoje não sei direito o que é isso, mas adoro essa imagem:


Forte do Presépio, foi construído em 1616, hoje é um museu:





Relogio das Quatro estações, estetica francesa, herança do ciclo da borracha, se não me engano:

domingo, 6 de março de 2011

Contos de fadas, príncipes e princesas.

Eu poderia começar dizendo que "quando era criança adorava contos de fadas, príncipes e princesas!". Não seria uma mentira, mas também não seria uma total verdade.


De fato, quando criança eu adorava contos de fadas, histórias de príncipes e princesas, fadas, bruxas e duendes, desde aquelas cuja Bíblia narra passando pelas de Charles Perrault, dos Grimms até os de Hans Christian Andersen, mil vezes fofo em sua forma doce de contar histórias profundas, mesmo que nem sempre tivessem o óbvio final feliz.

Sempre que lia Andersen sentia que aquele autor tinha confiança na minha infantil capacidade de compreender que a vida não era só flores e que nem sempre o final seria o irreal "... viveram felizes para sempre". Uma vez adulta é fácil perceber o cuidado de uma autor que tinha a intenção de através de seus escritos retratar o seu olhar sobre a vida e o mundo que o cercavam. Enfim, como não se emocionar lendo A menina dos fósforos ou A pequena sereia?

Uma história de Natal, muito real!
Quando li esses contos pela primeira vez chorei até dizer basta, como já era noite, fui dormir com dor de cabeça e devo ter deixado lágrimas no travesseiro enquanto Mainha dizia: "Deixa de ser besta Jaci, é só um livro!"  Quem dera fosse, as vezes o livro é o espelho da vida e a vida quase sempre a vida é cheia de histórias tristes de fazer chorar lágrimas sentidas.

No meio do frenesi do Natal quantas vendedoras de fósforos existem dispersas pela cidade, filhas de ninguém, sendo exploradas por alguma pessoa, sentindo saudade de alguém que amam, desejando aquela vida de comercial de Natal? E quantas histórias de amor são como a da pequena sereia (mas não a da Disney pq essa ficou açucarada demais) quantas pessoas oferecem "o céu meu bem e o seu amor também" e acabam virando espuma no mar da vida do outro?

Uma história de amor real também!
Aliás, entre os contos que marcam por sua capacidade de falar do mundo real, não consigo deixar de lembrar de Chapeuzinho Vermelho. Quando li a versão de Perraut, que diferente da versão dos irmão Grimm, nos apresenta um conto onde o Lobo come a avó, a menina e não existem nem caçadores nem finais felizes, me impressionei bastante naquela época.

Mas não tanto quanto me choquei com a versão contada durante o século XVIII pelos camponeses franceses não alcançados pelas suas luzes dos tão racionais filósofos Iluministas.


Outro dia reencontrei essa história entre os escritos de Neil Gaiman, mas especificamente em The Sandman, vol. 13 publicado em Fevereiro de 1990.  É incrível como sempre soa assustador constatar que violência contra a criança é uma coisa tão antiga em nossa história e que verdadeiramente recente é a categoria infância.

Até bem pouco tempo atrás crianças eram tidas como adultos pequenos, tenho ciência disso, mas, ainda assim, fere a minha sensibilidade do inicio do século XXI constatar através de histórias infantis que, a despeito do que reza a lenda, antigamente o mundo não era tão melhor do que hoje em dia, que violência sexual é uma constante desde sempre e a diferença entre ontem e hoje talvez seja apenas a forma como perpetuamos a memória dessas violências e a reação que podemos ter diante delas.

Os franceses não iluminados do século XVIII reagiam a histórias assim contando-as em suas rodas de conversa diante de fogueiras aos sussurros, fazendo metáforas com lobos, hoje nós escrevemos em blogs,  lemos em jornais, assistimos em noticiários sensacionalistas, temos a falsa impressão de que o que se fala é uma novidade digna do fim dos tempos, quando na verdade a violência é apenas uma continuidade no terreno da história humana sobre a terra! Não é de hoje que lobos espreitam crianças, talvez apenas a selva é que seja outra. Definitivamente assustador!

