terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Romances Históricos [Desafio Calendário Literário]

Reza a lenda literária ter o gênero "Romance Histórico" nascido no século XIX e, assim como a própria ciência História, influenciado pelas forças do pensamento positivista, foi um instrumento ideológico usado amplamente para fortalecer os "Estados Nação". Através dele autores como Walter Scott e Alexandre Dumas davam a saber a população leiga certo conhecimento sobre o passado de seus países possibilitando a elas se identificar, construir empatias e até mesmo justificar situações do presente.

Tanto o Walter Scott quando o Dumas são objetos do meu amor, isso não é segredo para ninguém, várias vezes falei de um e de outro nessa caixa.

Alexandre Dumas e Walter Scott

E o romance histórico é um gênero com o qual desde sempre estou apegada, graças a uma grande sorte, um dos primeiros livro que li na vida foi o "Ivanhoé" de Sir Walter Scott [em janeiro de 2011 contei essa história aqui] e desde 2011 o Lord Dumas faz parte de minha vida [em dezembro de 2011 contei essa história aqui]. Assim, nem precisava de Teoria da História para saber o quanto um romance histórico fala mais sobre o presente do que sobre o passado.


Não por acaso o Walter Scott, do Reino Unido no qual até hoje sobrevive uma monarquia, aborda a realeza, a Idade Média e a cavalaria com grande respeito até o ponto de me fazer desejar ter nascido na Idade Média. Enquanto Dumas, em uma França pós-revoluções, republicana [uma França que degolou uma Rainha e vários nobres] tenha para com a realeza um olhar de deboche e critica sempre e constantemente reafirmados até me fazer ter vontade de voltar no tempo sentar com ele para longos papos debochados, falando mal de tudo e de todos.

Mas, vou contar a vocês, apesar de saber o quanto de presente tem no passado dos romances históricos, me dar nos nervos perceber quão pouco os autores de hoje pesquisam sobre o passado para escrever suas histórias, quão pouco se interessam por algo mais além de um romance meloso.

Misericórdia!!! Desse jeito os ossos de Scott e Dumas devem ficar se debatendo em suas tumbas com as danações feitas com o passado pelos autores do nosso presente!!!

As vezes, sabendo o quanto os autores só respondem as demandas do público, eu me pego questionando: "Jesus, será que nós somos mesmo tão fúteis assim?". Nessa horas quase chego a escutar o Todo Poderoso respondendo: "São!".

No entanto, nem toda futilidade na qual mergulha o gênero é capaz de me fazer desgostar dele. Sou louca por um bom romance histórico! Quando Fevereiro chegou e vi meu "Calendário Literário" anunciar a hora de ler o segundo volume de uma série escolhi "A Rainha Estrangulada" de Maurice Druon, volume 2 da Série "Os Reis Malditos".

A Série "Os Reis Malditos" conta alguns capítulos da história da realeza francesa a partir do reinado de Felipe, o belo, lá pelas bandas do século XIII. No fim da Idade Média, esse monarca junto com o ministro Enguerrand de Marigny conseguiu fortalecer o poder central do Rei, deslocou o papado de Roma para Avignon [de onde podia melhor controlar Papa e Cardeais], desmembrou o poder dos senhores feudais, aboliu a servidão, instituiu moeda única para todo o reino, acabou com o direito de guerra dos senhores feudais e por último, mais de crucial importância, destruiu o poder bélico e financeiro da lendária "Ordem dos Templários". Bem, daí imaginem que ele quase não fez inimigos néh?!?!

Phelipe IV, o Belo.
Quando um homem como Felipe IV morre, símbolo de todo um conjunto de políticas econômicas, sociais e culturais, a primeira coisa a ocorrer, quando ele não deixa um sucessor a altura, é um desmembramento de toda a sua obra.

E bem, seu filho, "Luís X", o Turbulento, não fez em vida outra coisa senão destruir a obra de seu pai. Em "A Rainha Estrangulada", Maurice Druon a titulo de contar a respeito das coisas ocorridas após a morte do Rei de Ferro, nos conta também como a oposição uma vez no poder minar a obrar de uma gestão anterior.

