terça-feira, 13 de abril de 2010

Um dia ensina a outro dia e uma noite revela conhecimento a outra noite...


Onten foi um dia terrivel, mas nada como um dia após o outro... dias ruins podem até deixar sua marca, mas decididamente vão da mesma forma com que vieram, meio que do nada... graças a Deus meu dia ruim deu lugar a um dia tranquilo e enquanto eu estava no meu trabalho, ainda um tanto preocupada, lembrei do Salmo 19, o meu Salmo preferido, um Salmo que me parece bastante adequado para pessoas como eu.

Deixo então alguns versículos desse Salmo que em momentos de ansiedade costuma me consolar, há, também deixo devo admitir o quanto esse espaço ajuda a desabafar sem perder o prumo e agradeço a Elaine pela palavra doce de compreensão que sempre é muitoooo bem vinda nesses momentos chuvosos...


SALMOS 19:

"Os ceús manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos,
Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite." (vers. 1)

"A lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel e da sabedoria aos simplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e alumia os olhos." (vers.: 7,8)

"Quem pode entender os próprios erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos. Também da sorbeba guarda o teu servo, para que se não assenhoreie de mim... sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, rocha minha e libertador meu." ( vers.: 12,14)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dias difíceis!!!
























Todos os dias são difíceis e em geral a vida não é fácil para ninguém, há até quem diga que "a vida só é dura para quem é mole", mas sempre existem aqueles dias que são tão piores que os outros...

Hoje foi o meu dia tão pior, estou exausta!!!

Estou cansada de tantas preocupações, a vida me preocupa e essa preocupação constante me cansa!

Minha irmã costuma dizer que eu já nasci preocupada, geralmente quando ela diz isso eu tenho vontade de dizer a ela que eu não nasci preocupada, ela é que inaugurou minhas preocupações ao nasce... mas eu não sei se isso é verdade, eu lembro que antes que ela nascesse eu já me preocupava com algumas coisas... rsrsrsrs... Preocupação e agunia parecem rotina na minha vida!!!

Gostaria de me desprender de tudo e curtir, largar os pesos pelo caminho... porém, largar não está em mim... Então me conformo em desabafar meu estado de preocupação no meu pequeno diário e me agarrar a minha sombrinha particular e me proteger dessa chuva... o sol vai voltar logo...

Alice no País das Maravilhas


Pois é, eu também li esse livro... Ooooh, como essa história está na moda muitas outras pessoas também devem está lendo e como é um clássico da literatura universal tantas outras devem ter lido em momentos anteriores, logo eu serei apenas mais uma a dizer de uma forma ou de outra que essa história é excelente.

Alice em sua caminhada para o país das maravilhas atrá de seu coelho branco nos conduz em uma aventura um tanto maluca, mas decididamente instigante, entre minha infância e adolescência li esse livros umas cinco vezes (e olha que eu era o tipo que lia livros emprestados da biblioteca) e ainda acho que foram poucas vezes e que não entendi tudo o que a história conta, lembro que foi uma leitura que ninguém me indicou eu apenas me encantei com o a capa do livro (essa que está ai em cima) e com as primeiras linhas da história e no final das contas me deparei com um livro é fantastico que me despertou pela primeira vontade de aprender outra língua para poder ter acesso a um livro em sua língua original (uma vontade que ainda não transformei em realidade por preguiça ou falta de tempo...).

Decididamente essa é uma a história que merece ser lida e relida, contada e recontada, comentada e recomentada e sem dúvida vez ou outra se torna a melhor forma de falar a respeito de algo importante, o que me faz lembrar de algo que recentemente um amigo me falou a respeito da eterna busca humana pela verdade, algo semelhante a jornada de Alice atrás do coelho branco, uma busca na qual é boa idéia fazer tal como Alice e seguir o coelho branco, sem deixar de eventualmente parar e tomar um chá com um chapeleiro maluco.

Na verdade desde o Natal de 2008 e o inicio de 2009 que eu penso em escrever algo sobre essa história, foi que uma amiga me perguntou o que eu queria ganhar de presente de aniversário e eu falei nesse livro, mas coisas aconteceram e mesmo ela sendo uma boa amiga acabou que fiquei sem o presente rsrsrsrsrs... que tristeza imensa rsrsrs... hoje me deparei com a promoção do Fio de Ariadne, um dos blogs que acompanho... e decidi que já era hora de transformar minha experiência com esse livro no tradicional amontoado incompleto de palavras que são minhas postagens.

E a proposito das aventuras de Alice, não posso ou quero esquecer de deixar aqui um dos textos mais lindos com o qual me deparei nos descaminhos da net, é um texto de Paulo Mendes Campos, um texto belissimo diga-se de passagem, que ai vai.