Lobo Mau e Chapeuzinho vermelho, Gustave Doré.
Assustador também, mas não igualmente, é perceber como até hoje os contadores de histórias infantis são competentes na arte de retratar o presente, mesmo quando tentam com sua arte retratar o passado. Recentemente tive contacto através de minha linda amiga Costureira com dois livros muito doces, ambos contendo histórias de príncipes e princesas, com fadas, magicas e encantamentos... lindos mesmo, tanto que até agora estou tentando decidir qual dos dois foi o mais encantador se "O casamento da Princesa" de Celso Sisto ou "Nina África" de Lenice Gomes, Arlene Holanda e Clayson Gomes.


Os dois fazem parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE/2010 e contam histórias que visam resgatar a memória simbólica de uma África ancestral onde homens e divindades viam por inúmeras vezes suas vidas se cruzarem e se trançarem em histórias as serem contadas e recontadas através dos séculos, atravessando se preciso até mesmo a grandeza do Oceano Atlântico para chegar aos ouvidos das crianças do século XXI.
Abena, que andava junto com a beleza.
Nesse intuito "O casamento da Princesa" é uma adaptação de um conto popular da África Ocidental, a princesa em questão é a jovem Abena, a bela que conquista para si o amor do Fogo e da Chuva e se vê em meio a um difícil dilema quando a Chuva conquista seu amor e sua promessa de casamento e o Fogo conquista a simpatia e bênção de casamento do seu pai.

Chuva conquistando com boa conversa o amor de Abena!
Diante de seu dilema é proposto uma competição, os dois Chuva e Fogo disputarão a mão da princesa em uma corrida. Lindo livro, lindo trabalho de Simone Matias, as ilustrações são belíssimas, inspiram o sonho, como deve ser todo livro infantil. Mas, me pergunto diante da história de Abena e seus príncipes até que ponto ele fala da África de séculos atrás ou da África de hoje que se destaca nas Olimpíadas e Maratonas da vida com seus corredores quase inumanos de tão velozes.

Abena conversando com seu pai, sobre o melhor pretendente.
Ou mesmo das mulheres de hoje que pretendem escolher seu príncipe entre aqueles que antes de quererem a bênção do pai, querem cativar seu coração com palavras e sonhos. Nós educamos nossas meninas para fazerem valer suas escolhas, isso é muito novo na história da educação feminina, a bem pouco tempo atrás as histórias ensinavam as meninas a acatarem a vontade do pai.

Mas, "O casamento da Princesa" desde o principio que é uma adaptação e não a versão original, então desde sempre nós sabemos que trata-se de uma história do passado narrada a maneira do presente. Não é o caso de "Nina África", pq nele os autores se propõem a escrever "Contos de uma África menina para ninar gente de todas as idades".


E sim, Maurício Veneza da um verdadeiro show visual em Nina África. Simplesmente PERFEITO, com letras grandes mesmo, que é pra da ênfase ao trabalho fantástico que ele fez nesse livro. Ficou muito rico, mas se o titulo e o subtítulo nos fazem pensar que o livro vai tratar de contos que remetem ao passado dos povos africanos o livro passa longe disso.

Embora traga história gostosas de ser ler e de se conhecer e seja um trabalho onde texto e imagem se cruzam e dialogam com uma beleza ímpar, os autores falaram muito mais da ideia que temos hoje da África e de seus povos do que de histórias antigas, nos contos encontramos muito mais da África de hoje que da África de ontem, com direito até a deus vento que vem a terra para jogar futebol.

É, de fato, eu poderia dizer que "quando era criança adorava contos de fadas, príncipes e princesas!" e não seria mentira, porém, mais coerente com a verdade seria dizer que até hoje sou louca por contos de fadas, mitos, lendas, histórias que contam por símbolos e pretensas fantasias sobre vida, morte, amor, perda, perdão, meandros da vida que os homens fundaram e construíram ao longos dos milênios nesse globo girante que tem 70% de sua superfície coberta por água, mas que mesmo assim chamamos de Terra.