Sou apaixonada por Druon desde o lirico "O menino do dedo verde" e aqui ele não me decepcionou em nada. Como autor experiente que foi, conseguiu construir uma narrativa redonda, na qual a História e a ficção se cruzam e se completam de forma enxuta, sem enrolação e blá... blá... blá... Não há em Druon uma palavra sobrando.

Uma delícia de se ler um texto assim! Nada chato, sem heróis ou vilões, "A rainha estrangulada" nos apresenta um século XIII de homens e mulheres dos mais diversos estratos sociais e culturais, preparados ou não para a felicidade e a tragedia, vivendo e morrendo suas vidas e suas paixões. Druon conseguiu, na minha opinião, equilibrar o romantismo de Walter Scott com a ironia de Dumas e trouxe a luz uma trama deliciosa e, como se isso não fosse suficiente, ainda mostra que para ser bom um autor não precisa escrever verdadeiros calhamaços ou sopas de pedras, "A Rainha Estrangulada" não tem mais 250 páginas.

Esse post faz parte do "Desafio Calendário Literário",
proposto pelo blog "Aceita um leite".


13 comentários:

  1. Cara, na biblioteca da escola eu sempre ridicularizava "o menino do dedo verde". Nunca li pra ser franca, mas achava que tinha a ver com meleca, porque minha mae contava a história do garoto do cabelo verde e tinha meleca no assunto. Eu tb gosto de romances históricos, por mais que eu não note o anacronismo neles (acho mais fácil ver em desenhos animados, pois é uma ferramenta util para criar a comédia), mas que com certeza possuem.

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  2. eu gostei muito de os três mosqueteiros e eu gosto muito do gênero romance histórico. beijos, pedrita

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  3. Ai que vontade de colocar este na lista "livros para ler" mas a fila está muito grande e eu não estou conseguindo administrar o tempo

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  4. Ai, que delícia ler esse seu post, Jaci! Um post sobre romance histórico sob o olhar de uma historiadora. AWESOME! Maravilhoso! =D
    Ainda não li nada do Walter, de Dumas nem de Druon, mas fiquei com uma vontade enorme de ler depois desse seu post. Eu tenho um livro de Dumas e lerei tão breve me for possível.
    Agora, confesso, que fiquei louca pra ler esse Druon, porque, pelo que sei, os livros de Dumas são verdadeiras bíblias, e esse Druon consegue cativar e ser sensacional num livro de 250 páginas? O cara tem que ser bom mesmo, gente. Preciso ler algo desse homem pra ONTEM.
    Eu tenho uma paixão muito grande por romance histórico, confesso que mais pelo estilo rebuscado do falar, do tratar, do vestir etc, mas concordo contigo que o escritor tem que se informar do período histórico do qual resolveu falar em seu livro, pra que não seja só mais um livro meloso, e sim algo que de fato nos remeta ao passado para entendermos o presente, para fazer uma bela fusão entre ficção e realidade. A qualidade do livro, em termos de informação e entretenimento, dão um salto.

    Um abraço, Pandorita.

    Sacudindo Palavras

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  5. Gostei de ler seu post e devo dizer que ainda não li Alexandre Dumas. Contudo, faz parte da minha lista de leituras (ainda preciso adquiri-lo) e faz parte de do Desafio Literário do qual participo.

    Fiquei com vontadinha de ter participado desse desafio aí. xD

    Vou tentar acompanhar seus textos...

    Até mais

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  6. Quanto a Dumas, não tenho palavras, ele é demais.
    Os romances históricos de hoje muitas vezes só levam em conta as roupas e os meios de transporte dos personagens, porque nem o modo de falar e de se comportar das pessoas da suposta época apresentada no livro eles respeitam, não que sejam totalmente ruins, mas não deveriam se chamar de históricos quando não tem um fundo histórico.
    Vou incluir "A Rainha Estrangulada" na minha lista de leitura.

