sábado, 8 de fevereiro de 2014

Eu, o "I ching" e algumas notas de saudade...

Hoje, enfim, o correio entregou o edição do "I ching" encomendada há duas semanas atrás. Me peguei folheando o velho sobrevivente de um antigo império asiático perdido para sempre nas brumas do tempo e tentando compreender como posso aplicar sua velha sabedoria a minha vida...
"O rojão não ruge o tempo todo. Na ocasião própria, ele fica silencioso. Da mesma maneira, o homem sábio não se desgasta com ação e luta constantes. Há ocasiões em que o repouso e a recuperação são essenciais. Se necessário adapte-se a uma situação difícil." (17. SUI Discípulos, Tui sobre Chen/Lago sobre Trovão - A imagem).
Não, eu não sei jogar o "I Chig", a Tita jogou para mim quando estávamos no ônibus a caminho de Porto Alegre e meu folhear no livro também tem haver com uma tentativa de reencontrar as palavras que ouvi naquela ocasião. E embora esta não esteja sendo uma tarefa amarga tão pouco está sendo das mais fáceis.
"O progresso a partir de uma posição inferior deve ser feito apenas para alcançar alguma coisa, e não meramente para fugir dessa posição. Não há mal na simplicidade. Trabalhe com serenidade para conseguir sucesso." (LU Conduta correta, Ch'ien sobre Tui/Céu sobre Lago - 9 na linha).
"Cordialidade", "Estagnação", "Ação Conjunta", "Seguir Adiante", "Dedicação", "Tempos de Prosperidade", em síntese, como gerir situações corriqueiras da vida, como viver estados de humor, como obter serenidade vivendo são coisas sobre as quais versa esse livro milenar. Aos meus olhos ocidentais, ele emerge como um manual pratico de como existir no mundo em meio as diversas situações nas quais um ser humano pode se meter. O tipo de coisa boa de se ler antes de se tomar uma decisão difícil ou depois de tomar uma decisão difícil.
"A água de um lago, quando evapora, pode enriquecer a montanha nua que lhe fica acima, em vez de correr borbulhando do lago, quando ela transborda. Da mesma maneira, as pessoas precisam conter seus instintos naturais e desenvolver seu interior, de forma que uma personalidade equilibrada se desenvolva." (41. SUN Deficiência, Kem sobre Tui/Montanha sobre lago - A imagem)
Como tenho a impressão de já ter dito, ele é um sobrevivente, tem experiencia de mais de mil vidas embrenhadas em suas linhas e isso da a ele uma mistura de peso e leveza com uma aura de credibilidade por cima.

Pensando bem, não a toa, foi a Tita a primeira pessoa a me apresentar esse livro... Ela também tem em si essa mistura de peso e leveza misturada a uma aura de experiencia de vida, o tipo de pessoa capaz de ser fortalecer sem enrijecer. Como a Rynn, protagonista do livro "A menina do fim da Rua", solida, inteligente e tão diferente de qualquer outra criança da literatura.

A cidade na qual a Tita mora é Gramado, sendo essa o ponto final de "minhas aventuras pelo Sul". Tal como os outros pontos de minha andança, foi ótimo conhecer a cidade mágica. Nunca tinha ido a uma cidade de contos de fadas, com as casinhas tão bonitas, as pessoas tão educadas, as ruas tão belamente asfaltadas com direito a canteiros de flores pelos cantos.








Amei a Rua Coberta, a Igreja de Pedra, ou Matriz de São Pedro Apostolo, e o Mini-Mundo...







Mas, o legal mesmo foi ficar na casa da Tita... fazer as caminhadas com ela e com o Krucho depois da novela das seis, bater papo tomando chá gelado com cuca na companhia do Krucho e das gatinhas, apreciar a arte da Dona Coisinha, a Dona Dulce Hart, exposta por vários cômodos da casa inclusive no meu quarto, abrir a janela pela manhã e contemplar as araucárias traçando arcos e ogivas, as vaquinhas pastando, o verde, as montanhas...









E o gramado da casa da Tita no qual rolei, como havia prometido fazer realizando um sonho de infância...









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P.S.: Só para constar, trouxe do sul além das memórias e das fotos, doces, mel, geleia, cucas, roupas do brecho, os livros com os quais a Ana e a Tita me presentearam:


Entre os quais abramos um destaque especial para o "Dju-Dju, a joaninha", cuja autora é a própria Tita, pense em um charme de livro infantil todo feito em madeira. Todas as pessoas para as quais eu mostro ficam maravilhadas e algumas perguntam como faz... outras até dizem que sabem como a Tita faz para fixar as imagens na madeira... mas elas não sabem kkkk...


Indico a quem gosta de literatura que de uma olhada no perfil da Tita Hart no face, vocês vão ficar babando!

Ah, antes que me esqueça, a Ana, me presenteou com uma cuia, uma bomba e um quilo de erva, ando mateando regularmente aqui em Recife... Isso vicia.