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Para Maria da Graça


Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.

Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.

A realidade, Maria, é louca.

Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: “Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?”

Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar – comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.

A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.

Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.

Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria têm de ser grave.

A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: “Oh, I beg your pardon!” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gosta de gatos, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostarias de gatos se fosses eu?”

Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! mas quem ganhou ?” É bobice Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste.

Disse o ratinho: “Minha história é longa e triste!” Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: “Minha vida daria um romance”. Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: “Minha vida daria um romance!” Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.

Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo”. Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.

E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinicerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor.

Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.

Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”.

Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

CAMPOS, Paulo Mendes. Para Maria da Graça in Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1979.



sábado, 10 de abril de 2010

Noites eternas e Abdicações...


ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.


Fernando Pessoa, 1913
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Esse, decididamente é um dos poemas que mais gosto. Li esses versos pela primeira vez em um jornal que um tio meu comprou. Caraca isso faz um tempão! Foi amor a primeira vista.

Não resisti, automaticamente peguei a tesoura de costura de minha avó e recortei o poema do jornal. O que não foi um ato ilegal, minha avó deixou eu cortar o jornal, era velho mesmo e ia para o lixo, menos um pedaço não ia fazer falta!

Desde então, vez ou outra lembro dessa poesia, desse desejo enorme de ser tomada nos braços da noite tal como uma filha que voluntariamente abandona os cançasos nos braços de uma mãe afetuosa...

Penso que de certa forma, todo mundo já quiz abdicar de seu trono, seu lugar seguro na vida onde vc tem a plena consciência de que é REI, seu elemento primordial que é feito de força, certeza, alegria, vaidade e também de tristeza, cansaço, pesadas armaduras, grossas e inúteis cotas de malha e tantas coisas fúteis.... quem nunca quis largar tudo e se entregar ao nada... ou ao menos a alguma coisa mais leve, calida, menos rude e pesada... alguma coisa tão eterna e constante e antiga quanto a noite... eu não faço questão de ser excessão a regra alguma, me enquadro entre os que sentem vontade de despir-se da realeza de corpo e alma e encontrar a noite antiga e calma.

O problema é que sempre tenho o triste e fatal habito de lembrar que a calma da noite é um disfarce macabro, não existe calma na escuridão... A aparência tranquila é um engodo, dentro da escuridão silenciosa da noite borbulham e queimam milhares de vidas, milhares de movimentos... a noite é antiga, mas não é calma... talvez o dia seja mais calmo que a noite...

Quantos animais perigosos não escolhem a noite para caçar, quantos pesadelos tenebrosos não separaram a noite para tornarem-se realidade, quantos desvarios não saíram de mentes tão grandiosas quanto tenebrosas enquanto as sombras cobriam a terra com seu véu negro???

OOoooohhh.... Que triste a vida de alguém que não consegue se render nem mesmo a um de seus mais antigos desejos infantis sem antes questiona-lo!!!

Sim... pode até ser meio triste, mas é claro que alto-piedade não consta entre os meus atributos... ainda não é hoje que vou me render a minha antiga vontade de ABDICAR de meu espírito (metaforicamente e concretamente) a noite é eterna ela não precisa de mim e se quer tanto meu sangue para se importar a ponto de me tentar a verte-lo com tanta constância e desde tão cedo pode esperar mais um pouco... talvez tenha que esperar o tempo de uma vida inteira... podemos nos encontrar tarde, muito tarde... quando não houverem mais cetros e coroas a serem feitos em pedaços...

Além do mais, abandonar não está em mim... Não abandono nem mesmo espadas, mesmo as mais pesadas; cetros e coroas, que ficariam bem melhor feitos em pedaços; cotas de malha, que já foram feitas inúteis; ou mesmo esporas de tinir fútil... deixar pela escadaria não faz parte de meus hábitos... E mesmo quando fazem parte de algum plano, é um plano que já nasce morto...

Minha Abdicação sempre e sempre é adiada... mas enquanto a noite é eterna a minha carne foi feita para morrer... certamente me encontrarei com a noite em algum lugar... e se meu espírito é eterno ele se irmanara a essa noite e seremos um só... penso como esperança que um dia meu espírito regressará a "essa noite antiga e calma como a paisagem ao morrer do dia"!

P.S.: A julgar pela hora em que escrevi isso... deve ter tanto erro ortográfico... rsrsrsrs... depois corrijo com calma!!!
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Realmente haviam muitos erros de escrita... minha pérolas!!!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Muleque, Solano Trindade

Muleque
Solano Trindade

Muleque, muleque
quem te deu este beiço
assim tão grandão?