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  7. Também sou do time que não leu o "O Menino do Dedo Verde" na escola,e agora me arrependo! Gosto muito de romances históricos, mas não tenho seu olho crítico quanto ao "olha só, aí já estão me fazendo de bobo!", então já devo ter engolido muita embromação nessa vida. E, nossa!, que saudade de Walter Scott!, que agora já se somou a que tenho do Dumas, e nem sei como vou saciá-las. Do Scott eu li Ivanhoé numa edição adaptada, é uma tristeza, mas ao menos me introduziu ao autor.

    Mas um post daqueles que a gente lê sorrindo ;) Dois abraços!

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  8. Romances históricos são o que há de mais belo na literatura...
    Minha opinião!!!
    Porém, nem todos conseguem apreciar um belo romance histórico...

    Bjo, bjo!!!

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  9. Oi, Pandora!
    Também gosto muito de romances históricos e preciso ler as obras dos autores que citou. Do Alexandre Dumas, que lembre seja histórico, li Memórias de Garibaldi e do Maurice Druon, apenas o Menino do dedo verde.
    "Um romance histórico fala mais sobre o presente do que sobre o passado". O presente sendo consequência de um passado, para compreendê-lo é preciso conhecer o passado. Temos a impressão que vivemos melhor o presente por também compreendê-lo melhor.
    Os autores antigos viajavam para fazer pesquisa antes de escreverem uma obra - era preciso criar a ambientação da época para traçar o perfil psicológico do personagem. Hoje, toda essa construção é artificial, baseada na futilidade que cerca os nossos dias. Se fosse diferente, haveria muita desistência de leitores.
    Beijus,

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  10. Quantos volumes ao todo tem a saga dos 3 mosqueteiros? Eu já li em algum canto que o terceiro livro tem 10 volumes. Li o primeiro livro, maravilhoso. Só que estou com medo do tamanho dos próximos!

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  11. Faz tempo que não leio um bom romance histórico, mas não no sentido épico, mas no sentido de clássico, tipo Julio Verne, Mark Twain, Dickens... enfim, mas eu bem que estou nessa pegada. Estou inclinada a ler Verne, mas o Dumas também é tão legal... ai que dúvida!!! Bom, primeiro preciso ler os livros que já estão por aqui na fila antes de comprar outros, mas é triste ter o ímpeto de ler algum gênero e não conseguir =/

    Adorei a resenha, vc está me deixando pra trás no meu próprio desafio pq eu não estou nem perto de terminar meu livro de Fevereiro. Pare com isso HAHAHAHAHA

    Beijão!

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  12. Jaci, eu li todos os 7 livros dos reis de França, ano passado e fiz um post sobre eles. (Falando nisso, atualiza o endereço do meu blog, que mudou. Talvez por isso vc não tem recebido as atualizações. www.sem-medida-lucia.blogspot.com.br). Gostei muito, havia a história paralela de um rapaz, Guccio Baglioni e sua Marie de Cressay, infelizmente se perdeu no final dos volumes, terminou sem chegar ao fim, entende? rs Vale muito ler todos os volumes, sendo que os 5 primeiros são melhores, sem dúvida.
    Beijo.

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  13. Oi, Jaci.
    Adoro romances históricos. Ainda não li nenhum desses dois, mas estão na lista. :)
    Não acho que faltam bons romancistas históricos não. Sou apaixonada por Bernard Cornwell, Ken Follet e Philippa Gregory. Eles têm estilos diferentes e abordam tipos de personagens diferentes e são muito bons. O Ken Follet é o mais romêntico dos três, mas nada meloso. Ele fala mais sobre o povo, os trabalhadores. Bernard Cornwell prefere os soldados, as guerras, as batalhas e a Philippa Gregory se centra nas mulheres da corte. Vale a pena ler os livros deles.
    Boa sorte no desafio.
    Beijos.

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