Alias, mesmo agora nesse inicio de noite no Recife, enquanto escrevo esse texto, em meio a uma bagunça terrível a minha cuia está aqui me fazendo companhia.... e me lembrando de coisas boas... Me ocorreu agora que nas minhas próximas aventuras, além de uma toalha, a Bíblia e um livro, vou levar uma cuia, uma bomba e um pouco de erva...
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Ah, só para constar, fiz um video lá na casa da Ana, explorando a estante dela, quem quiser ver pode conferir clicando em "Vlog: O dia em que minha estante foi invadida".

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Solidão [Citação 002]

"Toda criatura é só... Cada um de nós sofre, na solidão, o instante de sua morte; e é vaidade pensar que não existem, na vida, outros instantes assim. Mesmo o corpo da esposa, com quem dormimos, continua um corpo estranho; mesmo as crianças que engendramos nos são estranhas... Só há consolo na compaixão e em saber que os outros também sofrem do mesmo mal que nós." (Maurice Druon. A rainha estrangulada, vol. 2 da série "Os Reis Malditos", p. 56).

Desde 2010 que "A Rainha Estrangulada" espera por minha leitura na minha estante, como parte do "Desafio Calendário Literário" do "Aceita um leite?" escolhi me debruçar sobre ele. Sim, vou escrever algo sobre o livro ao terminar a leitura, mas antes disso tive de compartilhar/registrar esse trecho. Nos últimos tempos estive pensado muito em solidão e a leitura dessa fala calhou com meus pensamentos a ponto de me deixar arrepiada.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Nos descaminhos de Nova Petrópolis [Minhas aventuras no Sul do Brasil - Parte II]

Caraca, fevereiro já chegou e eu ainda não terminei de registrar por aqui as minhas aventuras pelo Sul, da até uma vontadezinha de não registrar, mas, apesar do atraso, me nego a deixar em branco essa página. Um diário é feito de lembranças e esquecimentos. Eu sei, mas essa aventura do lado oposto do país é uma página na minha história para ser bem destacada.

Enfim, depois de passar dois dias na casa descobrindo o "Incrível Mundo da Ana", eu peguei o busão e fui para Nova Petrópolis, a cidade que a Tita Hart ama e queria muito me apresentar por vários motivos. Só o caminho que peguei de Caxias do Sul para Nova Petrópolis já mereceu uns cliques.





Afinal, para mim, essa paisagem e tipo de vegetação eram coisas antes vista apenas em livros, filmes e documentários. De certa forma tudo para mim tinha o encanto do novo e o Salomão estava certo: "os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir" (Eclesiastes 1:8).

O primeiro de parada em Nova Petrópolis foi a "Praça das Flores", lugar lindo de morrer e no qual, na minha opinião está a resposta a pergunta: "Se o gaúcho e o recifense são tão bairristas por que o sul é tão superior em desenvolvimento?". Bem,  o "Monumento ao Cooperativismo" com seus sete personagens localizado na Praça das Flores responde a pergunta.

Enquanto Pernambuco ainda se contorce nas garras do coronelismo, o qual se sustenta em cima da manutenção da miséria alheia com politicas eternamente paliativas. Enquanto ainda como governador o Eduardo Campos, simbolo máximo das elites agrarias da região, para quem não interessa uma revolução social,  o sul optou por pelo por uma filosofia cooperativistas baseada na "adesão voluntária e livre, gestão democrática, participação econômica, autonomia e independência, educação, formação e informação, intercooperação e compromisso com a comunidade". E acreditem, esse ideal funciona lindamente.






Precisa dizer que eu me apaixonei pelo monumento construído pelo artista Gustavo Nagler ou o quanto achei magnifico ter na Praça das Flores de Nova Petrópolis além de flores a reafirmação de uma formula de sucesso para chegar a um estado de bem-estar social?

E sim, além das flores e do monumento, encontrei na praça uma homenagem a Bíblia Sagrada. Nova Petrópolis é uma cidade construída por alemães e, diferente dos italianos, eles são protestantes. E eu adorei ver algo que me é tão familiar em um lugar que me é tão estranho.

Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho." (Salmos 119:105-106)

No entanto, famoso mesmo é o Labirinto do Minotauro Verde, no qual eu me perdi lindamente e precisei da ajuda da Tita, que também se perdeu, para encontrar o centro e depois a saída.




Também foi em Nova Petrópolis que finalmente inaugurei a minha bota. Impossível de ser usada no Recife.


E fui fotografada pela Tita naquelas sequencias de foto que chamei de "Jaci, aos 27 anos". Mas, pessoas que não me conhecem pessoalmente, eu não sou tão fofinha quanto pareço nessas fotos!





Mas, o melhor ainda estava por vim, a saber: a visita a linda Biblioteca de Nova Petrópolis, a qual possui uma bibliotecária dos sonhos chamada Susana Carrasco.