Teus cabelos
de pimenta do reino?

Teu nariz
essa coisa achatada?

Muleque, muleque
quem te fez assim?

Eu penso, muleque
que foi o amor...

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Pessoalmente acho esse poema encantador, mas eu lembrei de colocar esse poema aqui, pq ele é especial para uma pessoa que amo muito, um amigo meu que costuma dizer que esse poema é dele... e sinceramente deve ser mesmo, pq ele é a figura viva desse muleque feito de amor.

terça-feira, 23 de março de 2010

Menina Bonita do Laço de Fita... Ana Maria Machado.

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Uma das minhas maiores paixões é a literatura infantil. Pocha vida, literatura infantil bem feia termina com um texto muito gostoso de se ler em qualquer idade, e sempre tem aquelas autoras que arrasam o quarteirão inteiro: Ana Maria Machado, Rute Rocha, Marina Colasanti e Ligia Bonjuga, estão entre tantos outros nomes que eu poderia citar.

Ah, não esqueci do todo poderoso "Monteiro Lobato", apenas não cito ele pq não gosto dele, não é que ele escreva mal, só é que acho que o texto dele é cheio de preconceitos e a forma como Emília trata Tia Anastácia não é algo que eu aprove... não sou ninguém no jogo do bicho para criticar Lobato, mas tenho minha opinião e isso ninguém pode me tirar, embora possa criticar...

No lugar de Emília prefiro a "Menina bonita do laço de fita" de Ana Maria Machado, uma garotinha que vive junto com um coelho uma história linda que vou postar aqui (não acho que haja algo de mal nisso, uma vez que eu peguei a história inteira em outro blog), trata-se de um conto lindo que tem que ser divulgado mesmo e guardado na memória.


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Menina Bonita do Laço de Fita

Era uma vez uma menina linda, linda.
Os olhos dela pareciam duas azeitonas
pretas, daquelas bem brilhantes.
Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito fiapos da noite. A pele era
escura e lustrosa, que nem o pêlo da
pantera negra quando pula na chuva.

Ainda por cima, a mãe
gostava de fazer
trancinhas no cabelo dela
e enfeitar com laço de fita colorida. Ela ficava parecendo uma
princesa das Terras da África, ou uma
fada do Reino do Luar.

Do lado da casa dela morava um
coelho branco, de orelha cor-de-rosa,
olhos vermelhos e focinho nervoso
sempre tremelicando. O coelho achava
a menina a pessoa mais linda que ele
tinha visto em toda a vida. E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma
filha pretinha e linda que nem ela…

Por isso, um dia ele foi até a casa da
menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual
é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu caí na tinta
preta quando era pequenina..
O coelho saiu dali, procurou uma lata
de tinta preta e tornou banho nela.
Ficou bem negro, todo contente. Mas
aí veio uma chuva e lavou aquele pretume, ele ficou
branco outra vez.

Então ele voltou lá na casa da menina
e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é
teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:

- Ah, deve ser porque eu tomei muito
café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café
que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada
preto.

Então ele voltou lá na casa da
menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de
fita, qual é teu segredo pra ser tão
pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu comi muita
jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba
até ficar pesadão, sem conseguir
sair do 1ugar. O máximo que
conseguiu foi fazer muito cocozinho
preto e redondo feito jabuticaba.
Mas não ficou nada preto.

Por isso, daí a alguns dias ele voltou lá na
casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual
é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e já ia inventando
outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela,
que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha…

Aí o coelho - que era bobinho,
mas nem tanto - viu que a mãe da menina
devia estar mesmo dizendo a verdade, porque
a gente se parece sempre é com os pais, os tios,
os avós e até com os parentes tortos.
E se ele queria ter uma filha pretinha e
linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.

Não precisou procurar muito.
Logo encontrou uma coelhinha escura
como a noite, que achava aquele
coelho branco uma graça.

Foram namorando, casando e tiveram
uma ninhada de filhotes, que coelho
quando desanda a ter filhote não pára mais.

Tinha coelho pra todo gosto: branco,
bem branco, branco meio cinza,
branco malhado de preto, preto
malhado de branco e até uma coelha
bem pretinha. já se sabe, afilhada da
tal menina bonita que morava na casa
ao lado.

E quando a coelhinha saía, de laço
colorido no pescoço, sempre
encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é
teu segredo pra ser tão pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha
madrinha…

Referência:

MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. Editora Ática.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Esperemos, Solano Trindade.