A Susana é show! Ela desenvolve mil e um projetos interessantes, desde bookcrossings com livros repetidos, até "noites do pijama" na biblioteca e muito mais... Além de ser um amor, super organizada e uma multiplicadora do ato de ler. Sabe aquele tipo de pessoa que faz do mundo um lugar melhor? Pois é!


A Susana, me mostrou o acervo da Biblioteca que inclui de livros de gibis da Turma da Mônica, passando por livros pops com vampiros brilhantes, príncipes tigres, historiadores heróis, clássicos, livros infantis em alemão, um acervo de livros em Alemão até chegar ao suprassumo do charme: livros em tcheco.


Aliás, quem se interessar pode se inscrever um curso de Tcheco inteiramente de graça na biblioteca e começar a ler lá mesmo.


Depois de toda aventura na biblioteca foi a vez de ir ao brecho de lá, o qual lindamente estava em queima de estoque com peças a R$1,50. Lá eu me entusiasmei tanto que troquei meu modelito rosa por um vestido de egípcia.



Aliás, eu peguei um calorão terrível no sul, não estava tão quente como Recife, mas também não estava frio, e eu acabei trocando a bota por uma rasteirinha e jogando a meia na mala antes de ir visitar o brecho e chegando no brecho troquei o vestido rosa pelo o que estou vestindo ai em baixo deixando no "Parque Aldeia Alemã".

Agora sim, com roupa adequada ao clima.
"O Parque Aldeia Alemã" foi a reta final de minha aventura com a Tita em Nova Petrópolis, não tirei mais fotos lá porque a bateria da câmera acabou. Mas, o parque é um lugar impressionante, cheio de verde, com várias arvores da flora nativa preservada e que conta com praticamente um conjunto de mini-museus. Ou seja, lá eles tentaram reconstruir uma aldeia alemã nos primeiros tempos da colonização com igreja, casa, escola e outros espaços incluindo cemitério.









Igreja alemã
Os objetos expostos nos espaços são todos doações feitas pelos familiares dos primeiros colonos a chegar no Brasil.



"Uma igrejinha singela como esta aqui,
Edificada com aplicação germânica,
tornou familiar ao 1º imigrante,
pioneiros das matas virgens,
os arredores estranhos.

A velha pátria está para ele perdida,
a nova confiante aqui ele achou,
filhos e netos lhe foram nascidos,
trabalho penoso ao país o legou."





Eu e a Tita amamos história, o que fez do passeio uma oportunidade unica para debater, refletir e aprender. No final eu concluir que o Brasil pode até não ter memória, mas o sul, caros amigos, tem e gosta de mostrar que tem!

Ah, detalhe, para quem mora em Nova Petrópolis a visita ao parque é gratuita [Fica a dica para a prefeitura do Rio de Janeiro/Recife/Bahia/Olinda].

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Seis Anos

As vezes preciso escrever sobre as coisas comodas e incomodas, mesmo quando são pequenas ao ponto de se tornarem insignificantes para os outros. Um sonho, uma lembrança, um possível esquecimento, um encontro, um livro, um acontecimento corriqueiro de um dia corriqueiro de uma vida mais corriqueira ainda como a minha.

Pensando bem, desde o dia no qual o meu tio me deu o primeiro diário escrever se tornou uma necessidade existencial. O conteúdo do que escrevo aqui na maioria das vezes é uma grande coletânea de opiniões pessoais, uma grande leseira, mas eu percebo absurdada, que essa capacidade de colecionar leseiras escritas é capaz de tornar coisas pesadas como uma bigorna ficarem leves como um dente-de-leão ao vento.

E no dia 26 de Janeiro de 2014 fez seis anos desde a minha primeira publicação nessa caixa em 2008.


"Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."
(Fernando Pessoa)

Quando eu comecei a escrever esse blog eu tinha esses versos na cabeça... Demorou um longo tempo desde o dia no qual eu tomei coragem e comecei mesmo a publicar o que tinha escrito, não a toa existem mais de 300 textos nos rascunhos. Mas, uma coisa é certa, já em 2008 eu pensava em fazer nesse espaço como um tipo de janela de meu quarto de dormir enquanto percebia a internet como um tipo de rua cruzada constantemente por gente.
Esse espaço é o maior reflexo do meu mundo particular, eu gosto de pensar em mim como UMA pandora. Não a única ou a primeira, apenas mais uma das muitas pandoras existentes nesse mundo. Este espaço tem sido minha caixa, ele me lançou em um exercício de auto-conhecimento, se tornou uma forma de terapia.
Obrigada a vocês companheiros e companheiros de virtualidade os quais me honram com sua leitura, paciência e comentários. Para vocês deixo os versos de William Butler Yeats:

"Se meus fossem os tecidos do céu
E os azulados bordados de ouro e de prata
E do azul escuro e fosco
Da noite a luz e a meia luz
Como um manto, eu os estenderia aos teus pés.
Mas sendo pobre, apenas tenho os meus sonhos
Eu estendi os meus sonhos aos teus pés
Caminhas devagar, porque caminhas sobre meus sonhos."
(William Butler Yeats)