Esperemos
Solano Trindade

Eu ia fazer um poema para você
mas me falaram das crueldades
nas colônias inglesas
e o poema não saiu

ia falar do seu corpo
de suas mãos
amada
quando soube que a polícia espancou um companheiro
e o poema não saiu

ia falar em canções
no belo da natureza
nos jardins
nas flores
quando falaram-me em guerra
e o poema não saiu

perdão amada
por não ter construído o seu poema
amanhã esse poema sairá
esperemos.

Referencia:

TRINDADE, Solano. O poeta do povo. São Paulo: Editora Ediouro: Editora Segmento Farma, 2008. Pg. 85.
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Solano Trindade, foi um grande intelectual do século XX, sua poesia, trouxe uma nova visão sobre a História e a memória Afro-descendente, foi um verdadeiro mediador cultural, poeta, escritor, teatrólogo, ator, pintor, pesquisador das tradições populares e acima de tudo um homem ousado, capaz de falar o que precisava ser dito sem medo de ser feliz ou infeliz em suas escolhas. Acho que a musa de Solano foi seu ideal de uma sociedade mais justa para todos, especialmente os afro-descendentes e não apenas para os que possuem dinheiro e podem compra-la.

Ah, esse poema, que eu decidi postar porque não achei ele em nenhum outro lugar da net, se encontra, conforme consta na referencia no livro "O Poeta do Povo", que foi lançado em 2008 em comemoração ao centenário do nascimento do poeta, nele encontramos o conjunto de toda obra literária já publicada dele, além de vários poemas inéditos.

Na minha opinião, e outras pessoas concordam comigo, o título do livro foi muito adequado e trinta e quatro anos depois da morte de Solano, ele continua incrivelmente vivo como só os artistas conseguem ser... suas idéias tem o dom da imortalidade!


terça-feira, 16 de março de 2010

Quando o Amor Chega...



Quando o Amor Chega...

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você esta esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida lhe deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela tivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que esta marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir morrer, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

É uma dádiva. Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Ou as vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor...


Carlos Drummond de Andrade
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Não tem jeito, eu sempre gosto desses textos românticos, sempre acho essas palavras lindas, mesmo lendo-as pela centésima vez...

AiAi!!!

Vai ver minha mãe está certa quando diz que sou uma "gordinha romântica" rsrsrsrs!!! Minha mãe é tão má!!! rsrsrs!!!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Compaixão, nas palavras de Milan Kundera...

"Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio; em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo significado é piedade (em inglês pity, em italiano pietà, etc.), que sugere mesmo uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre. Ter piedade de uma mulher significa sentir-se mais favorecido do que ela, é inclinar-se, abaixar-se até ela.

É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito haver com amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.

Nas línguas que formam a palavra compaixão não com o radical passio, sofrimento, mas com o substantivo sentimento, a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que ela designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta de sua etimologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspolczucie, Mitgefänsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva - a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo."

Referencia:

KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. São Paulo: Círculo do Livro, 1984.
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Gosto muito de Milan Kundera, do estilo dele, do jeito como ele escreve, sempre problematizado tudo, dialogando com o leitor, explicando o que ele quer dizer de maneira clara, confiando que o leitor vai entender o sentido de suas palavras. Ele é um dos meus autores favoritos e consegue traduzir em palavras coisas que me são familiares, Kundera me faz ri e chorar, me toca profundamente o coração desde sempre.

A partir desse texto eu entendi o que sinto por algumas pessoas que me cercam e parei de me questionar sobre o motivo que me leva a apoiar pessoas que fazem coisas que tantas vezes não considero corretas, é o co-sentimento, é como se fosse comigo, então não há o que fazer, como posso não apoiar as pessoas que amo independente de qualquer coisa? Eu as vezes só gostaria de amar pessoas mais "normais", mas será que existem pessoas "normais" no mundo???

Também gostei desse texto pq assim eu posso me justificar diante do espelho por não dizer as palavras moralmente corretas, pelo silêncio, pela compreensão e por esconder quando é preciso que assim seja feito. Mas é que o amor é forte como a morte, não há retorno, não posso trair o amor que sinto, o amor é meu kitsch, aquilo que exclui do campo visual tudo o que existe de essencialmente inaceitável e enquanto eu digo isso eu sinto que só agora entendo plenamente o que é kitsch (quando li no livro não entendi direito, eu acho...)!!!

Enfim, acho que por hoje é só... só espero que haja quem me entenda também...

Cantares cap. 8, vers. 6

"Põe-me como selo sobre o teu coração,
como selo sobre o teu braço,
porque o amor é forte como a morte,
e duro como a sepultura o ciúmes;
as suas brasas são brasas de fogo..."